Eu quase nem sentia minhas pernas após Derek e eu andarmos por mais da metade do Continente Masculino. Eu não sabia se o fato de eu não sentir minhas pernas tinha como culpado o desespero ou simplesmente a caminhada, quase corrida.

Só havia um único lugar no qual nós não havíamos passado e nem cogitado passar ainda. Até agora. Até quase sermos pegos, até pensarmos juntos e descobrirmos que o único lugar que não havíamos passado era exatamente onde devemos ir.

O farol.

O farol. Cercado de guardas.

Mas é claro, é necessário ir até lá. É necessário quando elas tem Dylan em mãos.

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– Derek! - Grito. Ele se vira para mim, quase impotente, com uma arma apontada para suas costas. Miro no ombro da guarda ruiva de cabelos presos e acerto.
Derek corre para o meu lado, enquanto a guarda se enrosca na parede, deixando um rastro de sangue vermelho vivo na parede azul.

– Tessa! - Ela grita. - Você sabe que Bailee está caçando você como nunca caçou ninguém antes. Ela quer você morta! E você também, Derek Ripling. Se querem mesmo viver, não se arrisquem da forma como estão fazendo, seus idiotas!

– Desculpe pelo ombro. - Grito de volta, correndo pelo corredor extenso, com Derek em meu encalço.

– Ela tem um pouco de razão, sabe? - Diz Derek.

– Eu sei. Mas é Dylan. Nós tinhamos que vir.

Demora apenas alguns minutos até que os passos comecem a surgir. Por sorte, é a mesma guarda ruiva ferida, mas agora com um pedaço do uniforme rasgado no ombro e um curativo apressado no local.

– Mais rápido. - Derek sugere.

Praticamente voamos pelo farol, subindo a escadaria giratória com pisões fortes e as pernas cada vez mais tensas.

– Vamos! - Incentivo.

Assim que atingimos o alto da escadaria, paramos em frente à uma porta de ferro trancada.

– O que fazemos? - Berro, espancando a porta. - Dylan!

– Tess! - Ele grita de volta. - Vai embora. Agora. Tess. Vai.

Ouço um barulho, que é provavelmente de um corpo se chocando contra a porta.

– Dylan! - Grito novamente. - Dylan!

– Vai! - Ele grita de volta. Ele parece cuspir algo no chão, e em seguida, pela fresta da porta, escorre um pouco de sangue.

Esmurro a porta de ferro com mais força, torcendo minha mão direita, e provavelmente quebrando um de meus dedos, mas não me importo. Preciso tirá-lo de lá. Alguém o está machucando.

– Saia da frente. - A guarda ruiva me empurra com toda a força restante em seu corpo ferido.

Choco-me contra uma estante e minha mão arde com mais intensidade.

Derek corre até mim e prende minha cintura ao seu corpo enquanto esperneio, chuto, soco tudo o que encontro em minha frente. Grito coisas obscenas para a guarda, até perceber o que ela está fazendo.

Ela está...Abrindo a porta de ferro?

Derek me solta no momento em que a porta se abre e a guarda sai de nossa frente. Entramos na sala ofegantes e encontramos Dylan inconsciente no chão de mármore.

Ajoelho-me para segurar seu rosto ensanguentado.

Derek examina a sala cuidadosamente, descobrindo alguns objetos de tortura, um tanto diferentes dos famosos e utilizados eletrosingulares. Coloco a cabeça de Dylan em meu colo, enquanto Derek aponta vários objetos e coloca alguns menores em seus bolsos.

A guarda ruiva entra na sala, com arma em punho. Ela examina a sala junto com Derek, seguindo exatamente seus passos. Eles passam as mãos por diversos objetos que com certeza objetivaram na inconsciência da única pessoa que confunde meus sentimentos em relação à ela.

A guarda ruiva pousa a mão no ombro de Derek e ele sorri.

Espero entender o que se passa, até que escuto exatamente as palavras que saem da boca da guarda.

– Estou do lado de vocês.

– Ótimo! - Derek sorri. - Uma ajudinha não seria recusada no momento.

Ela se aproxima de mim e de Dylan, e, talvez por reflexo, puxo o corpo dele para mais perto do meu e passo meus braços em torno de sua barriga.

– Não vou machucá-lo. - Ela solta uma risadinha. - Meu nome é Clover Smith. Estou desvirtuando todos os meus conceitos à respeito do gênero masculino, mas é o que parece certo. Estou ajudando vocês. Desviando-me do que me foi ensinado desde quando eu era tão pequena quanto Jamie Stolpeen.

Um arrepio percorre o meu corpo quando ela pronuncia o nome de Jamie. Só não fico mais amedrontada por saber que ele está longe e seguro. Jake, George e Wes estão de olho nele, vinte e quatro horas por dia e isso me deixa tranquilizada.

– Está do nosso lado e estava com uma arma nas costas de Derek no andar de baixo?

Ela sorri para o chão.

– Vocês não me deixavam falar! Sei exatamente quais são seus pontos fracos, Tessa. Derek, Dylan e Jamie. - Ela diz os nomes lentamente. - E sabe quem me passou esses dados? Bailee Mason, nossa governadora. E ela não passou somente para mim. Há uma ordem no Continente Feminino inteiro de capturá-los, para que você vá até ela. Ela também sabe que você faria de tudo por esses três rapazes. E ela sabe também que Derek faria de tudo por você. E, acho que você tem total consciência de que ela quer a cabeça de Derek exposta em praça pública. Ela quer que os homens entendam que qualquer tentativa de rebeldia ou revolução, serão exterminadas assim como você será em poucos dias. Assim como Derek será. Vocês são os principais causadores de tudo isso.

Meus braços começam a tremer e por conta da falta de adrenalina, minha mão e meu dedo que provavelmente está quebrado, começam a doer. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, não somente pela dor física, mas pela dor psicológica de saber que as pessoas que eu mais amo no mundo correm perigo. Correm o risco de serem torturadas, assim como Dylan estava sendo por alguém que não está mais nessa sala.

– Pois ela que venha. - Digo com todo o ódio que carrego. - Ela que tente fazer qualquer coisa com Derek ou Jamie, assim como já fez algo com Dylan. Eu rasgo sua garganta com as minhas unhas. Esse é o poder feminino, não é?

Clover balança a cabeça, na negativa.

– Violência é um poder masculino.

Eu fecho os olhos, como se fosse uma piscada mais intensa. Quando abro-os, Derek se juntou a nós. Está ajoelhado passando um líquido amarelado nos ferimentos mais profundos de Dylan.

– Então, acho que já sou um deles. Eu pertenço à essa nação, Clover Smith.

Ela concorda com a cabeça.

– Era exatamente isso que eu esperaria ouvir da voz feminina da revolução masculina. -

Ela diz, apoiando-se em Derek para se levantar. - Vamos tirar vocês daqui.

– Você vem junto? - Derek pergunta.

Ela sorri.

– É claro.