KYUNGSOO

Ainda sinto minhas bochechas queimarem de raiva quando acordo, como eles podem querer voltar para o labirinto novo todos juntos desse jeito? E ainda levar o Lay? Aquele paspalho não tem a menor noção do perigo que ele corre e nos faz correr também ao ir para lá, e se ele tivesse morrido lá? As vezes parece que só eu penso aqui.

E o Tao, insinuar que eu gosto de viver nisso? Depois quando estouro e saio dando patada eu que sou o nervosinho, irritadinho, baixinho do pavio curto, eles também não colaboram. Não estou com humor para falar com ninguém, apenas tomo meu café sozinho e em paz e vou para a barraca onde Xiumin está.

Ele ainda não acordou em momento algum desde que chegou aqui ontem, Lay esteve aqui para tentar aumentar e acelerar a cura de seu corpo, Baekhyun também veio e usou sua luz calmante nele para tentar ajudar o corpo a se recuperar mais rápido, mas ele não reagiu em momento algum, apenas continuou dormindo, mesmo com todas as tentativas de estimulo, estou começando a ficar preocupado.

Sempre falam que eu ajo mais como uma mãe de todo mundo ao invés de líder, como Suho e Kris fazem, não posso evitar, eu simplesmente me preocupo com todo mundo, vê-los morrer sempre me deixa perturbado e eu não quero que isso se repita.

Talvez isso faça de mim uma mãe de todo mundo...

Será que eu tenho mãe fora daqui, que se preocupa comigo também, como eu me preocupo com eles? Olho para Xiumin, seu peito subindo e descendo devagar conforme ele respira e se recupera do confronto com os lagartos e não posso evitar de temer pelo pior.

Lagartos...engraçado como a palavra me parece tão natural, mas não sei dizer o que é, essa situação, condição, saber nomes e conceitos, mas não saber como ou porque eu sei, isso me tira do sério.

— Nada ainda? – Suho pergunta adentrando a cabana. – Eu não quero brigar. – Ele levanta as mãos um pouco.

— Nada. – Respondo enquanto ele se senta ao meu lado. – Não quis te atacar daquele jeito. – E de fato, não queria, Suho é uma das pessoas com quem tenho melhor relação aqui dentro.

— Não ligue para isso, - ele dá um tapinha no meu joelho – eu sei. Você se preocupa com todo mundo como se fosse consigo mesmo. Por isso é um dos líderes.

— Me chamam de mãe, na verdade. – Comento baixinho.

— Isso te incomoda?

— Como poderia? Não lembro da minha...nem se ela está viva...

— Mas ainda assim sabe o que é uma mãe. Kyungsoo...eu nunca quis colocar todo mundo em perigo e você sabe disso...mas nós precisamos sair daqui.

— Eu concordo plenamente, mas ainda não acho que levar todo mundo para lá seja uma boa ideia, principalmente o cabeça oca do Lay.

— Porque você sempre o chama assim? – Ele tenta colocar um pouco de censura na voz, mas eu vejo um leve sorriso em seus lábios.

— Você já olhou para ele? – Pergunto imitando o jeito que seus olhos estão quase sempre lutando para ficar abertos.

— Eu sei...eu sei... – ele parece ponderar algo antes de continuar – mas todos nós somos necessários para achar uma saída daqui. Eu não obrigo ninguém, mas a verdade é que eu preciso de todo mundo, nós precisamos de todo mundo lá fora para procurar uma saída.

— Eu entendo isso...é só que...já perdemos tantos...você lembra de todos eles ainda?

— Eu tento, faço uma lista de nomes na cabeça e tento revisar todo dia,

— E consegue?

Ele demora um pouco antes de responder – Está cada dia mais difícil, as vezes eu lembro de um rosto, mas não de um nome, as vezes é o contrário... mas é por isso que precisamos ir lá e procurar uma saída daqui. Não quero ter que lembrar de mais um rosto e nome.

Não falo nada, mas eu sei que ele está certo. Droga, precisamos sair daqui, eu sei disso, mas todos irmos lá de uma vez me assusta, ainda mais levar Lay também.

— Como vocês falam. – Xiumin fala com a voz um pouco rouca. – Um moribundo não pode nem descansar em paz por aqui. – Ele se senta devagar e já apresenta um sorriso fraco, eu o ajudo.

— Bem-vindo de volta. – Suho sorri da cama.

— Obrigado. Você não ficou de repouso? – Ele pergunta fitando Suho.

— Não tanto quanto você.

— Mais alguém foi ferido? – Ele me pergunta.

— Não, mas por muito pouco.

— Agora é questão de honra voltar para lá e sair ileso, eu fui o único que se machucou? – Ele pergunta já saindo da cama e brincando. – É bom saber que estão todos bem.

— É bom te ver acordar, colega. – Suho o acompanha para fora.

— Eu vou te levar para comer, você deve estar faminto.

— Adivinhou. – Ele sorri ao me seguir para o refeitório.

SEHUN

Chen já está ao meu lado, junto com Kris e Chanyeol para me ajudar a treinar e dominar meus poderes de controle de ar. Acho que todos os outros estão em volta assistindo, já que ficou decidido um dia de folga e recuperação, ninguém tem muito o que fazer, então meu treinamento terá bastante auxilio.

— Certo, você já consegue invocar e projetar golpes com ar, não é? – Chen me pergunta.

— Eu consegui fazer um projétil de ar comprimido ontem...ou algo assim.

— Que me derrubou. – Kai faz questão de ressaltar.

— Pois bem, isso já é um grande passo para o controle total, - Chen prossegue – cada um de nós consegue fazer coisas determinadas e diferentes, mas algumas são padrões e nisso podemos ajudar.

— Por exemplo, o Chen aqui consegue viajar através de um raio. – Chanyeol comenta muito animado – É a coisa mais legal que eu já vi aqui dentro, talvez uma das.

— Como assim? – Pergunto.

Chen se afasta de mim um pouco, suas mãos ascendem e faíscam, ele as bate com força e um raio se forma entre elas, ele aponta a mão direita e o raio voa para a parede de gelo e pedra na entrada da nossa área segura. Antes que eu perceba Chen sumiu do meu lado e apareceu onde o raio acabou. Ele repete o processo e aparece ao meu lado.

— Assim. – Ele responde com um sorriso – Eu consigo entrar no raio e fazê-lo me levar para onde eu quiser. Eu aprendi isso com o tempo, porém isso, - ele atira um raio que acerta a parede de gelo – foi a primeira coisa que aprendi e foi a partir disso que fui evoluindo.

— Então, vamos lá, podem me treinar. – Digo esfregando as mãos.

— Você consegue, primeiro precisa “ativar”, seus poderes, por assim dizer, - Chanyeol diz ascendendo as mãos e chamas as envolvem – consegue isso?

Me concentro e logo sinto minhas mãos formigarem e ficarem geladas e então minhas roupas e meu cabelo começam a balançar. – Ativado.

— Eu vou ascender algumas chamas pequenas ali na frente, e você precisa apaga-las com rajadas de ar, consegue? – Kris pergunta. Ele ascende as mãos também e joga algumas pequenas chamas ao meu redor. – Pode apaga-las quando quiser.

É fácil, apenas aponto minhas mãos para cada uma e elas somem. – Por enquanto está tranquilo. – Respondo já sorrindo.

— Certo, um pouco maiores agora. – Kris ascende as mãos e joga mais fogo ao meu redor. Mais uma vez eu aponto minhas mãos para cada uma delas e uma por uma elas vão se apagando.

Dessa vez ele não me espera, ele joga mais fogo ao meu redor, mas não são chamas pequenas, estou dentro de um círculo de fogo com labaredas crepitantes até a altura dos meus joelhos. Aponto minhas mãos e projeto ar, mas só consigo fazer buracos na cortina de fogo ao meu redor.

— Se concentre, você só está fazendo vento, você precisa projetar sua energia para fora de você, se você usar um projétil igual o que usou no Kai ontem, vai fazer um buraco na cortina e ficará mais simples. – Kris me orienta.

Faço como ele me diz e me concentro. Como eu fiz o projetil de ar ontem? Até agora tinha conseguido apagar tudo com uma mão, apenas apontava para a chama e ela apagava. Eu juntei as mãos ontem. Faço de novo e sinto as correntes de ar de cada mão se unirem, é até possível ver uma esfera de ar se formando entre minhas mãos, então a projeto e faço um buraco grande na cortina de fogo.

Novamente, Kris não espera, e dessa vez a cortina de fogo ao meu redor é até mais alta que eu, não consigo ver nada através dela, as labaredas dançam e crepitam ao meu redor, o calor me atinge de imediato e sinto o suor começar a me banhar, não demora e meu cabelo já gruda em minha testa.

Faço a bola de ar entre minhas mãos mais uma vez e a atiro, mas ela só faz um buraco na cortina de fogo que me cerca, faço outra e então outra, mas ainda assim não consigo nada. Quando faço uma rajada de ar e as chamas parecem se espalhar mais eu peço ajuda.

— Uma dica seria bem-vinda! – Grito para tentar ser ouvido por cima do crepitar das chamas.

— Sehun, tudo que você faz e produz, está sob seu controle, você pode fazer o que quiser com o que você produz! – Chanyeol me responde.

— Uma dica útil, por favor!

— Quando você lança a bola de ar, tente fazê-la fazer a curva e apagar tudo de uma vez. – Kris responde.

Essa sim.

Faço a bola de ar entre minhas mãos e a projeto, mas dessa vez tento senti-la ao voar pelo ar, fecho meus olhos para me concentrar, consigo senti-la como uma extensão do meu braço, quando ela passa pela cortina de fogo abro os braços e faço o ar se espalhar ao meu redor e o fogo some.

— Muito bem, muito bem mesmo. Você tem uma sensibilidade bem grande com seus poderes, não é? – Chen me cumprimenta – Nosso Xiumin demorou muito até conseguir controlar o que saía dele, uma vez projetado, ele não tinha controle algum.

— Obrigado. – Respondo me apoiando nos meus joelhos.

— É cansativo, não é? – Kris pergunta.

— Bastante, e essa última cortina de fogo também me deixou bem cansado, o calor e tudo mais.

— Já quer parar? – Chanyeol me pergunta com a sobrancelha erguida em tom de desafio.

— Acabei de começar, rapaz. – Fico reto novamente – Pode mandar o que tiver de melhor aí.

— É isso que eu gosto de ouvir! – Ele ascende as mãos novamente.

Eu não sei quantas horas se passaram, mas Chanyeol, Chen e Kris se empolgaram e se dedicaram no meu treino. Ao final da sessão, eu já conseguia atirar projéteis de ar comprimido, controlar as suas trajetórias, levantar e segurar pessoas no ar por alguns segundos, flutuar por alguns minutos e até mesmo fazer o ar ao meu redor se agitar com tanta força que consegui derrubar os três, até mesmo os jogando um pouco longe.

— Você está em um ritmo promissor. – Kris também está ofegante ao final do treinamento. – Se continuar assim logo, logo poderá nos ajudar a procurar a saída desse inferno de labirinto.

— Tomara. – Estou deitado no chão esgotado.

Mas admito que a perspectiva de sair dessa área segura, ir para o labirinto e enfrentar o desconhecido, até para esses caras, me assusta um pouco, chego a sentir meu estomago pesar levemente. Xiumin não é um dos mais fortes e ainda assim se feriu gravemente?

Depois de treinar, cada um foi para sua cabana para descansar um pouco, Suho ofereceu a água para as bacias para cada um tomar banho separadamente, e então foi a hora do jantar. Xiumin já estava de pé e parecia bem descansado a noite.

Não tivemos grandes exaltações dessa vez, Kyungsoo pareceu ter se acalmado quanto a necessidade de irmos para o labirinto, no caso, eles irem, não tocaram nesse assunto, mas estava decidido, quem quisesse ir, estava livre para acompanhar Suho amanhã.

Enquanto como conversando com Kai e Chen ao meu lado eu reparo em Chanyeol à minha frente. Seu cabelo preto está penteado, não está jogado na testa como o da maioria daqui. O de Kris também.

— Escuta, como você faz isso?

— O que? – Ele pergunta.

— Isso, arrumar o cabelo, - aponto para sua franja jogada para trás e no lugar – eu tentei, mas ela insiste em cair na testa.

— Ah isso, assim. – Ele se estica um pouco na mesa – Vem para frente. – Me estico também. Ele pega minha franja, puxa para trás e eu sinto sua mão esquentar. – Prontinho. – E ele volta a comer.

Quando passo a mão no meu cabelo, percebo que a franja ficou no lugar. – Como vocês fazem isso? – Pergunto sorrindo bobo.

— Ah, foi o Kris que descobriu na verdade, ele ficou com raiva da franja na cara aí começou a puxar para trás e dar uma queimada para ficar no lugar, demorou um pouco, mas ele achou a temperatura certa. – Chanyeol responde meio de boca cheia.

— Cada dia uma nova descoberta aqui no labirinto, garoto Sehun. – Kai me cutuca nas costelas. – Enquanto algumas pessoas aqui se concentram em sair desse labirinto, outras se concentram em descobrir jeitos de evitar que o cabelo caia nos olhos.

— Cala a boca, Kai! – Chanyeol joga uma uva nele.

E assim, pelo menos hoje, a noite terminou tranquila.