Aula vaga, duas ótimas palavras com um significado melhor ainda, se você não estiver presa numa conversa maluca com as suas melhores amigas.

—Você tem razão, Brooke! Ele está ficando tão gato! –comentou Daisy.

—Ele e a Val ficam muito fofinhos juntos. Shippo. –diz Brooke.

—Valiam? Eu também. –respondeu Daisy, animada.

—Vocês enlouqueceram? –pergunto

—Sério Val? Só agora você foi perceber isso? –perguntou Brooke.

—Até parece que não conhece a gente. –refletiu Daisy

—Eu não tenho nada a ver com o Liam! -reclamo

—Vocês ficam conversando o tempo todo! –acusou Daisy

—Ele é meu amigo! –afirmo.

—Amigo... Amigo... –resmunga Brooke, pausadamente.

—Oi, gente. Do que vocês estão falando? –pergunta Henry, se metendo total na conversa.

O meu nome é Valerie Morgan. Loira dos olhos castanhos e com altura mediana. Brooke e Daisy são duas das minhas melhores amigas. Brooke Blake é mulata de cabelos pretos e olhos castanhos, alta. Daisy Herman é morena dos olhos castanhos, uma baixinha muito fofa.

Liam Harper é um menino alto de cabelos castanhos escuros e olhos azuis, completamente e irritantemente azuis. É o encrenqueiro da minha turma, se irrita facilmente, com tudo e todos. E pelo que parece ama me irritar. E não me chame de exagerada, você ainda não o conhece. Henry Underwood tem cabelos castanhos, é mulato e possui olhos castanhos escuros, e também é baixinho. Henry é bem amigo de Liam.

—Nada, Henry, nada. –falo

—É o assunto Valiam de novo? –pergunta Henry, Brooke e Daisy balançam a cabeça, assentindo.

—Por que todo mundo ama me irritar? Que coisa! Até parece que eu sou interessante! –levanto a voz.

—A gente não tá tentando te irritar, estamos só comentando que seria MUITO LEGAL se você e o Liam namorassem. –explica Henry.

—Primeiro: Eu não estou maluca ainda pra querer namorar ele. Segundo: Ele tem namorada. Terceiro: A primeira e a segunda já resumiram o porquê eu nunca faria isso.

—Ah qual é, Val! Nós somos seus amigos sabemos que você não é muito normal. -disse Paul Evans, da onde essa criatura surgiu? –E ele não gosta de Candice mesmo. – informa o loiro de olhos extremamente azuis dando de ombros.

—Paul era pra ser segredo! –sussurra Henry (ou tenta)

—Agora já foi. –fala Paul, simplesmente.

—MEU DEUS! Então quer dizer que Candiam não é real? –pergunta Daisy.

—Sempre desconfiei. –reflete Brooke.

—Fofoqueiros. –digo rindo.

—Fofoqueiro, é uma palavra muito forte. Preferimos “comentaristas”. –informa Henry.

—Comentaristas da vida alheia. –completa Brooke.

—Uhum. –concorda Daisy.

—Vocês sabem que eu me referi a vocês também, né? –pergunto ainda rindo

—Pois é. –diz Brooke.

—É a vida. –filosofa Daisy.

—Bom, eu vou ali conversar com a Jack.

—Tá bom. –fala Daisy.

—Me conta tudo depois. –pede Brooke, eu reviro os olhos e sigo em frente.

Jack está sentada numa mesa longe da nossa mexendo no celular, provavelmente conversando com a Carrie. Jack é uma das minhas melhores amigas também. Só que nós compartilhamos segredos muito mais profundos.

—Hey, Jack!

—Valerie Morgan! –me cumprimenta de volta, ela tem mania de me chamar pelo nome completo.

—Hoje, Ypógeios, sete horas. –falo simplesmente.

—Claro. –ela responde. –Já falou pros outros? –pergunta.

—Nop. -nego.

—Tá esperando o que?

—Que você espalhe pra mim.

—Você sabe que minha preguiça é maior, não sabe?

—A esperança é a última que morre. –digo e ela sorri. –Manda uma mensagem pra Florence. –ela assente e começa a digitar.

Vou até a quadra, eu definitivamente não gosto muito daqui. Liam está ali jogando vôlei.

—Liam! –grito.

—OI! –responde gritando.

—Vem cá! –peço (ordeno).

—Espera aí. –ele diz e eu me aproximo dele.

—Anda logo. –eu peço. Liam não tá nem ligando.

—Já vou. –promete, a bola vai para ele, quando ele vai rebater eu me jogo na frente dele e pego a bola. –Paciência não é com você, né?

—Não é uma das minhas maiores qualidades. Ypógeios, sete horas. –ele assente.

—Só isso? –pergunta

—Sim.

—Por que não falou antes?

—Por que será? –pergunto irônica devolvendo a bola de vôlei pra ele. –Fala pra Ashley pra mim, por favor?

—Eu estou meio ocupado, não tá vendo?

—Ah fala sério você e a Jack são iguais! Preguiçosos!

—Preguiçosa é você.

—Isso não vem ao caso.

—Na verdade, vem. –bufo e ele ri.

Vou falar com a Ash. E ela está com a Candice. Ugh, Candice. Por que será que eu não gosto dela? Ah é eu sei. Ela é muito perfeitinha pra ser verdade. Nós não somos de porcelana, Candice.

—Oi, Ashley. –cumprimento, precisamos ser formais pra ninguém suspeitar da... –Oi, Candy.

—Oi, Valerie. –responde com um sorriso.

—Oi, querida. –cumprimenta Candice com um sorriso na cara, sorrio também, cara eu sou muito falsa.

—E então, Ashley, precisamos falar sobre o trabalho. –eu disse

—Claro. –ela sorriu, Candice saiu dali e começamos a conversar normalmente.

—Eu estava com saudades da Corporação. –ela ri. –Quem está na mira dessa vez?

—A Hilary, parece que ela fez algo que a Carrie não gostou e a Jack ficou meio magoada.

—Eu não gosto da Carrie. –comenta Ash

—Eu também, mas veja pelo lado bom, ela também não gosta da gente, né? –ela ri e concorda.

—Nem um pouco.

—Não sei como a Jack aguenta ela.

—É um mistério pra toda a sociedade.

—Acho melhor eu ir, a Candice vai desconfiar.

—Até, Val.

—Até, Ash.

*

—Então é isso que o Liam vai fazer com a Hilary? –pergunto. Jack assente, Liam dá de ombros, pra ele sempre tanto faz.

—Vocês não acham isso cruel demais? Tem mesmo que ter a pegadinha da Flore no meio? –perguntou Ash.

—E é por isso que você é a Mediadora, então cortem a pegadinha da Flore. –digo.

Provavelmente você está tendo problemas para entender isso. Essa é nossa “sociedade secreta”, a Corporação dos Trapaceiros, só nós sabemos que isso existe. Eu sou a Manipuladora, aquela que arquiteta os planos. Jack é a Mensageira, ela nos dá informações sobre tudo e todos. Liam é o Praticante, ele que coloca os planos em prática. Florence é a Gênia das pegadinhas, é sério ela é tipo um Loki da vida real. Ashley é a Mediadora, aquela que diz quando nós estamos indo longe demais. Loucura? Talvez, mas é a nossa realidade de como nos vingarmos de pessoas que odiamos. As vinganças não são pesadas, ninguém sai ferido, Ash não nos deixa ir tão longe.

—Mas a pegadinha é essencial! –resmunga Florence.

—É cruel. –rebate Ash

—Essencialmente cruel. –completa Flore, indignada.

—Não, é não. Coitada da menina. –falo

—Pra mim tanto faz. –diz Liam

—Liam, você não está ajudando. Tipo nem um pouco.

—Tá bom, nada de pegadinha da Flore. –diz Liam, finalmente.

—Valeu. –agradeço.

—Eu gostei da parte da pegadinha. –diz Jack.

—É cruel, Jack. –informa Ash, como sempre calma.

—Ah! Tudo bem! Nada de pegadinhas! –decide Flore.

—A Hilary merecia a pegadinha. –fala Jack.

—Decidido? –pergunto e encaramos a Jack.

—Tá bom.

—Então, vamos recitar o Código?

—O Código é tão blé. –reclama Jack.

—Nós, trapaceiros, prometemos solenemente não mexer com quem não mexe conosco, só vingar os nossos membros machucados mentalmente ou fisicamente, prometemos agir justamente com tudo e todos. –dizemos todos juntos, em uníssono.

—Eu declaro essa reunião encerrada. –falo.

Todos se retiraram do meu porão, que tem uma saída que dá pra fora da minha casa. Nós somos adolescentes de dezesseis a dezoito anos que se reúnem num porão para realizar vinganças. Somos muito normais. Claro, por que não?

Arrumo o subsolo (em grego Ypógeios) e subo e me deparo com a minha mãe com um sorriso malucamente enorme.

—Você está grávida? –pergunto e ela engasga com o ar, vou para geladeira pegar água.

—Não, claro que não.

—Pelo seu sorriso parecia. -digo

—O William vem morar aqui, junto com a filha, Charlotte. –ela diz. Minha vez de engasgar. Só que foi com a água.

—O QUÊ? –grito, já desengasgada.

Meu celular vibra. Uma mensagem. É a Ash.

—Val, alguém está me seguindo. Socorro.

—Onde você está?

—Quadra da escola.

—Estou indo.

Nada bom. Saio correndo de casa, subo na minha moto, e corro até a escola. Quando estou na esquina ouço três barulhos ensurdecedores. Corro mais ainda. Aguenta firme, Ash. Finalmente cheguei, na quadra e me deparo com a cena mais assustadora da minha vida.

Ash está no chão, cercada pelo próprio sangue, sem nenhuma emoção no olhar, sem nenhuma gota de vida. Três barulhos, três tiros. Agora faz sentido. Não consigo me segurar e grito, grito como nunca gritei antes.