XIUMIN

Suho finalmente para de esmurrar a prede invisível, como se por acaso ele fosse conseguir fazê-la sumir só com a força de seus punhos, nem se ele fosse o Kyungsoo ele conseguiria. Me permito encostar a testa na parede um segundo e vejo vários hexágonos pequenos nela, eles a formam.

— Xiumin, precisamos fazer alguma coisa. – Suho puxa meu braço para me virar.

O restante nos encara com seus oito olhos se aproximando devagar deixando nós dois encurralados, precisamos fazer alguma coisa ou vamos ser comida de criatura do labirinto. – Essa é nova, não é? – Pergunto.

— Nunca ouvi falar antes.

Um pula em minha direção, como sou pego de surpresa, não tenho tempo de reagir ou fazer alguma coisa, apenas coloco o braço na frente do corpo e a boca banguela me morde com força enquanto o corpo longo se enrola em meu braço e as garras finas se cravam em minha carne. Sinto uma picada longa nos braços conforme as garras se aprofundam, é quando ele começa a mexê-las que a dor explode por todo meu braço, me fazendo até perder o equilíbrio e gritar com todas as minhas forças.

— Não deixa nenhum se aproximar! – Grito para Suho enquanto tento me livrar da que agarra meu braço.

Não sei o que ele faz, apenas me concentro em tirar esse animal de mim. Ele é forte, as garras já atravessaram meu braço e não consigo mover minha mão, o local onde ele morde já está começando a ceder a sua gengiva e sinto meus músculos serem prensados. A dor é tanta que não aguento e acabo por cair sentado. Coloco minha mão livre em cima dos olhos da criatura e disparo gelo.

O corpo branco e escamoso se retorce no meu braço tentando se livrar do gelo, isso só faz a mordida da gengiva doer mais ainda em meu braço e ele se irritar e mover as garras mais ainda, uma delas rasga minha carne e eu vejo uma tira pendurada do meu braço.

Estou suando frio e a dor quase me faz perder o juízo. Meu braço já está destruído com certeza. Faço uma estaca de gelo que atravessa a cabeça do animal e meu braço junto. O sangue já está empoçado aos meus pés e agora se mistura com o líquido preto que sai da criatura.

Pelo menos agora estou livre dela.

Tento me levantar, mas estou muito fraco. Olho para meu braço e o corpo débil ainda está preso a mim, derreto o gelo e ele cai morto no chão. Meu antebraço tem rasgos por toda sua extensão, alguns eu consigo até mesmo ver através, algumas tiras de carne estão penduradas, tendões talvez. Tento fechar a mão e ela não me responde, tento me apoiar no braço, mas ele se dobra sob meu peso.

Minha visão está turva, talvez pelo sangue que perdi, e acabo caindo sentado em minha própria poça de sangue apoiado na parede invisível atrás de mim enquanto vejo Suho tentando lidar com as criaturas.

SUHO

Inferno, Xiumin caiu, isso não é nada bom. Meus ataques não estão tendo tanta eficácia nesses animais quanto nos outros do resto do labirinto. Os chicotes de água pelo menos não conseguem segurá-los do mesmo jeito que os outros. Faço uma grande bolha e envolvo duas criaturas e consigo esmaga-las fazendo o suco preto vir ao chão. Faltam três.

Encho o peito de ar, e o projeto para fora, só que o faço sair como água. As criaturas pareceram se dar conta de que uso água como habilidade de luta e pulam para as paredes cravando as garras nela ficando penduradas, menos uma que é mais lenta. O jato a pega em cheio, é só o que preciso.

Com ela ensopada, consigo fazer a água se moldar como minhas mãos e começo a apertar seu pescoço. Ela se retorce tentando se livrar, chacoalha o corpo com violência tentando se livrar, mas não consegue. Uma vez que a água está em seu corpo é ela que está fazendo força e pressionando seu pescoço com força.

Aperto mais ainda e ela se desespera, não demora muito e as retorcidas e solavancos que dava com o corpo cessam e ela fica parada no chão.

As criaturas da parede observaram enquanto eu agia contra a outra, paradas, algo me diz que esse truque não dará jeito nessas duas. Elas apoiam as patas traseiras na parede prontas para pular em minha direção. Preciso lidar com cada uma separadamente, ao mesmo tempo, elas vão levar a melhor. Elas pulam separadas, o que me dá tempo de agir.

A que vem primeiro eu consigo envolver um chicote de água pelo pescoço. Puxo meu braço para trás e a afasto, a outra vem em minha direção logo atrás. Com o braço livre, uso outro chicote, a prendo pelo pescoço e a puxo para perto pelo ar, acerto um chute em sua mandíbula e faço água envolver meu pé no mesmo instante, fazendo pressão que joga a criatura longe.

Me viro no momento de ver que a primeira consegue se sacudir e soltar do chicote de água e já pula em minha direção com a boca aberta novamente. Jogo dardos de água em sua boca com as pontas dos dedos indicadores e um vai direto para dentro da boca dela, o outro acerta um de seus olhos.

Ela cai no chão assustada com o impacto. Junto as mãos com os dedos cruzados e os afasto fazendo a água se expandir e de dardos passarem para enorme ondas, com uma pressão tão grande que faz o animal estourar de dentro para fora abrindo buracos em sua pele branca e jorrar água junto com o caldo preto de seu corpo, em um segundo ela cai no chão com a língua para fora. Morta.

— Se abaixa! – Xiumin grita e eu obedeço.

Por cima da minha cabeça vários pequenos dardos de gelo voam. Quando olho para trás a última criatura do corpo cheio de escamas foi atingida por vários deles, mas isso não a impede, mesmo com dificuldade ela corre em nossa direção. Faço um jato d’água com as mãos e a arremesso em direção ao gelo que ficou acumulado na parede e ela fica empalada tentando se soltar por alguns segundos antes de morrer.

Então algo acontece.

A lâmpada que estava acesa esse tempo todo, se apaga, a estrutura de gelo que havia se formado na parede invisível, vem ao chão como se tivesse perdido o apoio. Xiumin cai para trás também.

— Estamos livres? – Xiumin ofega tentando se levantar com dificuldade. – Estamos livres? – Sua voz está cansada, porém agora acabou por encontrar uma nova energia. – Suho...as paredes...

— Eu sei, eu sei. Vem cá, - o apoio em meu ombro – precisamos te levar de volta ao Lay para ele te curar. – Começo a ofegar com o peso dele em meu ombro – E torcer para não encontrarmos mais nada no caminho de volta.

Meu corpo quase cede ao peso se Xiumin duas vezes, ele está muito debilitado pela perda de sangue, quase tenho que carrega-lo pelo caminho de volta. Meu corpo está todo dolorido devido a tensão e meu cérebro funciona a milhão enquanto tento não me perder no labirinto.

Não sei porque, mas dessa vez ele parece mais apertado, ou talvez seja minha pressa em levar Xiumin para o Lay poder curá-lo. Minha respiração sai com dificuldade de mim e sinto minha camiseta se colar em minhas costas com o suor que me toma. Depois de uma virada finalmente os vejo, Kyungsoo está alerta, como sempre, Lay atrás dele segurando as mãos apreensivo.

Assim que ele percebe o que aconteceu, Kyungsoo pisa com força no chão e um bloco de pedra se levanta embaixo de mim e Xiumin, ele arrasta o outro pé no chão desenhando um meio círculo e o bloco se move nos levando a frente, para perto dele e Lay. Rolo para fora do bloco e caio sentado no chão.

— O que houve? – Kyungsoo se aproxima de mim com urgência enquanto Lay já começa a analisar o corpo de Xiumin.

— Fomos atacados, - não havia percebido que o ar me faltava até tentar falar e acabar ofegando – uma criatura...diferente das outras. – O sangue bombeia em minhas veias com tanta força que chega a doer. – Eram muitas...pegaram o braço dele...garras, grandes, finas... – Consigo ofegar.

— Não parece nada que eu não dê conta. – Lay fala acima de nós. – Só vai doer, muito. – Xiumin apenas geme em cima do bloco em resposta.

Eu sei que Lay começou a curá-lo pelos gritos que começam a sair dele e pelo volume deles. Lay pode curar qualquer ferimento, mas quase como um aviso para não nos acostumarmos com isso, a dor é muito profunda. Quanto pior a ferida, pior a dor.

— Será que vamos precisar leva-lo de volta e usar a anestesia do Baekhyun? – Kyungsoo indaga ficando de pé e me ajudando também.

Xiumin se retorce no bloco de pedra, os olhos alternam entre esbugalhados e fechados com força, ele tenta se controlar, agarra as bordas do bloco de pedra, mas quase não consegue deixar o corpo parado enquanto Lay o cura.

— Segurem ele. – Lay ofega devido o esforço. – Essa ferida é pior do que eu pensei.

— Mas você consegue dar conta, não consegue? – Pergunto segurando as pernas dele.

— Acredito que sim, - Lay responde com dificuldade – com eram as garras que o furaram?

— Finas e compridas, bem grandes.

— Tinham algo de diferente?

— Como o que?

— Eu não sei, mas é como se ele tivesse furado por várias garras em várias direções. Tem ferimentos até o ombro.

— O que?! – Kyungsoo solta o torso de Xiumin por um segundo e ele se retorce. – Desculpe.

— É como se ele tivesse sido ferido por...por...eu não sei...alguma coisa fina que subiu pelo braço dele, não são só esses ferimentos que estamos vendo, é como se tivessem sido feitos em várias direções. – Lay responde olhando para o braço que ele segurava. – Estou cuidando primeiro desses ferimentos lá em cima, antes de fechar esses mais graves.

— Como isso aconteceu, Suho!? – Kyungsoo me encara irado. Geralmente seus grandes olhos não tem nenhuma emoção e ele é basicamente sério no seu canto, mas dessa vez vejo raiva de verdade.

— Agora não é um momento muito específico para falar disso, não acha?

— Tem alguém vindo. – Lay olha para trás de nós com urgência.

Kyungsoo solta o torso de Xiumin, levanta a perna direita o máximo que consegue e pisa com força no chão e vários blocos se levantam do chão na diagonal apontados para a direção que Lay apontou, gira a perna esquerda criando um meio círculo e toca nos blocos, que no mesmo instante se racham e ganham a forma de estacas afiadas.

— Tao? – Ele pergunta.

— Graças a Deus você segurou essas estacas. – Chen ralha do outro lado. – Ficou louco? O que você...o que aconteceu? – Ele corre para perto de nós. – O que houve com vocês?

— Depois explico tudo. – Exaspero – Aqui, segura ele. – e me sento no chão. Tao, Chen e Chanyeol estão de volta também. Ainda bem.

— Estou quase lá, quase lá... – Lay continua repetindo para tentar acalmar Xiumin, que a essa altura já chora com a dor, porém ele realmente está perto de terminar, as tiras de carne soltas do braço dele começam a se religar, a pele rasgada a se fechar os buracos também. – E....pronto. Acabou, acabou Xiumin, pronto, pronto...

Os gritos cessam e Lay se senta no chão também, parecendo estar cansado.

LAY

Me sento no chão cansado e pingando suor, nunca tive tanto problema para curar uma ferida, também nunca tive um ferimento dessa extensão, não bastasse o estado em que seu braço se encontrava, de alguma maneira, era como se várias garras tivessem atingido seu braço subindo até a altura do ombro. Tive que vir fechando e reconstruindo cada buraco que foi feito.

— O que foi agora? – Chanyeol se ascende tomando sua forma total de fênix, grandes asas de fogo o envolvem e uma grande chama envolve sua cabeça no formato da cabeça de um pássaro.

Olho para frente e também fico assustado.

A entrada da nova área do labirinto nos leva para a direita ou esquerda, não há um caminho reto. No entanto, na nossa frente está surgindo um caminho reto nesse exato momento, a pedra áspera e rústica simplesmente está se rachando em um retângulo perfeito e descendo até o chão com um barulho enorme de pedra sendo arrastada contra pedra.

— Kyungsoo é você que está fazendo isso? – Chen pergunta com as mãos já faiscando.

— Não, eu não consigo mover essas paredes, assim como eu não consigo mover as outras, eu tentei.

Ele faz o mesmo movimento de antes e as estacas estão a nossa frente, apenas esperando o comando dele para saírem voando em direção a qualquer que seja a ameaça que possa sair dessa porta. – Segura o Xiumin. – Suho me pede já o tirando do bloco.

— Não, eu posso... – Xiumin tenta ficar de pé, mas perde o equilíbrio. – Não...não posso.

Não sei ao certo quanto tempo leva até a pedra ter descido totalmente e estar no mesmo nível do resto do labirinto, mas o barulho do atrito das pedras me dá agonia e me deixa apreensivo e a poeira que é liberada no ar no processo irrita meus olhos e meu nariz.

Todos estão tossindo tentando se livrar da poeira, mas sem tirar o foco da nova abertura na pedra.

Finalmente a poeira baixou e finalmente está no nível do chão.

Todos estão tensos olhando e esperando o que pode sair de lá.

Nada.

Apenas um novo corredor do labirinto, nenhuma criatura, nenhuma ameaça, pelo menos nenhuma explícita.

— Não baixem a guarda ainda, pode ter algo escondido. – Suho levanta a voz sem mover um músculo.

Eu acho que passei mais tempo encarando o novo corredor que acabou de aparecer na nossa frente, do que eu já passei nesse labirinto. Estou tão tenso que sinto meus ombros doerem.

— Atira uma estaca, Kyungsoo. – Suho ordena, ainda sem tirar os olhos do corredor.

Kyungsoo levanta um braço e o empurra no ar com a palma da mão para fora e uma estaca de pedra sai voando a toda velocidade corredor a dentro. Ou pelo menos deveria.

A pedra se estatela e se despedaça ao atingir o nada.

— Outra parede invisível. – Suho sussurra em terror. – Lay veja se tem outra parede invisível atrás de nós!

Engatinho depressa para verificar e estico o braço, nada, a saída ainda está liberada. – Tudo limpo!

— Vamos sair logo daqui, antes que mais alguma coisa aconteça. – Tao se apressa a começar a andar, ele ajuda Xiumin a se levantar e é o primeiro a sair da nova área do labirinto.

Não faço ideia do que possa ter acontecido com Suho e Xiumin, mas eu sei que foi algo muito grave para deixar Xiumin ferido desse jeito e Suho desgastado como ele estava.

Parece que vamos voltar para nosso ponto seguro com más notícias e o pior, vamos ter que voltar para essa nova área de novo.