Those Wolf Tales
Beautiful Bloody Wolves in Wonderland #3
E tudo começa denovo.
Como uma montanha-russa.
Conto para ser ouvido com a música 28 da playlist do blog - Racing Glaciers - What i Saw
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Acordei despertada com o relógio cuco. Me virei para ele e eram 8 da manhã. Ou era pra ser de manhã, afinal, ainda chovia muito e o céu estava cinza.
Me sentei na cama. Suspirei. Ao meu redor... Um mundo diferente se encontrava. Ontem nessa hora eu estava na minha biblioteca, lendo, enquanto meus empregados tiravam o pó da casa e meus filhos brincavam no quintal com o pai.
Às vezes a saudade bate forte...
A linha torta de meus pensamentos foi interrompida quando bateram na porta.
– Pode entrar! - falei. A porta se abriu e Kooler entrou no quarto. Ele usava dessa vez um terno vitoriano com detalhes em vermelho. A roupa que usava ontem era só para caçada, achei. Ele encostou na batente da porta e cruzou os braços.
– Rainha Branca irá te encontrar no pátio maior. Troque-se e tome seu café, nós três vamos cavalgar pelos Vales Silenciosos hoje. - ele me encarava em desdém.
– Espera aí... Nós três?
– Sim, nós três. - ele arqueou as sobrancelhas - Algo errado?
– Não queria ir com você. - eu dei o sorriso mais amarelo que pude de propósito.
– Então não vai. - ele revirou os olhos, como se estivesse conversando com uma criança. Pegou a maçaneta da porta, - Você tem 30 minutos. - e a fechou.
– Como se mandasse em mim. - em voz alta, protestei, na esperança que talvez ele tenha escutado. Ouvi seu "hunf".
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Ah... Aquele chá com biscoitos estava ótimo. Enfim, eu estava caminhando até o pátio maior. E quando falamos maior, é realmente maior. O pátio rodeia toda a área dos Vales Silenciosos, sendo que esses Vales equivalem à 2 castelos.
Eu estava dessa vez acompanhada com o Coelho, que agora usava sua máscara. Ela imitava um capacete de armadura, e era toda feita de prata. Algo caro, presente da Rainha, com certeza.
No estábulo, Kooper e a Majestade cuidavam de seus cavalos. Ela acariciava o seu, todo branco, com os cabelos da crina e do rabo trançados. Logo ele, tinha um corcel, do qual ajeitava a cela.
– Vossa Majestade! - Coelho referenciou-a junto à mim - Bom dia! - ele se virou para Kooper - E para você também.
– Bom dia, resultado de um livro de terror mastigado pro uma cabra. - ele lançou um olhar idiota para o Coelho, que sorriu. Eu olhei para Kooper, que também me encarou nos olhos. Fiz uma careta e desviamos o olhar.
– Alice! - ela me cumprimentou - Bom dia, pequena!
– Você parece a minha mãe me chamando assim. - sorrimos.
– Tu poderás escolher o teu cavalo para cavalgar. - ela olhou para o haras - Qualquer um!
– Qualquer um? - dei um sorriso sapeca.
– Sim, sim! - ela olhou para mim, esperando minha resposta, enquanto eu pensava.
– Eu quero... - soltei uma gargalhada malvada e olhei para o belo corcel de Kooper - Ele! - apontei para ele. Kooper engasgou.
– Não, não, não! - ele balançou a cabeça em negação - O meu não!
– Rainha Branca deixou claro que poderia ser qualquer cavalo. - sorri de lado e arqueei as sobrancelhas. Percebi que ela segurava o riso.
– Mas... Eu... Aght! - ele foi para o haras, irritado - Existem cavalos melhores mesmo!
Gargalhei, vitoriosa.
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Nos Vales, seguíamos a trilha larga, repleta de folhas secas. As árvores verdes começavam à ter uma coloração dourada. Culpa do outono. Essa era a única área onde o relógio biológico das plantas funcionava bem, sem ser random igual o resto.
Kooler pegou um cavalo marrom com manchas brancas. Apesar do cavalo ser um garanhão, ele ainda continuava com raiva de mim e emburrado. Achei graça.
Eu estava no meio dos dois, e ia mais à frente. A floresta cheirava à orvalho e o ar era úmido e pesado. Estava frio.
– Aqui é tão belo... - Rainha Branca quebrou o silêncio. Eu, que observava as orquídeas pelo caminho, me virei para ela.
– Algo nostálgico. - confirmei. Senti que Kooler me encarava. Olhei para ele - Para com isso.
– Isso o que? - ele fingiu de desentendido. Suspirei irritada.
Cavalgamos até um lago formado por uma imensa cachoeira. Aquilo dava uma coloração verde a azul na mata. Mas havia uma coisa...
– Essa cachoeira... - apontei para lá, confusa.
– Sim, ela não emite sons. - Kooler desceu do cavalo e caminhou até a borda. Eu fiquei boquiaberta. Agora que eu percebi. As únicas emissões sonoras ali eram as nossas, porque nem os pássaros que voavam cantavam.
– Que... Magnífico! - desci também, o acompanhando. Rainha Branca deu uma pequena risada.
– Não é a toa que o batizamos desse nome. - Kooler tirava o paletó. Mas...
– Você não vai fazer o que eu tô pensando, vai? - eu arregalei os olhos. Ele jogava sua roupa no chão.
– Nadar? Claro que eu vou! - ele riu de sarcasmo e ficou só com sua calça. E, pelos céus, que bundinha linda que ele tem!
– Você tem problemas?! - eu dei dois passos, mas ele já pulou, espalhando aquela água pra todo lado e emitindo o único som naquele lago.
Rainha Branca riu:
– Vocês me surpreendem!
Eu revirei os olhos. Mereço.
– Vocês não vem? - ele tava até feliz demais.
– Não posso molhar o meu vestido. - Majestade virou-se para mim - Vai ir?
– E-EU?– cruzei os braços - Nunca! Tsc
Tudo estava tranquilo demais até a droga meu cavalo me empurrar pra água.
Lá se foi meu cabelo, meu batom, minhas unhas, meu sapatos e meu vestido.
– Eu... Eu não... Acredito... - eu tirei o cabelo loiro molhado do meu rosto e cuspi água. Kooler riu, ela riu... Até os cavalos riram (relincharam), meu dia está feito, minha vida é uma bosta!
– Feliz dia de folga fora de hora! - Kooler jogou água em mim, e eu ainda perplexa.
– ... Maldito! Você vai ver! - e assim começou uma guerrinha.
Era como se eu voltasse à ser criança.
Mas você nunca deixou de ser criança, Alice.
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Você amará a gente.
Você caçará a gente.
Você apoiará a gente.
Deixe seu espírito ir.
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Depois de todo aquele alvoroço, um feixe de luz rasgou os céus, e, em seguida, um barulho estrondante, que encheu o Vale além dos espirros de água. Olhamos para o céu; uma tempestade daquelas se aproximava.
– Hm... Melhor voltarmos. - ele suspirou, saindo da água - Vossa Majesta... - ele olhou para o lugar onde Rainha Branca estava sentada. Ninguém. Nem ao menos o cavalo dela estava lá.
– Ela... Pode ter ido dar uma volta, não? - com minha inocência, tentava ser otimista.
– Sem avisar-nos? - fora da água, se virou para mim - E nesse silêncio?
– Ela pode ter falado, mas não escut--
– Seja realista! - ele me cortou, irado - Merda, merda, merda... - Kooler andava de um lado para o outro - Vão falar que nós sequestramos ela! Ou pior: Que nós assassinamos ela!
– Não seja tão negativo! - sai da água, me sentindo pesada pelo meu vestido encharcado - Se é assim, vamos procura-la. Nós podemos ouvi-la respirando, por conta de todo esse silêncio!
Ele parou. Olhou para mim, e admitiu:
– O que você tem de beleza não tem de esperteza. - espere, isso foi um elogio ou o que?
– Ela não deve ter ido longe! - insisti, como uma criança.
Ele bufou, e montou no seu cavalo.
– Venha logo então. - ele começou à correr. Rapidamente montei no meu e o acompanhei.
Só me faltava essa.
–
Na floresta, enquanto cavalgamos e berramos o nome dela, ouvimos apenas nossos passos. Olhamos para o céu: Agora que ia começar à chover.
– Droga. - logo depois de Kooler resmungar, um pé d'agua caiu sob nós.
– Devo bater palmas pra você, seu idiota? - virei-me lentamente para ele.
– Cala a boca. - bufando, foi em direção à uma árvore - Não ficaria aí se fosse você.
– Vá se ferrar. - também o segui - Ficaremos aqui até?...
– Até melhorar.
– E a Rainha? Ela precisa de nós ag...
Fui cortada por um uivo agoniante.
Silêncio.
Estávamos congelados.
Um lobo nos Vales?...
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Continua.
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