The price of evil...

Regrets for the rest of my life


-Então é isso? –Disse a mim mesma enquanto fitava a casa que havia sido o palco de toda a minha vida. Nada parecia diferente, até mesmo a vidraça quebrada permanecia lá.

É injusto demais o mundo continuar o mesmo enquanto o meu mundo simplesmente continua virado do lado avesso.

Talvez eu estivesse com medo de voltar àquele lugar, das lembranças que ele traria e de como elas me afetariam. Mas não era somente isso que estava me incomodando, no fundo eu sabia que tinha algo muito errado em toda essa história.

Quando Greg chegou à delegacia dizendo que tinha ótimas notícias, eu nunca iria adivinhar que isso incluiria minha liberdade provisória. A promotoria dificultou tudo até agora e por que do nada resolveriam me ajudar como se eu tivesse ganhado um bilhete premiado? E até mesmo por que pelos crimes que eu havia cometido, deveria ser considerada uma ameaça para sociedade, certo? Prisão domiciliar ou regime semi-aberto até poderiam fazer sentido, mas ficar livre com a simples condição de não sair da cidade? Com certeza algo estava bem fora do lugar. Mas quer saber? Foda-se, não vejo como eles conseguiriam me afetar.

Xx

-Identidades novas? –Perguntei.

-Tudo ok, senhor.

-Você tem certeza que eu não terei nenhum tipo de problema com esses documentos futuramente, não é?

-Isso seria impossível.

-Espero que sim. E diga ao seu chefe, que se ele gostar de viver é bom não comentar com ninguém que eu estive aqui.

-Sim senhor.

Coloquei os óculos escuros novamente e sai discretamente daquela espelunca com os envelopes, toda aquela história estava me dando muito trabalho e eu não via a hora de acabar logo com isso.

Senti meu celular vibrar em meu bolso. O nome Vernet piscava no visor.

-Jace, preciso que você volte. – A voz conhecida do outro lado da linha parecia preocupada.

-Não posso Vernet. Aconteceu alguma coisa?

-Sim, Clarisse está livre provisoriamente.

-O que? –Berrei fazendo com que a atenção de algumas pessoas que passavam por ali se voltasse para mim. –Você enlouqueceu? Isso é uma piada?

-Não posso explicar, mas preciso que você volte.

-Verei o que posso fazer. Tchau. –Desliguei.

Droga, agora sim as coisas iriam ficar bem mais complicadas.

Xx

Depois de ter conseguido arrombar a porta que obviamente estava trancada, analisei cada detalhe da casa, tentando da melhor forma dizer a mim mesma que nada daquilo poderia me afetar agora.

Os móveis nos mesmos lugares, no meu quarto a janela quebrada e uma camisa xadrez jogada na cama, a bateria... Tudo. Por um momento pensei que se olhasse pela a janela, veria vovó cuidando de suas plantas, mas ao contrário do que eu imaginava, encontrei apenas flores murchas.

Depois de um demorado banho fui matar a saudade daquilo que eu amava fazer.

Comecei praticando alguns solos de The Rev.

Era como se eu estivesse conversando com a bateria, como se aqueles sons viessem da minha alma e todas as minhas palavras se transformassem em batidas.

E mesmo sem nunca ter conhecido Jimmy, ou até mesmo sem saber muitas coisas sobre ele, eu conseguia sentir sua alma ali, como se eu estivesse tocando tudo o que ele queria dizer, uma conversa sem palavras e mais do que tudo agora eu sabia que podia entendê-lo e que ele também me entendia.

Eu já não me sentia tão preocupada ou apreensiva e a minha sensação de ter Rev muito próximo a mim fez com que eu entendesse qual deveria ser o meu próximo passo.

Xx

-Zacky, teu cabelo ta horrível, quase pior que o do Gates.

-Não compara Shadows e eu não tenho culpa se minha cabeleireira gostosa gosta de roxo.

-Roxo vai ficar o seu olho, filho da puta, me traindo com a cabeleireira?

-Gates, você já viu a mulher? Consegue ter mais peito que o porpeta. –Johnny disse ao se aproximar tentando apoiar o cotovelo no meu ombro.

Peguei a chave no meu bolso e tentei abrir a porta, algo que foi muito complicado, por que eu não conseguia distinguir qual era a porta de verdade e qual era apenas fruto da minha imaginação. Ainda ouvia as risadas ao fundo. Tudo culpa do meu fígado! Digo isso por que provavelmente o futuro dele está comprometido em decorrência do uso abusivo do álcool, só não acho legal culpar uma coisa tão boa como as minhas bebidas por todos os efeitos que causam, então em minha opinião, a culpa é do meu fígado fraco demais.

-Gates, chama a Michelle. –Os impacientes reclamaram.

-MICHELLE! MULHER VEM CÁ! –Começamos a rir até que a loira veio atender a porta. –Oi, meu amor, sentiu minha falta? -Disse ao ir me jogando por cima dela.

-Gates, eu sou a Valary. –Respondeu rindo.

-LARGA A MINHA MULHER!

-Jesus Christ, preciso preservar minha vida.

Corri para dentro da casa com um Matt muito bêbado atrás de mim. Depois de algumas voltas pela casa, esbarrei novamente em Val e a segurei pelos ombros, colocando-a na minha frente.

-Não se mexe. Você é o meu escudo humano, Val. Não deixa o teu homem me machucar.

-Você é o meu homem, idiota. –Respondeu com um sorriso um pouco forçado.

-Michelle? –Olhei melhor e percebi que realmente era ela ali. –Amor, antes que pense que eu não sabia que era você, em minha defesa gostaria de dizer, que você caiu na brincadeirinha. Mas que mulher ingênua!

-É, o Papa Gates fez um ótimo trabalho.

Na sala encontrei três marmanjos jogados no meu sofá, Johnny já dormia com a boca aberta e Matt ainda reclamava do cabelo do Zacky.

Fui até o quarto e encontrei malas prontas. Na mesinha de cabeceira estava o meu celular, peguei e fui checar as ligações.

Havia uma chamada atendida com a duração de meia hora, estranho, eu estava bêbado, mas segundo os meus cálculos nessa hora eu não estava em casa. Talvez alguma mulher houvesse ligado e Michelle atendido, por isso sua expressão evasiva e as malas. Resolvi tirar a prova ligando para o último número da lista de chamadas.

Chamou três ou quatro vezes até que alguém atendeu.

-Alô?

O susto fez com que eu desligasse logo de imediato, fiquei atônito por um bom tempo sem entender o que realmente estava acontecendo.