A marcha fúnebre soa pelos meus ouvidos, um dia triste. Candice está chorando e abraçando o Liam, que está sem nenhuma emoção no rosto. Pessoas carregam o caixão de Ash, encaminhando-a para a igreja.

Jack está do meu lado, totalmente triste. Florence não quis comparecer, ela queria manter a memória da menina animada e alegre, a memória da Ashley viva. Daisy e Brooke nunca foram muito amigas da Ash, então não estão aqui, mas ficaram bem chateadas com a notícia. Henry e Paul estão ajudando a carregar o caixão, o que se não fosse triste seria cômico porque Henry está de ponta de pé para carregar. Era pro Liam fazer isso, mas Candice não larga ele um segundo sequer.

Fui eu que a achei morta, quatro dias atrás. E quem me achou berrando pela morte da mesma, foi Liam. Ele tem a casa do lado da escola, ele me escutou. Lembro-me claramente de tudo o que aconteceu depois disso.

“NÃO!” gritei chorando.

“Vai ficar tudo bem, tudo bem.” Liam tentava me acalmar. “Vamos ligar para a polícia.” Ele dizia e começava a discar um número, e vira de costas para falar ao telefone, eu sei que ele estava chorando e não queria que eu visse.

“Por quê?” perguntei a ninguém, aparentemente. Ouvia Liam falar com os policias e falar que era sério e não era um trote, umas dez vezes.

“Eles estão chegando.” Avisou Liam, uma lágrima caiu de seu rosto, ele logo a secou com a mão. Liam se ajoelhou do meu lado, eu já não chorava mais, só encarava a cena perplexa. “Você tem ideia de quem seria capaz de fazer isso?”

“Nenhuma” respondi. “E você?”

“Também”

A chegada à igreja me tirou de minhas lembranças. Eles começaram a subir com o corpo de Ash.

*

—Algum familiar gostaria de dizer alguma palavra? –pergunta o padre, o silêncio mortal atinge a igreja. Os pais de Ashley estão muito abalados para dizer qualquer coisa. O irmão mais velho dela não está muito melhor, mas a diferença entre o luto dele e o dos pais é que ele não está nada sóbrio. –Algum amigo? –pergunta e eu me levanto, indo em direção ao altar, pego o microfone que o padre me deu.

—Ashley Gillies, foi mais do que só uma estudante comum do Ensino Médio, ela era uma amiga, uma irmã. Era uma pessoa muito boa. Ela amava todos vocês, magoaria muito ela vê-los tão tristes e magoados, então em respeito à Ashley precisamos superar a perda, não digo que devemos esquecê-la, nós não devemos. É só pensar nela como a menina iluminada que ela era, e não no final trágico que teve. Deus só nos leva quando completamos a nossa missão, parece que Ashley completou a dela.

*

O enterro havia acabado, estou saindo do cemitério, indo para a minha casa, refletir sobre o que aconteceu e descobrir possíveis ameaças, pensar na vinda da Charlotte pra minha casa também, aquela menina é completamente agitada.

—Eu sei por que você está de óculos. –diz Liam.

—Fala então. –peço.

—Você chorou muito durante esses quatro dias, não chorou? –pergunta Liam

—Sim. –confesso e retiro os meus óculos, ele faz um careta. –Tá tão péssimo assim?

—Muito. –revela.

—Valeu, Liam, mulher adora ouvir isso. –falo e ele ri. Primeira reação boa dele nos últimos quatros dias.

—Preciso ir, senão a...

—Candice vai surtar. –completo.

—Como você...

—Previsível. –informo, e dou de ombros.

Ele se vira e começa andar na direção onde a Candice está chorando perto do Paul que não sabe o que fazer com a situação. Eu disse senão fosse trágico seria cômico. Começo a andar para a minha casa. Mas sou parada pelo... Irmão da Ashley?

—Você parece saber mais do que todo mundo sabe sobre a morte dela. –ele diz.

—Eu que a encontrei, quero dizer, você sabe...

—O corpo. –ele completa.

—Sim. –afirmo.

—Mas Candice era a melhor amiga dela, não? –pergunta. –Por que ela queria o seu socorro?

—Não sei. –digo.

—Por favor, fale comigo tudo o que souber. –pedia desesperado.

—Eu não sei de nada. –grito.

—Você vai me falar por bem ou por mal. – fala, ameaçadoramente.

—Não se eu não quiser. –digo já irritada e o chuto no... Você é um menino? Se sim ou não você já entendeu a referência, não é? –Não devia mexer com quem está quieto. –aviso.

Posso ser várias coisas, mas não sou uma menininha indefesa. Encaro-o que está se contorcendo de dor.

—Valerie! –alguém grita. Uma voz familiar. Liam. –O que aconteceu? –pergunta enquanto vem correndo até mim. Candice o encara longe daqui, o esperando.

— Apateónes, óloi se kíndyno. –(trapaceiros em perigo). Ele apenas assente.

—Quer carona pra casa? –pergunta.

—Adoraria. –confesso.

—Você é preguiçosa. –afirma sorrindo.

—E isso vem ao caso? –pergunto.

Damos uma última olhada no homem caído no chão e saímos dali.

—Querida, você vai com a gente? –pergunta Candice.

—Vou.

—Que ótimo! -comemora a mesma.