The history of us

Alguém disse asas?


Pousei com calma no chão, perdendo minimamente o equilíbrio. Ordenei as asas, mentalmente que retornassem ao lugar, e elas o fizeram. Olhei para o pessoal, que me olhavam de volta com os olhos arregalados e ansiosos. Com o olhar suplicante, chamei Julieta e peguei suas mãos.

–Vamos continuar o treinamento.

–Claro.

Escovei os dentes, tomei banho e troquei de roupa. Julieta sugeriu uma camiseta justa, calça de moletom e tênis esportivo. Eu não sabia da onde aquelas roupas tinham surgido, mas eu não iria perguntar pra saber. Voltamos para o quintal e ela me entregou uma espada e escudo de madeira.

–Quando você for lutar oficialmente, será no ar. Sabe por que? Porque qualquer criatura com asas só tem vantagem maior no ar.-Ela veio até mim com a espada erguida em posição de ataque. Movi meu escudo e me protegi de seu ataque, mas quase cai com o movimento. Ela riu.-O escudo é pra proteger dos ataques que não tem como não usá-lo. Você deve usar a espada para se proteger na maioria das vezes. Vamos tentar. Quando eu atacar com a ponta da espada, você mira o meio da espada para dar de encontro com a ponta da minha. Quando atacar por baixo você coloca o escudo na frente da minha espada e ataque por cima. Quando eu atacar seguidamente para cima e para baixo, você só tenta desviar e se proteger com o escudo. Você verá muito isso. Então você precisa ser rápida. Precisa adivinhar os movimentos do adversário. Precisa saber o que fazer antes dele pensar no ele vai fazer. Você é rápida e traiçoeira com a espada na mão. Vou ensinar depois como usar isso como vantagem. Ok?

–Ok.

Treinamos os movimentos seguidas vezes. Eu devo ter caído umas trinta vezes quando Julieta resolveu ser rápida. Ela me incentivava com palavrões e um ''deixe de ser fraca e lute!''. Fiquei feliz até. Ela não deixaria eu desistir, e isso também não fazia parte dos meus objetivos. No final do treinamento eu já sabia fazer bastante coisa. Uma delas era usar minha rapidez à minha vantagem. Eu não sou uma pessoa muito apita a esse tipo de coisa, muito menos me considerava uma boa guerreira. Mas eu sou boa nisso. Ou pelo menos na maioria dessas coisas.

À noite, sentamos todos à mesa para jantar. Eu não participei muito do assunto que formou, pois não sabia sobre esse mundo que a pouco tempo entrei de vez. Mas foi bom ver todos ali, interagindo e sendo eles mesmos, principalmente Julieta e Pedro. No final da janta Pedro me chamou para ir ali fora. Aceitei e o acompanhei até a frente da casa. Meus olhos se arregalaram ao ver aquela coisa na minha frente. Tudo que eu pensei naquele momento foi: "Puta merda!"

–Ha-harley?

A moto rugiu assim que ouviu meu nome. Pulei nos braços de Pedro e o beijei, que aceitou de bom grado. Eu podia ver que ele ficou alegre com a minha iniciativa. Peguei sua mão e o levei para perto da moto. Subimos nela e eu lhe disse para onde andar.

–Dê uma volta nesse bairro.

Pedro envolveu minha cintura e eu peguei sua mão. A moto voou por todo o bairro, e foi mais do que incrível. Ouvir as gargalhadas de Pedro, a Harley empinando de leve de vez em quando. Foi sensacional. Assim que voltamos, senti um frio na barriga ao ver Luz na porta de sua casa com a expressão séria. Ela estava com os braços cruzados e se não fosse visão de ótica, seu pé direito batia de leve no chão.

–Aonde vocês estavam?-Perguntou dando espaço para passarmos pela porta.

–Pedro trouxe a minha moto de volta. Fomos dar uma volta pelo bairro.

–É muito perigoso andar por aí, os anjos podem vê-la. Ainda mais agora que o feitiço sobre você já foi quebrado.

–Me desculpe.-Sussurro.

–Não tem problema, só não faça de novo.

–Tá.

Caminhei para o banheiro e tomei um banho rápido. Corri para o quarto de toalha. Me troquei rapidamente e preparei minha cama para dormir. Assim que pensei em fechar os olhos e dormir, Julieta entrou como um furacão no quarto. Sentou-se na beirada da cama e me fuzilou com os olhos.

–Você e Pedro tem parafusos a menos? O que estavam pensando ao sair de casa de dar uma ''volta'' pelo bairro? Alooo, o feitiço foi quebrado, os anjos agora veem você como é. Eles com certeza te viram. E se eles não vierem aqui dar um ''oi, vou te matar porque você não deveria existir'', os demônios viram. Chamei Marian para vir aqui.

–Quem é Marian?

–Bem, aquela que você chama de ''vovó''.

Senti meus olhos se arregalarem. Ela riu quando viu minha reação. Então olhou bem para mim.

–Olhe, eu sei que você fará a escolha certa ok? Eu sei que você está nervosa e tudo mais...mas fique calma e espere. Bem, de um jeito ou de outro você teria que enfrentar seus demônios interiores. Mas você é forte. Você sabe que é. Marian irá nos ajudar com umas coisas de nephilins quando chegar. Até lá descanse. Você precisa estar com os olhos bem abertos quando o pior chegar.

Fechei os olhos, e por um momento pensei se essa seria a última vez.