These Days

Uma última dança.


Quando o sábado chegou eu estava até animado, nunca tinha ido numa social, digo, com só amigos. Fui na festa do Roger no meio do ano, após as férias, e nas férias também fui em uma com meu primo. Mas nunca com amigos e só amigos.

Com horário marcado para o fim da tarde, me arrumei, após demorar bastante, queria fazer o tempo passar. Eu tinha uma crise de ansiedade com qualquer "evento" diferente do meu dia. Eu sabia sempre como meu diria começaria e terminaria, mas naquele sábado, eu não fazia ideia do que aconteceria. Os acontecimentos daquele dia mudaria o rumo dessa história para sempre.

Chegando na casa Lorena por volta das quatro horas da tarde, Bruna já estava lá, junto com o primo da dona da casa. Ao subir, o primo dela me cumprimentou, era um garoto novo, por volta dos seus quatorze anos, moreno, cabelos curtos e bem magricelo. Eu poderia até afirmar que ele era mais novo do que já é.

Bruna estava de shorts jeans, uma regata branca, e o mais impressionante que ela sorriu quando me viu. E eu gelei por um segundo, não sabia se deveria falar com ela ou não, mas se eu fosse passar horas ao lado dela, eu não poderia ignora-la, mas mesmo se eu tentasse e quisesse, eu jamais iria conseguir fazer isso.

– Olá. - Falei enquanto me aproximei.
– Oi Rick. - Ela abriu um sorriso e suas covinhas encantadoras apareceram.
– Como você está? - Perguntei enquanto Lorena ainda estava tomando banho.
– Estou bem e tu? - Respondeu ajeitando seu cabelo.
– Tô legal... chegou há muito tempo? será que o pessoal vem? - Me sentei no sofá, primo da Lorena estava no computador, segundo ele, estava escolhendo a playlist da social.
– Tem uns quarenta minutos, Lorena me pediu para chegar mais cedo e ajudar a arrumar algumas coisas, e sim, ela ligou para Alana e ela tá vindo para cá com o Douglas e Carla.
– Ah sim, pensei que ia ter mais gente.
– Também, mas segundo Lorena, será divertido mesmo.
– Vai sim! - Dizia Lorena, bem perfumada por sinal. - Quando eles chegarem vamos no mercado comprar bebida.
– Não sabia que bebiam. - Falei, enquanto olhava para a Bruna.
– Ninguém bebe. - Bruna respondia.
– Mas hoje iremos! - Lorena falava rindo - Relaxa, é só Ice gente.

Mateus botou música para tocar, nenhuma fazia meu estilo, mas fazer o quê? tinha que aguentar. Não demorou muito para o trio chegar. Alana veio de óculos escuros, e abriu um sorriso quando me viu, acho que ficou aliviada por saber que eu apareci.

– Hmmm - Ela sorriu e se aproximou - Que bom que veio. - Me levantei para abraça-la forte.
– Eu falei que vinha. - Respondi antes da Alana me tomar a iniciativa e me dar um selinho na frente de todos, me fez corar um pouco.
– Falou nada! - Ela sorria e tirava o óculos.

Eu olhei para os lados e ninguém prestava atenção em nós, era estranho essa sensação, acho que para nossos amigos, éramos um casal, era natural ver nós dois juntos, menos para mim.

Fomos comprar as bebidas, apesar de não beber, eu ajudei a contribuir para comprar cerca de vinte garrafinhas de Ice. Botamos tudo no congelador da Lorena e assim começou enfim nossa Social, botaram música e menos de uma hora as vinte garrafinhas de Ice quase acabaram, sendo que as única pessoas que não beberam foi Bruna e eu, ficamos no refrigerante.

O pessoal então foi para a varanda, onde batia um vento bem gostoso por sinal, como todos estavam bebendo, reparei que nem prestavam mais atenção na música que tocava. Decidi mudar um pouco o repertório e colocar algo mais agradável, ao menos para mim. Foi quando escolhi: Iron & Wine - Flightless Bird American Mouth para tocar.

Bruna estava na cozinha que ficava ao lado da sala, bebia água, ela sorriu quando a música começou a tocar, não sei se ela conhecia ou não, mas eu me levantei assim que ela chegou na sala.

– Ei... - Ainda tímido e receoso, segurei na sua mão, ela me olhou nos olhos. - Uma dança, você me deve, lembra? - Bruna sorriu.
– Lembro, lembro que você também não sabe dançar.
– Não sei, mas você disse que nessa vida devemos fazer tudo que temos vontade né?

Nesse momento eu estava com com uma mão na sua cintura e a outra levantada segurando sua mão, a mão direita da Bruna se apoiava no meu ombro, estávamos perto, mas nem tanto. Fazíamos o famoso: Dois pra lá, um pra cá. Dançando suavemente enquanto a música tocava.

Fazia tanto tempo que eu não ficava tão perto dela, aquele leve cheiro doce vindo de seus cabelos, aquele sorriso no canto do lábio. Realmente Bruna me trazia sensações únicas, o frio na barriga, o coração acelerado, a ansiedade, o nervosismo, o medo, a felicidade. Era tudo aquilo que eu sentia quando estava com ela.

Quando chegou o refrão da canção, Bruna soltou minha mão e cuidadosamente colocou seus dois braços envolta do meu pescoço e seu corpo grudou no meu, eu desci as mãos para sua cintura, encostei devagar minha boca em seu pescoço e dançamos por mais dois minutos naquela posição. Dois minutos que pela primeira vez ao lado dela demoraram horas. Com ela sempre foi tudo num piscar de olhos, com ela, todos os momentos pareciam instantâneos, mas naquela vez, pareceu uma eternidade ficar tão junto à ela.

Eu não sei como não a mordi ou beijei seu pescoço, pois deu vontade, sua pele tão macia, assim como seu cabelo. Eu cheguei a pensar que estava sentindo o coração dela bater mais rápido, mas talvez fosse só impressão, talvez fosse só o meu que tinha acelerado bastante.

No fim da música ela deu um passe para trás e sorriu gentilmente, parecia sem graça, mas ainda sorria e sem dizer nada ela ia, ia para a varanda enquanto eu ficava ali, parado olhando para o nada com aquela sensação de mil sentimentos em minha mente.

Eu ainda amava, eu ainda era loucamente apaixonado por ela, mas eu deveria esquece-la, pela primeira vez eu falei isso para mim mesmo, pela primeira vez eu tinha certeza que eu deveria deixa-la, pois existia alguém que desde o primeiro momento mostrou sua preocupação e desejo por mim, e eu simplesmente não podia deixa-la, eu precisava fazer a coisa certa.