BAEKHYUN

Kris está bem empenhado no treinamento do garoto novo, desde que os outros saíram eles estão no centro do círculo no qual vivemos treinando, ambos estão bem suados, arrisco até a dizer que o garoto está quase pedindo para parar, mas o professor não parece querer parar tão cedo.

— Lembre-se Sehun, você precisa dominar, precisa ter o controle e não deixar ser controlado. No labirinto você conseguiu controlar o ar porque estava assustado, não é?

— Apavorado. – Sehun está com as mãos apoiadas nos joelhos.

— Pois bem, todos nós tivemos o primeiro contato com o controle devido o pânico, mas precisamos aprender a controlar. Tirando o Kai...e talvez o Lay e o Baek, todos nós invocamos nossos poderes basicamente do mesmo jeito. Nós...

— Controlamos a natureza, nós devemos nos concentrar e visualizar acontecendo...eu sei – Sehun exaspera se jogando no chão – Eu entendi a teoria, a prática que é mais complicada, professor.

Sarcasmo...interessante, gostei do novato.

Estou observando já fazem alguns minutos de dentro da minha cabana enquanto eles treinam e, sinceramente, não vão a lugar algum, mas o Kris está se esforçando, tenho que admitir, já procurou várias maneiras de explicar nesse tempinho que estou vendo e o dia todo ouço chamas farfalhando. E mais uma agora, enquanto Kris tenta explicar como ele faz.

— Eu acho que posso dar uma ajudinha. – Saio da minha cabana.

Kris olha para cima parecendo irritado com minha presença. Admito que gosto de irritá-lo, mas não gosto de brigas, então vou segurar as piadas...dessa vez.

— É um treino sério, Baek. – Ele me fuzila com o olhar.

— Eu sei, e eu quero ajudar. Então, - puxo o ar pensando em como ajudar – eu ouvi um pouco do que vocês conversaram e o Kris está falando a coisa certa, na verdade, só tem um detalhe, eu também visualizo o que eu quero para poder fazer.

— Não sabia. – Kris murmura.

— Pois bem, meio que acontece igual e diferente para todo mundo ao mesmo tempo. Tem muito a ver com cada um, você, por exemplo Kris, como invoca suas chamas?

— Eu já tentei, mas...

— Só nos diga.

— Bem...eu vejo elas crepitando à minha frente, sinto o calor em minhas mãos e deixo ele crescer, se acumular, tomar conta do meu corpo todo e então eu tento expor esse calor para fora e... – Uma grande chama voa da mão direita de Kris e dança no ar na nossa frente.

— Isso, muito bom, muito bom. Bem, já eu sinto uma comichão no meu estomago antes de poder usar minha luz e quando eu a utilizo finalmente eu sinto como se algo explodisse dentro de mim. Eu visualizo um pilar de luz branca e então... – ascendo minhas mãos, aponto para o chão e uma luz se projeta para o chão o furando de acordo com minha luz – e veja, eu consigo ir aumentado a intensidade e grossura do feixe...isso eu faço pela prática e com algumas técnicas de concentração, mas basicamente eu vejo o feixe mais fino e ele me obedece. O grande desafio é acordar o elemento dentro de você.

— Exato, uma vez desperto, você o controla como bem quiser. – Kris completa fazendo uma chama fina e longa se enrolar ao redor de seu pescoço como um colar. – Viu?

— Isso tudo é muito fácil de se falar, mas eu não consigo acordar o elemento. – Ele exaspera se deitando no chão.

— Esse é o meu ponto, Kris, você consegue explodir uma chama...digamos imaginando algo explodindo dentro de você?

— O que? – Ele me encara sem entender.

— Só tente para ver.

— Ok. – Ele fecha os olhos e começa a se concentrar, mas seu rosto parece em conflito – Não vai, não sinto nada explodindo em mim ou algo do tipo. Quando eu penso em usar meu fogo, imediatamente sinto o calor dentro de mim.

— É isso que eu quero dizer, a teoria é igual para todos aqui, mas a prática é outra. Sehun, você controla o ar, o que sentiu quando fez isso lá dentro?

— Mãos geladas. – Sehun responde cansado.

— Algo mais?

— Não, nada.

— Deixe-me ver...isso tem algo a ver, obviamente...em algum momento suas mãos ficaram geladas hoje?

— Não. – Ele responde parecendo entediado.

— Tente isso, feche os olhos, imagine uma brisa, melhor, uma ventania em seu rosto, imagine, veja como o ar se move rápido, veja o ar se acumulando em suas mãos. Tente algo assim.

Ele me olha com irritação, mas o faz, se senta de pernas cruzadas, fecha os olhos e se concentra por alguns momentos. Sua boca se retorce em um pequeno sorriso e eu logo percebo o porquê. As suas roupas começam a balançar, seu cabelo também, logo minhas roupas e meus cabelos, assim como os de Kris, também começam a balançar.

— Você conseguiu? – Kris se empolga.

— Consegui! – Sehun fica de pé e começa a pular – Eu imaginei do jeito que o Baek falou e minhas mãos formigaram e depois ficaram geladas igual da outra vez! Eu consegui controlar o ar! Vocês viram?! Eu consegui!

— Sim, sim, nós vimos. – Sorrio com a empolgação dele.

— Você conseguiu, Baek. – Kris me parabeniza meio sem querer admitir e uma seriedade misturada com timidez.

— Você o preparou antes, só vim dar um último empurrãozinho.

— Eu consegui! Eu consigo, eu vou conseguir fazer tudo, você vai ver, eu vou ser o senhor do ar! – Sehun está pulando de lá para cá e olhando para as mãos, fazendo o ar se concentrar em volta delas e bagunçar seus cabelos e parando, quase como ligando e desligando para ver se conseguiu de verdade.

— Bem, já conseguimos um grande avanço, agora você...

— Eu acho que consigo fazer isso aqui voar e...eita... – Sehun não ouve Kris falando com ele e coloca as mãos para frente, as junta e liga sua corrente de ar. Uma bolha de ar comprimido sai voando em disparada para a saída da nossa comunidade, onde Kai está de vigia. Ele nem mesmo imagina o que o acertou quando ele é derrubado, suas pernas são levantadas no ar e ele cai de costas no chão.

— O que diabos vocês estão praticando aí! – Ele grita ainda deitado.

— Foi mal! – Sehun grita de volta.

— É, foi mesmo!

— Isso sim, foi um grande avanço. – Kris coloca a mão em seu ombro – Conseguir projetar demora um pouco as vezes, mas você já conseguiu.

— Conseguiu uma ova! – Kai ralha de longe – Ensina ele direito, Kris!

— Cuida da sua patrulha aí! – Kris responde. – Foi um grande avanço, não foi, Baek?

— Com certeza, continue assim que você vai conseguir controlar o básico bem rápido, as variações vêm depois com muito treino. O que foi? – Pergunto ao ver Kris observar a saída do nosso ponto seguro.

— O Kai viu alguma coisa. – Ele responde.

Olho para a mesma direção e vejo que Kai não está lá, no segundo seguinte ouço uma movimentação vindo da cabana de recuperação. Por que motivo Kai se teleportou para lá? – Eles já voltaram? – Kris anda para a porta e eu vejo que todos estão de volta, bem mais cedo que o normal, eu nem mesmo ascendi meu farol.

— O que houve, pessoal? – Me aproximo e percebo que Suho está bem cansado, assim como Lay, mas... - Cadê o Xiumin? – Me assusto. Voltaram cedo, Suho abalado, Lay também...

— Calma, ele está bem, está lá na cabana já. – Kyungsoo responde. – Aconteceram algumas coisas...e...bem, tivemos alguns problemas.

— Que problemas? – Pergunto.

— Eu contarei a todos, nós vamos falar tudo o que vivenciamos lá, mais tarde no jantar. – Suho exaspera. – Estou todo arrebentado e cansado. Só quero me recuperar um pouco, ok?

Uau, eu nunca vi Suho tão abatido, ainda mais depois de sair com tanta gente. O que aconteceu lá?

KRIS

O resto do dia passou devagar, ou que fiquei com muita pressa e ansiedade esperando o pessoal acabar de conversar no refeitório sobre como foi a exploração da nova área do labirinto. Eu já imaginava que coisa boa não poderia sair dali, mas não imaginava que derrubaria Xiumin desse jeito.

Mesmo tendo sido curado, ele continua dormindo, mas sua expressão é de muita dor. Suas roupas estão completamente sujas de sangue, a manga de sua blusa está empapada de sangue até agora, fora uma gosma preta que também se espalhou por ela toda e alguns pingos em seu rosto.

— Eu não aguento esperar mais! – Baekhyun adentra a cabana bufando – Não tem como ter acontecido tanta coisa assim, eles voltaram super cedo eu nem ascendi meu farol!

— Nós sabemos, Baek. – Respondo sem olhar para ele.

Estou sentado em uma das camas, cotovelos nos joelhos e olhando para minhas mãos. Eu sabia que tinha algo muito perigoso lá, eu sentia que seria algo capaz de nos derrubar, já estávamos ficando acostumados com as criaturas e todos os caminhos desse labirinto, eu sabia que havia algum plano para dificultar nossa vida aqui.

— Ele não abriu os olhos em nenhum momento? – Baekhyun pergunta ao se sentar ao meu lado e olhar para Xiumin.

— Não.

— Como que isso pode estar acontecendo? Ele nunca teve problemas desse tamanho, ele sempre foi um dos mais fortes, eu não me lembro do Lay ter que curá-lo antes. – Ele comenta ao apoiar a cabeça nas mãos e agarrar o cabelo. – O que você acha que aconteceu?

— Eu sei que eu deveria ter estado lá. – Ainda não olho para ninguém.

— Kris, ele estava com o Suho, lembra? A dupla mais poderosa de todas? Você só teria ficado no caminho deles. – Ele fica calado por um longo momento – Seja lá o que for eu não sei se estamos preparados, se eu estou preparado. – Ele aperta as mãos em sinal de nervoso.

— Porque?

— Eu nunca saí daqui, - sua voz sai um pouco mais alta que um suspiro – eu não faço ideia de como me defender de nada...se é que eu posso me defender de algo.

— Claro que pode, você consegue fazer sua luz queimar, não consegue? Quase um laser, ou coisa assim?

— Isso me consome muito, se um dia eu tiver de ir para o labirinto eu não vou conseguir usar muito disso. – Ele aperta mais ainda as mãos e fita o vazio. – Eu sei que posso parecer metido e confiante, mas...isso é só para cobrir meu medo.

— Então seja bem-vindo ao clube – olho para ele finalmente – também vivo assustado. – Coloco a mão em seu ombro.

Baekhyun me olha e lágrimas já brilham em seus olhos e seu queixo treme – Eu não quero morrer, Kris. – Sua voz falha.

— Você não vai. – O abraço e ele devolve com força.

— Está tudo bem com ele? – A voz de Sehun é receosa. Ele está na porta da cabana. – Estão nos chamando para o refeitório para nos falar o que aconteceu lá.

Todos eles estão abalados com o que quer que seja que eles viram no labirinto, Kyungsoo, que quase nunca demonstra algum tipo de emoção, fuzila Suho com seus grandes olhos, Chanyeol e Tao estão tensos, mas uma tensão mais contida, Chen e Lay estão calados.

— É seguro dizer que Kyungsoo estava certo em colocar tanta resistência quanto a irmos para aquela área nova do labirinto. – Suho começa a falar e sua voz está cansada. – Foi exatamente como ele achou que seria. Fomos pegos de surpresa por coisas que não conhecíamos ou esperávamos. Demos sorte que Lay estava lá, não sei se Xiumin ainda estaria vivo caso ele não estivesse lá.

— Ele teria morrido, simples assim. – Kyungsoo bufa ainda fuzilando Suho – Estaria morto porque você simplesmente disse que tínhamos que explorar aquele pedaço novo. Morto por sua causa. – Suho não responde.

— O que houve lá dentro afinal? – Kai pergunta receoso.

Um a um, eles dizem o que encontraram. Chanyeol, Chen e Tao falam sobre a nova criatura que parecia ser feita de algum líquido pelo jeito que se desviava e como só conseguiram mata-la devido aos poderes de manipulação do tempo do Tao.

— O Chanyeol poderia ter sido atingido por ela...o que ela faria com ele...não fazemos ideia. – Tao complementa. – Mas não acho que seria algo bonito de se ver...se ela consegue cuspir ácido, imagina o que faria se mordesse, ainda mais com aquela boca gigantesca, não sei se a proteção de fogo dele e do Kris teria resistido.

Depois é Suho que fala o que encontrou e como as criaturas que enfrentou pareciam ser inteligentes, como as paredes invisíveis surgiram do nada e como sumiram quando a lâmpada da parede se apagou.

— Nós também vimos uma lâmpada, - Chen comenta – só que ela não estava acesa...estava?

— Não, não estava. – Tao responde com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos cruzadas em frente o rosto. – Mas não sabemos se ela acendeu depois quando aquela coisa nos atacou.

— Isso tem alguma ligação, quem quer que entre na área que a lâmpada comanda ou quando ela ascender, eu não sei, alguma coisa se ativa e só é desativada quando você termina seu desafio ou algo assim. – Suho tenta achar uma ligação.

— Você acha que esses...lagartos...ou sei lá o que, foram ativados? – Sehun pergunta.

— É o que me parece, - Suho parece a ponto de dormir enquanto fala, tem os olhos quase fechados e a voz baixa – acho muita coincidência justamente quando terminamos com eles, as paredes invisíveis sumirem depois da lâmpada apagar. E também tem outra coisa. Pode não ser nada demais, mas acho importante falar, em uma das paredes durante nossa pequena exploração eu vi um hexágono em uma parede e ele parecia um labirinto.

A comoção é instantânea entre os que não foram para o labirinto – É um mapa? – Baekhyun pergunta ansioso.

— Não, Xiumin usou uma técnica de localização que ele sabe e disse que não tem nada a ver com o desenho da parede.

— Então... – Kai indaga.

— Não faço ideia também, só acho que é importante coletarmos todas as informações possíveis antes de voltarmos para lá e... – Suho não tem oportunidade de terminar o que ia falar.

— Você ficou maluco?! – Kyungsoo explode batendo na mesa e ficando de pé. – Você ainda quer voltar lá? Quer que nós voltemos lá?

Suho já esperava a reação dele, pelo jeito que fechou os olhos e apenas apoiou a cabeça na mão - Eu nunca disse que queria que voltasse, disse que antes de voltarmos temos de reunir todas as informações. Não mandei ninguém ir, mandei?

— Mas ainda espera que vamos.

— Eu espero que cada um faça o que achar melhor, eu sei que eu vou voltar para lá. – Suho agora parece cansado tanto fisicamente quanto psicologicamente.

— Você está só o caco Suho, não está vendo isso?

— Eu sei que preciso de repouso, mas eu farei isso e irei voltar para o labirinto. – Ele finalmente abre os olhos ao olhar para Kyungsoo.

— Isso é suicídio e você está nos levando junto! – Kyungsoo ralha e eu posso jurar que eu vejo a mesa dar uma leve rachada na pedra ao lado dele.

— Em momento nenhum eu mandei alguém me seguir. Quem foi, foi por vontade própria, assim como eu não estou mandando agora, estou falando que eu vou, não pedi para ninguém ir comigo. Companhia é bem-vinda sim, eu preciso de ajuda sim, mas se ninguém quiser ir eu não obrigarei ninguém a ir.

— Eu também vou voltar lá. – Chen se levanta – Se for preciso para sair daqui, que seja. Prefiro morrer tentando do que ficar nessa vidinha aqui. Isso não é vida para ninguém Kyungsoo.

— Vocês têm algum desejo por morte, não é possível! – Ele ralha mais uma vez e eu acho que vejo a mesa ficando mais rachada ainda. – O Chen então eu nem comento porque não é de hoje que é louco.

— Kyungsoo, eu também irei na próxima, - chamo a atenção do pequeno – eu preciso saber com o que estamos lidando, eu preciso sair daqui.

— E enquanto tiver gente indo para lá, eu também preciso ir. – Lay se pronuncia também.

Lay é a peça chave aos olhos de Kyungsoo, se Lay disser que vai, Kyungsoo não hesita e também vai. Ele sabe disso, e sabe que nós sabemos, e isso o irrita. – Qual o problema de vocês? Suho e Xiumin eram a dupla mais forte lá dentro e ainda assim, o Xiumin está desmaiado e o Suho mal se aguenta em pé e ainda assim vocês querem ir para lá?

— O problema é viver aqui, Kyungsoo. – Tao responde ficando de pé também. – Você pode estar bem vivendo aqui, mas nós não, por isso que vamos lá para tentar achar uma saída.

— Você é tapado ou o que? Em algum momento eu disse que vivo bem aqui ou que eu gosto daqui?

— É o que parece! – Tao cospe de volta.

— Eu odeio isso aqui tanto quanto você! Você já se esqueceu de todas as vezes que eu já saí daqui e me arrisquei naquele labirinto também? Esqueceu que eu também estava lá hoje?! Eu só não acho que irmos todos seja a melhor opção, principalmente colocar o Lay no meio disso tudo. Sem ele, aí sim, não teremos a menor chance de sair daqui.

— Sem ele lá, teríamos perdido o Xiumin hoje. – Chanyeol está calmo, mas sua voz é tão grave que acaba por encerrar qualquer discussão. – Nem que fique alguém com ele todas as vezes, mas deixar o Lay aqui é fora de questão e ele mesmo concorda com isso.

Kyungsoo apenas nos fita por um momento antes de se sentar no banco mais uma vez, vencido, mas não mais calmo, ele aperta as mãos com força olhando para a pedra da mesa com raiva, mas se cala.

— Eu vou na próxima exploração. – Olho para Suho – Será amanhã?

— Não sei ainda, - ele esfrega a testa – preciso ver como Xiumin vai reagir aos ferimentos, eu também preciso de repouso...acredito que Tao e Chen também precisem. Acho que seria melhor não sairmos amanhã. Damos um dia de descanso para todos nós e vamos no dia seguinte. Certo?

Com exceção de Kyungsoo, todos concordam com isso.

Seja lá como esse novo labirinto for e o que ele tenha, não posso subestimá-lo, ele é perigoso, mais do que esse ao qual já nos acostumamos. Xiumin ainda está se recuperando, espero que até lá ele já esteja bem novamente, vamos precisar de todas as forças para enfrentar o que quer que venha pela frente.

Vamos sair daqui, eu consigo sentir.