The price of evil...

you pull the trigger now your story's left behind



Horas, dias, semanas, meses e anos... Não tinha a consciência de quanto tempo havia se passado, mas eu sabia que agora mais do que nunca tudo estava muito distante pra mim. Inalcançável.

As Wooden Brown estão mortas... Todas elas.

Olivia, Lisa e por fim Clarisse.

As ruas gélidas da Itália não marcavam nenhuma semelhança ou diferença com as da Califórnia, para mim, eram as mesmas coisas iguais em um lugar diferente. Não deixavam de serem apenas mais pessoas apressadas, andando de um lado pro outro, com a diferença de que usavam milhões de roupas a mais e na maioria do tempo, viviam cercadas por neve.

Resolvi sentar no banco do parque em que estava próxima e fiquei observando cada minúsculo detalhe. As crianças e seus pais, os casais adolescentes... E para cada pequena atitude tentava encaixar algum significado. Gostava de imaginar a história e a vida das pessoas desconhecidas que me cercavam. Talvez fosse só uma tentativa de ignorar minha própria história. Talvez quem passasse poderia imaginar que minha mente andava lotada de coisas, mas na verdade, era só um grande nada.

Xx

Quando acordei estava sentada em uma das cadeiras da sala de espera de um hospital, tinha metade do meu corpo debruçado sobre Synyster. É claro que eu só percebi isso depois de ter um ataque e morrer mentalmente três vezes devido o lugar todo branco. Era perturbador demais e em minha opinião, mil vezes mais macabro que um cemitério.

–Calma ok? Por que esse medo todo? É só um hospital, sua mula! –Synyster disse ao me dar um cascudo.

–Por que você me trouxe aqui? –Balbuciei ao pronunciar as palavras que pareciam pesadas, me fazendo exercer um esforço enorme apenas para dizê-las.

–Sei lá, acho que esses machucados sangrando pra caralho no seu braço seriam um bom motivo. Aliás, você estragou minha regata, vou querer uma nova.

–Vai se foder, quero ir embora. –Resmunguei levantando da cadeira, mas acabei mancando um pouco, minhas pernas também não tinham sido salvas.

–Não acredito que vai se comportar como uma criança.

–Você faz isso o tempo inteiro e eu nunca falei nada, então cala a boca. –Revirei os olhos e continuei andando como o Dr. Gregory House sem sua bengala. Senti alguém agarrando meu braço com força. –Você nunca perde essa maldita mania, mas que porra. –Falei rindo no final da frase estragando toda a minha tentativa de parecer irritada. –Gênio, meu braço ta machucado, me larga.

Com isso Synyster me arrastou de forma carinhosa e cuidadosa de volta a cadeira, me jogando na mesma com aquele receio todo de me machucar.

Como você é agradável. Praguejei em meus pensamentos. Óbvio que ele havia me arrastado até a cadeira do modo mais desleixado que pôde.

Passamos alguns longos minutos sem falar nada, até que eu resolvi quebrar o silêncio.

–Fazendo birra?

–Não sei do que está falando.

Ambos olhávamos para o chão à nossa frente e tínhamos uma postura que nos deixava um pouco distante.

–De elefantes aquáticos, seu estúpido. É claro que eu to falando da sua reação hoje mais cedo.

–Não vi nada tão espetacular nela.

Suspirei.

–Vai pro inferno, é impossível ter uma conversa decente com você. –Mais algum tempo se passou até que a enfermeira chamou pelo meu nome, levantei e fui de forma desajeitada até ela, mas antes que me afastasse muito, meu braço mais uma vez foi quase esmagado.

–Conheci alguém que morreu de overdose. –Suspirou olhando para a própria mão que agarrava meu braço, não precisava deduzir o que ele estava sentindo agora, eu conhecia a dor de perder alguém que se ama. –Poderia ter acontecido o mesmo com você.

Não sei quanto tempo se passou desde a hora que ele olhou fixamente em meus olhos e por trás de toda aquela arrogância eu consegui ver o sofrimento e a dor que a morte de The Rev ainda lhe causava. Imaginei se ele podia ver o mesmo em mim.

Puxei meu braço e sai andando até a outra sala, de nada adiantaria eu dizer sinto muito ou você vai superar.

Logo depois disso, começou uma das piores torturas da minha vida.

Um médico.

E todos aquelas coisas que eles usam para sutura.

Gritei, esperneei, chorei até que fui sedada.

Xx

–O que foi Sanders? Não, ela ta aqui comigo toda remendada. –Fez uma pausa. –Adivinha, se meteu em confusão de novo. Ok, to indo pra casa.

Pude ouvir a conversa ao fundo, abri os olhos com dificuldade e percebi que estava deitada em uma maca.

–Até que enfim, porra, achava que tinha entrado em coma.

–O que...

–Te sedaram por que seu escândalo estava assustando as pessoas e você ficou apagada por 2 horas.

–2 HORAS?

–Não, eu tava brincando, foram meia hora e como eu estou cansado de te carregar resolvi esperar olhando para uma enfermeira gostosa, diga-se de passagem.

–Você é nojento.

–Ah e eu precisei pegar o celular no seu bolso traseiro, não garanto não ter me aproveitado disso.

–Não precisa fingir ser hétero Gates, todos já sabem a verdade. –Recebi alguns xingamentos como resposta enquanto ele me devolvia o celular.

Levantei com dificuldade e percebi que minhas pernas e braços estavam com algum tipo de remédio amarelado, outros cortes cobertos com pequenos curativos e um único mais profundo em meu braço que levou três pontos.

Saímos do hospital, pegamos um táxi e só aí me dei conta de algo que estava faltando. Zacky.

Eu não fazia a mínima ideia de onde ele poderia ter se metido, minha única esperança era que o encontrasse ao chegar em casa... O que não aconteceu.

Matt tinha o pequeno Johnny em seu ombro enquanto Michelle morria de rir.

–Epa, seu veado das sombras, vai ter que me carregar também. –Synyster entrou na sala saltitando.

E logo depois as mesmas brincadeiras inúteis de sempre começaram. Chamei Michelle de forma discreta e ela veio até mim.

–Cadê o Zacky? Ele voltou pra cá? –Perguntei da forma mais silenciosa possível.

–Ele não está mais aqui. –Falou com o semblante franzido.

–Como assim? Pra onde ele foi? –Sem querer exaltei um pouco a voz.

–Clarisse, o Vengeance foi embora, ele voltou pra Huntington Beach.

A reação de Zacky não foi tão inesperada assim, eu que estava com a cabeça lotada. Respirei fundo e pensei no que seria adequado agora, fiz uma lista em minha mente tentando encontrar minhas prioridades. Olhei no relógio que marcava 5:00 p.m, pela janela aberta pude perceber o sol se pondo de forma preguiçosa deixando todo o ambiente com um tom alaranjado. Naquele momento, tempo não era algo que eu pudesse desperdiçar.

Girei os calcanhares e fui em direção à porta, impedida, segundos antes, pelas mãos frias de Michelle.

–Aonde você vai?

–Aonde você acha que eu vou?

–Procurar o Zacky. –Matt foi quem respondeu e só então notei que as outras pessoas da sala acompanhavam nossa conversa.

–Obrigada Matt, mas essa foi uma pergunta retórica. –Dei o meu melhor sorriso amarelo me livrando das mãos em meu braço, mas continuando imóvel no mesmo local.

–Clarisse, pela hora que ele saiu, com certeza já deve ter conseguido algum voo de volta para casa. –Johnny falou de forma serena tentando me acalmar.

–As coisas não são assim Johnny, não é por que o Zacky quer que terá um avião a disposição dele, vocês não são os integrantes do Iron Maiden.

–Opa, isso é golpe baixo e magoa! –Matt me olhava com uma cara indignada que eu sabia que tinha que levar na brincadeira.

–Pensando melhor, vocês podem ser uteis. –Disse ao analisar melhor a situação.

–Não seremos seus escravos sexuais. –Johnny falou dando uma cotovelada em Matt como quem esperava por uma aprovação para a piada, porém recebeu um cascudo.

–Cuidado com o meu moicano caralho. –Esbravejou em tom baixo.

Peguei o celular que ainda estava no bolso, digitei Z na procura pelos contatos sem resultado. Disquei V, mas obtive o mesmo resultado da busca anterior.

–Você não tem o número do guitarrista base da sua banda? –Olhei incrédula para o cara enorme a minha frente e não pude deixar de notar o contraste dele ao lado de Johnny.

–Oh criatura burra, já procurou em G? –Falou como se explicasse algo óbvio.

Fiz o que Matt havia sugerido e lá estava.

Gordo.

Deixei uma risada abafada escapar, liguei para o contato e entreguei o celular para Matt.

–Pergunte onde ele está.

Após um curto intervalo de tempo percebi que a ligação fora atendida.

–Fala Gordo, aonde se meteu? –Fez uma pausa, todos na sala esperavam por uma resposta, só então percebi que Gates estava jogado no sofá bebendo totalmente indiferente. E além do mais, como ele havia conseguido aquela bebida?–Não, a Clarisse ainda não chegou. Ok, vou avisar a Val que você está voltando. Tchau e boa viagem. –Desligou. –Acho que temos tempo, Vengeance disse que o próximo voo será só 00:00.

–Que orgulho do meu pequeno grande homem. –Falei apertando as bochechas de Matt e cutucando o local onde ficavam suas covinhas. –Acho que temos uma viagem para impedir galera. –Disse sem conseguir esconder minha animação.

Corri até o sofá puxando Gates para que se levantasse, estava um pouco bêbado e já contava algumas piadas sem sentido, pegamos um táxi e fomos a caminho do aeroporto.

–O que um tomate disse pro outro? –Perguntou o abobalhado apoiado em meu ombro.

–Não sei. –Torci o nariz, aquele cheiro de bebida me enojava.

–Nada! Tomates não falam! Imagine que horrível você está em um restaurante e do nada um tomate começar a conversar com você. –E começou a rir sem pudor nenhum.

–Chegamos. –O motorista disse ao estacionar próximo ao local de destino.

–Obrigada. Matt paga a conta.

–O que? Quem disse que eu trouxe dinheiro?

Todos no banco traseiro se entreolharam buscando por alguém que estivesse preparado para situações de emergência.

1, 2, 3 e... Fiz a contagem apenas movendo os lábios e todos entenderam bem.

Saímos correndo desesperadamente do táxi deixando para trás um motorista que buzinava e xingava prometendo nos denunciar para polícia. Chegamos ao aeroporto ofegantes e logo depois um acesso de riso incontrolável passou a perturbar as pessoas que ali estavam esperando pelo seu voo.

–O que vocês estão fazendo aqui? –Todos nós paramos com a euforia quando percebemos Zacky vindo em nossa direção com uma mochila nas costas.

–Viemos te buscar saco de gordura. –Syn foi quem respondeu chegando perto do amigo e o abraçando de forma... Inconveniente, digamos assim.

–Estou indo pra casa, vejo vocês assim que voltarem. –Falava sem nem ao menos aparentar que se incomodava com a minha presença ou que pelo menos tinha notado-a. Sua expressão era calma, mas não aquela que eu conhecia, era fria e séria.

–Zacky. –Disse com a voz firme.

Ele apenas olhou para mim da forma mais vazia e indiferente possível. Prossegui.

–Será que podemos conversar?

–Galera, agora é hora da cena que nós damos desculpas esfarrapadas e vamos para outro lugar, já vi isso nos filmes. –Johnny sussurrava de forma que todos conseguiam ouvir, lancei um olhar de reprovação para ele. –Ok, não é hora pra brincadeira né mamãe?

–Vamos esperar vocês dois sentados ali. –Matt concluiu apontado para o conjunto de cadeiras com pessoas cansadas apoiadas em suas malas, em seguida, sobraram apenas eu e Zacky. Não falamos logo de imediato, acho que nenhum dos dois sabia como iniciar aquela conversa.

–Lembra-se de quando nós passávamos o dia inteiro fazendo nada? –Não olhei em seus olhos ao falar. –Aquela época era tão diferente, eu vivia com medo de que me encontrassem, mas eu planejava fugir antes que isso acontecesse. –Fiz uma pausa. –Mas vocês me fizeram ficar. Ah, eu lembro muito bem do que você disse. Eu tinha acabado de ter uma discussão com o Gates e você foi procurá-lo, quando voltou me encontrou feito uma idiota encarando o espelho banheiro.

–Você ainda teve a audácia de reclamar. –Disse um pouco mais suave.

–E você disse que o banheiro era seu.

–Ele não era meu, ele é meu! Que tipo de homem não pode mais mandar no próprio banheiro? –Rimos.

–Você vai ficar.

–Não Clarisse. Agora eu tenho cachorros e eles precisam de mim. –Deixou escapar um riso leve.

–Eu não estava perguntando nada, foi uma afirmação.

–Como você pode achar que...

–Eu sinto muito. –Disse as palavras que eu mais temia, sentindo um fardo enorme por tê-las dito.

–Nem você mesma acredita no que acabou de falar.

–Não Zacky, eu sei o que estou dizendo e você não pode ir agora.

Não falamos nada por um curto intervalo de tempo e dessa vez foi Zacky quem quebrou o silencio.

–Adeus Clarisse. –Dizendo isso deu às costas e foi até onde os outros estavam, conversaram por alguns segundos e logo vieram em minha direção. Todos, exceto Zacky.

–Ele não vai ficar. –Falei para mim mesma.

Saímos do aeroporto, eu não podia acreditar que ele realmente ia embora sem entender nada, sem que eu explicasse nada. Matt havia emprestado dinheiro com o amigo e dessa vez não precisamos correr do taxista que nos deixou em casa.

Cheguei ainda desnorteada, eles pareceram perceber e não comentaram nada, discutiam somente sobre quem ia dormir com quem e em qual quarto.

–Vocês vão dormir no meu quarto. –Forcei um sorriso. –Todos nós. –Disse por fim tentando parecer brincalhona a aliviar o clima da sala. Logo em seguida começou mais uma discussão sobre o mesmo assunto.

–Eu não quero dormir com o fedorento do Matt, ele ronca! E algo que eu descobri com ele é que quanto maior o cara é, mais alto ronca. –Johnny resmungava.

–Eu que não quero dormir no mesmo lugar que um gnomo, você já sentiu o aroma do ambiente depois que ele tira os sapatos? Eu sou uma pessoa fina, acostumada com melhores hotéis. –Synyster reclamava fazendo cara de mocinha. Eu entendi que eles estavam fazendo aquilo para me animar um pouco. Desvencilhei-me de toda aquela conversa e subi as escadas, precisava arrumar e esconder algumas coisas para evitar perguntas inesperadas, mas mais do que isso, precisava ficar sozinha, algo no meu peito doía. E doía muito.

Cheguei à frente do quarto e abri a porta tendo a impressão de que estava no lugar errado.

Estava tudo uma bagunça, meu pôster rasgado, os lençóis que estavam na cama foram cortados e bagunçados, perfumes quebrados no chão, as coisas na prateleira estavam todas espalhadas pelo lugar, roupas pelo chão e por fim, minha bateria. Estava toda quebrada e arranhada.

Continuei imóvel e cética. Nada do que eu via parecia real.

Isabelle.

Andei relutante até a cômoda e percebi que as minhas fotos estava rasgadas. Uma com minha avó, a outra minha e de minha mãe, na nossa melhor fase, algumas minhas ao lado de Michelle estavam espalhadas pelo chão. Fui até minha bateria não podendo acreditar no que via e acabei encontrando um papel amassado.

Olá irmãzinha, espero que tenha gostado da sua nova decoração, mas, por favor, não agradeça unicamente a mim, tive a ajudinha de outra pessoa, você deve saber quem.

Ps.: Cuidado com os seus amigos.

A letra era exageradamente desenhada e a cada palavra que eu lia sentia meu sangue ferver. Amassei e joguei o bilhete bem longe, berrei e no meu acesso de raiva acabei fazendo com que todos aparecessem ali.

–Nossa, como seu quarto é bem arrumado. –Synyster ironizou.

Olhei para eles e vi a preocupação no rosto de cada um.

–EU VOU MATAR AQUELES FILHOS DA PUTA! –Continuei a gritar sem me importar com a presença deles. –Se ela pensa que é fácil assim... Ah, eu juro que antes de ser presa vou acabar cometendo mais um crime. –Respirei fundo. - Ok, acho que agora eu tenho que começar a explicar tudo.

–Explicar? Como assim Clarisse? Quem fez isso? Você sabe? –Não respondi. –Você sabe! Eu vou quebrar a cara do desgraçado agora mesmo, se o imbecil filho da puta não teve problema nenhum em entrar aqui e destruir o seu quarto o que ele pode fazer com você? –Matt gritava e eu percebi a verdade em suas palavras.

De forma muda, agradeci imensamente por ter aqueles caras na minha casa.

Xx

Estava chegando em casa cansado, os dias haviam sido bem tranquilos agora que Clarisse aguardava o julgamento em liberdade, ao contrário do que eu imaginava ela não me procurou para pedir explicações.

Senti o celular que eu usava unicamente para o trabalho vibrar em meu bolso.

–Alo?

–Detetive, o senhor não vai acreditar.

Esperava que fosse Jace, ele estava sendo meu parceiro nas investigações ultimamente, mas quem falava ao telefone era outro rapaz cujo nome não me recordo.

–O que aconteceu?

–Recebemos uma denúncia, parece que a Wooden Brown resolveu entrar em ação mais uma vez. –Seu tom de voz era animado.

O detetive do outro lado da linha me explicou a história mais absurda do mundo e eu fui correndo para casa de Clarisse antes mesmo de desligar o telefone, mas sabia que demoraria a chegar.

Xx

Meus olhos pesavam, eu estava quase dormindo dentro daquele maldito carro. Já estava indo para casa depois que Isabelle havia ligado para avisar que não havia mais nada a ser feito por hoje. Senti o celular no meu bolso vibrar.

–Fala.

–Onde você ta? –Perguntou apressada.

–Voltando pra casa como você mandou.

–Mudança de planos querido. –Ouvi um riso abafado do outro lado da linha.

Xx

O relógio insistia em me lembrar de que o tempo corria e agora eu não poderia pensar muito antes de tomar minhas decisões. Teria que fazer o que era preciso e depressa!

Mas o que eu deveria fazer eu não tinha a mínima ideia, esse era o problema.

Ao meu lado no sofá estavam Gates, Matt, Johnny e Michelle. Faltava alguém. Um alguém que havia escolhido partir. Sacudi a cabeça tentando me manter longe de minha própria mente.

–E então? –Johnny perguntou mantendo uma expressão preocupada. Precisava conversar com ele o quanto antes, só ainda não havia encontrado uma boa oportunidade.

–Vamos esperar. –Respondi sem emoção.

Meus pensamentos agora estavam voltados para o bilhete. A ajuda mencionada sem sombra de dúvidas era de Charlie, mas algo ainda estava bem fora do lugar. E o que ela quis dizer com “tome cuidado com seus amigos?”. Talvez estivesse falando de Charlie, mas ele não era de forma alguma meu amigo!

Mas e se... Bom, não que eu acredite na minha própria hipótese, mas não seria coincidência encontrar Gates e Isabelle se agarrando em um bar? Deletei a possibilidade na mesma hora que a considerei.

“Irmãzinha.”

Por que diabos Isabelle insistia em se referir a mim daquela forma? Não sou estúpida e consigo enxergar as verdades que praticamente aparecem estampadas pra quem quiser ver, eu só não queria acreditar, precisava de uma explicação, por isso havia pedido que Michelle “denunciasse” minha tentativa de fuga, agora bastava esperar.

A campainha tocou uma vez fazendo meu coração acelerar.

–É o cara que estamos esperando? –Synyster perguntou.

–Como vou saber, não tenho visão raio-x. –Suspirei. –Mas provavelmente é ele sim.

O som da campainha ressoou mais uma vez.

–Eu atendo. –Michelle disse por fim, somente assenti.

A loira tinha as feições cansadas, os cabelos presos em um coque bagunçado e acho que pela primeira vez estava vestindo roupas nada extravagantes. Não posso negar que no princípio tive uma ideia bem errada dela, mas agora estava sendo como um verdadeiro escudo, sempre me ajudando da forma que podia, talvez isso signifique ter uma amizade.

Assim que a porta foi aberta, vi que ela não moveu nenhum músculo, nenhuma apresentação, ou alguém entrando na casa apressado. Simplesmente todos pareciam congelados. Olhei por um segundo para Matt, sua expressão séria já não existia mais, agora a única coisa que eu enxergava era um sorriso com covinhas que eu não entendi bem. Voltei meu olhar para a porta e lá estava Michelle agarrada ao pescoço do visitante. Franzi o cenho, que porra é essa? Só então percebi que não era Vernet que estava ali, mas sim a última pessoa que eu pensava que poderia estar ali.

–Gordo! –Johnny, Gates e Matt gritaram quase em coro.

Eu iria correr até Zacky e beliscá-lo pra ter certeza que ele realmente estava ali, porém algo me impediu.

Acho que aquela casa nunca havia sido tão movimentada. Mas que caralho, tive vontade de socar alguém, não acredito que justo agora... O segundo visitante assumiu uma postura confortável e petulante em frente à porta.

–Olá Charlie. –Falei em um tom tranquilo, não podia parecer uma desequilibrada agora.

–E aí, Clarisse. Vim aqui só saber o que achou da nova decoração. –Charlie tinha as mãos nos bolsos, um sorriso cínico e corria os olhos pela sala.

–Perfeita. –Sorri.

–Foi você quem fez aquilo? –Syn gritou enquanto levantava-se do sofá. O que eu mais admirava naquele cara, era seu autocontrole, incrivelmente fascinante.

–Você deve ser um dos caras daquela bandinha. –Respondeu o moreno pairado na porta com desdém.

Talvez eu estivesse cansada demais pra acompanhar o que estava acontecendo, de relance vi Synyster correr na direção de Charlie e em pouco tempo os dois já estavam destruindo minha sala. Logo que Synyster perdeu a vantagem na briga, o que não era surpreendente já que segundos atrás ele parecia não lembrar o próprio nome, Zacky puxou Charlie pela camisa e, não sei quando, Matt juntou-se a briga.

Não pude evitar um meio sorriso, Johnny estava agora do meu lado.

–Não vai fazer nada? Pensei que gostasse dessas coisas também. Porrada, dentes voando... –Cutuquei o menor ao meu lado.

–Estou um pouco cansado hoje, não posso gastar energia, tenho muito que resolver, aliás, tudo culpa sua! –Disse rindo. -Coitado, acho que ele não sabia do temperamento dos meninos. –Rimos.

Michelle estava paralisada na porta olhando toda aquela confusão, mas parecia estar se divertindo também. Ela sabia que ele havia feito aquilo comigo.

–Chega! –Falei em tom amistoso, porém alto o suficiente. Aquilo foi similar a dar pausa em um DVD, os meninos assumiram as mesmas posições e ficaram imóveis, Matt ainda com as mãos no colarinho da camisa de Charlie que possuía uns machucados feios, muito feios, os outros por sua vez, tinham apenas alguns arranhões. -Vá embora daqui agora Charlie e diga pra Isabelle que ela se esqueceu de que um jogo possuem partidas e que bom, esqueceu também com quem está jogando. –Esbocei o sorriso mais cínico que consegui.

–EU VOU ACABAR COM VOCE SEU FILHO DA PUTA! -Gates gritou.

–Estarei esperando você tentar, mas sem a ajuda de seus amiguinhos.

–Como é? –Syn já estava prestes a iniciar outra briga, mas foi impedido por Zacky.

–Matt tire-o daqui antes que eu perca minha sagrada benevolência e mande vocês continuarem com a diversão. –Suspirei cansada.

–Chegue perto dela mais uma vez e veja o que acontece. –Ouvi a voz grave de Matt ao fundo enquanto jogava, literalmente, Charlie para fora que antes de sair gritou algumas coisas que me perturbaram.

–Deixei uma surpresinha pra você, meu amor. Espero que goste. –Sorriu deixando a mostra os dentes sujos de sangue.

Analisei os outros da sala, todos apreensivos, seria estúpido de minha parte deixar que eles continuassem cegos nessa confusão toda.

–Vamos acabar logo com isso.