The price of evil...

Find me on my better days to lose it once again.


Eu não sabia como responder aquela pergunta e nem ao menos se deveria.

Mesmo se em minha mente conseguisse encontrar as melhores palavras para dizer, não conseguiria falar nada, por que naquele exato momento nem ao menos respirar parecia fácil.

Eu sentia falta de Zacky, mas de forma alguma queria que ele estivesse ali, ele não precisava me ver daquele jeito, poderia ter a recordação da garota que vivia enfurnada em sua cozinha, aliás, em que momento nós passamos a confundir nosso carinho por algo maior?

Ele continuava ali, com as mãos no bolso, com uma expressão fria e dura. Não posso dizer que aquela atitude não havia me machucado um pouco, mas o que eu esperava? Um buquê de flores e caixas de chocolates depois do que fiz com todos eles?

-Olá. –Tentei assumir a expressão mais vazia e não gaguejar.

Nossos olhos permaneciam presos um no outro e eu sabia que as outras pessoas da sala esperavam por algo e ao mesmo tempo esperavam que nada acontecesse.

-Isso ultrapassa o que eu posso suportar, fala sério. –Synyster falou e saiu batendo a porta.

Virei para os outros na sala, Matt tinha uma expressão preocupada, Johnny me lançou um olhar de sinto muito.

-É bom ver vocês de novo. –Sorri de canto com os olhos presos no maior sentando no sofá, pro algum motivo eu precisava muito da compreensão dele naquele momento, na verdade, acho que eu sempre esperei sua aprovação como um filho espera a aprovação de um pai.

Logo aquela expressão vazia deu lugar a um sorriso largo e as covinhas que eu tanto amava. Matt veio em minha direção girando seus braços em torno de minha cintura em um abraço apertado que tirou meus pés do chão. Envolvi minhas mãos em seu pescoço e afundei minha cabeça em seu peito. Pedi a mim mesma que não chorasse, aquela não era a hora certa. Eu poderia ficar ali pra sempre, era como estar no colo de um pai, me sentia protegida. Depois de alguns minutos me devolveu ao chão.

-Eu estou disposto a ouvir, ok? –Murmurou em meu ouvido, somente assenti.

-E a Val?

-Ela está bem, mandou lembranças e pediu que ligasse pra ela o quanto antes.

-Com certeza eu ligarei.

Libertei-me de Matt e fui até Johnny, apoiei meus joelhos em sua perna e me joguei por cima de seu corpo fazendo com que nós dois caíssemos por completo no chão.

-Senti sua falta anão. –O baixinho sufocado com o meu peso afagava meus cabelos.

-Eu sei, agora sai de cima de mim, você anda tão pesada quanto o Zacky. –Riu.

Levantei e olhei para o cara que estava apoiado na parede com os olhos perdidos no espaço.

Me virei para trás procurando o rosto de Michelle, precisava de uma confirmação, ela assentiu e eu prossegui.

-Agora você não deve querer nem olhar pra minha cara, mas eu senti sua falta também. –E o abracei forte.

Mas não fui abraçada.

Zacky nem ao menos moveu um músculo, era como se ninguém estivesse ali, soltei meus braços de seu pescoço e não tive coragem de olhar em seus olhos.

-Vou procurar o Gates. - Nada mais, nada menos e saiu de casa da mesma forma que Synyster havia saído.

Respirei fundo e girei os calcanhares voltando-me para os que haviam ficado.

-A casa é de vocês, mas, por favor, tentem não quebrar tudo. –Ri. –Acho que agora eu preciso de um banho antes da conversa que todos nós precisamos ter.

Assim que eu terminei de falar a campainha tocou. Será que seria muito pedir um pouco de paz?

Michelle fez uma careta, atendeu a porta e logo um rapaz de camiseta preta e calça jeans entrou na sala. Incrível como Jace sempre se vestia como os integrantes da máfia.

-Quem é você? –Matt assumiu uma postura ameaçadora, mas o loiro nem ao menos pareceu se importar.

-Não se lembra? Fui visitá-los na Califórnia. –Virou-se para mim. –Preciso falar com você agora.

-Quem você pensa que é pra falar assim com a Lisa? –Ao mesmo tempo em que pronunciou o nome Matt normalizou a expressão e Jace arqueou a sobrancelha.

-Uma hora você se acostuma.

Fui até eles fuzilando Jace com o olhar.

-Matt, pode deixar, eu falo com ele, não precisa se preocupar.

-Eu que deveria ter medo de falar com ela, cara! –Jace falou ao dar um leve soco no ombro de Matt. Ah, qual é, ele não tem amor pela vida?

Andamos até o jardim da casa vizinha, eu esperava encontrar Zacky e Syn, mas isso não aconteceu.

-O que você quer? – Cruzei os braços.

-Saber se com o que aconteceu você deixou de ser idiota e vai aceitar a proposta que eu fiz. –Jace olhava para o alto franzindo o cenho devido o sol.

Era uma das características dele, sempre parecia apressado, olhava para o além, perdido demais na própria mente, como se estivesse arquitetando tudo o tempo inteiro.

-O que você acha que me fez mudar de ideia?

-Clarisse, o que você tem na porra da sua cabeça? Será que você não é inteligente o suficiente pra saber que você ta livre por causa da Isabelle! Ela quer você longe das grades, por que precisa disso. Vingança de adolescente talvez – Deu de ombros. - Essas coisas idiotas escapam do meu entendimento, mas você sabe daquele namoradinho dela que por algum motivo cai de quatro por você e como se não fosse suficiente, você resolveu dar um olho roxo de presente pra nossa querida Vernet júnior.

-Como você sabe de tudo isso? –Sacudi a cabeça. –Mas não importa, eu não vou a canto nenhum com você.

Jace suspirou, retirou os óculos escuros presos na gola da camisa, colocou-os e antes de ir embora disse de forma ríspida.

-Ela não hesitou nem por um momento quando tentou te matar. –Calma, do que esse maluco ta falando agora? –Você não acha estranho seu amiguinho te encontrar no fim do mundo e no outro dia você estar em um hospital? Pensa nisso Clarisse e tenta decidir as coisas antes que algo muito pior aconteça.

A realidade me atingiu como um forte tapa no rosto. Estúpida! Como fui acreditar na conversinha de que Charlie trabalhava em uma loja perto do posto? Sabe se lá se realmente existe alguma loja por lá!

Mas se aqueles dois pensavam que eu ia ficar como uma idiota de braços cruzados, estavam muito enganados.

Voltei para a casa com o sangue fervendo, os três que haviam permanecido estavam jogados pelo sofá assistindo TV.

Parei por um momento e observei, talvez nem sempre pudesse tê-los ao meu lado.

Não sei quanto tempo fiquei parada ali, fui arrancada de meus pensamentos para a realidade logo que liguei os fatos.

Tudo que o Vernet havia me dito todo esse tempo. Charlie e...

“E eu ainda não me esqueci do que você fez irmãzinha.”

Não pode ser.

Corri para o quarto, tomei um banho rápido, avisei aos meninos e Michelle que precisava sair, é claro que perdi uns 15 minutos convencendo todos eles a me deixarem colocar o pé pra fora da porta, mas disse que precisava procurar o Synyster ou Zacky, eles insistiram em ir junto e com mais 20 minutos consegui deixar claro que eu tinha muitos assuntos pendentes com aqueles dois.

Matt me entregou seu celular e mandou que eu prestasse atenção nele. Não discuti, apenas assenti e saí de casa apressada.

Xx

Peguei um táxi, pedi ao motorista que me levasse ao bar mais próximo e assim que cheguei tentei passar o mais despercebido possível, mas como ser Synyster Gates é difícil, tive que autografar os peitos de uma garota.

Aquele lugar não era muito parecido com o que eu costumava frequentar, mas já era o suficiente para assimilar as coisas.

As ideias e possibilidades giravam em minha mente.

-Oh, minha nossa! Synyster Gates! –Ouvi uma voz feminina.

Olhei para o lado e encontrei uma ruiva com algumas sardas no rosto e um sorriso de orelha a orelha.

Ótimo, estava realmente precisando de distração, devo muitos favores ao cara lá de cima.

-Oi, tudo bem, posso te pagar alguma bebida?

-Não obrigada, eu não bebo. –O que? Calma, me sinto ofendido. –Mas seria um prazer te fazer companhia.

-Ah, que ótimo.

Não lembro a sucessão dos fatos, mas depois de um tempo a ruiva já estava em meu colo me beijando.

-Oh céus, que porra é essa? –Uma terceira voz gritou.

A ruiva descolou nossos lábios e olhava para outra garota baixinha ao nosso lado.

Xx

Mas é claro que não fazia parte dos meus planos procurar Zacky ou Syn, se eles quisessem me ouvir eu poderia tentar explicar tudo, caso contrário, não poderia fazer nada e cansei de bancar a garotinha implorando perdão.

Eu queria procurar Vernet e exigir que me explicasse tudo, em minha mente já havia imaginado várias formas de quebrar a cara de Isabelle e Charlie.

No táxi o motorista me olhava preocupado, talvez por que eu estivesse mordendo meus lábios com tanta força que podia sentir o gosto de sangue em minha língua.

Eu não posso agir como uma louca desequilibrada, se eu preciso resolver tudo, que seja da forma mais fria e calculada possível, não saindo por aí quebrando a cara de uns e outros, talvez seja com isso que Isabelle esteja contando.

Pedi ao motorista que me levasse ao bar que havia ali por perto e logo chegando lá me arrependi de estar apenas de shorts. Andei até o balcão para pedir qualquer coisa forte e... Só pode ser brincadeira, que diabos ta acontecendo aqui?

-Oh céus, que porra é essa? –Berrei e a ruiva parou de tentar engolir a garganta de Synyster - Minha nossa, como você consegue ser tão descarada assim Isabelle. Qual é plano dessa vez? Tentar roubar meus amiguinhos? Querida, não estamos no jardim da infância!

-Syn, você a conhece? –Perguntou com a expressão mais dissimulada que eu já havia visto.

-Não, deve ser mais alguma fã frustrada. –Respondeu meio zonzo, puxei a gola de sua camisa para que olhasse pra mim. - Clarisse! –Arregalou os olhos.

-É, sou eu seu desgraçado, o que você ta fazendo aqui?

-Não é óbvio que ele está se divertindo querida. –Isabelle passeava as mãos pelo peito de Gates.

Puxei aquela vadia de cima do bêbado e a empurrei pra longe.

-Seu estúpido! Por que você fez isso?

-Não te devo satisfações, não somos comprometidos. –Arqueou a sobrancelha daquela forma que só ele conseguia fazer.

Mas é claro, eu pedindo explicações como se tivesse algum direito sobre ele, tentei reparar o erro da minha frase.

-Mas sua noiva está em casa preocupada com você, seu idiota.

Assim que terminei a frase senti algo agarrar meu cabelo com força e antes que eu pudesse impedir fui ao encontro do balcão.

Eu estava desnorteada, abri os olhos com dificuldade e percebi que estava debruçada em várias garrafas de bebida que agora eram apenas cacos de vidro machucando minha pele.

Senti alguém me puxando pelo braço.

-Clarisse, ta tudo bem?

-Ah, vai se foder, agora você se preocupa? –Disse com dificuldade.

Só então percebi que o bar inteiro olhava aquela cena. Que ridículo agora eu era a garota que estava apanhando por causa do Gates, chega a ser cômico.

Meus braços eram os mais prejudicados, alguns cortes eram profundos e eu podia ver que cacos de vidro agora habitavam meus membros superiores. Gates foi até Isabelle e a puxou pelo braço.

-Sua vadia, qual é o seu problema?

-Ai, você ta me machucando, socorro, me larga.

Eu continuei jogada no chão e a atenção da plateia agora era para a briga do casal. Com o escândalo de Isabelle alguns seguranças expulsaram Synyster do bar e disseram que levassem a outra bagagem, ele voltou até onde eu estava e me carregou.

Dignidade? Onde você se encontra? Volte para mim querida!

Saímos do bar e formos esperar um maldito táxi que não passava nunca no outro lado da rua.

-Pode me largar agora?

-Como você é ingrata garota! Da última vez fui te caçar no inferno por que tinha fugido com aquele detetive bonitão e não recebi um agradecimento sequer.

-Ah cala a boca, seu bêbado. –Bufei. –Aliás, você quase não conseguia aguentar o próprio corpo com tanto álcool e andou até aqui, roubou os poderes do Batman?

-Eu tenho resistência ao álcool querida, não fico bêbado nas primeiras 25 doses, mas é bem mais divertido ser um bêbado. –Rimos.

-Toda aquela raiva passou? –Perguntei um pouco mais calma tentando esquecer quem realmente estava ali.

-Nenhum pouco. –Bati em seu peito deixando uma mancha de sangue em sua regata.

-Por favor, minhas regatas são mais importantes que sua vida, fique longe dela com toda essa impureza.

Murmurei um vai para o inferno e afundei minha cabeça em seu peito. Eu não deveria estar cansada, passei os últimos dias vegetando em um hospital, mas sentia que talvez não tivesse mais estrutura pra suportar tudo aquilo.

Queria ter alguma válvula de escape, um refúgio que eu não conseguia encontrar.

Lembrei-me da tarde na praia em que eu acabei dormindo no colo do guitarrista mais arrogante e idiota do mundo e aquela cena acabou se repetindo, porém com algumas alterações, como o fato de estar sentindo meu braço queimando.

Meus olhos pesaram e depois de um tempo estava agradecendo por ser ele a estar ali e não alguém que eu devesse explicações e tivesse que me fazer de bozinha o tempo inteiro.