The mine word: Blue roses.

Capítulo 24: Uma nova proposta.


Visão do Skel:

Fazia muito frio naquela manhã. O suficiente para deixar os cabelos duros pelo acúmulo de neve e gelo.

Mesmo assim eu estava ali, viajando em pensamentos, agarrado levemente ao meu casaco de pele de lobo.

O castelo não possuía muito espaço vago, até pelo seu estilo e local de construção. Porém, o pátio frontal era belo e cheio de vida. Homens e Golens carregavam e descarregavam mercadorias, montavam mamutes, treinavam espadas e faziam outras atividades que seriam difíceis de verem sendo feitas juntas.

Deixei que Kabi tomasse conta do quarto, por enquanto. Como a situação ainda não me é clara, ter proteção extra não é exagero. Embora, aos poucos, Xum vá me convencendo de suas intenções.

Preciso ser cauteloso. Não me importo com meus títulos ou posses, desde que minha família fique bem.

—Ei, você! —Gritou um homem, claramente para mim. Ele correu em minha direção, parando logo na minha frente. —Você é um Witywolve, não é? Posso dizer pelas suas vestimentas.

—Sim, eu sou. E você é...?

—Sou Hermes, comandante da guarda Lenfre. Em nome de minha senhora, eu me apresento.

O homem se curvou. Os Lenfres são conhecidos por sua etiqueta e bons modos. —Muito prazer, comandante. Sou Skel, descendente dos Witywolves. Certamente sabe da história de minha família.

—Conheço, senhor. Devo dizer que meus senhores consideraram uma injustiça a escolha do antigo rei.

—E onde estão eles? Não sabia que haviam outras famílias visitando o castelo.

—Minha senhora, filha do General Lenfre, está apenas passando alguns dias por aqui. Quando soube que o senhor viria, pediu por um convite.

—Eu? O que ela gostaria de tratar comigo?

—Minha senhora lhe convida para um chá após o almoço, senhor. Se não for incomodo, leve sua família. Adianto que não será tempo perdido.

—É um bom homem, Hermes. Diga a sua senhora que aceito o convite. Estaremos lá logo após o almoço com o rei e sua filha.

—Agradeço a gentileza, senhor. Estarei esperando-os na porta do salão. Agora, se me permite, irei me reportar a minha senhora. —Ele se ergueu, se curvou novamente e voltou ao seu posto, sumindo na multidão.

Os Lenfres são uma família antiga no reino. Lideram a ilha Lenfre há séculos, desde, segundo eles, a conquista dela, nas primeiras guerras contra os Endermans. Se for verdade, é um lugar histórico.

Passei um tempo pensando sobre isso. Por que o rei não me avisou que uma Lenfre estava aqui? Creio que essa informação é importante e que ele deve tê-la. Com certeza é estranho.

Após um bom almoço, cujos pratos eu não me recordo bem por estar com a cabeça em outro lugar, chamei Hedyps e as crianças e fui me encontrar com a senhora Lenfre. Hermes estava na porta, assim como havia dito. Ele nos guiou até outro salão, em outra parte do castelo, e nos deu permissão para entrar.

Dentro o salão era como outro mundo. Suas paredes eram revestidas de madeira escura, com textura e padrões bem diferentes do restante do castelo. Uma grande mesa se encontrava no centro, porém uma pequena parte estava arrumada com um conjunto de chá.

—Vejo que chegaram. —Na ponta dá mesa, uma jovem mulher segurava uma xícara de chá. Ela usava um longo vestido branco e cobria a cabeça e parte do rosto com um chapéu ridiculamente grande. —Venham. Entrem.

—Com licença. —Disse, demonstrando respeito. A situação não era das mais confortáveis e eu queria passar uma boa impressão.

Um garoto estava ao seu lado. Uma criança tão estática quanto uma estátua. O único sinal de vida eram seus olhos, me seguindo pelo salão.

—Desculpa pelo comportamento do meu Golem. Ele tem o péssimo hábito de encarar as pessoas. Digi, se desculpe.

—Minhas desculpas, senhores. Por favor, sentem-se.

Nos sentamos, ajeitando as cadeiras. A comida era leve, afinal havíamos acabado de almoçar. Kabi foi a única que permaneceu de pé, encarando o Golem criança.

—Vejo que também trouxe seu Golem. Devo dizer que ela é linda. Você usou bons sentimentos para cria-la.

—Concordo. Kabi me dá muito orgulho, sem dúvidas, além de algumas dores de cabeça. Mas você não me trouxe aqui para isso.

—Tem uma boa percepção, Skel. Digi, sirva chá para eles. —O pequeno Golem pegou o bule, enchendo aos poucos as xícaras. —Como bem sabe, seu filho tem boas chances de ser o futuro rei. Não vou mentir para você, pretendo manter uma boa relação com sua família.

—Compreendo. É bem a cara de vocês, Lenfres.

—Não me chame assim, Witywolve, pode usar meu nome: Firinda.

—Melhor então, Firinda. Essa é minha esposa Hedyps e esses são meus filhos Lhelt, Hekke e Henne.

—Conheço bem sua família, Skel. De fato a única que não tenho boas informações é sua Golem. Vocês não são estranhos no castelo. —Ela retirou calmamente seu chapéu, o colocando um uma cadeira vazia ao seu lado. —Seus feitos no Portão de fogo são conhecidos por todo reino. De fato você é quase uma lenda.

—Agradeço o elogio. De fato foi uma batalha difícil. Perdemos aliados e amigos. Bons amigos. Viver onde eles viviam chega a ser meio assustador.

—Está falando da filha do antigo general, certo? Se me lembro...

—Rhoku, minha senhora. —Falou o pequeno Golem.

—Sim. Rhoku foi morta durante um duelo com seu próprio pai. Ouvi que uma árvore foi plantada em sua homenagem.

—Não poderia estar mais certa. De fato foi bem mais complicado no momento do que parece agora.

—Suas histórias podem ser bem interessantes, Skel. Mas creio que desviamos do assunto. Eu ia propor uma aliança.

—Tenho certeza. Diga suas propostas, então.

—Meu pai não é mais o homem que já foi. Está velho. Assim que morrer, eu serei a General Lenfre. Porém, meu pequeno irmão não possui direitos. Nossa ilha é limitada, como bem sabe. Sua filha possui boas qualidades e também é sua primogênita. Proponho um casamento.

Quase engasguei. Era sério? Um casamento? Com a Henne? —Fico lisonjeado com a proposta. É... Bom, é sem dúvidas uma aliança. —Hedyps não parecia querer falar. Talvez não entendesse o que estava acontecendo direito. —Filha, o que acha disso?

Henne colocou o deu indicador sobre os lábios, franzindo a testa como num forte pensamento. Era engraçado. —Eu não sei. Parece uma boa oportunidade. —Direta ao ponto.

—Devo agradecer o pedido. Seria proveitoso uma aliança como essa. Só devo perguntar: O que mais tem para oferecer?

—Como pensei. Além da aliança, garantimos isenção de impostos para transporte marítimo pelos nossos canais no rio Surargo e pela rota marítima, além de livre comércio entre as duas fortalezas e territórios.

—Direitos comerciais. Parece um bom acordo. Mas, infelizmente, não sou eu ou a Henne que decidimos. Preciso falar com meu avô.

—Previ essa resposta. Como convite adicional, deixe a pequena Henne passar uns dias em nossa fortaleza. Garanto pessoalmente a segurança dela. Enquanto os dois se conhecem, você vai até seu avô e decidem o acordo. O que acha?

Ela era assustadoramente persuasiva. Com certeza o pequeno Golem não tinha aquela personalidade a toa.

—Pensarei durante a noite e darei a resposta logo pela manhã, antes do café. Onde posso...

—Aqui. Estarei esperando.

—Tudo bem. Nos encontramos amanhã.

Ela riu de um jeito disfarçado, me fazendo pensar se foi apenas impressão. —Agora vamos beber o chá antes que esfrie. Isso frio é tão ruim quanto quando queimado. —Ela tomou um gole do chá, colocando a xícara sobre a mesa logo em seguida. —Já está frio.