Manhã de sexta – Ostania, Berlint – Casa dos Forger

Faltava pouco para as seis da manhã, a casa estava silenciosa a não ser pelos sons de talheres enquanto Loid preparava o café da manhã. Ele cantarolava baixo, distraído como ele só se permitia ficar em casa, o corpo relaxado, um sorriso calmo no rosto que se alargou quando sentiu braços longos rodeando seu abdômen, um corpo macio e quente apoiado em suas costas, o aroma doce e inebriante que já era intrínseco a ela.

Loid mexeu o queijo e os ovos antes que queimassem, os olhos fixos no fogão mesmo que todos os outros sentidos estivessem focados na mulher que lhe abraçava manhosa e firme.

Sua mulher.

— Bom dia, Yor.

— Bom dia, Lottie. – Yor murmurou sonolenta, mas com um sorriso maroto se abrindo nos lábios. O apelido saindo como uma provocação enquanto ela beijava suavemente as costas largas, o aroma do perfume dele na camisa de pijama fazendo ela sorrir ainda mais. A risada de Loid ecoou deliciosamente pelo corpo de Yor, aquele som incrível que sempre fazia a mulher derreter em deleite.

— Não deixe seu irmão ouvir você falando isso...

— Oh, então só o Yuri pode usar seu apelido? – Ela bufou numa falsa indignação. Loid mexeu a frigideira salpicando ervas sobre o queijo com a precisão de um chef renomado e o cheiro da comida encheu a cozinha fazendo Yor salivar.

— Na verdade, eu ainda tenho pesadelos com isso... – Ele tremeu o corpo com um arrepio de terror que fez Yor rir. Loid virou a cabeça e a olhou de relance, o sorriso nos lábios. – Mas na sua voz...é, talvez eu possa me acostumar. Talvez até venha a ser minha palavra favorita.

Yor apertou o tronco de Loid ainda mais, o coração disparando com as palavras tão doces, os olhos fechados querendo que aquele momento durasse para sempre.

Querendo que sua maior preocupação fosse suas tentativas (ainda falhas) de se tornar uma boa cozinheira.

Querendo ser apenas a esposa, a mãe. Apenas Yor Forger.

Mas a Thorn Princess era como uma nuvem negra que pairava sobre si, acabando com sua paz.

— Yor, você está bem? – Loid desligou o fogo e se virou para a mulher no momento que sentiu o corpo dela se retesar contra o seu. Ele buscou os olhos dela e só encontrou uma angústia dilacerante nos orbes escarlates. Ele franziu o cenho, preocupado. – Foi o Jardim? O Lojista ligou ou...?

Yor negou, os olhos se desviando.

— Não, mas é isso que me preocupa. Faz duas semanas desde o último contato dele, Loid. Normalmente não demora tanto assim para ele me mandar uma nova missão. – A morena apertou os braços de Loid enquanto as mãos dele se prendiam em sua cintura. Ela suspirou. – Se ele estiver suspeitando que eu falei algo…

Loid apertou a cintura dela, a cabeça inclinada enquanto entrava no modo Twilight.

— Não, não acho que seja isso. Pelo que falou dele, se acreditasse que alguma informação sobre o grupo vazou ele não esperaria tanto tempo para agir.

— É, isso é verdade. - Yor murmurou e apoiou a testa no peito de Loid, exausta. - Eu só queria que tivéssemos um plano.

— Nós temos um plano!

Yor levantou a cabeça, a sobrancelha erguida em descrença.

— Encontrar o Lojista, mandar ele se ferrar e continuar vivendo como se ele não pudesse matar vocês a qualquer minuto não é um plano.

Lois revirou os olhos, um sorriso confiante nos lábios.

— É um ótimo plano!

— Loid!

O homem alargou o sorriso e acariciou o quadril da mulher.

— Já disse, Yor, eu sei me cuidar.

Claro que sabe, Yor pensou amarga, seria estranho um espião não saber! Ela apertou os lábios encarando o sorriso suave e meio presunçoso do loiro, imaginando quando ele iria finalmente confiar nela para contar seu segredo. Enquanto isso, ela passava os dias o analisando, esperando qualquer deslize, qualquer coisa hedionda que um “porco espião” de Westalis faria. Mas Loid era perfeito em tudo e seus sentimentos eram tão genuínos que Yor passou a questionar suas próprias convicções acerca do que sabia sobre espiões.

Talvez eles só fossem tão incompreendidos quanto as assassinas.

Ou talvez o amor tenha deixado-a ingênua demais.

De qualquer forma, Loid tinha o benefício da dúvida e ela continuaria de olho nele então apenas falou em voz alta.

— Certo, senhor super-herói. Ainda assim eu realmente gostaria de um plano um pouco menos arriscado.

— Temos até o próximo contato dele para pensar em algo. – Loid afirmou brincando distraidamente com a ponta do cabelo longo de Yor que caía pelas costas. – Quem sabe até lá uma bomba não caia sobre esse maldito Lojista e tudo se resolva.

Yor arregalou os olhos. Os espiões tem todo esse poder de fogo?

Loid gargalhou com a expressão abismada da mulher. Yor revirou os olhos com um bufo, se acalmando no processo.

— Não sou sortuda assim.

— Mas eu sou. – Loid rebateu, um sorriso malicioso se abrindo, algo tão incomum para o agente Twilight que até ele mesmo se surpreendeu com a facilidade que esses variados sorrisos vinham surgindo. Ele puxou Yor para mais perto, os narizes se tocando, os lábios a centímetros quando sussurrou. – Olha a mulher forte e incrível que eu consegui e que ainda me ama de volta! Se isso não for sorte, não sei o que é.

Yor não conteve o sorriso e acabou com a distância entre eles, os lábios se chocando com os de Loid num beijo calmo e explorador. O corpo arrepiando e esquentando por onde os dedos de Loid percorriam. O loiro sentia que se perderia feliz no meio da euforia que os beijos de Yor sempre lhe causavam, os lábios dela iniciando o contato de forma incerta e cautelosa até se tornarem ávidos e cheios de desejo. As mãos dela se prenderam em seus cabelos, o corpo ficando nas pontas dos pés buscando intensificar o contato. Os dois envoltos na névoa de luxúria que o faziam esquecer o mundo ao redor.

Inclusive a garotinha que surgiu silenciosamente pelo corredor e se postou na entrada da cozinha, coçando os olhos de sono e os arregalando em seguida ao ver Yor e Loid.

— Papi e mami estão se beijando!

O casal se afastou lentamente, os olhos voltados para Anya que tinha o rosto vermelho, o gorro do pijama escondendo seus olhos verdes enquanto ela tampava os olhos de Bond com suas mãos. Loid riu.

— Você já viu vários beijos nossos, Anya. – Ele pegou-a no braço, tirando o gorro dela dos olhos e sorrindo. – Quando vai se acostumar?

— Nunquinha! – A menina respondeu com as bochechas infladas e os braços cruzados. – Papi e mami paquerando é muito fofo, mas beijo é nojento. Por que vocês fazem isso?

Loid e Yor se entreolharam, os rostos corados, os pensamentos voltando involuntariamente para o beijo e tudo que os fazia sentir. Anya ficou vermelha como um tomate ao lê-los e perceber como uma coisa nojenta daquelas deixava seus pais tão felizes e empolgados quanto ela quando ganhava um potão de amendoim.

— B-Bem, é porque é coisa de adulto. – Yor explicou tropeçando nas palavras, desviando os olhos de Loid que lhe encaravam com uma intensidade desconcertante. Ela pigarreou. – Quando crescer você vai entender.

— Eca, eca, eca! – Ela balançou a cabeça espantando a imagem do beijo que a mente dos seus pais projetou na sua. – Nunca vou fazer isso!

O casal riu e Loid pôs Anya no chão.

— Ok, senhorita “odeio beijos”, que tal ir colocar a mesa? Não pode se atrasar para a escola.

Anya assentiu animada e se encaminhou para a mesa equilibrando três pratos vazios enquanto Bond ajudava caminhando lento atrás dela e segurando seu pijama segundos antes dela tropeçar e quase ir ao chão. Loid observava os dois com um sorriso pequeno quando sentiu Yor cutucando seu quadril. Ele a encarou, Yor sorrindo marota.

— Duvido que ela continue pensando assim daqui a alguns anos...

Loid contorceu o rosto em uma careta desgostosa, não apenas por pensar em Anya e seus futuros relacionamentos, mas apenas por pensar no futuro em si, tão incerto e construído sobre mentiras. Ele encarou Yor, os olhos dela admirando Anya que usava Bond de apoio para alcançar o centro da mesa, e seu coração apertou, o peso dos segredos que guardava se tornando insuportável cada vez que seu amor por aquela família crescia.

Eu tenho que contar a verdade.

Eu preciso!

Mas então ele lembrava da fama que espiões tinham na Ostania e, principalmente, em como Yor foi treinada para ser sua inimiga natural.

Seu maior temor anteriormente era que ela o entregasse à polícia secreta e toda a missão ir por água abaixo, mas, depois de tudo, agora ele tinha pavor de que ela o odiasse, que não o perdoasse por manter seu segredo enquanto ela revelou o dela com tanta transparência e certeza. Que ela achasse que ele não confiava nela e simplesmente sumisse de sua vida.

Ele sabia que essa dependência do afeto de Yor era preocupante. Ele foi treinado para não criar laços, o próprio Frank repetia isso vezes sem fim, mas a essa altura era impossível não se importar.

Droga, Twilight, como você foi de espião número um a um covarde com complexo de solidão?

— Papi! Eu tô com fome!

Loid piscou, expulsando os pensamentos autodestrutivos e forçou um sorriso despreocupado enquanto ajudava Yor a colocar o café da manhã.

As conversas, brincadeiras e risadas eram comuns à nova rotina da família Forger. Anya dando pedaços de pão para Bond enquanto contava sobre a escola e como o “Damian metido é um bobão!”, Loid cortando as panquecas dela enquanto insiste que a menina se dê bem com o pequeno Desmond, Yor rindo das expressões exageradas de Anya e afirmando que se Damian a machucar ela vai fazê-lo se arrepender de ter nascido (e isso apavorava Loid depois dele saber do que ela era mesmo capaz). Então Anya gritava animada que “a mami é legal demais!” e a paixão em seu olhar fazia Yor se derreter enquanto Loid admirava as duas com um sorriso grande, um ato que se tornou tão natural quanto respirar.

Tudo isso fazia Loid sentir uma paz e felicidade que nunca havia experimentado, quase esquecendo que aquela família perfeita era apenas parte de sua missão.

Quase.

Porque o universo sempre encontrava uma forma de lembrá-lo desse pequeno detalhe e naquele dia o lembrete veio na forma de Franklin que abordou Loid enquanto ele e Yor se despediam de Anya na rua, em frente ao prédio, observando o ônibus escolar sumindo pela rua enquanto a menina acenava pela janela.

— Bom dia, Loid! – Frank saudou com seu sorriso grande, beijando a mão de Yor com galanteio que fez a mulher corar. – Yor, como sempre, um colírio para os olhos.

Loid revirou os olhos.

— Será que dá pra parar de paquerar minha esposa e dizer logo o que está fazendo aqui?

— Estou apenas sendo educado, seu grosso. – Frank bufou e esticou um jornal para Loid. – Vim trazer o jornal que pediu.

Loid ergueu uma sobrancelha discretamente em confusão e Franklin ergueu as dele, enfático. Yor observava os dois enquanto tinham uma conversa por olhares.

— Oh, não lembra que pediu para eu trazer o jornal na primeira leva porque queria ver a sessão de investimentos bem cedo? – Frank respondeu com um sorriso forçado, quase implorando para ele entender logo que tudo era um código. – Yor, você anda distraindo muito este rapaz!

Yor franziu o cenho, desconfiada. Será que Franklin tá metido nessa coisa de espião também? Ela forçou um sorriso encarando Loid intensamente, um olhar que Loid não conseguiu desvendar.

— Bem, não é tão difícil assim distraí-lo quando me empenho de verdade.

Loid corou até a ponta das orelhas enquanto Frank gargalhava.

— Yor, você é demais! – Ele limpou uma lágrima e suspirou, encarando Loid de forma incisiva. – E Loid as ações estão em alta! Página oito, fim da folha. Acho que é exatamente aquelas que estava procurando.

Loid franziu o cenho, mas assentiu. “As ações estão em alta” era o código daquela semana para qualquer necessidade de entrar em contato com os superiores. Ele abriu o jornal na página oito e na última seção algumas letras estavam sublinhadas. Mais um código, um diagrama. Loid reorganizou as letras até descobrir o local do encontro.

Dachys, 12

— Hum, é, estão crescendo, mas esperava algo diferente. – Loid comentou com um dar de ombros, enrolando o jornal e o prendendo sob o braço. Ele assentiu discretamente para Franklin. – Obrigado, Frank.

Yor sabia que tinha algo a mais ali. Na verdade, como eu não percebi antes? Frank é péssimo mentindo! Eu só posso ser cega! Ela parou de xingar a si mesma e deixou um beijo casto nos lábios de Loid quando o ônibus finalmente apareceu.

— Eu tenho que ir, amor. Nos vemos à noite. – Ela sorriu diante da expressão extasiada e o sorriso suave que ele sempre abria após os beijos. Ela se afastou e acenou para Frank. – Até mais, Frank.

— Tchauzinho, Yor.

Os dois homens observaram em silêncio Yor entrar no ônibus e apenas quando o veículo sumia numa curva Frank se pronunciou, encarando a cara apaixonada de Loid.

— Cara, você tá bem ferrado! Se apaixonou por uma assassina! O que eu disse sobre deixar as emoções de lado? Não podemos confiar em ninguém nessa vida que levamos.

Loid rosnou, os olhos azuis queimando sobre Frank de forma tão intensa que o homem baixinho deu um passo para trás.

— Acha que não sei disso? Por que acha que ainda não contei nada para ela sobre eu ser um espião?

— Graças aos céus o antigo Twilight ainda tá aí dentro em alguma parte! – Então Frank parou e encarou Loid com os olhos arregalados. – Espera, você disse “ainda”? Pretende contar pra ela em algum momento? Eu não acredito, Twilight! Você... você...

Mas Loid já caminhava para longe, as costas voltadas para Franklin e a maleta bem presa entre os dedos.

— Não tenho tempo pra isso, Frank, tenho trabalho a fazer.

[...]

Ostania, Berlint – Em algum lugar abaixo da rua Dachys, 12.

— Perdão se estiver sendo insubordinado, mas você acha que eu faço mágica?

Loid encarou a mulher a sua frente, cético. A morena empurrou os óculos sobre o nariz e cruzou as pernas levando a xícara de chá aos lábios, a expressão inabalável.

— Chega bem perto disso, agente Twilight.

— Fico lisonjeado com tamanha confiança, chefe, mas isso já é absurdo! Me infiltrar no Jardim levaria tanto tempo quanto a missão Strix está levando. - O homem apertou a cadeira a sua frente, agitado demais para se sentar. - Eles são uma organização tão grande quanto a Wise e todos os membros foram selecionados ainda crianças! Não conheço ninguém lá dentro que eu possa me disfarçar além…

Ele se calou abruptamente, mordendo a língua. Não tinha revelado para ninguém o segredo de Yor. A verdade é que ele receava o que a Wise faria com essa informação, o que poderiam fazer com a Yor.

O que poderiam mandar Loid fazer com ela.

A mulher ergueu as sobrancelhas escuras numa postura altiva, os olhos castanhos incisivos sobre o agente.

— Ninguém além da sua fonte misteriosa. - Ela completou para ele e deixou a frase no ar, mas o agente permaneceu calado. A mulher suspirou e acenou com displicência decidindo não pressionar mais aquele assunto já fatigado. - Não gosto de segredos, Twilight, mas depois de anos de competência você merece um voto de confiança. Espero não me arrepender disso.

O silêncio perdurou enquanto os dois se encaravam, a mulher irredutível e o homem sério, decidido.

Yor era sua prioridade e nada mudaria isso.

— As informações que conseguiu sobre o líder do Jardim, o tal Lojista, foram cruciais para solucionarmos um caso antigo e de prioridade E, especial. - A morena continuou deixando a xícara vazia sobre a mesa de centro e se recostou na cadeira com a coluna ereta. - Era a peça que faltava para localizarmos os arquivos valiosos roubados dois meses atrás.

Twilight franziu o cenho.

— Roubaram algo da Wise? Como isso é possível?

— Não da Wise. - A chefe negou se inclinando para frente. - Dos laboratórios secretos na sede do governo ostaniano. Arquivos da Operação Geistig.

Twilight cruzou os braços, as sobrancelhas apertadas, buscando informações na memória até finalmente lembrar de algo.

— Esse não era o experimento para criar supersoldados e que foi cancelado porque nenhuma cobaia sobreviveu?

— Exatamente. - A mulher sorriu afiada e deu de ombros. - Ou é o que dizem sobre as cobaias. Nunca foi realmente confirmado. De qualquer forma, sempre acreditamos que tudo sobre a operação tinha sido destruído com o incêndio dos laboratórios subterrâneos há dois anos, mas ainda assim deixamos um informante infiltrado nos laboratórios. Ele nunca tinha localizado nada até o roubo e só conseguiu descobrir a natureza dos arquivos roubados há poucos dias. Os cientistas e políticos guardaram isso a sete chaves como se fosse a própria fórmula para a bomba atômica.

— Talvez seja tão ruim quanto. – O agente comentou, pensativo. - Crianças com superpoderes. Seria considerado um verdadeiro ato de guerra, o acordo de paz ainda é frágil demais para suportar algo assim.

— Perspicaz como sempre, Twilight. - Ela inclinou a cabeça como uma saudação contida, o cabelo preto cobrindo o rosto levemente com o ato. - Exatamente por isso que preciso do meu melhor agente nessa missão.

Twilight trincou o maxilar, os dedos ainda apertando a cadeira.

— Mas que relação o Jardim tem com tudo isso?

— Foi por causa desse roubo que começamos a investigar o grupo de assassinos mais de perto. Antes não passavam de uma irmandade de assassinos de aluguel, nunca tinham entrado diretamente no nosso caminho ou atrapalhado nossos objetivos. Mas então a forma do roubo e, principalmente, o estado dos corpos deixados para trás nos fizeram suspeitar do grupo. E suas informações sobre o Lojista apenas confirmaram tudo.

Twilight encarou-a, incisivo.

— Mas como…?

— O Lojista é um ex-cientista e militar. Ele se especializou em genética e é um dos fundadores da Operação Geistig. – A mulher falou direta, o olhar sustentando o de Twilight com firmeza. - As poucas informações que descobrimos em sua ficha antiga é que ele foi diagnosticado como "mentalmente instável e com transtornos de bipolaridade" e que foi dado como morto durante o incêndio dos laboratórios subterrâneos. Como esperado, não encontraram corpo, mas tudo ficou completamente carbonizado então não era tão difícil acreditar que o corpo dele evaporou.

Twilight crispou os lábios, o cenho franzido em confusão.

— Que ele escapou da morte não me surpreende, mas, de acordo com minha…fonte, ele já atua como líder do Jardim a mais de dez anos e, para todos os efeitos, o grupo é mantido em segredo. Como ele fazia isso?

— Talvez ser assassino seja um hobbie, talvez o Jardim não esteja totalmente fora dos registros do governo como todos pensamos. – A morena deu de ombros, as mãos abanando num movimento de desinteresse. - A questão é que um fantasma perigoso e lunático, líder de um grupo de assassinos, está em posse de arquivos que tem todas as informações sobre como criar super-heróis e esse mesmo fantasma tem inteligência o suficiente para colocar o projeto em prática mais uma vez. Acho que ficou claro porque preciso de você.

Twilight pinçou o nariz e suspirou.

— Entendo a gravidade da situação e é exatamente por isso que não acho que me colocar nessa missão seja a melhor escolha. A Operação Strix está tomando absolutamente tudo de mim, faz meses e só consegui me aproximar de Desmond há duas semanas. Como vou me concentrar em tentar entrar no Jardim?

A mulher juntou as mãos, a expressão grave.

— Também não gosto de sobrecarregá-lo, Twilight, mas a polícia secreta vem capturando cada vez mais agentes enquanto procura por você. Estamos sem pessoal.

— E a agente Nightfall? - Twilight ergueu uma sobrancelha.

— Ela está em Westalis, numa missão designada pelo próprio presidente.

Twilight rosnou frustrado, as mãos bagunçando os cabelos sempre alinhados.

— Isso é loucura! Eu não conseguiria fazer isso sem...

Ele cerrou os olhos, sua mente rápida já criando todos os planos possíveis, focando em todas as chances de obter sucesso e falhando na maioria delas.

A mulher suspirou mostrando algo como empatia pela primeira vez.

— Sei que é uma corrida contra o tempo, mas não designaria você para essa missão se não confiasse na sua capacidade. Como disse, você não faz mágica, mas talvez tenha alguns truques na manga.

Ela se ergueu, alisou a saia lápis justa até os joelhos e encarou Twilight com os lábios erguidos em algo entre um sorriso e uma ameaça.

— Você tem uma fonte misteriosa. Talvez devesse usá-la. Bom dia, agente Twilight. Ou devo dizer, boa noite.

E saiu deixando o homem congelado ainda apertando a madeira fria da cadeira entre os dedos e a mente buscando uma solução.

Mesmo que ele já soubesse que tinha apenas uma saída.