The price of evil...

And it feels alright, 'till we pay the price.


Corri pra tentar alcançá-la, esperava que ela continuasse gritando, mas de repente só ouvia minha respiração ofegante. Depois de correr um pouco, avistei sua silhueta de joelhos no chão, cheguei um pouco perto.

-O que foi garota?

-Nada não, eu tropecei, só isso.

-Então levanta logo. Ou gostou do cheiro do chão?

-Não. Acho melhor voltarmos.

-Por que? Essa casa não é sua?

-É.

-Então...?

-Vamos esperar um pouco. Por favor.

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Estava andando apressada, Brian havia ficado para trás, já era bem tarde. Sem querer acabei tropeçando em uma elevação na rua e cai de joelhos. Foi só aí que eu vi um carro em frente a minha casa. Eu conhecia aquele carro. Eles estavam alí. Me esperando.

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-Por que vamos entrar pela porta dos fundos?

-Não vamos entrar pela porta dos fundos, por que não existe porta dos fundos. –Acho que ela tinha problemas mentais.

-Veio aqui pra admirar a casa? –Perguntei com sarcasmo evidente.

-Não. A janela do meu quarto não é muito alta. – apontou pra uma janela, realmente não era muito alta, mas como ela ia... Ah, claro, eu ia ser a escadinha - e você vai me ajudar a alcançar. E por favor, fica quieto aqui.

Quem ela pensa que é pra me dar uma ordem?

-Garota, você vende drogas ou alguma coisa parecida? –Ela riu e disse não- Roubou o banco da cidade?

-Bom saber que eu to mexendo com a sua imaginação, Synyster Gates. –Ela sorriu de um jeito malicioso.

-Matou alguém? –Não pude ver a expressão dela, mas percebi que ela tinha congelado.Lindo. Ela havia matado alguém.

-Claro que não, mas posso mudar isso se você não parar de fazer pergunta idiota e me ajudar a subir.

Vi ela jogar o tênis e logo depois ouvi um barulho de vidro sendo quebrado.. Lembrei imediatamente da minha infância, quando a bola acidentalmente ia parar na janela da vizinha. Ela se apoiou em mim e eu ajudei a ficar de pé nos meus ombros, pelo menos usava tênis e não salto agulha. Ela debruçava o corpo de uma forma bem desajeitada para se jogar dentro do que deveria ser o quarto dela.

Ai. Ouvi-a resmungar.

-E aí, essa não é a hora que você joga seu cabelo pra eu poder subir também?– Como minha pergunta foi ignorada, sentei no canto apoiado na parede e me arrependi de não ter trazido alguma coisa pra beber.

Não sei quanto tempo se passou até que eu vi uma mochila cair na minha frente. Depois mais algumas roupas, uns livros, baquetas, sapatos e mais uma mochila.

Nessa cidade não chovia água não?

-Syn, eu tenho que descer. –A forma abreviada do meu codinome parecia tão doce na voz dela.

-Pule. –Ri.

-É sério, precisamos sair daqui rápido. –me levantei e a vi saindo da janela, de costas para mim, olhando para baixo. Será que ela achava mesmo que ia conseguir? Depois pulou tentando se apoiar nos meus ombros, mas escorregou caindo um pouco mais na minha frente e consequentemente me levando pro chão junto.

-Ok, já pode sair de cima de mim, bonitão. –Rolei para o lado e começamos a rir, acho que o álcool no meu sangue estava fazendo efeito. Não lembrava quando tinha rido assim com alguém que não fosse um dos meninos. Senti como se eu estivesse com alguém que conhecia há anos, mas lembrei que não sabia nem o nome dela. A doida do meu lado continuava a rir sozinha.

-Ei esquisita, qual o teu nome?

-Por que o interesse? -Ela ainda ria.

-Nada não, acho que vou ser obrigado a te chamar de esquisita o tempo todo. –Não podia controlar minhas risadas, definitivamente estava me sentindo ridículo. Mas me sentia diferente.

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Pensei bem. Será que devia mesmo dizer meu nome? Provavelmente isso me traria problemas mais tarde.

-Lisa. –O nome da minha mãe veio em minha cabeça e sem querer disse em voz alta.

Lisa. Ele havia repetido de uma forma tão... Doce. O que era estranho.

-Gates, nós temos que ir embora. –Levantei e fui pegando as minhas coisas que ainda estavam jogadas no meio da grama.

-Lisa.

-Sim?

-Pare de me chamar de Synyster ou Gates. Ou Synyster Gates –riu- Meu nome é Brian. –Ele sorriu e eu sorri de volta.

-Ok, Brian. –Pronunciei seu nome lentamente enquanto o fitava e depois ri.

Ele ajudou com as minhas coisas e depois saímos andando, quase correndo na realidade. Esperava tropeçar a qualquer momento com homens nada simpáticos de terno e distintivo. Tinha me assegurado que eles já haviam ido embora antes de entrar na casa, mas mesmo assim ainda tinha minhas dúvidas.

Eu não sei explicar, mas era estranho estar com o Brian.

Brian. Ri sem querer ao pronunciar seu nome silenciosamente na minha cabeça.

-O que foi?

-O que foi o que? – Respondi

-Por que você tava rindo?

-Não é da sua conta.

-Sabe, pra uma garota do seu tamanho você é bem irritante. – Ele falou me dando um empurrão e depois se apoiando em poste que estava por perto.

-Que foi Synyster Gates? Já cansou? –Impliquei. Ele não respondeu, me empurrou de novo e continuamos correndo até onde estava o ônibus da banda que pra alguém como eu, que sabia os atalhos certos, não era muito longe.

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Quando chegamos os meninos nos esperavam, Matt me ajudou com as minhas coisas e entramos no ônibus.

Definitivamente não era nem metade do que eu esperava. Bagunçado, mas espaçoso e confortável.

-E então, o que achou? – Matt deslizou a mão pelo meu ombro enquanto Zack abria um pacote de biscoito e Johnny ligava o videogame.

-Superou minhas expectativas. –Admiti.

-Olha, nós só temos dois quartos aqui. Por que Johnny sempre acaba dormindo no sofá e Zack passa a noite assaltando a geladeira. – Matt riu pegando o pacote de biscoitos do amigo.

-E o que isso quer dizer exatamente?

-Que vai ter que dormir com algum de nós. No melhor sentido da expressão. –Sorriu deixando as covinhas de suas bochechas tomarem conta de seu rosto.

-Eu durmo com o meu bolotinha. –Só agora Brian estava entrando no ônibus.

-O que cara? Eu achava que o tínhamos essa sério, você prometeu que terminaria com o gordo, seu filha da puta mentiroso! –Matt berrava.

De repente o clima da sala do ônibus era outro. Mais leve.

-O que? Terminar comigo? Fala sério, ia trocar minhas coxas grossas por essas canelinhas?

-Calma meus amores, tem Synyster pra todo mundo.

-Por favor , podem parar de viadagem suas putas? – Johnny dizia sem desviar os olhos do videgame.

-Fala isso por que ninguém aqui te quer. – Brian disse fazendo todos rirem junto com ele.

-Poxa, se ninguém quer o baixinho, eu fico com ele. – Resolvi entrar na brincadeira. Sentei ao lado de Johnny que passou o braço ao meu redor.

-Péssima escolha. Há outras coisas no baixinho que também são pequenas. –Eles riam cada vez mais alto.

-Experiência própria?- Retruquei enquanto Johnny mostrava o dedo pra ele.

-Porra Gates! Vai ficar calado? –Matt gritou como um colega encrequeiro querendo ver uma briga.

-Esquenta não amor. – Zack falava enquanto dançava os dedos no cabelo arrepiado de Brian que imediatamente encostou a cabeça no ombro do amigo.

Cotinuamos rindo, brincando e bebendo. -eles estavam bebendo, eu me lembrava muito bem do que tinha feito da última vez que bebi – Os meninos eram como os meus amigos da 8º série. Que homens da idade deles brincavam daquela forma sem nem se importarem? Era legal estar com eles.

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Os últimos dias tinham passado bem rápido. Fazíamos os shows, eu ainda em completo anonimato, não tínhamos precisado viajar de avião e eu estava agradecendo muito por isso, imaginava que confusão seria com meus documentos e como eu faria para me livrar dela. Aquela não era uma “grande turnê”, os meninos me diziam que ainda não estavam preparados para isso, então estavam fazendo os shows em cidades próximas.

Eu me sentia bem, mesmo sabendo que aquilo tudo iria acabar se transformando em um completo desastre a qualquer momento.

JoJo me ensinava a jogar videogame, vivia sendo obrigada a fazer bolos, tortas, brigadeiros e salgados para Zack, Matt implicava muito comigo, do tipo irmão mais velho e até minha convivência com Brian estava melhor do que eu esperava, apesar de não ser tão próxima dele como era dos outros.

Virei para o lado, Matt ainda dormia no sofá cama que tinha no quarto da sala e Johnny estava jogado de péssimo jeito no chão. Procurei meu celular debaixo do travesseiro, claro que tinha mudado meu número e os meninos ainda estranhavam eu não receber ligações de parentes ou amigos.

Não acredito! A data que aparecia no visor do aparelho me fez despertar. Mas como eu esqueci do meu próprio aniversário?