The mine word: Fire Gates.

Capítulo 22: Fogo de prata.


Visão da Gisele:

Está muito claro. Tão claro, que mal é possível se ver a sombra de algum objeto ao meu redor. O cheiro nauseante de fumaça inundava meus pulmões e o som das chamas crepitando, enquanto corroíam a madeira da casa, era hipnotizante. Um homem, meu pai, se aproximava correndo, mas minha visão já não estava límpida por conta da fumaça. Pai... Papai...! Papai!

—Papai!! –Eu acordei de um pesadelo.

Meu coração bate forte e minha respiração está acelerada. O frio da noite começa a me dar calafrios, que só não são piores, pois a Atie e a Adreu estão, ambas, me abraçando enquanto dormem tranquilamente com um sorriso no rosto. Atie e Adreu são gêmeas, ou algo como isso. Atie, a irmã mais velha, tem cabelos prateados como aço polido e olhos de um azul tão claro que pareciam o céu em um dia ensolarado, vestindo uma saia escura que cobria da metade da sua coxa até a sua cintura e uma faixa de pano enrolada em volta de seus seios. Já Adreu, a irmã mais nova, tinha cabelos cor de prata e olhos de um azul mais profundo que o mar, vestindo o mesmo modelito que sua irmã.

Ao tentar me levantar, de repente, sinto uma tremenda dor em meu braço direito. Eu viro a cabeça para olhar e o vejo coberto por ataduras. Ao tentar mexê-lo novamente, a dor volta e me faz cair o pouco que já havia conseguido ficar de pé.

Atie e Adreu abriram os olhos na mesma hora e olharam para meu rosto, com uma expressão meio confusa. –Irmã! –Gritaram as duas ao pularem sobre mim sem nem pensarem duas vezes.

—Calma! Cuidado! Meu braço, ele...!

—Estávamos tão preocupadas, irmã! –Disse Atie.

—Sim! Sim! Estávamos preocupadas com você! –Disse Adreu.

—O-Oque aconteceu...? Eu só lembro de... –Um flashback do quarto em chamas vem a minha mente novamente, me fazendo perder a fala.

—Irmã? –Perguntaram as duas juntas.

—E-Eu estou bem. A propósito... Onde estamos?

—Estamos na floresta... –Falou Adreu.

—No final da propriedade do lorde Gorll... –Completou Atie.

—Junto deles. –Terminou Adreu, apontando para uma direção.

Uma fogueira estava acesa e nele estavam sentados dois homens e uma mulher, que, aparentemente, estava dormindo.

—Então foram eles que... –Eu olho para as ataduras no meu braço. –Fizeram isso. –Meu peito se encheu de um sentimento que, até hoje, nunca havia sentido por um estranho antes.

Estava escuro, mas eu podia ver claramente, pelas roupas verdes e pelos cabelos loiros meio esverdeados, que eles eram creepers. Eu estava com receio de me aproximar, não por medo, mas por não saber oque dizer para aquelas pessoas, além de não saber se eles ouviriam uma criança como eu.

Visão do Steve: Algumas horas antes.

—P-Por favor... Ajudem a nossa irmã!

Na hora eu não soube oque dizer. A garota que elas traziam estava desmaiada e com sangue pingando do seu braço direito, que estava, ao que parecia, coberto de queimaduras graves. Ela tinha longos cabelos prateados, lindos e brilhantes como uma espada de diamantes, e usava um vestido branco meio queimado e sujo de cinzas, enfeitado com babados bonitos. Já as outras garotas usavam apenas uma saia e uma faixa de pano em volta de seu peito, andando descalças e com bastante pele a mostra.

—T-Tudo bem! Rápido, coloquem-na ali. –Pedi, apontando pra árvore que ficava ao lado da que a Pompo estava.

Elas a deixaram lá com muito cuidado e carinho, mostrando o quanto se importam com ela. Eu olho pro seu braço e logo penso em lavá-lo, mas o Ponko foi buscar água e eu realmente não sei se água de rio seria apropriada pra limpar uma ferida dessas. Ela precisava de remédios, antibióticos, coisas que não vão existir tão cedo nesse mundo.

—Você consegue ajudar a irmã? –Perguntou a garota com olhos de cor azul claro.

—É difícil dizer. Talvez amputar seja a melhor escolha.

—JAMAIS!! –Gritaram as duas ao mesmo tempo.

—P-Por quê? –Perguntei surpreso.

—Ela precisa dos dois braços... –Disse a de olhos azul escuro

—Para poder nos usar corretamente... –Completou a outra.

—Ela precisa! –Terminaram as duas juntas.

—M-Mas eu... –Ponko finalmente volta da sua busca por água e eu logo recorro a ele. –Ponko, temos um problema.

—Eu sei, a Pompo está doente.

—Não, além disso, nós temos uma criança com queimaduras por todo braço.

—Oque?! –Ele olha pra garota rapidamente. –Por que eu não estou surpreso? –Disse ele coçando os olhos.

—Temos que ajudar, ela é só uma criança.

—Você não disse que a Pompo era a sua primeira prioridade?

—Sim, mas oque ela tem não é tão grave.

—Eu diria o oposto.

—A nossa irmã resolve! –Gritou uma das garotas, não podendo saber qual.

—Ela é uma Ghast! Ela pode curar a sua amiga. –Disse a de olhos claros.

Eu olho pro Ponko e ele concorda balançando a cabeça. –Nós faremos o possível.

Visão do Steve: Presente.

De alguma forma nós conseguimos dar um jeito no braço da Gisele. Além de ele estar com queimaduras, também estava quebrado, fazendo com que tivéssemos que colocar alguns gravetos por debaixo das ataduras pra imobilizá-lo.

Pompo está dormindo sobre o meu colo enquanto eu afago sua cabeça. A febre dela não melhorou muito, mas, pelo menos, ela não parece mais tão mal quanto estava a algumas horas.

Eu estava tão distraído com a fogueira que mal percebi que a Gisele havia acordado. Ela se aproximou de nós e parecia meio indecisa sobre oque dizer.

—E-Eu... Posso me sentar aqui?

—Fique a vontade. –Respondi. Ela se sentou com cuidado ao meu lado e olhou pra Pompo por alguns segundos. –Ela está doente. –Disse a tirando da sua linha de pensamento.

—D-Desculpa...

—Por que está se desculpando? Você não fez nada de errado.

—Vocês cuidaram de mim enquanto precisavam estar cuidando dela.

—Não seja por isso. Ela teria feito o mesmo se a situação fosse outra.

—Mesmo assim eu preciso retribuir o favor. Eu faço oque você quiser.

—Você poderia curá-la? –Perguntou Ponko.

—Creio que não seja difícil, mas a cura não seria cem por cento por conta do meu estado.

—Isso já basta.

—Ele está certo. Você pode tentar. –Disse dando a permissão a ela.

—Vou fazer o meu melhor. –Ela colocou a mão esquerda em seu rosto e sussurrou algumas palavras que eu não entendi, colocou então a sua mão sobre o rosto da Pompo, criando um brilho metálico meio fraco. Então, de repente, ela começou a assoviar. –Ahu shin himaen... Atai naty ni tomi toto ni omusa iu... Jiarri na naty no ihosu... Gahai ni naty ni uko ni fia sore hotto rilan... Temi ni kaha ihosu... Tsozuri ojoha ni konode ni himaen... Nuhime hinney ni negom... Deat ni arani...

Enquanto ela cantava, a luz em sua mão ia aumentando a sua intensidade. Sua voz era divina e muito bonita de se ouvir. Quando o brilho começou a diminuir e ela começou a cantar mais baixo até que a musica ficasse quase inaudível, eu sabia que havia terminado. A respiração da Pompo se acalmou um pouco e ela já não estava tão quente quanto antes.

Ponko correu em nossa direção pra conferir o estado da filha e, ao perceber que ela realmente havia melhorado bastante, fez algo que eu não esperava.

—Muito obrigado. –Disse ele, me fazendo perder a fala por alguns segundos. Ele realmente se importa muito com o bem estar da Pompo.

—Eu fiz oque podia. Não sei se deveria contar, mas eu encontrei algo enquanto curava ela.

—Oque? É grave? –Perguntamos quase que ao mesmo tempo.

—Não sei ao certo, mas ela parece estar... Grávida.

Ponko se sentou no chão novamente e colocou a mão esquerda sobre a cabeça. –Então é verdade. Eu ainda torcia pra ser apenas um engano.

—Pelo menos agora nós temos certeza. –Eu afago os cabelos perto da orelha dela e ela sorri. –Parabéns, mamãe.