The mine word: Blue roses.

Capítulo 25: Parceiros.


Visão do Ryan:

Minhas mãos não estão limpas. Elas estão sujas com sangue. Não que isso me incomode muito.

Não sou nenhum vagabundo de beco. Tenho minha dignidade também. Sou o filho de Noitty Flix, patriarca da família Flix, que serve aos Biolumer.

Não é fácil "fugir" quando se é visto por todos em todo lugar. Mas não é como se eu tivesse uma escolha. Não quero ficar sentado ouvindo besteiras de nobres o dia todo. Quero sair pelo mundo, fazer descobertas, enfrentar oponentes que não sejam os criados do meu pai, conhecer garotas e... Bom, o que mais vier.

—Eu pensava assim mas... Essa situação não é nada fácil. —Disse, reclinando a cabeça sobre um tronco de árvore. —Sinto que precisava ter estudado mais sobre mapas. Estou totalmente perdido! Pela Lua... Vou precisar voltar pra cidade.

Me levantei do chão, arrumei o acampamento e segui pelo caminho que havia feito. Pelo menos eu era capaz de ao menos seguir minha própria trilha.

O clima era agradável. Estava fresco, com uma neblina fina cobrindo as árvores. O ar era puro e cheio de vida. Não é como aquele fim de mundo que chamam de "Cidade branca", onde seus dedos congelam se você retirar as luvas.

Os Biolumer são a família de Generais mais diferente entre todas. Pela proximidade, grande parte dos costumes dos Zumbis está presente nas tradições do povo. Uma boa ideia seria o uso de espadas, que praticamente não são usadas pelas outras famílias.

Adoro lutar com espadas. É bem mais emocionante. A tensão de ser golpeado, de golpear, perfurar, rasgar... Isso é excitante. Mesmo assim eu ainda carregue um arco e algumas flechas por precaução. Nunca se sabe.

—Estou com fome. Não consegui encontrar nada na caça de ontem. Talvez eu devesse... Ahh!!

—Quietinho aí, Esqueleto. —Era a voz de uma garota. Não consigo acreditar que fui rendido por uma garota! —Um movimento e corto sua cabeça.

Sua espada parecia gasta e enferrujada. Era uma arma qualquer. —T-Tudo bem. O que você quer?

—Comida. Talvez um mapa, se você tiver.

Espera, ela quer comida? Quase morri por causa de uma esfomeada?!

—Olha, não tenho comida. Estava indo até a cidade comprar alguma coisa.

—Cidade? Tem uma cidade por aqui?

—Você realmente não tem um mapa? Tudo bem. Abaixe essa coisa afiada e eu te mostro o mapa.

Ela me olho de forma desconfiada. Só então percebi que ela não era uma Esqueleto, era uma Ghast. Ela recuou com a espada, embora não a tivesse guardado.

Abri minha mochila, mostrando a ela o mapa. Ela olhou, surpresa, o mapa.

—Então era pra eu ter virado pro Oeste?! Não... Perdi tanto tempo...

—Há quanto tempo está assim?

—Algum tempo. Não devo satisfação a alguém como você.

—Ei, eu mostrei o mapa para você.

—E eu te rendi. Estamos quites. —Ela começou a ir embora.

—Espera! Você não está com fome? Eu compro algo pra você.

—Eu não estou com fome! —Sua barriga ecoou no mesmo instante, a denunciando. —Tudo bem, eu estou com um pouco de fome. Mas não preciso ir com você.

—Você tem dinheiro?

—Bom...

—Já percebi que não. Vem, vamos juntos pra cidade.

Ela parecia desapontada, tanto comigo quanto com sigo mesma. O que eu poderia fazer. É contra os meus princípios deixar uma garota com fome.

Chegamos na cidade, fomos até um restaurante, comprei tudo que ela pediu e depois fomos dar uma volta.

—Ainda não perguntei seu nome.

—Ah! Err... Pode me chamar de Ellie.

—Ellie...? Muito bem. Me chame de Ryan. —Ela não parecia muito a vontade. —Escuta, por que você usa esse capuz o tempo todo?

—Meu capuz? É que... Bem...

—Anda, pode tirar. Garanto que ninguém liga se você é uma Ghast. Eu pessoalmente nunca vi uma.

—Então... —Ela desamarrou a parte do capuz, o retirando. Seus cabelos eram curtos, na altura do pescoço, prateados e brilhantes, embora sujos.

—Não é exatamente o que eu pensei, mas dá pro gasto.

—Sei idiota. —Ela socou, forte, o meu braço. —Não sei porque fiz isso.

—Vamos, deixa disso. Eu já vou indo mesmo. Olha, o Sol está se pondo.

Ela olhou, assustada. —Essa não. Eu não montei um acampamento ainda.

—Você vai acampar? Na floresta?

—Onde mais? Não tenho dinheiro, afinal.

Espero que a Lua me perdoe por isso. —Quer dormir comigo? Digo, no mesmo quarto! Digo, em camas separadas, sabe?! Não, não eu... Ahh! Sou tão enrolado.

Ela riu do meu jeito. Foi até fofo.

—Não tenho muita escolha. Mas são camas SEPARADAS, ouviu?

—Ouvi sim.

A levei até a pousada que costumo ficar e pedi um quarto com duas camas. Não era grande coisa, mas ela reagiu como sendo um paraíso.

—É tão bom deitar numa cama para variar... Isso é tão bom. —Disse ela, tirando as botas e saltando na cama.

—Fique a vontade. Ela é sua essa noite. —Disse, retirando minha armadura de malha e colocando sobre uma cadeira.

—Você parece bem mais fraco sem essa armadura.

—Certas coisas não devem ser ditas, Ellie. Queria ver se você ainda continua com esse corpo bonito sem esse manto te cobrindo.

—O que você é? Um tarado?

—Foi brincadeira. Vou tomar um banho e enquanto isso você pode trocar de roupa, se quiser.

Saí do quarto e tomei um bom banho. Foi a melhor coisa do dia. Quando voltei, Ellie estava na janela, agora sem o manto. Ela era bem mais jovem do que me parecia antes e isso me irritou um pouco, já que seu corpo era perfeito. Ela usava um short que ia até metade da coxa, com uma blusa branca que parecia não ser lavada há meses. Seus cabelos curtos balançavam com o fraco vento e a luz da Lua a iluminava.

—Sabia que continuaria linda sem aquela coisa.

—Ryan?! Há quanto tempo está aí?!

—Acabei de chegar. Relaxa, não vou fazer nada com você. Só que a minha cama fica aí. —A minha era ao lado dá janela, enquanto a dela era a perto do armário.

—Desculpa. Eu queria ver o céu. Bobeira minha. Já vou dormir.

—Não quer tomar um banho?

—Não, estou bem só com isso. Obrigada.

Apenas sorri. Era só o que eu queria.

Dormi pesado naquela noite. Foi um merecido descanso. O Sol já batia em meu rosto quando abri os olhos. Parecia ser um bom dia.

Me espreguicei e respirei fundo. —Ei, Ellie, já acordou? —A cama ao lado estava vazia.

Minhas coisas haviam sumido, com exceção das minhas botas e de uma das minhas espadas. Aquela pirralha...!

Saí correndo escada abaixo, agradecendo a Lua por ter pago adiantado pelos quartos. Perguntei se haviam visto ela e uma funcionária disse ter visto ela há algumas horas, antes do sol nascer.

Decidi me acalmar e pensar um pouco. Será que tudo aquilo havia sido fingimento? Não achava que sim. Havia confiado verdadeiramente na Ellie.

Decidi procurar pela cidade, já sabendo que ela não estaria por aqui, se fosse esperta.

Ao cair da noite, nem sinal dela. Decidi desistir e ver se ganhava mais dinheiro em alguma luta.

Encontrei com o Birx na arquibancada, assistindo uma luta.

—Oi, Ryan. Vem cá.

—Oi, Birx. Esse é um novo lutador?

—Sim. Estão todos apostando nele. O baixinho tem movimentos rápidos, embora a esquerda pareça meio lenta. Já fiz um bom dinheiro nele.

—Parece um bom investimento. Quanto será que ganho se matar ele?

—Provavelmente muito. Ele acumulou bastante em aposta. Quer derrotar ele? Parece estar sem as espadas.

—Só essa. Imaginei se não teria uma pra emprestar.

—Tenho sim. Toma. —Era uma espada pequena e pesada, como Birx gostava. Algumas semanas juntos e parecemos conhecidos de anos. —Só não vá quebrar.

—Pode deixar.

Entrei no ringue, pronto pra ganhar. O oponente era mais baixo que eu e usava um capuz preto.

Quando a partida começou ele sacou duas espadas de dentro do manto, investindo contra mim.

Me esquivei, com a lâmina quase me acertando. Eu conhecia aquela lâmina. Era a minha espada!

Continuei atacando, pensando em como seria possível. Não, não era. Ela deve ter vendido minha espada para esse cara. Tenho certeza.

Outro ataque. Outro desvio. Outro pensamento. Aquela era a espada velha que ela usou contra mim na floresta.

Ele atacava com fúria, tentando me acertar a qualquer custo. Era rápido como o vento. Cada golpe era como uma rajada.

A espada pesada entrava em conflito com a espada leve, me desequilibrando. Era difícil manter uma luta assim. Era um verdadeiro desafio.

Ao final de, talvez, meia hora, o público já ficara cansado. Queriam sangue. Eu, pessoalmente, também queria a cabeça daquele cara no chão.

O juiz se apresentou no palco, com a luta ainda rolando. —O uso de seus crafts foi permitido! Terminem esse luta!

A plateia urrou. Era tudo que eu precisava.

Ativei meu craft, carregando uma espada com energia de fogo e outra com energia de gelo. Não sabia se a espada do Birx aguentaria, mas era necessário. Afinal, meu craft é a manipulação da temperatura.

Investi com tudo sobre ele, com os olhos, quase literalmente, em chamas.

Ele desviou por pouco, saltando. Atirei a espada em chamas em sua direção. Ele rodou no ar, deixando que a espada atravessasse apenas o tecido de seu manto.

Quando caiu, o manto pegava fogo, e ele foi obrigado retirar ele.

Foi um choque. Não era um comprador, era a Ellie em pessoa. Minha raiva havia crescido ainda mais.

Peguei a espada em chamas novamente, me preparando para o ataque final.

Ela sorria, debochada, esperando pelo meu avanço. Eu fui.

Corri em sua direção, não precisando pensar no que fazer. Esfriei o ar do ringue e depois o aqueci, criando uma névoa temporária.

Parti com tudo pra cima dela, por trás, a pegando de surpresa. Porém, num piscar de olhos, ela se virou e bloqueou o ataque com as duas espadas, criando vento e rachando parte do chão de terra.

A pressão do ataque e da defesa sopraram a névoa, me deixando sem escolhas.

Como ela poderia ser tão rápida?! Havia alguma coisa errada.

A ataquei de vários ângulos, com ela sempre defendendo. Era muito rápido. O oponente mais rápido. Aquilo me animava.

Continuei atacando, sem dar pista do que fazia. Quando ela percebeu, era tarde, estava com os pés presos em gelo. Não havia como se mover. Era minha chance.

Peguei ela pelo canto cego, investindo com tudo. Porém, bem antes das lâminas partirem ela em três, o ataque foi parado. Foi como um brilho. Duas lâminas surgiram, bloquearam o ataque e sumiram tão rápido quanto apareceram. Não parecia possível.

—Que tipo de bruxaria é essa...? —Perguntei, retórico, abismado com aquilo.

—Esse é o meu craft, Ryan. —Ela quebrou o gelo que a prendia. —Sou tão rápida quanto você pode ver. —Ela apareceu bem em frente ao meu rosto, de repente. —E com tanto sangue nas mãos quanto você... —Sussurrou ela, novamente sumindo e retornando até onde estava.

—Isso é... Não é real...

—Sou tão real quanto pensa! —Ela realmente me atacou dessa vez, quase não dando para bloquear. Deu pra sentir a fúria emanando de seus olhos claros. —Vocês homens são todos iguais! —Um golpe na direita. —Só porque vêem uma garota bonita se acham no direito de fazer o que quiserem! —Um golpe por baixo. —Você não vai me enganar! —Um golpe por cima. —NÃO VAI!!! —O golpe final. Minha espada pesada quebrou a espada gasta dela, acertando sua cabeça de lado.

A pancada fez seus olhos perderem o foco, a fazendo desmaiar enquanto tossia saliva e liquido estomacal. Havia terminado a luta.

Caí de joelhos, desativando meu craft. Aquilo havia acabado comigo.

O juiz desceu no ringue, confirmando minha vitória. Ele me deu a opção de matar ela. Poderia ter feito. Acabaria ali, naquele instante, mas algo não me deixou.

Levei ela, com a ajuda do Birx, até uma pousada médica para receber um tratamento.

Devolvi a espada ao Birx, agradecendo por ele ser um dois viciado em espadas pesadas.

De manhã, enquanto ela acordava, eu lia um livro. Ela olhou em volta, me olhando em seguida.

—O-O que...?

—Eu bati forte com a espada na sua cabeça. Um ângulo errado e você talvez não tivesse uma nesse momento. Como se sente?

—Dolorida. Acho que exagerei.

—Você acha? Eu tenho certeza. Por que me roubou, Ellie? Teria dado o dinheiro se você tivesse pedido.

—E-Eu não pensei direito. Achei que fosse fazer alguma coisa... Comigo.

—Não estou interessado em machucar você. É contra meus princípios ferir garotas. Mas, num duelo mortal, não há como respeitar isso. Eu também sinto muito.

Ela ficou distante por um tempo. Parecia pensar em várias coisas. —Ainda quer minha companhia? Sei o quanto você é ruim em ler mapas.

—Então você passou um tempo me olhando. Espertinha. Muito bem. Eu não tenho um destino, então qual o seu? Levo você lá.

—Eu... Eu vou... —Ela pensou. —Quero ir até a Lagoa da pedra quente. Fica além dos Portões de fogo. Conhece?

—Ouvi falar. Então está marcado. Ficarei aqui mais um dia para que se recupere e irei com você até essa Lagoa. É uma promessa.

Não sabia no que estava me metendo. Também não queria saber. Essa garota fez o que nenhuma havia conseguido até hoje: Me cativar.

—A propósito, onde estão minhas espadas?

—Um quebrou, aquela velha. A outra eu peguei de volta. Bom, acho que está perguntando daquelas duas que estava escondendo.

—Sim, elas mesmo. Onde estão?!

—As coloquei no armário. São bem bonitas, por sinal.

Ela suspirou. Parecia aliviada. —Ainda bem. Não saberia o que fazer se as perdesse.

—Achou que eu fosse roubar elas? Não. Afinal, somos parceiros agora.