Those Wolf Tales

Beautiful Bloody Wolves in Wonderland #4 Final


Um lobo?

No vale?

Olhei perplexa para Kooler, que encarava o nada.

- Pegue as armas na bolsa do meu cavalo. Eu vou na frente. - foi a única coisa que conseguiu balbuciar, então ele se levantou do lugar onde estava repousado.

- Mas como... Você... Ahn? - eu andei até ele - Você quer que, nesse temporal, sem proteção nenhuma, nós dois irmos procurar nosso fim?!

- Eu te protejo. - não soou tão brincalhão dessa vez.

- Eu não vou à lugar nenhum. - eu disse com a voz trêmula, fanhosa, falha. Eu estava totalmente perdida.

- Alice. - ele se aproxima de mim. Suas mãos gélidas tocam meus ombros e ele me aproxima de sua face - Ou a gente vai ou fugimos e deixamos que eles matem tudo o que é precioso para nós e iremos conviver com isso para sempre.

- Kooler, eu entendo seu medo. - tento me soltar, mas ele continua firme, e eu também continuo falando - Mas vamos ser racionais. - ele estava fazendo um pouco de drama demais, pensei, mas é compreensível— Se a gente ir, com certeza morreremos, mas se a gente voltar, teremos chance de chegar primeiro do que eles.

Ele ficou em silêncio por alguns muitos segundos, e assentiu:

- Então o que estamos fazendo aqui parados?

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Depois de uma correria longa em silêncio, no meio da chuva, ao avistar o haras, lembrei-me de algo:

- E a Rainha? - olho para ele, com uma expressão de preocupação mesclada com medo.

- A Rainha que se dane. - rispidamente, soltou as palavras - Estou preocupado com você agora.

Ou fora uma incrível coincidência, ou algo sobrenatural, mas ao término dessa frase - da qual eu não gostei nem um pouco - um uivo agonizante pode ser ouvido. Foi alto. Alto e agudo o suficiente para doer os ouvidos e fazer as aves voares da copa das árvores.

- Que droga foi essa? - arfando, paro e me viro para todos os lados, com os olhos arregalados. Sem dizer nada, Kooler pegou na minha mão e saiu correndo, me guiando.

- Não consigo correr com você segurando minha mão, idiota. - ele a largou quando eu disse isso. Lado a lado, com os passos largos sincronizados, entramos no castelo, e a primeira cena que vimos nos corredores foi de caos e desordem. Vasos caindo e quebrando no chão, empregadas e empregados desesperados, tapetes rolando escadarias abaixo...

- Alice? - Coelho, que surgiu na multidão desordenada - inclusive que agora estava com os olhos arregalados em nossa direção -, correu até mim, e virou-se para Kooler - Onde está a Rainha?

Eu e ele nos entreolhamos, encharcados, e trocando olhares pesados. O Coelho entendeu a mensagem, e levou as patas à boca.

- Lamento, mas a preocupação agora é outra. - dessa vez minha voz saiu firme, pela primeira vez no dia. Um trovão.

"Alice". Isso é nome para menininhas covardes. Por favor, me chamem de--

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a visão de kooler

Se haviam lobos nos vales, haviam também lobos em outros lugares. Isso me deixava aflito. Só de pensar em Alice machucada, eu delirava.

Não, isso é errado, ela é casada.

Eu sei muito bem que ela é casada.

Mas... Eu não sei se isso é amor ou paixão. É quase... É um desejo, desejo por ela.

Desejo... Cara, isso é muito errado. Kooler seu imbecil.

Durante essa discussão, e do temporal, o castelo não era mais seguro, então corremos até os portões para escapar - ou pelo o menos tentar, aqueles malditos estão por toda a parte -. Mas, ao chegarmos nas escadarias, um raio cortou os céus, e o portão se partiu, caindo e matando todos os que estavam tentando abri-lo. Foi algo horrível, e Alice gritou.

- Eu não sei se vou conseguir ficar aqui, Kooler! - ela olhou para mim. Seu rosto estava marcado por finas e cristalinas linhas. Ela estava desesperada, apontando para a floresta além dos limites, dos quais os uivos saiam e ficavam cada vez mais próximos - Eles estão vindo, eles vão chegar, e vão nos matar! Eles já pegaram a Rainha, eu não sei, não sei o que eu vou fazer! - ela começou à chorar, onde cada soluço era uma facada na minha alma. Eu a abracei, colocando sua cabeça em meu ombro - Eu tinha que salvá-los, era o meu dever.

- Alice, minha querida. - a voz de Chapeleiro chamou nossa atenção - Você ainda tem uma chance. - Coelho também estava com ele.

- Que chance, Chapeleiro? - ela fungou.

- Empunhe vossa espada, vá ao encontro deles e triunfe! - Coelho levantou as patas, de uma forma quase cômica.

Alice abaixou o olhar e me encarou, com pesar.

- Você vem comigo? - congelei.

- Alice, essa é sua missão, eu...

- Kooler. - ela me segurou pelos ombros - Se eu morrer, e eu com certeza vou, eu quero que esse seja meu último pedido. Por favor, venha comigo.

Por um momento, achei que meus olhos escorriam lágrimas, no outro, já estava beijando-a.

Se isso for verdade que ela me dê um tapa.

E a mão dela voou para trás e atingiu meu rosto em cheio, de uma forma e nós nos separamos brutalmente. Passei a mão no lugar e olhei para ela, que limpava a boca com o antebraço. Não me decepcionei, eu queria aquilo e sabia as consequências.

Coelho e Chapeleiro me encaravam abismados.

- Onde estávamos? - Alice lançou-me um olhar de reprovação, virando para os outros dois companheiros.

Parabéns, Kooler Victorius; e lá vamos nós.



Agora, já fora dos limites da muralha do castelo, eu e ela corríamos com nossos cavalos, deixando tudo e todos para trás em busca de uma salvação. Ela com sua espada, eu com meu arco. Não nos olhamos, não trocamos uma palavra, e mesmo depois do que aconteceu, ela não reclamou quando eu a acompanhei.

Estranho? Sim.

Paramos numa clareira. As copas das árvores faziam uma espécie de teto, do qual não deixava que a chuva passasse. As folhas emitiam uma luz esverdeada no local. Ela desceu do cavalo e eu não me virei.

- O que foi? - perguntei.

- Cale a boca. - ela olha ao redor, dando um giro de 360º - Eu... Eu estou sentindo algo.

- Deu pra sentir as coisas agora? - eu estava um pouco alterado desde quando ela me deu o tapa, apesar de que ela estava no direito dela.

- Cale a boca. - ela quase gritou, e isso me assustou. Olhou para cima e cheirou o ar, como um animal.

- Eu quero pedir desculpas pelo beijo. - falei, coçando a nuca. Ela me ignorou e eu bufei. Eu desci do cavalo, dando pequenos passos até o meio da clareira.

- Olá, jovem. - uma voz fala, lentamente. Me viro e deparo com o Gato de Cheshire, sorrindo, beirando a insanidade, em cima do cavalo.

- O que você está fazendo aqui? - digo, em meio à um suspiro. Eu estava bêbado de cansaço.

- Só estava passeando quando me deparei com essa cena. - virou-se de barriga para cima - Que irracional não ter fugido desse lugar até agora.

- Sabe algo sobre a Rainha? Deve saber, você é estranho. - olho para cima, para as copas verdes das árvores. O ar ficou estranhamente pesado, como se uma energia negativa flutuasse no ar.

- Rainha? O País das Maravilhas não tinha mais Rainha à um bom tempo. - após essas palavras, fui obrigado à encará-lo novamente.

- Como assim? - estreitei o olhar, numa expressão confusa.

- Reis e rainhas não são só aqueles quem andam com uma coroa na cabeça. São, além disso, os pilares e a segurança do reino e arredores. - uma pausa. O Gato virou-se, agora deitando de barriga para baixo no cavalo, que pastava - Mais certamente dizendo, Alice seria não só nossa espada mas sim nossa coroa. E isso é o que a Rainha Branca não conseguiu fazer.

Fico em silêncio por alguns momentos, refletindo. Fazia sentido, afinal.

- Alice, ouviu isso? - sorrindo, me virei para Alice, mas fui surpreendido; ela não estava lá. Arregalei os olhos - Gato, onde ela est--

Outra surpresa.

Ele não estava mais lá também.

Me virei para o lugar onde ela estava e corri por entre as árvores, não me dando o trabalho de montar no cavalo. Eu corria, desesperado, berrando seu nome e tropeçando nos meus próprios pés. Abria caminho entre as árvores e plantas, enquanto a chuva se tornava mais forte e as rajadas só aumentavam.

Então eu tropecei em uma raiz e caí de cara na lama, xingando. Me ergo, ajoelhando, limpando meu rosto o máximo possível. Então olhei para frente e vi Alice, de costas. Suspirei de alívio e me levantei, caminhando até ela.

- Ah, garota, você me deu um susto. - sorri meio sem jeito e coloco a mão no ombro ela. Ao toque, todos os cabelos do meu corpo se arrepiam, e eu me afasto com largos passos por extinto. Ela se vira, lentamente. Os olhos azuis sem brilho. A pele pálida anormalmente.

- Kooler... - rouca, diz num quase sussurro - Eu descobri aonde eu pertenço.

Nesse momento, lobos se formaram de sombras vindo do solo. Os olhos amarelos, flamejantes e profundos. Desejadores de almas.

Engasguei. Não por estar indignado, mas por estar sem ar. Levo as minhas mãos no pescoço, em desespero.

- Anjos merecem morrer. — proclamando lentamente essa palavras, Alice ergueu seu indicador, apontando para mim. Eu caí de joelhos perante ela, e os lobos se aproximaram, salivando sangue. Lembro-me da última coisa que vi: Uma figura de cartola nas sombras, segurando um coelho de máscara morto em seus braços.