Apenas indivíduos raros têm o potencial de se tornar Magos e muitos daqueles com esse potencial estão condenados à loucura. A menos que o indivíduo em questão - conhecido como uma Fonte - aprenda a controlar o seu poder rapidamente, ele ou ela poderá acabar como um oráculo meio insano e abobalhado. É por isso que as Escolas de Magia foram criadas, onde as crianças talentosas estudam por muitos anos, adquirindo conhecimentos e dominando habilidades mágicas. Por causa de seus poderes, os Magos envelhecem mais lentamente do que as pessoas comuns. Eles podem extrair energia mágica dos quatro elementos, transportar-se a longas distâncias e curar, bem como matar em um piscar de olhos. Eles têm conhecimento científico e político extenso. No último aspecto, muitos magos agem e pensam tais como governantes. Não à toa muitos Reis optam por ter um Conselheiro ou Conselheira versada em Magia.



(extraído do livro “Sobre Magos e Feiticeiras”)



Elendil imaginava que Iorveth ficasse revoltado pela mentira, mas não tão furioso assim. Com a menção da palavra “feiticeira”, os olhos do elfo voltaram-se para Turiel como se ela fosse um monstro perverso, ou uma abominação. Mas o elfo jamais pôde imaginar que Iorveth desejasse tomar a mulher loira convalescente e ir embora dali na mesma hora.

—Está louco? Ela inspira cuidados! – esbravejou Turiel, tentando impedir que Iorveth entrasse naquele quarto. Mas o elfo parecia irredutível.

—Não sobre os seus cuidados! Você é uma feiticeira! Saskia está assim graças à gente como você! – esbravejava Iorveth, furioso.

—O que acha que vou fazer com ela, seu elfo burro? Que vou arrancar o coração dela para fazer um feitiço? Eu sei Magia, sim. Mas não aprendi em Aretuza como a maioria das feiticeiras. Meu pai era um Mago e me ensinou um fundamento ou outro, nada mais. E eu pretendia contar a você que essa tal “Saskia” que você acabou de nos apresentar, está sob um encantamento poderoso.

— Isso eu já sabia. – aceitou Iorveth.

—Tenho certeza de que é este encantamento que está exaurindo suas forças.

—Sabe alguma forma de reverter isso?

—Depende de como é o feitiço que ela foi submetida. Mas primeiro, conte-me sobre ela. Quero saber o que essa Saskia têm de tão especial para fazer o Líder dos Scoia’tael ter tamanha explosão de sentimentos por uma dh’oine.

Iorveth apenas rolou o olho com o comentário de Turiel. Embora fosse uma feiticeira, Turiel parecia ter bom coração e dava sinais de estar disposta a ajuda-lo. O elfo sentou-se e contou a ela sobre Saskia.

—Saskia é uma das maiores guerreiras que já conheci em minha vida. Inteligente, carismática, corajosa... Jamais conheci uma mulher, humana ou elfa, que se igualasse a ela.

—Eu fico surpreso em ver sua profunda admiração por uma dh’oine. – disse Turiel.

Elendil notou certa hesitação em Iorveth. O que ele está tentando esconder?

Iorveth continuou sua história. – Uma feiticeira chamada Phillipa Eilhart conseguiu controlar Saskia. Usava do carisma e liderança dela em benefício próprio, e cada vez menos para a rebelião de Vergen. As feiticeiras queriam governar Vergen usando Saskia como um fantoche. Em meio a toda a confusão de Loc Moinne, eu não consegui quebrar a maldição lançada contra Saskia, e para completar, fui preso. Eu não fazia a menor idéia de onde ela estava, até aquela unidade de Scoia’tael me contar que ela estava sob o poder deles. Decerto eles queriam vender a cabeça dela para Nilfgaard ou algum Reino sedento para enforcar e esquartejar uma rebelde. No fim, minha tentativa foi em vão. Se ao menos o bruxo estivesse do meu lado...

Elendil parecia reflexivo.

—Você conhece um bruxo? Puxa... Jamais vi um bruxo em toda a minha medíocre existência.

—Eu já conheci dois deles. Tive um maior contato com um bruxo chamado Letho de Gulet. Um desgraçado que tudo que fez foi me manipular e que tentou me apunhalar pelas costas na primeira oportunidade. O outro que conheci foi o Gwynbleidd.

—O lendário Geralt de Rívia? Aquele a quem os bardos fazem canções? – perguntou Turiel, abismada.

—Sim, ele mesmo. O bruxo de cabelos brancos, em pessoa. Cheguei a ter uma boa impressão dele no início, ele mostrou-se sensato, mas nossos caminhos se separaram quando ele escolheu se aliar ao meu maior inimigo.

—E outra vez você menciona esse seu “maior inimigo”... Pensei que seu “maior inimigo” fosse Orlo... – tentou insistir Elendil.

Iorveth riu. – Orlo sequer chega perto dele.

—Posso perguntar quem é? – perguntou Elendil, curioso.

—Um homem da Teméria, chamado Vernon Roche. Ele comanda os Listras Azuis, os maiores inimigos dos Scoia’tael na Teméria. Nosso primeiro encontro já foi o prenúncio da rivalidade que nos cercaria ao longo dos anos. Eu comandava uma unidade, creio que a melhor que já tive, quando fui atacado por ele e seus homens, em sua primeira missão comandando estes malditos Listras Azuis. Todos os meus comandados morreram. Fui o único sobrevivente. Desde então, passei a vê-lo como uma ameaça em potencial, enquanto outros líderes Scoia’tael o desprezavam, especialmente por ele ser um filho da puta. Um literal filho da puta, é o que quero dizer. A mãe dele era uma prostituta. Mas no fim, o tempo provou que eu estava certo, e ele deu cabo de todos os Scoia’tael que o consideraram com pouco caso. Por isso, permaneço a dizer que você ainda não está pronto para um confronto com os Listras Azuis. Aqueles homens são sedentos por sangue inumano e sua falta de habilidade cairá como um prato cheio para eles.

Elendil não acreditava em Iorveth. Sentia-se preparado para enfrentar qualquer um, graças ao árduo treinamento recebido por Iorveth nos últimos meses, mas preferiu não retruca-lo. Iorveth jamais gostou de ser retrucado quando se sentia com a completa razão.

—Mas voltando ao feitiço... – cortou o assunto Turiel. – Talvez haja uma forma de quebrá-lo, mas preciso que me dê mais detalhes. Conte-me tudo o que sabe, Iorveth. Qualquer detalhe, até o que parecer muito insignificante, pode ser de alguma ajuda. Não me oculte nada.

Iorveth assentiu. Contou tudo o que sabia sobre o feitiço lançado por Phillipa Eilhart. A pétala da Rosa da Lembrança, colocada sobre os lábios de Saskia quando ela padecia de um envenenamento. O beijo dado pela feiticeira sobre a rebelde. Turiel parecia saber o que era o feitiço, para alívio de Iorveth.

Mas é claro, Iorveth não contou exatamente tudo. Não contou sobre Saskia e sua capacidade de se transformar em um Dragão. No fim das contas, Turiel era uma feiticeira, tal como Phillipa Eilhart e as demais arcanas da Estada das Feiticeiras. E ele não se arriscaria a revelar do que Saskia era realmente capaz.

—Esse é o tipo de feitiço que com toda a certeza foi feito com um contrafeitiço.

—Como assim, um contrafeitiço? – questionou Iorveth.

—Essa Phillipa Eilhart pode ter utilizado algum objeto para concentrar o contrafeitiço, caso alguma coisa desse errado. Essa é uma regra básica de Magia que meu pai me ensinou.

—Então... Eu dependo de Eilhart para quebrar a maldição de Saskia?

Turiel suspirou. – Infelizmente, sim. Mas... Eu posso passar o controle de Saskia para outra pessoa.

—O quê?! – surpreendeu-se Iorveth.

—Saskia está exausta porque está muito longe desta feiticeira. O feitiço está drenando suas energias. Se esta situação se perdurar por muito tempo, ela morrerá. Precisamos fazer um ritual semelhante, mas por cima do ritual desta Phillipa Eilhart, até que você encontre o contrafeitiço ou faça a feiticeira reverter o feitiço. Só desta forma Saskia será plenamente livre.

—Entendi.

—Mas quem passará a controlar Saskia? – perguntou Elendil.

Os olhos de Turiel voltaram-se para Iorveth. – Creio não termos um candidato melhor.

—Não. – começou Iorveth. – Eu... Eu não tenho o direito de controla-la. Não.

—Você a conhece bem, Iorveth. Se outro estranho tentar controla-la, será mais difícil. Ela apresentará resistência. Acredito que o ritual será mais fácil com um rosto amigo para ela.

—Você não entende, Turiel... – começou Iorveth. – Ela será controlada por mim!

—O que há de mal nisso? Você está com segundas intenções?

—Não! É que... É que ela passará a me ver diferente. Não é?

Turiel parecia analisar as palavras do elfo, com cuidado. Por fim, a elfa suspirou.

—É perfeitamente compreensível que esteja com medo e...

—Eu não estou com medo. – interrompeu Iorveth, sentindo-se ofendido.

—Está sim, Iorveth. Está com medo de que a rejeição se converta em afeto. Que a desconfiança se converta em apreço. Que o companheirismo se converta em... Amor.

Timidamente, Turiel pôs sua mão sobre o ombro do líder dos Scoia’tael. Para sua surpresa, Iorveth não se recolheu ao seu toque.

—Se isso acontecer, eu saberei que não é sincero.

II

Saskia dormiu por três longos dias.

E nestes três longos dias, Iorveth esteve em vigilância. Por vezes, passava horas e horas, a observá-la dormir. A devoção com que cuidava de Saskia era tão impressionante que Turiel tinha quase certeza de que ele a amava, embora jamais confessasse isso. Agora ela entendia porquê ele temia tanto ter controle sobre ela. O feitiço de pleno controle tinha por efeito colateral uma paixão platônica do dominado para o dominante. Isso tiraria de vez qualquer certeza de Iorveth a respeito sobre os reais sentimentos de Saskia a seu respeito.

Quando Saskia acordou, a primeira coisa que seus olhos escuros encontraram foi Turiel. Por pouco, não seria Iorveth, se o elfo não tivesse dado lugar para que a elfa analisasse mais uma vez a temperatura dela.

—Onde estou? – perguntou a jovem, aparentando cansaço e confusão.

—Entre amigos, não se preocupe. – tentou acalmar Turiel. – Como se sente?

—Com fome.

Turiel riu da sinceridade de Saskia. – Vou trazer algo para você comer e beber. Você está fraca e precisa se alimentar.

Indo em direção ao fogo, Turiel viu que Iorveth e Elendil estavam do lado de fora, praticando arco e flecha. Enquanto reunia um pouco de comida em um prato para Saskia, a elfa acabou ouvindo, ainda que indiretamente, o teor da conversa entre Iorveth e Elendil.

—Não me lembro deste espantalho de palha.

—Parece ser algo recente.

Droga, pensou Turiel. O boneco de palha que Roche criou para Anya, em seus treinamentos com espada. Ela se esqueceu de removê-lo. O Listra Azul havia saído de sua vida do mesmo modo inesperado que entrou e, em sua pressa de partir, deixou coisas espalhadas por sua casa. Algumas ela encontrou e destruiu. Outras, ela não percebeu. Ela só esperava que Elendil e seus novos amigos só encontrassem de vestígio da visita de Vernon e sua filha o tal “Emhyr”, que tanto apanhou da espada de madeira de Anya.

—Devo estar confuso. Turiel não teria qualquer razão para construir algo do tipo.

—Ou quem sabe, foi seu filho quem o construiu, antes de falecer.

—Sim, há também esta hipótese. Mas ainda assim, Iorveth... Percebe? Não há qualquer marca de flechas neste espantalho. Só algumas perfurações e amassados.

—Verdade... – tocava Iorveth os amassados. – Talvez seu menino estivesse treinando com uma espada.

Elendil riu. – Espada?! Eu só treinei Berdelon com um arco. Por que meu filho treinaria com uma espada?

Toda esta especulação está indo longe demais, pensou Turiel, que abandonou o prato de Saskia no mesmo instante e correu para o lado de fora. Era hora dessa conversa acabar, e a elfa já sabia como.

—Iorveth, Saskia acordou. – ela disse, sem rodeios.

Como ela desejava, a reação do elfo foi bastante previsível. Iorveth abandonou naquele mesmo instante qualquer conversa inconveniente com Elendil e pôs-se a correr para dentro de casa, deixando Turiel e Elendil sozinhos do lado de fora.

—Foi você quem fez este boneco para Berdelon? – perguntou o elfo.

—Eu o ajudei. – mentiu Turiel. – Berdelon passou seus últimos dias construindo esse espantalho. Iria treinar com seu arco e flecha, se não fosse por...

—Entendi. – interrompeu Elendil, sabendo que aquelas eram lembranças dolorosas para ela. – Mas por que você não se desfez desse espantalho, como fez com as outras coisas dele? Porque eu notei que o quarto de nosso filho está vazio...

—Eu não me desfiz de coisa alguma. Está tudo guardado em um baú. E obviamente, não dá para guardar um espantalho em um baú...

—Tem razão. – disse Elendil, convencido disso. – Bom, creio que é melhor voltarmos para casa. Iorveth deve precisar de nossa ajuda.

De volta para o interior da casa, Turiel terminou de preparar uma refeição para Saskia. Encontrou Iorveth no quarto, sentado respeitosamente no mesmo banquinho onde passou os últimos dias, a guardar seu sono. Sua chegada parecia ter interrompido uma conversa entre os dois, cujo teor Turiel desconhecia. Mas a julgar pelo semblante de Iorveth, sua interrupção foi algo altamente bem-vindo.

Saskia recebeu com ânimo o prato de comida das mãos de Turiel. A primeira colherada no caldo de peixe fez a jovem rebelde fechar os olhos, tamanho o seu agrado com a comida bem temperada da elfa. As próximas colheradas acabaram dadas com pouca educação, o que fez Saskia prontamente se desculpar.

—Você está sem comer há dias. – relevou Turiel. Acho que estou ficando com tanta prática em alimentar humanos esfomeados que nem me choco com isso, ela pensou.

Iorveth permanecia sentado no banquinho. Se não estivesse respirando, poderia ser dado como uma estátua facilmente. Percebendo que o clima instaurado naquele quarto estava absurdamente estranho, Turiel decidiu se levantar, sob o pretexto de que buscaria suco para Saskia.

Mais uma vez, Iorveth e Saskia estavam sozinhos. Iorveth esperou a jovem loira terminar sua comida – algo que não demorou muito, pois ela comia com ferocidade – e voltou a falar dos últimos acontecimentos.

—Como eu estava te contando, eu consegui escapar da prisão, com a ajuda de Elendil e Argalad, os dois elfos que dividiram a cela comigo.

—Eles são Scoia’tael, como você?

Iorveth riu. – Pelo contrário. Elendil é um caçador de animais que até pouco tempo, achava que os elfos deveriam aceitar sua extinção. Já Argalad é um bardo. A esta altura, deve estar metido em alguma confusão em Novigrad. Aliás, estamos hospedados na casa de Elendil. A elfa que acabou de te servir é Turiel, a esposa dele. Ela é uma herbalista e cuidou de você nos últimos dias. Como está se sentindo?

Saskia suspirou. – Me sinto um pouco melhor agora, com um pouco de alimento no meu estômago. E refiro-me a comida mesmo, não alimento. Todas as porcarias que comi como Dragão não contam.

As palavras de Saskia provocaram certa repulsa em Iorveth. Ele jamais havia parado para pensar em todos os “seres vivos” que passavam pelo estômago de Saskia em sua forma draconiana. Humanos, monstros, animais... O apetite de um Dragão não era dos mais seletivos. Todos devorados ainda vivos, crus...

—Está prestes a vomitar, Iorveth? – questionou Saskia, com uma pitada de diversão em sua voz. O elfo pigarreou, sentindo-se constrangido com sua falta de transparência.

—Mudando de assunto. – cortou o elfo. – Vergen caiu. Não sei se isso é de seu conhecimento...

Saskia abaixou a cabeça, com um assentimento.

—Soube no acampamento Scoia’tael. E de pensar que ficamos tão perto de termos a nossa independência... E eu estraguei tudo.

O tom de voz de Saskia transbordava derrota. Comovido, Iorveth procurou consolá-la.

—Você não estragou coisa alguma.

—Você sabe melhor do que eu que sim. – retrucou Saskia. – O quê diabos eu fui fazer em Loc Moinne, quando os rebeldes mais precisavam de mim? Nem lembro ao certo. Acho que... Phil... Phillipa, ela... Ela pediu minha ajuda... Não sei, é tudo muito nebuloso.

Iorveth suspirou. Lembrou-se do conselho de Turiel. “Se Saskia está mesmo enfeitiçada por essa Phillipa, não conte a ela sobre o encantamento. Ela não irá acreditar. O encantamento sobre a controlada a fará acreditar cegamente na controladora. Não há retórica neste mundo capaz de dissuadi-la sobre isso.”

—Não pense sobre isso agora, Saskia. Você precisa descansar.

—Mas eu não me lembro, Iorveth...

—Você está fraca e cansada. Tenho certeza de que se lembrará na hora certa.

—Está bem. – respondeu Saskia. Turiel já estava a poucos passos do quarto. Por educação, a elfa bateu à porta. Trazia uma jarra com suco de maçã.

—Meu marido Elendil acabou de trazer do vilarejo. Pelo cheiro, foram recém-colhidas.

Saskia sorriu, aceitando um copo do suco. Tendo a mulher ocupada a beber do suco de maçã, Iorveth e Turiel se afastaram do quarto.

—Como ela está?

—Bem, mas parece estar confusa sobre os últimos tempos. Creio que porque esteve controlada por Eilhart.

—Mais um sinal do encantamento. Confusão quando em transe. Ela não se lembrará do que fez quando no controle dela, Iorveth. Só passará a se lembrar depois que o encantamento se quebrar. Aliás, preciso te adiantar alguns detalhes sobre o ritual que teremos de fazer. Não gosto de adotar tal postura, mas sinto que terei de ser... Invasiva, para dizer o mínimo. Você e Saskia... Acaso já tiveram relações sexuais?

Surpreendido pela pergunta direta de Turiel, Iorveth quase se engasgou, tossindo forte e com seu olho bastante arregalado.

—Acho que isso significa “não”. Foi o que pensei. – concluiu a elfa, pondo-se reflexiva.

—O que isso te importa?

Turiel riu. – Os feitiços de controle mais poderosos costumam ser criados sob os laços do amor. Os mais brandos, porém ainda poderosos, são formados pelos laços da luxúria. Pelo que conheço de feiticeiras...

—... Porque você é uma. – inseriu Iorveth, discretamente. Turiel riu.

—Então, no que estou prestes a falar, sou uma decepção de arcana. As feiticeiras de formação são volúpias, porém pouco versadas em amor. Tenho quase certeza de que o feitiço de Phillipa se baseou na luxúria. Uma atração sexual forte de Saskia sentida por ela. Entendeu?

Iorveth assentiu silenciosamente.

—Preciso que você se declare, Iorveth.

—Declarar? Mas declarar o quê?

Turiel suspirou, um tanto irritada. Parecia estar conversando com uma criança, não com um elfo com mais que o dobro de sua idade.

—Falar dela a respeito de seus sentimentos, seu elfo burro. E não me olhe assim, eu sei que você gosta dela. E que gosta mais do que um amigo.

—E se eu me recusar? – disse o elfo, após um bom minuto de reflexão.

—Então... Teremos de apelar para a luxúria. O que tornará as coisas mais difíceis, pois você terá de ser melhor na cama do que Phillipa Eilhart. Será que consegue essa “façanha”, de ser melhor do que uma feiticeira?

Iorveth sentiu-se cambaleante. Turiel estava segurando-se para não rir. Ela sabia que estava sendo um tanto cruel com Iorveth, mas era a realidade. A elfa tinha quase certeza de que o encantamento era baseado na luxúria, e que para sobrepô-lo, era necessário lançar um encantamento semelhante, porém mais intenso. E para isso, era necessário que Iorveth fosse aberto com relação aos seus sentimentos por Saskia.

—Minha amizade com ela não basta?

—Não. Sei que vocês dois possuem uma amizade, mas não é o bastante para sobrepor o feitiço dessa feiticeira. Tem de ser algo mais forte. Então, já tomou sua decisão?

Iorveth estava reflexivo. Por fim, deu sua resposta.

—Eu não preciso falar de meus sentimentos coisa alguma. Sabe porquê? Porque eu tenho certeza de que dei todos os sinais necessários para que ela interpretasse. Eu tenho certeza de que ela sabe. Não preciso dizer. E se está se perguntando do porquê de não estamos juntos, é simples: nem todos tem o privilégio de ter uma vida pacata e normal como você e Elendil. Saskia possui outras prioridades, assim como eu. E essas prioridades não davam espaço para um romance. Portanto, faça esse ritual. Não será necessária uma poesia, serenata ou qualquer outra besteira que esteja passando por sua mente. Tanto eu quanto Saskia não precisamos disso.

Turiel parecia abismada. Por fim, Iorveth sentiu-se no dever de questiona-la mais uma vez.

—O que irá acontecer se... Se Saskia realmente não gostar de mim e me enxergar apenas como um amigo ou parceiro? O Ritual dará errado? Ela morrerá?

—Meu ritual não terá efeito algum e a situação dela não mudará. Ou seja, ela permanecerá controlada por essa feiticeira Phillipa.

—Então, prossiga com o Ritual. – pediu Iorveth.

—Farei o Ritual, mas não agora. Daqui a três dias. Se passar disso, ela irá se enfraquecer novamente e temo que não serei capaz de fortalece-la de novo. Acredite, a tendência agora é piorar. – completou Turiel, ao ver que Iorveth estava prestes a protestar. Diante dos argumentos da herbalista, Iorveth não viu alternativa senão acatar.