The mine word: Mortarya.

Capítulo 3: Família.


O rei de Mortarya, Lucius Von Rhiru Mortar, era um homem poderoso, elegante, descrito como tendo grande estatura física, com cabelos compridos que iam até a altura do queixo, barba e bigode bem aparados e roupas finas com detalhes em puro ouro. Este homem acabara de convidar Sijôme a se apresentar a sua família, tentando criar um ambiente agradável para a garota.

—Nem perca o seu tempo, pai. Gente desse tipo não tem boas maneiras. –Disse Lili sentada de frente para Guho e ao lado de seu irmão mais velho.

—Isso não é jeito de tratar uma convidada, Lili. –Interrompe a rainha de Mortarya, Giova Von Rhiru Mortar.

—Mas ela nem é uma nobre. –Retruca Lili.

—Isso não é motivo para desrespeitá-la. Como espera que o povo goste de você se tratar eles desta maneira?

—Eu não preciso deles.

—Quietos! Quietos! Deixem para brigar depois do almoço. Vamos, menina, diga o seu nome. –Pediu o rei com uma voz calma.

—E-Eu me chamo... Me chamo Sijôme, meu rei. –Disse a garota gaguejando um pouco.

—É um belo nome. Onde você mora?

—Nas favelas próximas ao grande portão.

—E você planeja fazer o que da vida?

—E-Eu... –Ela encara Guho com uma expressão de medo, mas recebe coragem do amigo. –Eu quero fazer parte da guarda real.

—O que?! Não seja ridícula! –Exaltou Lili.

—Quieta, Lili! Realmente é incomum uma mulher fazer parte da guarda real. Você pode fazer algo um pouco extraordinário com o seu craft?

—Já consegui criar golens de ferro, mas apenas com alguns centímetros de altura.

—Já é um começo. Criadores de golens são muito úteis aqui no palácio. Por que você não tenta criar um maior e, se você me impressionar, eu garanto uma vaga a você na guarda real. O que me diz?

—E-Eu aceito! –Disse Sijôme em um tom exaltado e alegre.

O rei ri da reação da garota. –Muito bem, você tem até amanhã à noite para criar um golem que seja, no mínimo, do meu tamanho. Vou pedir aos ferreiros para prepararem o ferro que irá precisar.

—Muito obrigada, meu rei. Será uma honra.

Sijôme olha novamente para o amigo que agora sorri para ela. A garota retorna o sorriso e começa a comer junto dos outros. Ela certamente não tinha muitos modos a mesa, mas tentava se esforçar ao máximo para não decepcionar a confiança tanto do amigo quanto do rei.

Após o almoço, Guho a levou ao seu quarto. Ele era grande, talvez do tamanho do segundo andar da casa de Sijôme, com uma cama de casal feita de madeira e decorada com cortinas azul claro e colchas brancas, além de vários outros móveis que decoravam o quarto.

—Uau! Que incrível! –Disse Sijôme ao entrar no quarto.

—Verdade. Às vezes eu penso que ele é pequeno demais. –Sijôme lançou um olhar demoníaco sobre ele. –Calma! Calma! Foi brincadeira. –Disse Guho rindo.

—Ainda bem, pois eu mataria você se fosse verdade.

—Que maldade.

Os dois começam a rir da situação. Sijôme nota, a direita do quarto, uma prateleira com algumas esculturas de madeira. Quando chega mais perto ela percebe a beleza de cada uma, os detalhes, o acabamento, era um trabalho de nível profissional.

—Foi você que fez elas? –Pergunta Sijôme enquanto segura uma escultura de mamute.

—Foi. Eu não tenho muita habilidade em fundir materiais com o meu craft, mas a madeira é diferente... É como se ela falasse comigo. Isso não é nada de mais, você faz golens de ferro, algo que eu nunca poderei fazer.

—Deixa disso. Os meus golens são uma porcaria se comparados a isso.

—Você que diz. –Ele pega a escultura da mão da amiga e a coloca de volta em seu lugar. –Quer uma para você? Eu posso fazer.

—Jura?! Então vamos! –Disse Sijôme animada.

Os dois foram até os depósitos de lenha da cozinha. Guho pegou um pedaço generoso de madeira e então levou Sijôme de volta ao pátio em frente ao estábulo dos mamutes.

—O que você quer que eu faça? –Perguntou ele.

A garota pensou por um momento. –Eu quero que você faça uma escultura minha.

—De você? Tem certeza?

—Tenho.

—Muito bem. Fique parada na pose que você quiser e espere um pouco.

A garota colocou os braços apoiados na cintura e jogou o quadril para a direita. –Estou pronta.

—Então lá vai. –Guho segurou o pedaço de madeira com a mão esquerda e aproximou a palma da direita. –Ahu harvack crafting crok! –A mão de Guho começou a brilhar e lascas de madeira começaram a cair no chão. Em alguns segundos a luz desaparece e a escultura de Sijôme está pronta.

Ela se maravilha com a perfeição da escultura, era como olhar em um espelho. –Ficou demais! Obrigada!

—Não foi problema nenhum. Eu só preciso me concentrar na imagem que quero e a madeira toma forma.

—Mas ainda assim é incrível.

—Você se impressiona com tudo, não é mesmo?

—É o meu jeito de ser.

—Quer guardar a escultura no seu quarto?

—Eu tenho um quarto?

—Arrumei um quarto de hóspedes para você. Vem comigo.

Guho levou Sijôme até um quarto no final do corredor onde ficavam os quartos dele e de seus irmãos. Ao abrir a porta, a garota se espanta com o quão belo aquele quarto também era, com uma cama de casal como a do quarto do Guho e um tapete de cor azul cobrindo o chão de madeira.

—É-É sério que eu vou dormir aqui?!

—Sim, esse quarto é todo seu. Aproveite.

A garota correu e saltou sobre a cama, sentindo a maciez do colchão e das cobertas em suas costas. Ela rola e se enrola nas cobertas, não querendo sair nunca mais. Guho senta-se ao lado dela, feliz pela alegria da amiga.

—Isso é um sonho! –Gritou Sijôme arremessando as cobertas para cima.

—Não, é a pura verdade. Eu vou alimentar o Howa, pode ficar aí se quiser.

—Eu alcanço você.

Guho se levantou e saiu do quarto. Sijôme continuou a rolar sobre a cama com a felicidade de uma criança. Aquele dia mal havia terminado e já era um dos melhores de sua vida, onde ela comeu uma boa comida, vestiu roupas da nobreza, se banhou na banheira do palácio e conheceu pessoalmente o rei, teria como ficar melhor? Ela não imaginava como.

Quando decidiu sair do quarto, Sijôme acabou esbarrando no irmão mais velho de Guho enquanto corria pelos corredores. O rapaz se chamava Allu e tinha uma aparência estranha para um príncipe, sempre com olheiras, andando com os ombros caídos e desleixados, alto para alguém de dezessete anos, com roupas não muito exageradas e com a animação de um homem morrendo. Sua voz parecia papel que era amassado aos poucos e saia tão baixa que quase não se ouvia com clareza.

—Você é aquela plebeia que estava no almoço. –Disse ele como se não recordasse da garota. –Aonde vai com tanta pressa?

—Vou me encontrar com o Guho nos estábulos.

—Com o meu irmãozinho? Eu te levo até lá. É perigoso para você andar sozinha.

—Já que insiste.

Ambos começaram a andar pelos corredores. –Ei, você não está enganando o meu irmãozinho, está?

—O quê?! É claro que não!

—Acho bom. Ele possui o péssimo hábito de confiar muito nos outros. Não há como ele ser um bom rei.

—O Guho seria um ótimo rei!

—Então você confiaria a ele a segurança deste reino? Ele poderia abrir os portões para qualquer um que se dissesse amigo ou aliado sem pensar duas vezes. Ele é fraco, assim como minha irmãzinha.

Podia não parecer, mas Allu era um dos melhores estrategistas que havia no reino. Ele havia ajudado o rei a vencer diversas guerras contra outras nações e era apoiado por todo exército para ser o novo rei de Mortarya.

Chegando ao estábulo, Allu foi em direção ao seu mamute, o segundo maior, perdendo apenas para o de seu pai. Ele possuía uma pelagem cinzenta e espessa, presas grandes e arqueadas e olhos tão cinzas quanto às nuvens das chuvas de primavera.

—Qual é o nome dele? –Perguntou Sijôme curiosa.

—É Ulla.

—Esse não é o seu nome só que ao contrário?

—Eu gosto assim. Além disso, ele já foi treinado com esse nome.

—Depois de treinado um mamute só obedece a um nome. –Explicou Guho.

—Irmãozinho. –Allu chega perto do Guho e o abraça. –Aperta...

—Pode parar com isso? Está me envergonhando.

Sijôme ri. –É muito amor de irmãos.

—Não é o que você está pensando! Me solta! –Guho se livra das garras do Allu.

—Bem, nós nos vemos depois, plebeia. –Disse Allu saindo do estábulo.

Sijôme não havia contado nada ao Guho naquela hora, mas ela percebeu que, por detrás da aparência calma e estranha de Allu, existia um monstro que poderia saltar a qualquer momento.