The mine word: Blue roses.

Capítulo 36: Realidade.


Tudo aconteceu num piscar de olhos. Tão rápido que nem sei ao certo o que de fato ocorreu naquele curto espaço de tempo.

Havíamos conseguido escapar da casa, embora nosso grupo fosse bem maior agora, graças ao apoio solicitado pelo Sekka. Sete homens, três com espadas, dois com machados e dois com punhais nos acompanhavam, formando uma barreira ao nosso redor, que, em contrapartida, formávamos uma barreira pra defender as crianças. Junto desses homens também vinha uma jovem de pele escura e longos cabelos azulados como o céu, uma Creeper azul, que não carregava arma alguma.

—Silêncio...! —Sussurrou um dos homens com espadas, mais à frente da formação. —Ouviram isso?

Todos ficaram em silêncio pra escutar, porém nenhum som foi ouvido. De repente, um brilho roxo surgiu ao longe na mata e um som agudo cortou o ar. O homem, trajando roupas verde-escuro e grandes botas de couro negro, desabou pra trás, revelando uma adaga de cabo azul-marinho enfiada em seu olho esquerdo.

Todos ergueram suas armas e se prepararam pro combate, olhando em volta em busca de qualquer outro ataque surpresa.

Os Endermans sugiram ao leste, aparecendo em grandes nuvens de partículas roxas, usando mantos negros e portando, em sua maioria, adagas como a que matara o homem há poucos segundos. O grupo não aparentava ter mais do que uma dúzia de indivíduos.

Sekka tomou a iniciativa, saltando na direção deles e explodindo os que vinham à frente, derrubando algumas árvores e arremessando terra e pedras pra cima.

O combate enfim começou quando o restante nos atingiu, com os seis homens restantes servindo como um primeiro escudo. Um deles, que portava um machado, um sujeito grande e robusto, teve sua garganta cortada de orelha a orelha, morrendo afogado no próprio sangue. Outros dois foram decapitados por uma longa espada de lâmina roxa, fazendo chover sangue sobre nós.

As crianças sumiram de imediato, conforme as ordens da Pheal, que a essa altura era a única que conseguia atacar de surpresa. A garota Creeper, embora parecesse frágil, lutava com destreza, com movimentos ágeis, lembrando uma ninja. Não parecia conseguir causar grandes danos à distância, porém à curta era letal.

Não encontrava Cidia em lugar algum. Tinha certeza de que ela estava conosco até pouco tempo.

—Steve! —Gritou Pompo. Um Enderman vinha de cima, prestes a me atingir. Pompo me puxou, trocando de lugar comigo, acertando o Enderman com uma explosão que o partiu em três pedaços. —Você está bem? —Escorria sangue de seu rosto e roupas.

—Claro, claro. Tudo bem. —Retomei a postura. —Eles são muitos. Precisamos de algo grande.

—Tipo o quê?

—Tipo...

As aves começaram a gritar, fugindo de alguma coisa. O chão tremeu e as árvores se dobraram quando o gigantesco golem de ferro apareceu, galopando em direção aos Endermans. Sobre suas costas, Cidia se segurava ao metal, com os olhos brilhantes, uma expressão de raiva.

O golem esmagou três com um primeiro golpe, arremessou outros dois para longe e assim, pouco a pouco, foi destruindo a ofensiva dos Endermans.

Quando todos recuaram ou foram mortos, a situação se acalmou. Ninguém do nosso grupo, com exceção de cinco dos sete homens, se feriu gravemente.

—Essa foi por pouco. —Suspirou Sekka, com as mãos nos quadris. —Tá todo mundo bem?

—Acho que sim. —Disse Pompo. —Mas as crianças sumiram.

—Nossos companheiros morreram. —Disse um dos homens sobreviventes, com uma pesada espada nos ombros.

—Sinto muito por isso. Poderia sugerir que parássemos pra enterrá-los, mas esse lugar não é seguro. Precisamos ir. —Sekka limpou a terra da roupa. —Vamos indo. Temos que achar as crianças.

Recolhemos o que podíamos dos cadáveres e seguimos caminho. Se as crianças estavam bem, então estariam indo na direção da Capital. Não havia motivo pra se preocupar... Ou havia?

Visão da Alex:

O sol aparecia por entre as árvores. Era dia. Meus braços estavam dormentes e minha boca estava seca.

Linna dormia à minha direita, um pouco pálida, com os lábios rachados e a perna enfaixada com tiras de pano. Tinha uma expressão tranquila no rosto. Do outro lado dormia o Pokko, o Hakke e a Gisele, os três segurando em meu braço esquerdo. Rheal dormia ao lado da Linna, agarrado com a única espada de diamante que nos sobrou.

Me levantei com cuidado e dei alguns passos pra esticar as pernas. Os corpos mortos dos Endermans estavam todos empilhados ao lado de uma árvore, com exceção do queimado que estava grudado no chão. A imagem me apertou o estomago, misturada com a lembrança das chamas sendo cuspidas pela Linna.

—O que está fazendo?

Virei. Rheal estava atrás de mim. —Desculpa. Não vi você. —Ele parecia não ter acordado completamente ainda. —Deixe eles dormirem mais um pouco.

—Precisamos ir logo. Eles podem voltar.

Voltei a encarar o nascer do sol. —Acho que não voltarão tão cedo depois de ontem. —O sol começava a bater em meu rosto. —Mostramos do que somos capazes.

—Talvez... —Ele se sentou sobre uma pedra. —Talvez...

—Relaxe um pouco. Já passamos por muito. —Meu estomago roncou. —Mas precisamos de comida.

—Arg...! —Ele se levantou. —Vou voltar até aquela vila e ver o que sobrou. Com sorte acharei alguma comida.

—Eu vou com você.

—Não, alguém precisa cuidar dos outros. Linna está muito ferida, não vai aguentar outro combate. Nem consegue andar direito.

—Você tem razão... —Pensei por alguns instantes. —Então você também não vai. Iremos juntos quando os outros acordarem.

Rheal pareceu irritado. Bufou e resmungou consigo mesmo, virando de costas pra mim. —Você pode até ser forte, mas continua fraca.

Não olhei pra trás.

Foram algumas horas até que o restante do pessoal acordasse. Seguimos o caminho de volta a vila. Rheal ajudou Linna a caminhar, servindo de apoio. A primeira coisa que notamos ao chegar foi o cheiro de queimado. Praticamente toda a vila foi queimada, parte pelos Endermans e parte pelas minhas explosões. As poucas casas que ainda restavam eram feitas de pedra, como era o caso do armazém, ou estavam muito afastadas do centro, como era o caso do estábulo e das plantações.

O fogo havia conseguido invadir o armazém, queimando alguns sacos de comida e estragando o vinho e água que lá estavam guardados, mas nem tudo estava perdido. Resgatamos um barril com carne seca e dois jarros de barro cheios de água. Pegamos alguns tomates, maçãs, cenouras e ovos e fizemos um pequeno acampamento dentro da igreja. Usamos os bancos de madeira pra acender a lareira e cozinhar a comida em panelas de ferro que achamos perdidas entre os escombros.

Abri a tampa da panela e cheirei o caldo. —Está quase pronto, pessoal. Mais um tempinho e podemos comer.

—Essas maçãs estão ótimas. —Disse Linna, com a boca cheia. —Pra onde vamos depois daqui?

—Já consegue andar? —Perguntou Rheal, bastante preocupado. —Melhor ficarmos aqui pelo menos até amanhã.

—Engraçado, Rheal. Não era você que estava apressado pra ir embora? —Disse, rindo baixo.

—Não havia garantias de que encontraríamos comida por aqui, além de um local seguro e fácil de proteger. Não vejo problema em passarmos a noite aqui.

—Sinto muito por ser um peso pra vocês. —Disse Linna. —Nem posso mais me teleportar.

—Estava tentando nos ajudar, Linna. Não precisa se desculpar. Poderia ter sido pior. —Disse, remexendo o ensopado com uma colher de madeira. —Poderiam ter te matado.

—Mas ainda assim... Nem posso mais correr.

—Não precisa correr, só precisa cuspir fogo e queimar aqueles Endermans.

—Nem sei como fiz aquilo. Foi sem querer... E foi assustador.

—Não precisa se arriscar. Logo acharemos o papai e a mamãe. —Disse Rheal. —Vamos ficar bem.

—Rheal, venha me ajudar com essa panela. —Pedi. Rheal me ajudou a carregar a panela e colocá-la sobre uma mesa de pedra que lá havia. —Ei...! —Sussurrei. —Depois precisamos discutir uma coisa.

—O quê? —Ele perguntou, confuso.

—O fato de que talvez não encontremos os nossos pais.