-Garota, essa área é restrita, pode sair, por favor? –Shadows, o cara enorme, respondeu.

-Ei cara, relaxa, ela disse que pode ajudar. –Dessa vez foi um não tão assustador, com piercings no lábio inferior e gordinho quem falou e se voltou pra mim. Zack Vengeance. - Como?

-Bom, eu acompanho o Avenged há um tempo e sei todos os solos de bateria das músicas, se quiserem é claro, posso tocar... -Fui interrompida de novo por M. Shadows, mas que saco, será que ele não conseguia ser educado?

-O que? Ta falando sério? Tem certeza que pelo menos alcança a bateria? –Ele riu.

-Muito engraçado. Tudo bem podem ir embora sem fazer o show, garanto que os fãs adoram comprar os ingressos, criar expectativa e booom, não ver show nenhum. –Sorri sarcástica.

-Calma aí, baixinha. Eu achava que o Johnny era o único meio metro estressado, mas pelo visto é coisa de anão mesmo. –Matt ria, parecia um pouco mais disposto a ser simpático.

-Ha-ha-ha. Já vi que suas piadas são ótimas, mas to meio sem tempo hoje, querem a minha ajuda ou não?

Eles se entreolharam.

-Cara, não temos outra escolha. –Dessa vez foi o menor que respondeu, tinha quase certeza que chamava Johnny – E não liga não – virou-se pra mim- já aturo essas piadinhas há uns anos, com o tempo só piora.

Não era muito de saber tudo sobre os integrantes das bandas que eu gostava, mas achava que estava faltando mais um que não era o baterista. Minha dúvida logo foi esclarecida quando M. Shadows começou a berrar.

-Droga, cadê o Brian?

-Deve ta conhecendo as garotas da cidade. – Respondeu Zacky.

Logo depois um cara de cabelo arrepiado, maquiagem um pouco pesada e jeans rasgado foi entrando por uma porta aos fundos de onde estávamos. Era um dos guitarristas, lembrei de algumas colegas de classe que viviam babando por ele.

-Synyster Gates, gostaria que conhecesse a nossa baterista. –Shadows apontou pra mim – Anãzinha, Synyster Gates. Synyster Gates, Anãzinha.

Synyster Gates me fitava. Não consegui decodificar seu olhar. Surpresa?

-Ah, vi você correndo de alguém. –Por algum motivo senti alguma coisa na voz dele que não me agradava. Depois ele olhou na direção que os meninos estavam – É sério isso? Que o chefão mandou uma garota pra ser o nosso baterista?

-Ah, se não ta satisfeito, bonitinho, pode tentar tocar guitarra e bateria ao mesmo tempo. E acredite, eu estarei bem perto pra ver você tentar. –Percebi, pelo canto do olho, que os meninos acompanhavam a discussão, bem animados. –E a resposta é não. Seu chefe não me mandou. Eu quis ajudar a banda. E como mais ninguém viu problema nisso... –Me virei para o outro lado da sala, mas sabia que o tal Synyster Gates ainda me fitava o que me deixou um pouco desconfortável – Alguém podia me dizer que músicas vocês vão tocar hoje?

-Acho que as mais conhecidas do Nightmare. –O baixinho respondeu e me entregou o papel com as músicas. Até tinha gostado dele.

Ok. Sei os solos de todas essas músicas.

Um rapaz com a camisa do Avenged Sevenfold entrou na pequena sala, deveria ser o produtor deles ou alguma coisa assim.

-Ei gente, ta na hora. –E saiu apressado.

Hesitei, senti meu estômago embrulhar.

-Que foi? Lembrou que não alcança a bateria? –Ah, por favor, essa piada eu já tinha escutado. – A propósito, pretende fazer o show com essa mochila enorme? –Synyster me olhava e falava com certo tom de desprezo. Nem tinha percebido que ainda estava de mochila. Joguei minhas coisas no meio da bagunça dos meninos e os segui.

-Quem é a garota do cabelo azul? –O rapaz que havia entrado na sala alguns minutos antes perguntou.

-Essa miniatura é a nossa baterista. –Synyster respondeu, rindo.

-Sério? O chefe mandou ela?

Ninguém respondeu. Comecei a descascar com o dente o esmalte preto das minhas unhas quando vi Zacky se aproximar de mim.

-Oi. –Sorriu e eu sorri de volta – Olha, não liga pro Brian. Ele até tem motivos pra ser assim, não que eu esteja dizendo que ele tenha que te tratar mal, é que ele ainda sofre muito com... –O tom da voz de Zack era tão triste que eu tive que controlar o impulso de querer abraçá-lo. – É uma longa história, deixa pra lá. Concentre-se no show. -É a primeira vez que vai tocar em algum show ou coisa parecida?

-Sim.

-Nós confiamos em você. É só ficar calma. –Sorri. Continuava nervosa, mas conversar com o Zack era no mínimo confortador.

O rapaz, que eu não sabia quem era, mas parecia ser alguém importante pra banda, me deu um macacão preto que ficou bem largo no meu corpo, pediu que eu prendesse o cabelo e colocasse um chapéu totalmente preto também. Querem que eu use uma máscara igual a dos caras do Slipknot também?

Entrei no palco antes de todos. Ninguém me viu entrar, a área estava bem escura, me familiarizei com a bateria enquanto todo mundo gritava. Caralho, quanta gente tinha ali?! A idéia de me apresentar no escuro agora não parecia tão ruim, lembrei dos detetives que deveriam estar me procurando. Idiotas. Ri sozinha.

Os meninos entraram no palco logo em seguida, fãs histéricas gritavam e ouvi o solo inicial de Nightmare. Ótima escolha pro início do show.

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-Caralho, o que foi isso?! Que foda! –Matt gritava, depois olhou pra mim –Parabéns pequena –Lembrei de alguém que me chamava de pequena, estremeci. –Realmente alcança a bateria! –Não me irritei com a piadinha dessa vez.

Senti alguém me carregando. Zacky.

Todos pareciam bem felizes com exceção do esquisito que estava bebendo jogado no sofá.

-Ei, bonitão. Sai de cima das minhas coisas. –Zacky gritou para Synyster, Brian.

Fiquei calada pensando.

Será que os detetives ainda estavam me esperando? Será que Simon ainda estava me esperando?

Matt falava ao telefone, Zacky recolhia as coisas de todo mundo, Johnny e Brian estavam jogados no chão.

Comecei tirando aquele macacão horrível, lógico que estava com a minha roupa por baixo.

-É baterista e Streep? Ganhamos um bilhete premiado meninos. –Matt ria. – Bom, acho que não fizemos as apresentações, mas você deve saber quem somos certo?

–Na verdade, sei os apelidos de vocês, mas diferente de milhares de garotas por aí, não sei aonde nasceram, qual a comida preferida... -Admiti fazendo o ego de Shadows desinflamar. Ele sorriu. –Mas adoraria saber quem são vocês.

- Meu nome é Matthew Sanders, mas me chame de Matt –ele se curvou e beijou minha mão- aquele baixinho é o Johnny Christ, o gordo é o Zachary e o bonitão ali é o Brian Haner - Assenti e sorri.

-Oi, todo mundo.

-Alguém avisa pra ela que essa é a hora que ela diz o nome também. –Resmungou Brian.

-Por que tanto interesse em saber meu nome, Brian Haner? –Ele revirou os olhos em resposta.

-Eu tenho outra notícia. Falei com o chefe e ele disse que ainda não tinha arranjado um baterista, expliquei sobre ela - apontou pra mim – e ele pediu encarecidamente, que você ficasse com a banda pelo menos por um tempo. O chefe não é de pedir nada a ninguém, então... –Matt me lançou um olhar suplicante, não sei se era possível recusar algum pedido sendo fitada com aqueles olhos verdes. – O que nos diz anãzinha?

Essa era a única oportunidade que eu tinha de sair daqui e me livrar dos detetives. É claro que eu aceitaria. Mas... E o Sr Mack? E Simon? Mas se eu não quisesse ser presa precisava sair da cidade e provavelmente essa seria a única oportunidade que eu teria, fora que tocar bateria era uma das minhas maiores paixões... Ok. Eu iria sim. Nem tinha percebido que todos da sala me fitavam, senti-me corar.

-Com uma condição. –Disse finalmente.

-Qual? – Zacky parecia surpreso.

-Eu dito as regras. –Deu um sorriso malicioso. Todos riram.

-Ótimo! Aposto que agora vamos gastar todo o nosso dinheiro com absorventes e sapatos. –Brian resmungou, mas ninguém pareceu prestar atenção.

-Mas temos um problema, vamos embora daqui agora. Você não... –Interrompi Zack.

–Quem disse que isso é um problema? –Percebi um sorriso no rosto dele. -Ainda temos tempo antes de sairmos daqui? –Perguntei.

-Algumas horas. –Johnny respondeu. Seria suficiente.

-Meninos, preciso pegar umas coisas. Se importam? –Eles disseram que não quase ao mesmo tempo. Sorri. –Alguém me acompanha?

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O show já havia terminado. Eu não a encontrava em nenhum canto, o mais estranho foram detetives me perguntando onde ela estava. “A garota tinha escapado de novo” - Ouvi um deles dizer. O que eles queriam com ela? Fugitiva? Já tava tarde eu precisava voltar pra casa. Será que a veria de novo?

Mas, quem é aquela garota?

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Belos filhos da puta que eu tinha como amigos. Inventaram milhões de desculpas pra que eu tivesse que vir sozinho acompanhar a esquisita até a casa dela. Perfeito. Aliás, “adorava” aquela garota. Estava me dirigindo a porta da frente quando ela gritou.