The mine word: Blue roses.

Capítulo 35: Fogo de dragão.


Visão da Alex:

Tudo aconteceu muito rápido. Nem sei direito o que aconteceu. Estávamos caminhando na floresta, seguindo uma velha trilha coberta de mato. O papai estava na minha frente e as outras crianças estavam atrás de mim. Houve gritos, bateres de espadas, explosões e brilhos de cor roxa surgindo em todo canto. Rheal puxou meu braço com força, me abraçando junto com a Gisele, sumindo logo em seguida, quando tudo ficou preto.

Acordamos tropeçando e caindo. Rheal bateu em uma árvore no fim do morro e nós batemos nele na queda. Nos desculpamos e o ajudamos a levantar.

—Onde estamos? —Perguntou Gisele.

—O mais longe possível, como a mamãe pediu. —Respondeu Rheal, com um jeito arrogante. Ele segurava uma pequena espada de diamante.

—E todo mundo?! Está maluco?! Precisamos ajudar! —Gritei.

—Minha mãe disse para fugirmos e foi o que fiz. Não sei onde a Linna está, mas sei que está a salvo com as outras crianças. —Ele apontou pro céu. —Veja, ali está o sol, o que quer dizer que o Leste fica pra lá. Estávamos indo pra capital, então precisamos ir pro Oeste. Simples.

—Só se for pra você. —Resmunguei, mas aceitei a ideia.

Ficamos caminhando por muito tempo, com Rheal e eu revezando pra carregar a Gisele, que não estava conseguindo acompanhar o ritmo. Foi como na primeira vez que entrei sozinha no bosque: Difícil, frio, molhado e confuso. Era como estar perdido pra sempre.

Quando escureceu foi quando paramos. Acendi uma fogueira e Rheal fez algo que ele chamou de acampamento, que eram apenas grandes folhas espalhadas sobre o chão. Não comemos nada naquela noite.

No dia seguinte foi a mesma coisa até que o sol ficasse acima de nossas cabeças. Estava quente e paramos pra descansar quando ouvimos vozes. Eram Linna, Pokko e Hakke. Linna carregava os dois, Pokko nas costas e Hakke nos braços, com uma pequena espada de diamante presa no cinto, parecendo muito cansada.

—Que bom que achei vocês! Estava preocupada! —Sua voz saia fraca e cansada. —Que bom... —E caiu no chão.

Linna acordou no dia seguindo, se sentindo melhor. Prosseguimos o caminho até encontrarmos um pomar de laranjas. Comemos várias, matando a fome e a sede. Não estavam tão maduras, mas estávamos com tanta fome que nem ligamos.

Todo dia eu soltava uma explosão na esperança de que o papai ou a mamãe nos achassem, mas estava começando a perder essa esperança quando já havia se passado uma semana.

Ao fim da tarde do oitavo dia foi quando finalmente chegamos a uma pequena vila. Não havia muita coisa, apenas algumas plantações, casas, poucas lojas, uma igreja e um ferreiro.

—Estou com fome. —Reclamou Gisele.

—Vamos comprar alguma coisa e ver se podemos dormir em algum lugar. —Sugeriu Rheal.

—Essas espadas podem valer alguma coisa. Vamos vendê-las no ferreiro. —Disse Linna.

—Não, vamos vender apenas uma. Precisamos de proteção. —Rheal estava certo quanto a isso.

Todos na vila nos olhavam, provavelmente desconfiados do fato de crianças de outras raças estarem carregando uma criança Creeper.

—Com licença, senhor, gostaríamos de vender essa espada. —Rheal falava com o ferreiro.

O homem usava um tapa-olho de couro e não tinha muito cabelo, com um avental escuro grosso sujo e cheirando a queimado.

—É uma bela espada, garoto. Lâmina de diamante puro. Onde roubou uma coisas dessas?

—Não roubei! Deram pra minha irmã! —Rheal havia se irritado.

—E quem daria uma espada dessa a um bando de crianças de rua como vocês? Três Creepers azuis, um Creeper, uma Enderman e uma... —Ele me encarou. —O que você seria, garotinha?

Rheal tomou a espada das mãos dele quando ele se agachou. —Ou compra a espada ou vamos embora.

O homem pareceu pensar seriamente. —Está muito desesperado pra vender essa espada, garoto. Não preciso dela. Agora saiam da minha ferraria.

Nos reunimos em um poço que ficava no centro da vila. Era frustrante não ter conseguido vender a espada.

—Fez um bom trabalho sendo um idiota, Rheal. —Comentou Linna. —Não poderia ter dito que roubou a espada e tê-lo deixado comprar a espada?

—Não mancharia minha honra dessa forma.

—Muito bem, agora temos a sua honra, duas espadas, seis crianças com fome e nenhum dinheiro. Mandou bem.

—Pelo menos eu tentei! Você só ficou lá parada olhando! —Ele se levantou, segurando o cabo da espada.

Me levantei e segurei em seu ombro. —Calma aí. Estamos todos cansados, com fome, não precisamos de mais problemas. —Segurei em sua mão, a que segurava a espada. —Me dá essa espada. —Suma mão tremeu de inicio e ele me olhou no fundo dos olhos por alguns instantes, soltando a espada no fim e a entregando a mim.

O sol estava pra se por quando voltei sozinha até o ferreiro, levando a espada comigo.

—Você? Já disse que não quero essa espada. Fora daqui.

—Espera, moço. Olha, meu amigo não estava pensando direito. Estamos com fome e andamos durante dias. Por favor, estou oferecendo essa espada ao senhor. Só peço que em troca o senhor nos dê algum dinheiro.

O homem repousou o martelo, brilhante de tanto calor, e se agachou na minha frente. —Vamos fazer o seguinte: Lhe darei 1000 Rawers pela espada e uma cesta de pão. O que acha?

—Sério?! Ótimo! Muito obrigada!

Entreguei a espada a ele e ele me deu um saco de couro com algumas moedas e uma cesta cheia de pães. Não estavam frescos, mas essa era a última das nossas preocupações.

Usamos o dinheiro pra alugar dois quartos: Dos meninos e das meninas. Tomamos banho e comemos os pães junto com as refeições da pousada. Foi o primeiro dia desde que escapamos do ataque que me senti segura quando fechei os olhos e dormi.

Um brilho amarelo meio alaranjado iluminava parte do quarto. Gritos vinham das ruas e um leve cheiro de fumaça invadia o quarto pelas frestas nas paredes de madeira.

Linna me acordou com uma sacudida. Ela tossia e gritava algo que eu não conseguia entender. Quando finalmente me toquei do que estava acontecendo, era quase tarde. Era um incêndio na vila.

Nos vestimos muito rápido, nos esforçando pra respirar e procurar tudo que havia por ali. Gisele quase não se aguentava em pé. Fomos até o quarto dos meninos e encontramos todos prontos pra ir.

—Linna, vamos embora! —Rheal apontou pra janela, mostrando pra onde ela deveria nos teleportar.

Linna balançou a cabeça e segurou minha mão, a da Gisele, pegou o Hakke no colo. Rheal foi o primeiro a sumir, levando os outros junto. —Estão prontos?! —Perguntou ela, com pressa na voz. —Então vam...

Uma adaga acertou o joelho da Linna, arrancando um urro de dor dela. A janela se estraçalhou, mostrando um Enderman no topo de um telhado, nos encarando.

—Merda! —Gritei. Estava brava. Muito brava. —Fiquem aqui!

Corri até a parede e a soquei, explodindo toda a madeira e tijolos com uma força que surpreendeu até a mim. O Enderman sumiu antes dos destroços o atingirem. Continuei atacando os Endermans que via pela rua, do alto da casa, todos desviando de meus ataques. Outros Creepers também revidavam, mas também havia vários corpos pelas ruas.

Depois de limpar o caminho, corri até os outros e apoiei Linna no ombro e segurei Hakke com o outro braço. Gisele subiu nas minhas costas e me ajudou a sustentar a Linna.

Saímos da casa e corremos pela direção que o Rheal indicou. Vez ou outra era preciso explodir algum Enderman ou desviar de algum destroço. Conseguimos escapar da vila. O joelho da Linna jorrava sangue. Precisávamos cuidar logo daquilo.

Logo que paramos, dois Endermans surgiram, com punhais brilhantes em suas mãos. Vestiam um tipo de manto negro com linhas roxas decoradas com símbolos nas mangas, ombros, bainha e cortando o peitoral verticalmente.

Joguei Linna e Hakke, uma pra cada lado, desviando do primeiro ataque, que veio pela direita. Girei o corpo e acertei um chute na lateral de seu corpo, causando uma explosão que o arremessou de encontro a uma árvore. O segundo veio de cima, raspando o punhal na minha cabeça e arrancando algumas mexas do meu cabelo. Gisele caiu das minhas costas e aproveitei a distração pra forçar outro chute, mas o Enderman sumiu antes de eu o acertar.

Fiquei a sua espera, olhando em todas as direções, até que ele apareceu sobre a Linna, com o punhal em seu pescoço.

—Para! —Gritei, correndo em sua direção.

—Mais um passo e corto a cabeça dela. —A voz saia abafada por conta em um pano que cobria sua boca. —Vocês me enojam. Seus demônios.

—Vocês são os demônios! —Meu corpo tremia, fosse pela raiva ou por outra razão. —Atacando crianças indefesas. Não tem vergonha?!

—Você matou o Derek sozinha. Crianças indefesas uma ova. Devíamos ter ateado fogo naquela casa quando tivemos chance. —A lâmina raspou no pescoço da Linna e um pouco de sangue escorreu. Ele riu. —Isso vai ser divertido. Mal pos... —Rheal acertou um chute no rosto dele, que tombou pra lado, soltando a Linna.

—Sai de perto da minha irmã... Agora! —Seus olhos brilharam com uma cor azul-marinha forte e seu corpo começou a liberar energia na mesma cor. Ele estava furioso. —Desgraçado! —Outro chute, dessa vez no queixo. —E pensar que minha mãe pertence à raça de pessoas como vocês. Vocês me dão nojo! —Rheal abriu suas asas, num movimento involuntário. Ainda eram pequenas pra que ele pudesse voar, mas davam um aspecto mais tenebroso a ele.

—Seu mestiço imundo! —O Enderman o acertou na barriga, com o cabo da espada, um descuido por conta da distração. —É por causa de gente como a sua mãe que os Endermans não são mais a raça dominante. —Ele acertou um chute no rosto do Rheal, que parou de brilhar. —Se acha o tal mas é fraco como qualquer Creeper. —O Endermans apertou a cabeça do Rheal contra o chão.

No meio da confusão, Linna se levantou. Sua perna ainda sangrava. —L-Larga... O meu... O meu... Larga o meu irmão! —Ela explodiu uma onda de calor que jogou todos, inclusive eu, pra trás. Bati com a cabeça em uma árvore, mas ainda conseguia me mexer.

Agora era Linna quem brilhava, porém, ao contrário do irmão, seu brilho era azul-claro. A grama sobre seus pés estava queimada e o chão soltava vapor. Seu ferimento não soltava mais sangue.

—Vadia...! —O Enderman mordeu o lábio, com a testa sangrando. —Você me paga!

O Enderman sumiu, surgindo atrás dela, com o punhal em mãos, mas a lâmina derreteu e o metal, agora com um tom brilhante de vermelho, escorria, queimando seu braço. Ele urrou de dor e outra rajada de calor o jogou pra trás, arrancando seu cabelo e sobrancelhas e deixando a pele em um tom avermelhado.

Linna se virou pra ele, com a grama chiando quando ela pisava. Deu alguns passos até ele, emitindo fumaça e vapor, fazendo o vento girar a sua volta. —Fique longe dos meus amigos! —Linna tomou fôlego e cuspiu uma rajada de chamas azuis sobre o Enderman, que gritava sem nada poder fazer. Todos olhavam aquilo sem saber o que fazer enquanto o fogo se espalhava e começava a queimas as árvores próximas.

—Linna!!! —Gritei, com o som sendo abafado pelo fogo e calor. —Droga! —Me levantei, recebendo rajadas de calor em meu rosto. Fui me aproximando dela até que o calor era quase insuportável, como se o próprio ar estivesse fervendo. Coloquei uma mão em seu ombro direito, tirando sua concentração e a fazendo parar de cuspir fogo. Ela me olhou ainda com brilho no olhar, ainda demonstrando raiva. —Linna... Volte. Sou eu, Alex. Não se lembra? —Linna me encarou e começou a puxar o fôlego. Me joguei em cima dela e a abracei, a fazendo cuspir fogo pro céu, queimando a copas das árvores. Sua pele ardia e seu coração estava acelerado.

Depois de um momento ela simplesmente desmaiou, caindo nos meus braços. Seus lábios estavam rachados e sua pele soltava vapor. Rheal retirou seu casaco e a cobriu com ele, olhando pra mim.

—Obrigado, Alex. Obrigado.

—Eu não fiz nada. —Voltei a olhar pra ela. Linna parecia dormir tranquila. —O que aconteceu?

—Não faço ideia. —Ele olhou pro incêndio a nossa volta. —Nosso pai nos ensinou a usar a nossa energia em uma situação de emergência, mas algo assim nunca aconteceu. Até eu fiquei surpreso.

—Sei... —Respirei. O cheiro de fumaça estava forte. —Vamos embora daqui.