Início de outubro, quarto bimestre estava começando e com ele o desespero de muitos alunos. Eu estava com as notas em dias, já tinha garantido os pontos necessários para a maioria das matérias, e na pior das ocasiões, eu precisava tirar um cinco na média e passaria.

Minha situação era confortável, ao contrário de outras pessoas que precisavam estudar muito para tentar passar de série. Mas isso não era um problema meu.

Eu estava começando a me cansar de ir para a escola, já não via necessidade de estar ali. Bruna não falava comigo, Eduardo só queria saber de pegar as garotas, eu basicamente já tinha garantido as notas para o próximo ano.

Então percebi que Alana era o único motivo de verdade que me fazia ir a escola todos os dias. Eu tentava entender o que tinha entre nós dois, eu tentava entender o que eu sentia por ela. Descobri muito tempo depois. Era algo parecido com o que eu senti pela Bianca.

Alana me dava um carinho e atenção que naturalmente e talvez até de forma exagerada, eu precisava. Eu adorava quando ela chegava atrasada e ia na minha sala avisar que chegou, ou quando a gente se encontrava no intervalo e ela me abraçava forte. Talvez a melhor parte era quando ela simplesmente queria ir para algum lugar e pegava na minha mão e me levasse com ela.

Eu descobri que eu era demasiadamente carente, isso era um problema. Mas um problema que Alana não se importava, ela percebeu isso, ela me compreendeu e gostava de ficar comigo. Ao contrário da Bruna, que eu sempre ia atrás para ficar ao seu lado. A baixinha marrenta era o oposto, era ela que me procurava a maioria das vezes, essa era a diferença.

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Era uma quinta-feira, eu estava no meio da aula mas não aguentando mais, inventei uma desculpa qualquer, alegando compromisso com o Grêmio Estudantil e desci, Eduardo odiou pois não podia vir comigo. Quando cheguei ao pátio, Lorena estava sozinha em um banco, com a mochila em seu colo, ela sorriu ao me ver.

Sentei ao seu lado, botei a mochila no meu colo, e a olhei, ela usava um brinco de argola bem grande e chamativo, ela sorriu novamente pois percebeu que eu estava olhando. Ela botou a mão.

– Gostou?
– Meio grande, mas maneiro.
– Obrigada. - Ela voltava a olhar para o pátio ao todo, estava estranha.
– Aconteceu algo? - A olhei novamente.
– Sei lá, estou meio brigada com a Bruna. - Ela abaixou a cabeça.
– Vocês brigaram?
– Não! É que aconteceram coisas aí. - Ela fez uma pausa. - Talvez seja melhor você nem saber.
– Como assim? Você fala que aconteceu algo, e agora fala que é melhor eu não saber? - Na minha cabeça começaram a passar milhões de hipóteses, nenhuma boa.
– É que eu sei o que você sente por ela. - Ela me olhou.
– O que eu sinto por ela? - Fiquei surpreso.
– Todo mundo sabe que você é gamadinho na Bruna.
– É passado. - Desviei meu olhar e olhei para o pátio.
– Sei...
– É sério! Mas me preocupo com ela, por isso pode falando o que aconteceu. - Eu a olhei novamente.
– Tá, é que assim, tu sabe que a Bruna estava ficando com o Yuri né? Eles estão ficando durante o ano todo.
– Sei... - Eu não estava gostando de como essa história estava se desenvolvendo.
– Aí todas as vezes que eles brigam e param de ficar, a Bruna fica com o Pedro, um garoto aí.
– Hmm. - Pedro, eu já tinha ouvido falar desse nome antes, mas não achava que a Bruna tinha algo com ele. Mas naquele momento meu coração acelerou, eu estava ficando com raiva e uma tristeza ao mesmo tempo, mas para Lorena, eu estava com um sorriso de lado nos meus lábios.
– Fim de semana, Alana, eu, Bruna e uma outra amiga fomos num showzinho do Jorge & Mateus.
– O que é isso? - Lembrei que Alana chegou a comentar sobre me chamar para ir, mas ela sabe que jamais iria em um show.
– É sertanejo universitário, tipo Luan Santana, bem legal por isso.
– Tá, mas aonde você quer chegar?
– Então, lá no show, Bruna ficou com outro garoto, o Juninho. Você não deve conhecer.
– Outro? - Era mais um que eu não conhecia, eu realmente estava começando a ficar com medo, eu não a conhecia como eu imaginava?
– É... o problema é que uma galera viu e tal, e tá rolando uns boatos que a Bruna é fácil, que fica com todo mundo. E você sabe que eu morava lá no mesmo bairro onde Bruna, Alana e as gêmeas moram né? Tenho tia e prima lá ainda, minha mãe estava lá esses dias, e minha prima quase fala da fama da Bruna perto da minha mãe, se minha mãe fica sabendo que a "Bruna é fácil" "Bruna é periguete" e sei-lá-o-que ela não vai me deixar andar com ela, falar com ela.
– Entendi, falou com Alana sobre isso?
– Falei, mas Alana apenas disse "Deixa os outros falarem, ela, Bruna, não deve nada a ninguém"
– Por um lado ela tá certa, você sabe né? - Era impressionante a calma que eu estava mantendo, mas minha vontade era de ir embora.
– Eu sei, aí fui conversar com a Bruna, para ela parar com isso, de ficar sossegada, ela não gostou e meio que discutimos. Fiquei até sem cabeça para ir para a aula.
– Entendo seu ponto, eu poderia até falar com ela, mas a gente nem tá se falando, então...
– Eu sei Rick, desculpa desabafar assim com você, sobre esse assunto que sei que não deve ser fácil para você.
– Fácil não é, mas como te falei, me preocupo com ela. Mas já sei o que vou fazer.

Se tinha alguém que poderia ajudar a Bruna naquele momento era o Eduardo, talvez o único capaz de compreender o que estava se passando com ela, pelo fato deles se conheceram há anos. Então no intervalo daquele dia, chamei Eduardo na sala do Grêmio, aproveitei que não tinha ninguém. Enquanto lanchávamos, eu contei sobre tudo que Lorena havia me falado, Dudu ficou meramente surpreso, ficou em silêncio por uns segundos.

– Isso é sério? - Ela perguntou.
– Pelo visto, sim.
– Cara, eu não entendo. Bruna é linda, sempre foi direitinha, aí ela começa a se envolver com cada garoto escroto.
– Você conhece eles.
– Sim, sei quem são os três. O Yuri é o mais escroto cara, se você me acha escroto por sair com várias garotas, ele é pior, é metido a comedor, pegador e tal, se gaba para todos. E por incrível que pareça, Bruna gosta dele.
– Entendi. - Eu realmente entendi, Yuri era o oposto do que eu era, literalmente.
– Esse Pedro é outro escroto também, além de feio, o que a Bruna vê nesses caras, meu deus... - Eduardo parecia inconformado. - Eu nem vou falar nada do Juninho, ele é até maneiro, ao menos comigo.
– Sei lá, mas enfim, você poderia conversar com ela, saber se ela precisa de algo, se tá acontecendo algo na vida dela, em casa, sei lá.
– Claro, vou falar sim, e obrigado por me contar, você sabe que me preocupo com ela né. - Eduardo parecia mais relaxado.
– Eu sei, irmão. Vocês eram amigos desde sempre.

No fim daquele dia Eduardo tinha marcado de conversar com a Bruna após a aula, eu só encontrei Alana no fim do dia, quando eu a levei até o ponto de ônibus, que diga-se de passagem não demorou a chegar. A loirinha me deu um abraço apertado, falou bem baixinho em meus ouvidos que estava com saudade, então subiu no ônibus.

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Era minha terceira sessão em dois meses, doutora Ana Paula estava tão entretida com a história que tinha feita milhares de anotações. Eu estava deitado naquele divã que eu simplesmente adorava, achava bem confortável por sinal.

– Você percebeu uma coisa nesse dia? - Ela tirava os óculos.
– O quê? - Eu a olhei pela primeira vez desde o início da sessão.
– Que se você não tivesse pedido ajuda ao Eduardo, tudo seria diferente.

Ela estava completamente certa, se eu não tivesse pedido ajuda à ele, tudo, completamente tudo seria diferente. Mas essa é a graça da vida, não é? Se eu não tivesse a chamado no MSN há 9 meses atrás também seria diferente, se eu tivesse a beijado há meses, também seria diferente, "se", "se", "se", "se", "se". A vida e esses seus "se".

Por isso aprendi algo, a vida é assim, é isso, é o momento. Não podemos ficar pensando no passado, como seria diferente se você mudasse um sim pelo não, ou visse e versa, aproveite cada momento, cada minuto, cada segundo, pois a vida é passageira e o momento é único.