SUHO

Tantos rostos me cercam, de onde todos eles vieram? Eu conheço todos, sei disso, eu já vi cada um deles, mas a grande maioria de seus nomes é um espaço em branco para mim, alguns dos garotos do labirinto, mas outros eu simplesmente não consigo pensar em um nome para dar a eles.

Todos estão a minha volta, olhares duros em minha direção, alguns estão sagrando, vejo até Namjoon no meio da multidão de rostos, pálido, olhos apagados, sangue saindo de sua boca, ele some e Luhan me olha, pisco os olhos e estou frente a frente com Kris, pisco mais uma vez e todos eles somem e tudo que vejo é a caixa preta e lustrosa do HD que tiramos do labirinto.

Acordo sobressaltado, estou com o corpo inteiro suado, um suor frio, minha roupa está colando e meu cabelo preso na testa, mas não estou com calor, ao contrário, sinto calafrios pelo meu corpo, me sinto fraco e minha barriga dói.

Minha visão está turva, mas não tenho certeza, com a pouca luz dos túneis do metrô posso estar me confundindo.

Quando vejo dois Sehun andando em minha direção meio cambaleante e com dificuldade, sei que não estou enxergando direito e isso me assusta. Me sento de lado com dificuldade e o mundo parece girar, minha cabeça dói e sinto ânsia.

— Eu não estou legal. – Sehun reclama ao sentar ao meu lado – Minha barriga está estranha e – ele arrota – eu não paro de arrotar um – ele se arrepia e treme de leve – gosto horrível na minha boca.

— Também não estou muito bem.

— Eu te ouvi gemendo lá do outro lado da plataforma. – Ele aponta para onde ele havia ficado sentado de guarda. – Por isso eu vim te ver, mas você já tinha acordado.

— Parece que eu não sou o único. – Eu aponto para Kai que está inquieto em seu sono se mexendo de um lado para o outro gemendo baixinho.

Perto da cabeça dele está o HD, a caixa preta lustrosa e não sei se foi a visão dela e a lembrança do meu sonho, ou se estou realmente mal, mas eu preciso me arrastar até a borda da plataforma para vomitar.

Coloco tudo que tinha para fora, minha boca parece ter aberto as feridas do lado mais ainda, mesmo que eu tivesse evitando o máximo falar e mexer a boca, já estava com um gosto horrível, agora está pior ainda, minha garganta ardendo e dolorida e o cheiro que começa a subir é uma mistura de podre com algumas das coisas que comemos antes.

Fico debruçado com a cabeça pendurada por um tempo, o mundo continua girando, mesmo de olhos fechados consigo sentir e me falta força para me levantar.

— Tudo bem por aí? – Sehun pergunta.

Eu não respondo, quando abro a boca vomito mais uma vez, não que ainda houvesse muito o que vomitar.

O resto da noite foi perdida para mim, não consegui dormir mais, continuava acordando sobressaltado com sonhos estranhos, suor frio, calafrios e dores pelo corpo, Sehun conseguiu dormir, mas não parecia nada relaxado, nem Chen, Xiumin ou Kai.

Quando o Sol começou a adentrar o vão da escada todos já estavam acordados, Kai fez o mesmo que eu assim que acordou, os outros três continuaram no mesmo lugar, sem se mexer, Chen era o que parecia pior, não conseguia sequer abrir os olhos e estava com uma aparência meio esverdeada.

— Eu sabia que não devíamos ter comido aquelas coisas. – Sehun resmunga sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça nas mãos, a voz cansada e fraca.

— Não vamos conseguir andar hoje, - Kai lamenta se jogando de barriga no chão – minha barriga está doendo demais e a minha cabeça parece que vai explodir...eu estou vendo meio embaçado.

Ele também tinha um aspecto meio esverdeado.

— Kris? Kris, é você? – Chen começa a falar, de repente. – Kris, eu...você conseguiu!

Ele está com os olhos quase fechados, um sorriso fraco nos lábios, está falando com o vazio.

— Ele enlouqueceu? – Kai pergunta soando irritado.

— Está vendo coisas. – Xiumin resmunga deitado e segurando a barriga com expressão de dor.

— Aquela comida nos fez tão mal que ele está alucinando, pelo menos eu acho que é essa a palavra. – Eu me aproximo dele sentindo meu estomago se revirar por dentro.

Me parte o coração vê-lo sorrindo para o vazio, será que ele está mesmo vendo Kris ali na frente dele? – Chen? Como você está se sentindo?

Ele me olha com olhos cansados e pesados, porém mesmo assim entusiasmados, o sorriso que ele dá também é fraco e pequeno – O Kris! Suho, o Kris conseguiu nos encontrar!

Eu cheguei a puxar o ar para falar para ele que Kris nunca nos encontraria, infelizmente, ele não havia conseguido fugir conosco, mas será que valeria a pena? Passando mal, sem comida, sem lugar para descansar, não temos nada aqui.

No meio do caminho, perdi meu fôlego e apenas assenti com a cabeça e me afastei.

Foi então que a realidade me atingiu de verdade, nós não vamos conseguir nenhum tipo de ajuda ficando aqui embaixo, Luhan podia ter boas intenções e um bom plano, mas sem ele, ficar aqui embaixo é inútil, será apenas um espera lenta e faminta pela morte e nada mais.

— Sehun, você consegue ficar de pé? Sem vomitar?

— Consigo, porque?

— Eu vou precisar da sua ajuda. Precisamos encontrar um lugar aqui nessa estação para esconder o HD, bem escondido. – Eu pego a caixa na mão e passo de uma para a outra.

— Do que você está falando? Meu irmão...

— Seu irmão devia ter um plano e uma ideia do que fazer quando conseguíssemos chegar aqui embaixo, mas infelizmente, ele não pôde colocar esse plano em prática. – Sehun me encara confuso – Segundo ele, essas informações precisavam chegar ao Clan X, não é? Bom, primeiro, nós precisamos encontrar o Clan X e não vamos conseguir apenas ficando aqui embaixo. Nós vamos precisar ir às ruas e tentar achar abrigo, comida e ajuda.

— Você ficou louco? Não está vendo como todo mundo estão passando mal? – Ele pergunta com dificuldade segurando a barriga ainda com dor.

— Vamos nos recuperar primeiro, depois não teremos outra escolha, se não subirmos e se formos capturados, o HD cai nas mãos de quem mandou matar seu irmão e nós não queremos isso, não é? – Ele nega com a cabeça – Vamos esconder aqui, quando encontrarmos o Clan X, nós voltamos aqui e pegamos, combinado? – Ele assente.

Eu não sei por quanto tempo nós andamos naquela plataforma tentando ao mesmo tempo não vomitar e achar um possível lugar para escondermos o HD, mas nada parecia bom o bastante, tudo parecia óbvio demais ou simplesmente não era suficiente.

Foi quando eu me debrucei na plataforma para vomitar novamente que ao levantar a cabeça eu a vi. A máquina de comidas de onde tiramos os lanches ontem que nos fizeram mal.

— Será que ficará bem escondido entre vários outros componentes eletrônicos? – Eu pergunto para Sehun apontando para a máquina.

Nós a tombamos de lado, reviramos ela de todo jeito possível até que encontramos uma espécie de tampa atrás dela na parte debaixo, para nossa sorte, ela já estava quase caindo, um puxão foi suficiente para tirá-la fora e foi exatamente como pensei.

Fios, placas de metal, coisas que eu simplesmente não fazia ideia do que poderiam ser, é uma máquina totalmente velha e quebrada, ela estar toda torta e amassada não vai chamar a atenção de ninguém, é um ótimo lugar para esconder essa caixa preta.

Puxamos alguns fios e tiramos alguns pedaços de metal aqui e ali e conseguimos alocar a caixa preta e lustrosa lá dentro, escondemos os pedaços de fio e placas de metal longe dela para não dar ideias a ninguém e está pronto.

— Finalmente conseguimos, eu já estava quase vomitando de novo. – Sehun suspira.

— Pessoal eu estou ouvindo alguma coisa no túnel. – Kai nos avisa.

Quando eu olho pelo túnel, me sinto gelar por dentro e minhas pernas bambearem, luzes se chacoalham dentro do túnel, ouço vozes e passos vindo em nossa direção, muitos.

Soldados de Heechul, vultos pretos, difíceis até mesmo de ver...ou será que é minha visão que continua turva?

Fomos achados.

Sehun era o único que ainda parecia em condições de tentar lutar um pouco, mas agora que não estava irado, o controle de suas habilidades está tão bom quanto o meu ou de Xiumin, ele consegue jogar uma rajada de ar e arremessar dois ou três soldados longe, mas nada mais que isso.

Uma granada é arremessada e eu já espero pelo estouro e meus ouvidos apitando depois, mas isso não acontece, em vez disso, um gás esverdeado começa a subir muito rápido e quando chega perto de mim, meu nariz começa a coçar e em poucos segundos eu não consigo parar de tossir e uma fraqueza me domina, mal consigo ficar de pé.

Nem preciso dizer que fomos cercados em questão de minutos, estávamos tão debilitados, passando tão mal que mesmo se tivéssemos controle de nossas habilidades ainda, teríamos conseguido usá-las e lutar.

Fomos prensados contra o chão, prenderam nossas mãos com objetos de metal e mais uma tira de metal branca foi colocada ao redor de nossos pescoços, tinha uma luz verde bem no meio e quando fechada ela ficou vermelha.

Minhas pernas bambeiam conforme eu ando, Chen chega a cair duas vezes e levar um soco para andar direito, seu nariz começa a sangrar depois da pancada, nós tentamos falar alguma coisa em protesto, mas é inútil, Kai acaba vomitando em um dos soldados e leva um soco no estomago e outro no rosto, seu sangue se mistura com seu vômito em sua boca.

— Por mim eu matava todos esses esquisitos agora. – Ele esbraveja irritado.

Somos levados escada acima, o Sol machuca meus olhos quando saímos, continua muito calor, andamos muito pelos trilhos, mas continuamos em uma área com ruínas de casas e prédios, não tenho muito tempo de observar ao meu redor, já sou logo empurrado para um grande quadrado de metal com as portas abertas e sou jogado lá dentro junto com meus companheiros.

— Não tentem nenhuma gracinha, só preciso de um motivo para descer o chumbo em vocês. – O soldado ameaça, as portas se fecham nos mergulhando em uma escuridão sufocante.

TAO

Eu sempre me acostumei a ver o mundo desacelerado ao meu redor, nada nunca me tocava, conseguia moldar o tempo ao meu gosto, deve ser por isso que tudo parece ter sido invertido agora, tanta coisa acontece tão rápido e tudo ao mesmo tempo, eu não consigo acompanhar.

Tantos sons estranhos, gritos, bagunça, desespero.

Kai dá o sinal para Chanyeol, quando ele passa por mim eu acompanho o caminho que ele faz, Suho está parado, o terror que vejo em seu rosto deve ser igual o que está no meu agora.

Os cinco desatam a correr e então somem quando viram à direita no final da rua rumo aos túneis.

A gritaria além da proteção de Kyungsoo só aumenta quando Chanyeol começa a cuspir fogo na direção deles, mas pelo menos parece que está funcionando, estamos conseguindo dar tempo para eles fugirem, mas ao mesmo tempo, me sinto desesperado e apreensivo, como se nunca mais fosse vê-los.

O grande pássaro de fogo se apaga e Chanyeol cai desajeitado no chão, ofegante e suando muito, os gritos recomeçam, seguidos dos tiros em direção ao muro de proteção, as explosões vêm logo em seguida, meu corpo dói ao sentir o impacto da explosão e meus ouvidos ficam apitando.

— JATO DE ÁGUA!

Alguém grita do outro lado, fumaça começa a subir conforme o fogo é apagado, olho para a esquerda e vejo seis soldados correndo com armas na mão na mesma direção que os rapazes foram.

Ativo minha zona temporal diferente, mas está instável, não consigo me mover com a mesma velocidade e força de sempre, estou vários metros atrás deles quando começa a falhar tanto que fica impossível continuar segurando.

Me concentro nos três soldados de trás e os atraso, os deixo o mais lento que consigo, quando consigo alcançar o mais próximo, meu controle se desfaz mais uma vez e só tenho tempo de puxar a arma em sua mão.

Meu corpo parece se mover sozinho, puxo a arma com uma força que eu desconhecia e a jogo o mais longe que consigo, dou uma sequência de socos na cabeça do soldado e finalizo com um chute bem no meio da barriga o jogando para trás.

Ouço o barulho dos tiros e consigo desacelerar o tempo ao meu redor o suficiente para esquivar deles.

Corro os poucos passos que me separam dos outros dois soldados e meu corpo age por natureza mais uma vez, me abaixo, estico minha perna e a giro no chão dando uma rasteira em um deles, me levanto e piso em seu rosto duas vezes, o último soldado aponta o rifle para mim.

Fico de pé e jogo minha perna para o alto e a trago de volta para baixo com força e acerto a arma apontada em minha direção, o tiro acerta o chão, mudo o peso para a outra perna e acerto um chute na cabeça dele o desnorteando.

Não dou tempo dele se recuperar e acerto meu cotovelo duas vezes em seu rosto e planto meu pé inteiro em seu estomago o fazendo perder o equilíbrio e cair todo torto no chão, piso em seu rosto duas vezes e ele desmaia.

Várias explosões ensurdecedoras acontecem novamente, gritaria, som de pedras caindo, o muro se desfez, Kyungsoo finalmente atingiu seu limite, jatos de água atingem Chanyeol antes que ele possa fazer alguma coisa e os soldados começam a avançar.

Começo a correr na direção dos rapazes, tiros começam a ser disparados em nossas direções, tento desacelerar o tempo, mas meu controle é ridículo, sinto vários me atingindo, picadas finas e profundas, mas nada muito doloroso ou fatal como foi com Luhan.

Eu tento continuar a correr na direção dos rapazes, mas de repente meu corpo parece tão pesado, duro, difícil de mover, minha visão fica turva, não consigo ver nada, tudo começa a escurecer, até mesmo ficar de pé é difícil.

Caio no chão, vendo os outros já desmaiados também.

Acordo assustado, tento me mover, mas algo me prende, meus olhos têm dificuldade de ficarem abertos, minha cabeça dói e estou com tantas náuseas que sinto que posso vomitar a qualquer momento, meu estomago se retorce como se estivesse com a maior ressaca da vida.

Ressaca...porque eu usei essa palavra? Porque eu sei o que ela significa?

— Esse aqui já acordou, Dr. – Ouço uma voz feminina a minha direita.

Estou amarrado a uma maca, tiras de couro estão esticadas sobre meu peito e pernas, meus pulsos estão algemados a grade, calça e blusa branca, um monitor cardíaco apitando ao meu lado esquerdo, um tubo de oxigênio no meu nariz, algum remédio injetado em minha veia.

— O processo de desintoxicação da radiação já deve estar quase no fim. – Um homem jovem de óculos comenta anotando alguma coisa em uma prancheta verificando um outro monitor a minha direita. – Ele deve estar se sentindo bastante confuso, mas já deve estar se lembrando de várias coisas à essa altura, não vai demorar para todas as memórias voltarem, francamente, que processo mais fajuto que foi implantado, uma lavagem cerebral que pode ser revertida.

Ele me ignora e continua falando com a assistente ao lado dele, nem sequer olha para mim. – Certifique-se que a coleira inibidora continue ativa o tempo todo, todas as instalações de contenção estão com inibidores no teto, mas não podemos correr riscos, vocês não imaginam o que esses rapazes podem fazer. - E sai andando para algum lugar que eu não sei.

Então é isso, minhas memórias estão voltando, por isso sei o que é ressaca e como é ruim ficar bêbado, também sei que não deveria conhecer a sensação já que eu bebia escondido.

Minha cabeça parece rodar, uma porta parecia ter sido aberta e liberado uma avalanche de informações, conhecimentos e memórias que eu não fazia ideia ter, mas parecem tão naturais agora.

Tento olhar em volta, mesmo com a tontura e dor que isso traz, me espanto ao ver outras duas macas ao meu lado esquerdo e duas à minha frente, eu só espero que todos estejam vivos também.

Alguma coisa aperta meu pescoço e é gelada, não consigo ver o que é, mas Kyungsoo está ao meu lado, desmaiado com uma coleira de metal branca, uma luz vermelha constante bem abaixo do queixo.

Eu tento me mover, mas eu não consigo, meu corpo está completamente imobilizado e julgando pela tontura que sinto, acho que também não sinto força alguma.

— Sedem esse, Heechul quer todos acordados quando vier para as instalações, mas até lá, não há motivos para mantê-los acordados. – O homem de óculos fala ao olhar para mim pela primeira vez.

Uma das enfermeiras se aproxima de mim com uma seringa na mão, ela pega o tubo que vai ao meu braço e injeta o sedativo, imediatamente sinto um calor no braço, meus olhos começam a pesar e ter mais dificuldade ainda em ficarem abertos até que o mundo some por trás de uma névoa.

Ouço sons distantes que aos poucos começam a ficar mais perto e começo a entender o falatório, vozes falam ao meu redor, abro os olhos lentamente e dou de cara com um par de óculos me observando.

— Esse foi o último, estamos prontos, senhor. – Ele fala com uma voz nasalada e se afasta de mim com uma prancheta em mãos escrevendo nela.

Minha respiração está ofegante e sinto meu coração acelerado em meu peito, continuo preso, mas dessa vez em uma estrutura de ferro, estou de pé, as mesmas tiras de couro prendem meu corpo e minhas pernas enquanto meus pulsos estão presos por algemas.

Baekhyun e Lay estão a minha direita, Chanyeol e Kyungsoo a minha esquerda, todos estão na mesma situação que eu, as coleiras com a luz vermelha acesa em cada um.

O lugar em que estamos é estranho, poderia parecer um laboratório, mas há apenas uma máquina no meio da sala, uma cadeira de ferro, eu consigo ver contenções para as mãos, algo parecido com um capacete com vários tubos e fios saindo dele.

Estamos apenas nós cinco, esse homem de óculos que estava me olhando e um outro homem de cabelo preto, terno branco impecável, ele está de costas para nós, mas quando o outro fala com ele, ele se vira mostrando olhos grandes e lábios grossos que se esticam em um sorriso de dentes grandes e alinhados.

Ao lado da cadeira de metal estranha, há uma outra cadeira, essa parece confortável na qual ele se senta e nos fita um a um parando em mim ao final.

— Ora, ora, ora, já não era sem tempo você acordar... – ele olha em uma folha em sua mão – Tao, estávamos esperando que você acordasse para que eu pudesse conversar com vocês.

Algo nele me deixa tenso, como se eu soubesse o quanto ele é perigoso, mesmo sem saber quem ele é.

A sala é grande, paredes tão brancas que chega a doer nos olhos, não há som algum além dos cochichos e resmungos do homem de óculos mexendo na cadeira estranha de metal, há apenas uma porta, a minha direita, afastada de nós, estamos no canto distante da sala, os cinco enfileirados um ao lado do outro.

— Eu imagino que estejam cansados e muito confusos, afinal de contas, depois de tanto tempo longe do mundo como cobaias de laboratório e de repente, suas memórias voltam, suas cabeças devem estar realmente girando. – Ele nos cumprimenta com educação e simpatia, o sorriso não deixa seus lábios um só minuto, mas de alguma maneira, isso só me deixa ainda mais inquieto quanto a ele. – Ora, parem de me olhar com essas caras de animais assustados, minhas intenções com vocês são boas, eu juro, não quero machucar nem fazer nada de mal com vocês, é só me ajudarem.

— A máquina está pronta, senhor. – O homem de óculos informa se afastando dela.

— Ótimo, Seungri. – Ele responde sem tirar os olhos de nós. – Vamos direto ao assunto, sim? Kris morreu, Luhan infelizmente foi uma peça problemática, tenho vocês cinco aqui comigo, mas faltam outros cinco, - ele se levanta agora e começa a andar de uma ponta a outra nos encarando direto nos olhos – como as memórias deles ainda não tinham voltado, eles não teriam como imaginar um lugar para onde fugir, o Luhan deve ter dito para todos vocês, mas acabou não dando certo e apenas cinco conseguiram, para onde eles foram?

Ele para bem na minha frente, tenciona o maxilar, coloca as mãos para trás e olha de ponta a ponta mais uma vez.

— Então? Nenhum voluntário? Nenhuma confissão? – Quando nenhum de nós o responde, ele tenciona o maxilar mais uma vez e sorri de maneira tensa e diria quase ameaçadora.

— Pois bem, - ele recomeça a andar de uma ponta a outra, agora mais devagar e sem olhar para nenhum de nós – eu vou ser bem honesto com todos vocês, rapazes, eu não quero machucá-los, não tenho essa intenção, nenhum um pouco, de verdade, eu acho que vocês já sofreram demais todos esses anos presos no labirinto daquele dissimulado do Luhan, contudo – ele para no lugar ao girar nos calcanhares bem na frente de Kyungsoo – eu também não estou disposto a perder meu tempo. Eu não sei que tipo de união ou combinado que vocês têm entre vocês, mas já está na hora de acabar. Vocês não têm para onde e nem como fugir, então, seria muito bom para todos aqui, se vocês começassem a abrir as suas boquinhas. Mais uma vez, para onde foram os outros cinco?

Se antes eu achava o sorriso de Heechul assustador, agora sinto pavor do jeito que ele olha para cada um de nós, seu rosto tem uma expressão maníaca, porém controlada ao mesmo tempo e algo em seus olhos me deixa inquieto, a atmosfera pareceu ficar mais fria e pesada agora.

— Vocês não vão falar? – Heechul pergunta mais uma vez parecendo irritado e até mesmo incrédulo eu diria. – Vocês acham mesmo que eles têm alguma chance de conseguirem ajuda para eles e vocês? Eles podem até conseguir alguma para eles, o que é altamente improvável, mas vocês cinco – ele se demora olhando para cada um de nós por um segundo muito longo – ah, vocês cinco, só saem daqui se eu quiser.

Esse é o cara responsável por financiar todo o projeto, é por causa dele que nós temos os poderes que temos, por causa dele que estamos nessa situação, foi por causa dele que o Luhan morreu, inferno, que todos os rapazes do labirinto morreram.

Ele é perigoso, muito perigoso.

Sinto um frio na espinha quando ele passa o olhar por mim, fixa os olhos em mim e começa a andar em minha direção.

— Sabe, - Kyungsoo começa a falar, sua voz está um pouco rouca, mas parece bem firme – nós vivemos por tanto tempo naquele labirinto infernal, convivemos com os mais estranhos e variados tipos de monstros tentando nos matar a toda oportunidade, um simples homem não consegue me colocar tanto medo assim. Sem o seu labirinto, você não é tão assustador, pelo menos, eu não acho. Nós estamos fora dele, você é só mais um homem agora.

O que eu senti vendo a expressão no rosto de Heechul enquanto ele ouvia Kyungsoo insultando-o é indescritível, um choro queria irromper da minha garganta, mas ele não saía, o que eu vi no rosto dele naquele momento, era pura maldade, perigo.

— Interessante o seu ponto de vista meu caro...

— Do Kyungsoo, senhor. – Seungri informa, ao lado da cadeira de metal estranha com uma prancheta em mãos folhando os papéis preso nela.

— Kyungsoo, Do Kyungsoo, interessante você pensar assim, meu caro, - ele recomeça a falar se aproximando devagar dele – se eu bem me lembro, lá dentro do labirinto você era uma figura de relativa liderança lá dentro, mesmo aqui fora você mantém essa postura, esse... pensamento.

“Mas deixe-me te dizer uma coisa, aqueles bichinhos eram ideias e criações do Luhan, não minhas, eu sempre achei eles muito fraquinhos e simples demais, se dependesse de mim vocês teriam tido um desafio muito maior desde sempre, como aquele último que vocês enfrentaram, aquele deu trabalho, não deu? ”

Ele pergunta com humor na voz ao terminar a frase, é proposital, falar de maneira tão leve sobre algo que custou a vida do Kris.

— Mas você tem razão em uma coisa, vocês estão mesmo fora do labirinto agora, o que me dá a liberdade de poder agir como eu quero, pelos meus métodos e eu garanto, eles dão resultados muito mais rápido, são muito mais eficazes.

Se eu visse aquele sorriso no rosto de qualquer outra pessoa, seria apenas um sorriso, uma expressão feliz, simpática, mas em Heechul, ele era tudo, menos simpático ou feliz.

— E já que você gosta tanto de falar, será o primeiro a experimentar, Seungri, prepare o senhor Do Kyungsoo.