Visão do Skel:

O céu está nublado e um vento forte e frio está vindo do norte. Uma visão rara nesse lugar.

Kabi está dormindo, assim como a Hedyps. Não quero acordar ela. Principalmente depois de ontem.

—Você me causou problemas, sabia? —Pergunto retoricamente a uma carta.

Um mensageiro veio ontem. Dois, para ser exato. Mas o relevante é essa carta. Uma carta com um selo da casa real Esqueleto: Uma rosa azul.

Quando a vi, quase taquei-a ao fogo. Depois da conquista do Portão de fogo, minha família voltou a ter certo respeito no Reino, mas isso não significa que possam nos usar agora.

—Vou discutir isso depois com o Hekke. Deve ser ele a tomar a decisão. —Guardei a carta em meu bolso e fechei as cortinas.

Coloquei um casaco de tecido fino, arrumei os cabelos, calcei as botas, dei um beijo de despedida na Hedyps e saí do quarto.

Sou o primeiro a acordar quase todos os dias e a casa estava silenciosa como sempre.

Me apressei a sair e ir direto a sala do conselho. Quando cheguei, apenas o Bibliotecário estava presente.

—Bom dia, senhor. —Ele me cumprimentou. —O que temos para hoje?

Suas mãos tremiam e sua pele estava fria. —Nada muito importante. Pelo menos, não agora.

—Aconteceu alguma coisa? Tem estado estranho desde que aqueles mensageiros vieram. Algo errado?

—Não é nada que deva se preocupar. Direi a todos quando resolver

—Assim espero. Não é bom para o espírito guardar segredos. —Ele voltou até a sua cadeira e se sentou.

A reunião foi rotineira, como sempre. Discutimos as mesmas coisas e colocamos outras como prioridades.

Retornei para cada o quanto antes. Precisava resolver aquilo ou não conseguiria pensar em mais nada.

Já dentro de casa, as crianças estudavam com uma aprendiz de Bibliotecário. Seu nome era Win.

Henne, como sempre, estava com a cara enfiada em um livro enquanto Lhelt e Hekke ouviam o discurso da Win.

—Desculpe atrapalhar você, Win, mas preciso falar com o Hekke. Coisa rápida.

—Tudo bem, senhor. Vá com seu pai, Hekke.

Hekke se levantou com certa dificuldade e me seguiu até o quarto. Hedyps e Kabi já não estavam lá.

—Pode sentar, se quiser. —Ele concordou e se sentou na cama. —Filho, eu... Eu não sei nem como dizer isso. Talvez um jeito de começar seja... Vamos ver... Você gosta de alguma garota?

Ele me olhou com uma expressão confusa, mas logo entendeu.

—Não costumo sair muito. A tia Hevack tem as amigas dela, mas não gosto tanto delas.

—Entendo. Então... Você ainda não sabe ler, não é?

—Não. —Ele parecia desapontado.

—Calma, não vou brigar com você. —Retirei a carta do bolso e a mostrei à ele. —Isso é para você.

—O que diz?

Respirei fundo e li a carta para ele. Hekke prestou atenção a cada palavra. Quando terminei, apenas concluí:

—A escolha é sua, filho.

—Você diz... Casamento? Como você e a mamãe?

—Sim. É um pedido real.

—Isso parece divertido.

—Por que acha divertido?

—A Henne é a herdeira da fortaleza Witywolve. O Lhelt é herdeiro do Portão de fogo. Mas eu não sou herdeiro de nada. Se eu me casar com a princesa, então eu serei o príncipe, certo?

—Essa é a regra.

—A Henne me contou que príncipes viram reis. Isso quer dizer que eu serei o rei dos Esqueletos.

—Vejo que entendeu a ideia. Lembre-se, você tem muito tempo para pensar. Podemos visitar a Cidade branca, caso queira conhecer a princesa. Apenas peço que pense nisso com calma. Pode fazer isso, Hekke?

—Posso, pai. Vou dar o meu melhor.

—Muito bem. Volte aos estudos.

Ele saltou da cama e correu para a sala, provavelmente querendo contar a novidade aos irmãos.

Depois de respirar, me joguei na cama. Os cobertores ainda tinham o cheiro da Hedyps.

Quando olhei para o lado e vi um pedaço de papel sobre a mesa, logo lembrei:

—Há outra carta.