Meus pés latejavam e minha cabeça me matava de tanta dor. Limpei o suor do rosto com as mãos, apoiando o braço cansado nas coxas.

Olhei em volta, estreitando a visão. Aonde eu estava? A última coisa que me lembro é que eu chorei. Chorei até não poder mais, como se isso trouxesse de alguma maneira ele de volta. Lembro também de correr desesperadamente acreditando ter um rumo certo, lembro da doce voz de Luka me chamando com angústia. Estou perdido. Tanto fisicamente quanto mentalmente.

Qual era o meu plano? Correr como um tolo até milagrosamente encontrá-lo, e lutar com qualquer bandido ou inimigo com os punhos vazios? Exatamente.

Um cheiro de sangue e queimadas era minha única ajuda. Segui seu rastro cegamente por uma estrada, chutando pedregulhos. Passei por casas e fazendas abandonadas, que me fizeram sentir mais triste ainda. Quase mudei de idéia diversas vezes, quase desisti inúmeras. Meu corpo se dividia entre uma paixão e uma intensa mágoa. Essa paixão me devorava por dentro, me consumia, mas ao mesmo tempo me dava motivo para ser eu. Uma simples memória de seu sorriso me esquentava naquele momento que me senti tão sozinho.

O dia inteiro se passou, e eu não parei um momento sequer. Minha barriga roncava, e eu acabei tendo que ceder ao cansaço. O sol já se pôs, e começou a ficar frio. Acabei encontrando uma casa pequena completamente abandonada e destrancada. Normalmente eu teria me recusado a invadir assim, mas eu estava desesperado demais para isso. Pulei a cerca em volta da fazenda, pisando na grama molhada. Abri com cuidado a porta que rangeu bruscamente ao meu toque. Vasculhei os armários, agradecendo à minha própria sorte ao achar um pão velho e uma carne seca. Acendi a lareira, sentando-me numa cadeira de madeira que parecia que iria quebrar a qualquer momento.

Mastiguei a comida, sentindo meu maxilar doer. Adormeci facilmente ali mesmo, e pela primeira vez em tanto tempo, dormi profundamente.

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Não custei a acordar, e após restaurar minha energia, voltei a caminhar ao meu desconhecido destino. Apenas segui pela estrada, rezando para encontrar alguma ajuda. Porém, encontrei um armazém que eu conhecia bem. Ele estava de portas abertas, armários completamente esvaziados. Era triste, ver um ambiente tão conhecido com uma aparência tão horrível. Lembrei de Neru e de Meiko. Nem perdi meu tempo e segui pelos vinhedos, com o coração na mão.

No castelo que eu esperava encontrar vazio, saía uma longa fumaça pelas chaminés. Tinha alguém dentro. Não sei se era algo bom ou ruim, mas o que eu tinha a perder? Já sem esperança ou forças, entrei pelas portas dos fundos.

Meu movimento descuidado ao entrar atraiu atenção dos guardas, que, correram até mim com suas armaduras amareladas rangendo. Apontaram suas lanças para mim. Eram cinco, talvez seis.

Parado, intruso!— uma voz rouca cheia de amargura e melancolia me ordenou.

Era isso. Se eu morresse ali, ao menos estaria em casa.

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Obrigaram-me a andar pelo corredor até o hall, onde eles conversavam com rispidez. Estava muito cansado para prestar atenção, mas pareciam estar decidindo o que fazer comigo. Enquanto falavam, olhei para mim mesmo. Tentei ajeitar ao máximo minhas vestes, um casacão cinza arroxeado, que ia até o joelho, e uma camisa amassada. O mármore do salão não era mais tão branco como eu me lembrava. Cortinas foram rasgadas, restando apenas trapos pendurados. Nas duas escadas que subiam nas laterais do hall, lama escorria, e marcas de mãos sujas de sangue pintavam as paredes. Penteei meu cabelo com os dedos, deixando os fios soltos. Senti toques no meu corpo. Aquelas mãos imundas contornavam minha cintura, fazendo-me encolher-me ao máximo possível.

Sentiram minhas costelas que imploravam por comida, sentiram meus machucados que me cobriam a pele. Eles riam, debochando da minha aparência. Falavam do meu rosto, falavam que era bonito como de uma garota. Por mais que um elogio fosse melhorar meu humor, vindo deles só piorava.

Não podia fazer nada. Apenas fechei os olhos, me esforçando para pensar que tais mãos eram de meu amado. Não. Seus delicados dedos não fariam tais pressões. Não teria tal sujeira. Quando então, a porta de madeira de entrada se abriu bruscamente, ecoando um som que me deixou com mais medo ainda.

— Que porra vocês pensam que estão fazendo?

Levantei meu olhar. Uma mulher, de armadura também, entrou.

— Quem é esse bostinha? - se dirigiu a mim, cuspindo no chão conforme andava.

— Ele entrou pelas portas dos fundos, o capturamos. Agora, que fazemos capitã? - os guardas se curvaram, retirando suas mãos de mim.

— Levem-no para a princesa. Ela saberá fazer bom uso dele. - Ela sorriu. Sorriu com maldade.

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A porta da sala da frente também estava diferente. Estava pintada de vermelho.

Empurraram-me para dentro, me fazendo cair de joelhos. Seguraram minha cabeça, me impossibilitando de levantá-la. Pude ver apenas o pé das cadeiras, junto com uma barra de vestido amarela e sapatos sociais sujos de duas pessoas diferentes, um em cada ponta da mesa branca.

Oh! Chegaram bem na hora do chá!