The mine word: Blue roses.

Capítulo 1: Muito tempo depois.


A tranquilidade dessa floresta é muito confortante. Floresta como é chamada, mas na verdade isso seria um bosque, o mesmo onde a Pompo disse me encontrar desmaiado anos atrás. Esse virou o meu lugar de paz, talvez uma tentativa de me conectar ao meu antigo mundo. Sim, o antigo, pois agora esse é o meu mundo, onde eu vivo e onde minha família vive.

O vento carregava vários odores, principalmente o da grama molhada pelo orvalho da noite, mas um odor bem chamativo era o de carne de carneiro sendo assada. Pelas minhas contas, hoje é dia 14 de março de 2021, domingo, também conhecido como "dia de comer em família". Cidia e Ponko preparavam o tal carneiro, considerando que Pompo e eu cozinhamos na semana passada.

Um pequeno elemento rastejava por entre as árvores, tentando se esconder enquanto segurava os risos. Meus olhos estavam levemente fechados, mas permaneciam atentos as sombras de cor carvalho escuro mesclado com verde claro se moverem cada vez mais perto de mim. A ratinha finalmente chegou a minha árvore, ficando escondida atrás dela e tentando segurar os risinhos. Ela saltou em minha direção, mas eu não estava lá. Seus olhos vasculharam as redondezas e se arregalaram quando meus braços a envolveram.

—Peguei!

Ela berrou de susto, caindo no riso logo em seguida. —Não é justo! Você se mexeu! —Disse ela, com a cara emburrada e fazendo biquinho. Seu vestidinho estava com a bainha suja de terra e seus pés sujos de lama. Ela sempre anda descalça pela fazendo, esvoaçando seus escuros cabelos. Se Alex era metade Creeper, então essa metade era quase inexistente.

—E eu não posso me mexer, querida? —Perguntei, a jogando pro alto e a agarrando em seguida.

—Não, você não pode, papai! Você fica parado e eu seguro você!

—Certo! Certo! Na próxima vez eu deixo você me agarrar, tudo bem? —A coloquei no chão. —Por que veio aqui, Alex?

—A mamãe tá chamando você. Ela brigou com a Gigi. A Gigi fez arte.

—Sério? O que a Gigi fez?

—Eu não sei... Mas a mamãe brigou com ela.

—Vamos vez isso então. —A peguei novamente no colo. —Se segura.

Sai correndo em direção a casa, uma pequena construção de pedra, madeira e tijolos, bem semelhante a casa do Ponko e da Cidia. Chegamos mais cedo do que eu previa, e só fui perceber a velocidade quando vi os cabelos de Alex completamente bagunçados. Ri um pouco da cena e a coloquei no chão, arrumando novamente os seus cabelos escuros.

Entrei na casa, já me deparando com Pompo e Gisele trocando olhares de raiva. Ambas me olharam, pedindo ajuda. Pompo logo veio até mim.

—Você precisa conversar com essa garota, Steve!

—Eu não fiz nada de mais, Steve! Eu só...

—Ela quer ir com a Pheal em uma viagem ao Reino Zumbi! Eu disse que é loucura, mas ela não me escuta!

—Nós só vamos até a capital para comprar redstone. Não vai demorar.

—Você tem ideia de como a Pheal vai até esses lugares? Ela tem asas, já percebeu?

—Bem... —Suspirei. —Gisele, você falou sobre isso com a Pheal?

—Sim, ela disse que me levaria da próxima vez que fosse até o Reino Zumbi. Pheal até me mandou uma carta. Recebi ela hoje. —Ela estendeu a carta em minha direção.

—Realmente, parece que a Pheal a convidou. Bom, não acho que seja ruim que a Gisele experimente lugares novos. Ela já tem dezesseis anos, Pompo.

—Mas ainda é perigoso, Steve. Principalmente pelo fato de ser a Pheal que irá acompanhar ela.

—E qual o problema?

—Bem... —Pompo ainda mantinha sua rixa com a Pheal, mas era inegável de que eram amigas hoje em dia. —Eu não sei. Se você não conseguir convence-la, então ninguém vai. Preciso cuidar do Pokko. —Ela foi até o quarto que ficava ao lado do nosso e fechou a porta. Pokko é nosso segundo filho, que ao contrário da Alex, que nasceu com os cabelos escuros como os meus, Pokko nasceu com seus cabelos loiros, mas ainda possuía os meus olhos escuros.

Gisele começou a me encarar com olhos pidões, parecendo um gato pedindo comida. —Vou pensar nisso melhor, mas não estou dizendo que não. Faz um bom tempo desde que visitamos o Sekka e a Pheal. Talvez nós a levemos até lá.

—Obrigada, Steve. —Ela me abraçou. Seus cabelos prateados estavam sujos de poeira. —Vou treinar um pouco com a Atie e a Adreu enquanto a comida não fica pronta.

—Tudo bem, mas não libere os poderes delas. Deu muito trabalho da última vez. E tome cuidado com a sua irmã.

—Certo! —Ela saiu correndo.

Gisele mudou muito nesses últimos anos. Ela parou de usar vestidos o tempo todo e passou a usar roupas de fazendo, como macacões e, no caso dos últimos meses, um short antigo da Pompo e um top que já estava necessitando ser trocado, já que, e esse é um assunto delicado aqui em casa, mas digamos que a Gisele já é mais "madura" que a Pompo.

Estiquei os braços pra cima e me espreguicei. Alex continuava sentada na varanda em frente a porta, apenas fitando o céu azul. Me sentei ao seu lado, assim como fiz muitas vezes com a Pompo. Pensando agora, a gravides da Pompo não foi tão complicada depois de um certo tempo. A própria Cidia fez o parto e Alex nasceu rosada como um morango e gritando tão alto quanto era possível pra deixar alguém surdo, mas eu nada pude ouvir quando a segurei nos braços pela primeira vez e olhei no fundo de seus olhos de cor castanho escuro, apenas fiquei olhando, hipnotizado pela fragilidade dela.

Realmente é difícil olhar pra ela hoje em dia e imaginar que já foi tão pequena que era possível segurar com uma mão só. Não que ela não seja pequena, e essa é, como diz o Ponko, a "prova" de que a Alex é filha da Pompo.

Pokko nasceu no ano passado, e antes de ele nascer, Pompo e eu achávamos que eramos sortudos por termos conseguido ter a Alex de primeira. Pheal e Sekka já tem cinco filhos, três garotas e dois garotos e Skel e Hedyps tiveram trigêmeos, dois garotos e uma garota.

Alex se levantou repentinamente e limpou seu vestidinho. —Está pronto! Está pronto! Vamos comer! —Ela gritava enquanto corria até a mesa de madeira onde a comida estava sendo arrumada. Ponko acenou pra mim e eu logo fui chamar a Pompo e a Gisele. Nos reunimos na mesa e fizemos as rezas tradicionais da Cidia e logo atacamos a comida. O único problema, e digo problema com relação a Pompo e o Ponko, era o fato da Alex não gostar de comer carne.