A garrafa de vodca estava presa às mãos de Luísa. E ela não planejava solta-la. Dentro daquela garrafa restava o pouco de alegria que ela poderia sentir. O pai estava morto, o irmão não falava com ela e o seu maior amor a tinha deixado. Rose sumiu de vista, foi pra onde ninguém poderia encontra-la, sem pensar em Luísa. Quer dizer, para quem vai é muito mais fácil não sentir a dor da largada. Luísa ficou e dia após dia, a dor e a saudade a corroíam por dentro, como se fossem alguma bactéria que come carne humana, de dentro para fora, lentamente. As melhores horas do dia de Luísa eram quando ela estava dormindo e subconscientemente, sonhava com Rose. Com todos os momentos que teve ao lado dela e todos os momentos que não pôde viver, porque Rose a deixara-a. Luísa nunca teve um fechamento com Rose. Rose simplesmente foi embora e a deixou. Não houve um ponto final, uma conversa olho no olho, uma explicação lógica porque Rose abrira mão de Luísa para se aventurar no desconhecimento e esquece-la. Tudo o que houve foi um até logo, um beijo como quem prometera outros. Mas não houve. Ela se foi, estava vivendo outra vida, com outras pessoas e Luísa ficou. Era ela quem sentia tudo, quem olhava para o lado e lembrava-se de Rose, quem via uma roupa e imaginava Rose nela. Ou sentia o perfume da ruiva no ambiente. Era Luísa que era obrigada a passar todo dia pelos mesmos lugares que elas costumavam frequentar. Não Rose. Rose tinha ido embora, tocado a vida dela, estava em outra. Luísa sofria sozinha por um amor que ela não conseguia deixar para lá, mesmo que sua consciência te chamasse a razão e dissesse que ela merecia melhor. Ela amava Rose e sentia que a história delas ainda não havia terminado. O que dizer, quando seu coração trava uma batalha tão forte com seu cérebro? O cérebro é o dono da razão, ele analisa todo sofrimento que é causado por uma única pessoa, analisa friamente certos comportamentos e te avisa que está na hora de seguir em frente. Mas o coração de Luísa ainda via fogos de artifícios quando ela se lembrava de Rose. Insistia em afirmar que aquele amor perduraria, que ainda existe história entre elas. E Luísa só queria descontar na bebida, porque para ela, era a única saída. Viu-se sozinha no chão do bar do Marbella. Abriu a garrafa lacrada e sentiu o aroma forte se alojar em seus pulmões. Foi como se o organismo respondesse àquele cheiro. E então bebeu. Permitiu-se jogar fora todo o trabalho que fizera na reabilitação, porque para ela, simplesmente não havia mais saída. Estava sozinha. Ninguém entendia a dor que ela sentia. Era taxada de louca. Então virou a bebida, pura, forte, que queimava as paredes do seu corpo por onde descia. Um gole sedento atrás do outro. Sentada naquele chão frio, Luísa deixou-se desabar. Chorou. Chorou pelo seu pai, chorou por Rafael, chorou principalmente por Rose. Logicamente não há explicação, chorar mais pela assassina do seu pai do que pelo próprio, mas Luísa chorou. As lagrimas pareciam não parar de sair. Quando atingiu o final da garrafa, o celular estava na mão. Todas as imagens de Rose, delas duas, todas as conversas já tinham sido vistas. E então ela mandou uma mensagem, mesmo sabendo que não seria entregue.

“Como pôde esquecer os fogos de artifícios? Não sei porque sinto sua falta. Só sei que sinto. Queria rosquinhas....”

Rose sempre levava rosquinhas para ela. Passos fortes. Burburinhos que pareciam baixos aos ouvidos de qualquer pessoa, menos dos dela recentemente afetados pela bebida. Luísa abriu os olhos e viu a claridade um pouco forte demais, tapar sua visão. Demorou alguns minutos para recuperar a consciência e perceber onde se encontrava. Deitada encostada no balcão do bar. Abraçada com a vodca e em outra mão seu celular. Levantou com muita dificuldade, cambaleando. Sua cabeça latejava. Se arrependera de ter bebido noite passada, mas agora já tinha ido, não havia mais volta. Alguém agarrou seu braço para ajuda-la. Era Jane.

— Jane... Me desculpe. – Aquela mulher não devia nada a ela, nem ao menos simpatia.

— Luísa, você bebeu de novo... Eu sei que com o que vem acontecendo não deve ser fácil, mas você tem que se manter firme.

— Não consigo digerir tudo que estou passando, Jane. Mas eu mesma contarei para Rafael.

Luísa terminou de subir sozinha. Em silêncio. Pensou em ligar para Suzane, mas do que adiantaria? A detetive não correria ao encontro dela, só porque ela quer. Teria outras coisas para fazer. Decidiu então tomar um banho, para lavar a alma e acalmar o coração. Fechou os olhos e como de costume lembrou de Rose...

A água caia sobre elas. O corpo de Rose estava colado ao seu. Ambos nus. Os lábios de Luísa chocavam-se com o da ruiva. Os lábios de Rose eram macios e correspondiam tão bem aos de Luísa. As mãos de Rose percorriam todo o corpo da morena. Luísa estava esgotada. Mesmo com a água caindo sobre elas, suavam. Não havia uma vez em que transaram, que não houve esgotamento de ambas. Se Luísa pudesse pensar em uma palavra para descrever sempre que fazia amor, seria fogos de artifícios. Daquele dia em diante da piscina, o sexo só melhorou. Rose sorria entre os beijos. Se estava fazendo errado não queria saber, Luísa era a única coisa que ela conseguia pensar naquele momento. A pele macia de Luísa se arrepiava aos toques da ruiva. E então, seus lábios se afastaram com muita dificuldade. Ambas sorrindo.

— Podíamos fugir, Rose. – Luísa falava, ainda nas nuvens.

— Para onde você quer ir? – Rose se esquecera de quem ela era por um momento.

— Para qualquer lugar com você. Fugimos de meu pai, de Rafael. Será só eu e você, longe daqui. – Agora Luísa falava sério, seus olhos encontrando os olhos claros da ruiva.

— Luísa... Você sabe que eu não posso. – Rose recobrara o juízo. – Eu amo você. Mas eu não posso. Eu iria para qualquer lugar com você, Luísa, se eu pudesse.

— E porque não pode? Você larga ele! – A voz de Luísa ecoou com certo desespero.

— Você não entenderia... – Rose a tomou em um beijo novamente.