The mine word: Blue roses.

Capítulo 4: O cachorro perdido.


A cadeira de balanço mal se mexia enquanto estava sentado nela. Alex estava na cama ao lado, com uma faixa de ataduras em volta da sua cabeça. Ainda não consigo esquecer a cena da Cidia chegando aqui com a Alex nos braços, com a cabeça sangrando e os braços pendendo como pesos de metal.

Embora Gisele tenha conseguido curar o ferimento na cabeça dela, Alex permaneceu desmaiada nos últimos três dias. Como pode a Alex ter herdado um poder adormecido da Pompo? Eu sabia que aquele monstro de ferro não era coisa boa.

Meu irmão saberia o que fazer. Ele sempre sabia. Sempre dizia algo pra acalmar as pessoas ou fazia algo pra ajudar. Mas e eu? Nunca fui como ele. Será que esse é o preço que pago por isso?

Uma brisa soprou da janela, bagunçando seus cabelos escuros. O dia estava quente, assim como todo verão no Reino Creeper que, segundo a Gisele, é um dos verões mais quentes do mundo. O que eu não faria pra ter um sorvete nesse momento.

Alex adoraria tomar um sorvete. Afinal, ela adora as comidas do outro mundo que eu consigo fazer aqui. Já consegui fazer batata frita, hambúrguer, pipoca, entre outras coisas. Uma vez, tentei fazer pizza e quase coloquei fogo na casa. Um dia pra ficar na memória.

Afaguei os cabelos da Alex, os retirando da frente de seu rosto. Ela parece tão serena quanto um anjo de estórias bíblicas. Com o rosto pálido e sem expressão.

Pompo adentrou o quarto, carregando uma bandeja de metal nas mãos.

—Minha mãe fez um lanche pra gente. Está com fome?

—Claro. —Levanto da cadeira e sento na cama. —Aqui, pode sentar.

—Obrigada. —Ela senta na cadeira de balanço, indo um pouco pra trás e depois voltando ao seu estado normal. —Aqui, pegue um.

Na bandeja haviam vários sanduíches, com recheios que iam desde geleia a carne assada. Também não saí do quarto nos últimos três dias, com poucas pausas pra dormir e fazer outras coisas. Não vou deixar Alex sozinha numa hora dessas.

—Huh, sua mãe disse alguma coisa?

—Não, apenas entregou os sanduíches e disse que era uma forma de se desculpar. Ela está se culpando muito por isso.

—Todos somos culpados. Nós não deveríamos ter permitido que a Alex saísse de casa escondida. E o seu pai não deveria deixar uma escada nos fundos do celeiro.

—Tem razão. —Ela mastiga um sanduíche recheado com geleia de uva. —Deveríamos saber que ela faria algo assim uma hora ou outra.

—Ela é nossa filha, afinal.

Pompo ri, um riso abafado. —Pois é.

Alex se mexe, apenas algo involuntário. Tudo fica em silêncio, até que Pompo volta a comer seu sanduíche. Terminamos de comer e Pompo se levantou da cadeira.

—Nós podemos trocar depois. Você precisa urgente de um banho.

—Tudo bem. Depois resolvemos isso.

Ela mandou um beijo ao vento e saiu do quarto. Voltei a me sentar na cadeira de balanço, apreciando a brisa que entrava pela janela, bagunçando novamente os cabelos da Alex.

Visão da Gisele:

Se bem me lembro, a Alex havia contado sobre um lago que há em algum lugar por aqui. Atie e Adreu estão me acompanhando, já que elas conhecem esse bosque.

Encontramos o lago. Ele tinha uma água cristalina, com uma pequena cachoeira que jorrava água de um córrego. O lugar era lindo, o que me surpreendia pelo fato de nunca tê-lo visto antes.

—Nós vamos nadar? —Perguntou Adreu.

—Vamos? —Perguntou Atie.

—Sim, vamos relaxar um pouco. Vocês devem estar cansadas dos treinos diários.

—Não estamos. —Disse Adreu.

—Estamos não. —Disse Atie.

—Bom, eu vou nadar, se quiserem é só me acompanharem.

Caminhei até a borda do lago, olhando para o fundo. Retirei o cinto com as bainhas e o coloquei sobre uma pedra que ali havia, tirando o top, o short e as botas em seguida. A água estava fria e refrescante, muito boa para um tempo quente como esse. Sentir o frio no corpo era muito bom.

Atie e Adreu se entreolharam, parecendo que conversavam com os olhos. Adreu assentiu com a cabeça, começando a desenrolar a faixa em volta de seus seios enquanto Atie soltava sua saia e a fazia cair sobre o chão. Era uma cena rara ver as duas nuas. Na verdade, era a primeira vez que eu as via dessa forma.

As duas entranham calmamente na água, sentando um uma pedra e me encarando com olhares curiosos.

—O-O que foi? —Perguntei, meio envergonhada.

—Você parece feliz. —Disse Atie.

—Queremos ver você feliz. —Disse Adreu.

—Você tem andado triste esses dias. —Disse Atie.

—É por causa da Alex? —Perguntou Adreu.

—Sim, estou preocupada com ela. Embora tenha sido capaz de curá-la, ela ainda dorme. —Encaro minhas mão, sentindo a água escorrer por meus dedos. —Existe um limite para o que meu pai me ensinou. Vai chegar uma hora em que serei necessária e não poderei fazer nada para ajudar.

—Não se preocupe, mestre. —Disse Atie, demonstrando certa ansiedade em sua fala.

—Estaremos aqui para lhe ajudar. —Disse Adreu.

—É só pedir e será feito. —Disse Atie.

Abro um sorriso involuntário. —Obrigada, meninas.

Ficamos no lago durante horas, dando algumas cochiladas entre um mergulho e outro. O sol já estava se pondo quando decidimos sair do lago.

—Isso foi muito bom. —Disse Adreu.

—Foi muito bom. —Disse Atie.

—Sim, quem sabe nós não voltamos outro dia e... —Um barulho me chamou a atenção.

Todas ficamos em silêncio, tentando ouvir o barulho novamente. Atie e Adreu transformaram suas mãos em lâminas, ficando atentas a mata. E foi quando, de repente, um animal saltou de dentro dos arbustos e se jogou sobre mim.

—Mestre, podemos matá-lo? —Perguntou Adreu.

—Podemos? —Perguntou Atie.

—Não, esperem. —Afasto o cachorro e me levanto. Era um cachorro grande, com pelo cinza e olhos brancos brilhantes. —Ele está muito bem cuidado, não parece ser selvagem.

—Então ele é de alguém? —Perguntou Atie.

—De quem será? —Perguntou Adreu.

—Não sei... Será que mora alguém por aqui?

Ficamos olhando o cachorro durante um tempo até que uma voz começou a ecoar pelo bosque. —Lilu! Cadê você?! Lilu!

Era a voz de um garoto, provavelmente o dono do cachorro. Mal tivemos tempo de pensar, ou até mesmo de nos vestir, antes do garoto sair do mesmo arbusto que o cachorro.

Tudo aconteceu em frações de segundo. Atie saltou sobre o garoto, o derrubando, enquanto Adreu abraçou o meu tronco, cobrindo meu corpo. Atie soltou o garoto, voltando a encará-lo com suas mãos em forma de espada.

O garoto parecia confuso e assustado, até mesmo eu estava assustada com a rapidez com que tudo aconteceu. Podia sentir minha pele molhada se esfregando contra a da Adreu.

Um silêncio pairou sobre o local, apenas com o barulho das folhas chacoalhando ao vento. O garoto era um Creeper, com seus cabelos loiros e vestimentas verdes, uma calça de couro tingida de verde escuro e uma camisa de cor verde claro.

Ele desviou o olhar, se dirigindo ao cachorro que está agora ao seu lado.

—Err... Obrigado por encontrar o Lilu. —Disse ele, com nervosismo em sua voz.

—N-Não foi nada... —Disse, cobrindo as partes do meu corpo que a Adreu não cobria. —V-Você mora por aqui?

—Sim... Meus pais tem uma fazenda nas redondezas. —Ele olha de relance para mim, desviando o olhar logo em seguida. —Você não é uma Creeper, é?

—Não, eu sou uma Ghast.

—S-Se não for nenhum problema eu acho que vou indo embora.

—Não, claro que você pode. Está escurecendo, preciso voltar para casa.

—Você também mora por aqui?

—Sim, também moro nas redondezas.

—Legal, legal... E-Eu já vou indo. Vamos, Lilu. —O cachorro latiu e foi junto com o garoto.

Adreu se desgrudou do meu corpo e Atie recolheu minhas roupas e as entregou a mim. Voltamos para casa, com a lua já nascendo no horizonte. Steve dormia em uma cadeira de balanço ao lado da cama da Alex. Me aproximei e beijei a testa dela, mexendo em seus cabelos.

Entrei em meu quarto e guardei Atie e Adreu em suas bainhas. Troquei de roupa, colocando minha camisola de cor verde claro e deitando na cama. Não consegui dormir. Ficava pensando no garoto de hoje. Ele nem disse o nome dele.