Eu achava que a vida tudo seria algo bem diferente de como planejei e imaginei durante minha adolescência. Não que seria tão difícil, cansativa e estressante.

Me imaginei namorando com uma linda garota, fazendo planos juntos. Imaginei me formar cedo numa faculdade, talvez até morar sozinho e longe de onde tive minha adolescência e começo da fase adulta.

Mas depois de anos de ter terminado a escola, depois de me afastar de tudo e todos. Eu estava no mesmo lugar. Sentado naquele banco, da velha pracinha, olhando para aquela extensa rua onde eu sabia onde exatamente me levaria.

Um vento gelado balançava as madeixas dos meus cabelos claros, eu sorri por um instante, senti um leve sentimento de nostalgia. Fazia anos que eu não me sentava ali, fazia anos que eu não a via. Eu estava exatamente onde tudo começou.

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Com o fim do ano se aproximando, as provas já estavam marcadas. Faltavam exatamente um mês para as últimas provas do ano, eu estava bem tranquilo aliás, tinha nota para passar em tudo mesmo sem fazer as provas do último bimestre. Mas eu via o desespero de alguns colegas de classe.

Bruna também estava na correria, suas notas não estavam boas e ela não matava nenhuma aula mais, e eu quase não a via mais no pátio, sempre na sala fazendo tarefas extras para tentar compensar e arrumar alguns pontinhos.

Alana só estava preocupada com português, era a única matéria que ela precisava de bastante ponto para passar, de resto, ela já se considerava no segundo ano do ensino médio.

Eu estava com tempo vago, sentado em um dos bancos da escola, sozinho por sinal. Eduardo estava no outro lado do pátio conversando com uma menina, bonita e loira. Mas naquele momento minha cabeça estava sem pensamentos, estava vazia.

Minha paz e tranquilidade não demorou a ir embora assim que Alana chegou, rindo e saltitante, ela se aproximou e sentou no meu colo mesmo tendo total espaço no banco para se acomodar. Ela sorria e me abraçava forte. Fazia três dias que a gente não se via.

– Riiiiiick! - Ela beijava minha bochecha.
– Nossa, que saudade é essa? - Eu sorria, botava o braço envolta da sua cintura.
– Iiih, nem é tanta saudade assim. - Ela ajeitava seus cabelos amarelados que balançavam conforme o forte vento. - Como se você não estivesse morrendo de saudade.
– Pois é, um pouco. - Eu a olhava e por uns segundos eu acariciava seu rosto.
– Só um pouco? DU-VI-DO! - Ela falava pausadamente, e ria.

Conversamos por quase meia hora, até o banco ficar rodeado com nossos amigos. Como as gêmeas, Lorena, Douglas e Thayane. Alana ainda estava no meu colo e tudo parecia tão natural.

– Estava pensando numa parada foda - Lorena falava.
– O quê? - Alana indagava a amiga.
– Minha mãe vai passar sábado inteiro trabalhando, só chega lá pelas onze da noite. Que tal vocês irem lá pra casa? a gente faz tipo uma social.
– Sábado vamos no shopping com meus pais. - Uma das gêmeas falava e a outra assentia com a cabeça.
– Ah, vamos! Eu tô doida pra fazer algo diferente no sábado mesmo. - Alana demonstrava empolgação.
– Só sei que eu vou, hein. - Dizia Douglas.

Douglas era um garoto da minha sala, era amigo de infância das meninas pois moravam no mesmo bairro, bem próximo delas. Lorena que recentemente se mudou e morava num bairro entre o meu e os deles.

– Então quem vai? - Dizia Lorena.
– O Henrique vai! - Alana me olhava séria.
– Eu vou? - Tentei levantar uma das sobrancelhas, mas falhei.
– Vai sim! Ou vai me deixar sozinha numa festa? - Ela ria, mas falava num tom provocativo.
– Festa? Lorena falou uma mini social. - Eu respondia, meio sério por sinal.
– Bom, vou chamar minha prima Carla e Bruna também, comigo, Thayane e Alana, são cinco meninas. Tem Douglas, você. - Ela apontava para mim. - Vou chamar meu primo Mateus também. - Eu quis ri.
– Então não devo me preocupar com você na f-e-s-t-a. - Olhei para Alana.
– Isso, me deixa sozinha, aí eu agarro o Douglas lá, adianta ficar com ciúmes depois não. - Ela fazia cara de séria e o Douglas ficou surpreso e assustado com o comentário

O sinal tocava minutos depois, Alana se levantou do meu colo só depois que todo mundo se foi, ela me esperou levantar para inclinar sua cabeça para cima e me olhar com aquele sorriso no canto da sua boca, e eu adorava aquele sorriso dela.

– Que foi, baixinha. - Falei sorrindo enquanto botava meu braço envolta do seu pescoço e abraçava.
– Você vai, né? - Ela botava seus braços envolta do meu tronco.
– Quer tanto que eu vá? - Olhava inclinado para baixo, para ela.
– Muito, sem você lá, não faz sentido eu ir. - Pela primeira vez percebi que ela ficou sem graça.
– Hm... - Fiquei sem ter o que falar.

Então levemente comecei a inclinar meu rosto na direção do dela, foi tudo tão lento e devagar que eu vi toda aquela cena em câmera lenta, ela fechando seus olhos verdes bem devagar. Encostei nossas testas e eu sorri com isso, ainda de olhos abertos, eu fui fechando lentamente até roçar levemente meu nariz ao dela, senti ela me apertar e então encostei meus lábios aos dela e quando introduzir a língua, uma voz alta bem ao nosso lado.

– Pra sala ou para fora!!! - Era Tia Elizete me empurrando. - Nada de beijo na escola! - Ela falava rindo.
– Ahhh tia. - Eu afastei um pouco da Alana quando.
– O senhor tem aula, Henrique, mas a loira foi dispensada. - Era incrível, mas Elizete conhecia 90% dos alunos do meu prédio, sabia todas as aulas e turmas

Puxei Alana para um canto quando Elizete se afastou, foi falar com outros alunos. Eu olhei para Alana e queria gargalhar, pois seu rosto estava vermelho, ela estava sem graça de me encarar.

– Eu tenho aula de matemática. - Falei enquanto a olhava.
– Tá bom, eu vou embora então. - Ela me olhava e soltava um sorrisinho.
– Sem problemas, te vejo mais tarde no MSN ou amanhã aqui. - Mexi em uma madeixa loira que estava batendo em seu olho e botei atrás da sua orelha delicadamente, ela segurou minha mão e acariciou por uns instantes.
– Tá, se cuida. - Ela ficou parada me olhando, eu aproximei e dei um selinho demorado, e ela me abraçou forte depois.
– Se cuida também. - Eu a soltava e a olhava ir.

Assim que Alana dobrou pela cantina e ir em direção a saída, eu notei um alguém perto da árvore, bem longe de onde eu estava, a pessoa me encarava e isso me assustou um pouco. Era Bruna com um olhar bem vidrado e perfurante. Ela ficou mais alguns segundos olhando para mim, provavelmente viu toda a cena com a Alana, mas eu pela primeira vez, não me importei com o que ela sentiria.

Me virei e segui para a sala de aula, quando olhei na direção da árvore, Bruna não estava mais lá. Me peguei em mil pensamentos, totalmente ao contrário de como foi horas atrás quando eu estava com a mente livre. Eu tinha decidido esquecer a Bruna, a gente praticamente não se falava mais, não tinha sentindo eu sentir um pouco de culpa por tentar algo com Alana, pelo contrário eu deveria e iria tentar, e a social da Lorena seria onde eu a beijaria pela primeira vez.