The mine word: Blue roses.

Capítulo 30: Depois de ontem.


Visão da Pheal: Passado.

A grande casa onde passei bons anos com meu pai agora apenas me enche de lembranças tristes. Cada livro, cada sala, cada canto da casa me lembra ele. Precisava respirar ar puro.

Me alistei para o exército na primeira chance que tive, assim que completei 16 anos. Foi como tirar um peso das costas. Ou melhor, o único peso em minhas costas era o das malas, cada uma lotada com roupas, calçados, livros e outras coisas que achei que fosse precisar.

Peguei uma carruagem para a instalação militar mais próxima, localizada nas redondezas do bairro onde eu morava. Era uma área enorme, toda cercada por muros de três ou quatro metros de altura, feitos com tijolos vermelhos desbotados e sujos com dejetos de pássaros. Ao adentrar o portão principal, me deparei com árvores frutíferas e arbustos com flores de várias cores, fazendo um caminho até um enorme campo aberto coberto com terra batida, com casas e alojamentos, além dos próprios soldados andando de um lado ao outro.

Fui recepcionada por uma veterana que prendia os longos cabelos castanhos, escuros como as árvores que decoravam os arredores, em um grande rabo de cavalo e usava um uniforme de cor azul-marinho com roxo, com um nome costurado em branco: Jenny.

—Venha por aqui, Pheal. O Capitão a receberá em alguns instantes. —Disse Jenny, segurando uma prancheta. —Tenho quase certeza de que a senhorita ficará na quinta unidade mista. Estão procurando novos recrutas. Muitos lá tem a sua idade. —Continuou ela. —Tem uns garotos bem bonitões aqui, mas tente não passar muitos dos limitas, certo? —Ela riu. Eu não entendi.

O Capitão era um homem grande e careca no topo da cabeça, com o pouco de cabelo que ainda restava sendo de cor acinzentada, e usava um uniforme roxo com alguns detalhes em preto. Apenas "Capitão" estava costurado no uniforme.

—Seja muito bem vinda, Pheal. Sabe, gostamos de jovens como a senhorita, com atitude. Poucos tem a coragem de vir para o exército defender esta nação. Li sua carta de recomendação feita pelo Slen, assim como também li a carta que a senhorita escreveu. Devo dizer que fiquei impressionado com o seu patriotismo. Seja bem vinda ao Campo Noroeste. Jenny mostrará tudo para você depois. Por hora, vá aos seus aposentos, troque de roupa e coma alguma coisa.

—Muito obrigada. Farei o meu melhor.

Jenny me levou até a cabana 17, onde a quinta unidade mista estava alocada. O local estava vazio. Jenny me indicou uma cama beliche quase nos fundos do lugar, com a cama de baixo estando completamente desarrumada.

Joguei as duas malas na cama de cima e subi pela pequena escada de madeira que havia ao lado. Troquei de roupa ali mesmo, colocando o uniforme que Jenny havia me entregado, ajeitei os cabelos e saí. Jenny me levou até a última para do passeio, por enquanto: O refeitório.

Ela me deixou na porta, indo fazer outras coisas. Apenas respirei fundo e entrei. O lugar era simples, com várias colunas de madeira, três lustres com velas acesas, três fileiras de mesas que iam de uma ponta a outra, sendo a cozinha no final do lugar.

Três pessoas estavam sentadas na mesa central, duas garotas e um garoto. Passei por eles, indo até a cozinha. Me entregaram uma tigela com caldo de peixe e frutas, junto com pão e um copo com suco de laranja. Me sentei logo em frente a cozinha, começando a comer.

—Ei! —Gritou uma voz. —Você mesmo! Ei, novata, venha aqui! —Era uma voz feminina, meio aguda devido a idade e a animação dela. Olhei para o trio. Uma das garotas, que possuía cabelos castanhos muitos claros, acenava para mim, sorridente como nunca vi nenhum outro fazer.

Me aproximei, meio sem jeito, me apresentando. —Oi. Sou a Pheal. —Disse, tão baixo que nem sei se disse ou se só pensei.

—Olá, Pheal! Muito prazer! Eu sou a Allie. Essa com cara de mosca morta é a Henhy e esse gato aqui é o Lugni. Ele é meu namorado, entendeu?

—Desculpe a nossa amiga. —Disse Henhy, com uma voz meio rouca. —Ela é meio doida, mas é boa pessoa.

—Não sou doida! Diga a ela, Lugni! —Implorou Allie.

—Eu... Bom... Err... Eu gosto de você do jeito que você é, amor. —Disse Lugni.

—Ahhhhh! Seu chato! Isso é a mesma coisa que me chamar de doida! —Ri baixinho, porém alto o bastante para que Allie pudesse me ouvir. —Sabia que não era tão calada assim. Vamos ser boas amigas. Em que unidade você está?

—N-Na quinta unidade. —Disse, com comida na boca.

—Isso é perfeito! Todos nós somos da quinta unidade! Só pode ser o destino! —Ela riu de forma forçada, parecendo que era alguma personagem malvada de uma peça de teatro. —Olha, não sei em qual beliche você vai ficar, mas se ouvir um barulho durante a noite, não acenda as luzes.

—Allie! —Gritou Lugni, cuspindo a sopa que tomava. —Não diga isso aos novatos!

—Dizer o quê? Huh... O que você pensou, safadinho?

—Eu... Errr.... —Ele ficou vermelho como um tomate.

—Viu? Somos todos amigos aqui. Menos nós dois, que somos namorados.

As portas do refeitório se abriram. —O treino irá começar em meia hora. Terminem logo de comer e venham. —Disse um garoto com cabelo castanho comprido.

Visão da Pheal: Presente.

A porta da frente começou a bater freneticamente, junto de gritos de socorro. Eram Steve e os outros.

—Rápido! Tranque todas as portas! Todas as janelas! Não podemos deixar que eles entrem aqui! —Gritava Steve, entrando desesperadamente, com Pompo e Alex nos braços.

—O quê? Eles? Quem são eles? —Perguntei, confusa.

—Endermans! Endermans! Rápido!

Não me demorei muito. Fechei e bloqueei todas as passagens e frestas, acordei Sekka e as crianças e reuni todos na sala de estar.

—Muito bem. Agora que estão todos calmos, explicações, Steve. —Disse Sekka, visivelmente bravo por ter sido acordado.

Ele suspirou. Sua orelha estava destroçada e eu fazia o possível para costurar ela. —A fazenda foi invadida por um grupo de Endermans. Não sabemos quantos eram. Dez? Vinte? Algo assim. Atearam fogo e... Bom, eles... Eles mataram o Ponko. —Houve um tempo de silêncio. —Sei que foi arriscado vir até aqui, mas imaginei que o último lugar onde um Enderman n fosse capaz de entrar seria na casa de outro Enderman.

—Acertou em cheio. —Disse, enfaixando sua orelha. —Eu modifiquei a casa. Não existem frestas nas paredes, janelas ou portas.

—Acho bom. —Disse Cidia. —Ela parecia pensar em alguma coisa. —Eles saberão que estamos aqui. Meu Golem está parado bem em frente à porta. Será questão de tempo.

—Vamos dar um jeito. Sempre... Ai! Cuidado, Pheal. Como ia dizendo, nós sempre damos um jeito.

—Não dessa vez... —Sussurrou Pompo, tão baixo que me fez pensar se ela realmente havia dito algo. —Nada trará ele de volta! —Ele se levantou do sofá com um pulo, fechando o rosto, evitando chorar. —Nada...

—Pompo, eu... —Tentou Steve. Pompo saiu correndo para o segundo andar.

—Já acabei. —Disse. —Vá atrás dela.

Ele correu escada acima.