TAO

Meus ouvidos doem de tanto ouvir os gritos de Kyungsoo, eu não sei quanto tempo faz desde que ele foi colocado naquela cadeira estranha de metal.

— Não falem nada, não importa o que façam comigo, não falem nada! – Ele conseguiu gritar antes de ser preso a cadeira. – Vai ficar tudo bem!

Foi a última coisa que ele disse, depois disso, colocaram o capacete estranho nele, furaram seu braço e logo ele adormeceu, mas isso não durou muito.

Poucos minutos se passaram em um silêncio sufocante onde eu só ouvia a minha respiração e dos rapazes ao meu lado, os dedos de Seungri batendo nas teclas em um teclado atrás da cadeira. Meu coração batia tão forte e tão alto, eu o ouvia em meus ouvidos, então começou.

Kyungsoo começou a sentir uma inquietação, sua cabeça começou a se mexer levemente, como se estivesse tendo um pesadelo, um sono conturbado, logo seu corpo começou a se retorcer, gemidos saíam dele, gemidos que se transformaram em palavras desconexas até se tornarem os gritos que estou ouvindo.

Ele gritava com tanta força, desespero e horror que sua voz quebrava, chegava a doer tamanha a intensidade e força de seus gritos.

Vai ficar tudo bem, foi o que ele disse, vai ficar tudo bem, será mesmo? Eu estou me contendo para não contar sobre o metrô, ouvir Kyungsoo gritar tão desesperado e se retorcer na maca daquela maneira me deixa aflito, eu só quero fazer isso acabar.

Com quem estamos lidando?

Heechul dá uma ordem para Seungri, mas eu não consigo ouvir com tantos gritos, apenas o vejo gesticulando e falando alguma coisa com ele, quase que instantaneamente, Kyungsoo para de retorcer, seus gritos cessam e ele parece estar dormindo em paz, apenas ofegante de tudo que havia acabado de acontecer.

Eu solto a respiração que nem mesmo havia reparado estar segurando, agora sem o barulho dos gritos, ouço Chanyeol bufando, furioso enquanto Baekhyun chora baixinho mais afastado de mim.

Ver o sorriso de contentamento e felicidade no semblante de Heechul me deixou, ao mesmo tempo, furioso e temeroso, ele não medirá esforços para conseguir arrancar de nós onde os outros estão.

— Pois bem, pois bem, - ele pigarreia e ajeita o paletó ao ficar de pé – eu acho que isso foi suficiente para vocês entenderem e verem com o que e quem estão lidando, não é? – Ele tenciona o maxilar e olha vagarosamente para cada um de nós. – Eu vou perguntar mais uma vez, para onde os outros cinco foram?

Sinto minha espinha arrepiar e meu estomago gelar por dentro, eu admito, estou com muito medo dele, não tenho a mesma coragem de Kyungsoo.

— Então? Nada?! – Heechul começa a perder a pose simpática e começa a mostrar seu humor instável. – Vocês não têm dó do seu companheiro? Não viram o que acabou de acontecer com ele? Querem que eu repita? Porque eu vou repetir sem problema algum. – Silêncio, Baekhyun soluça um pouco entre suas lágrimas, mas não fala nada, Chanyeol continua com sua respiração pesada, irado ao meu lado, Lay está silencioso como sempre, meu coração parece estar batendo em minhas orelhas, está tão alto que não sei se conseguiria me ouvir se falasse alguma coisa – Engraçado, eu pensei que vocês fossem companheiros e se importassem com a vida uns dos outros, parece que não.

Ele se aproxima de Kyungsoo e dá vários tapas até ele acordar e recobrar a consciência, quando finalmente seus grandes olhos se abrem, estão fracos, caídos, perdidos e confusos, sua boca está entreaberta, ele parece não estar entendendo direito o que está acontecendo.

— Isso, acordou, - Heechul o agarra pelo rosto e faz ele olhar para cada um de nós – eu quero que você memorize isso, está vendo esses quatro imbecis ali? Que se dizem seu amigo? Eles têm nas mãos deles, a chance de te salvar desse sofrimento, mas eles escolheram continuar a te ver e te fazer sofrer.

Heechul não vê, porque ele encostou o rosto no de Kyungsoo, mas eu apenas observo a expressão branca e perdida tomar forma e se tornar uma expressão irritada e nervosa, a cusparada bem no rosto de Heechul foi uma surpresa para mim também.

Ele xinga alto várias vezes, dá um tapa com as costas da mão no rosto de Kyungsoo, senta ao lado da cadeira e manda Seungri reiniciar seja lá o que ele estava fazendo para torturar Kyungsoo.

Os gritos vieram muito mais rápido dessa vez, mesmo de olhos fechados, mesmo parecendo estar sedado, Kyungsoo gritava em puro desespero enquanto Heechul nos observava com um leve prazer no semblante, olhando dele, para nós quatro amarrados.

BAEKHYUN

Mesmo de olhos fechados, a imagem ainda está gravada, queimada em meus olhos, os gritos ainda estão ecoando em meus ouvidos, com tanta informação voltando de uma só vez, misturadas com esse baque, esse impacto tão de repente, me sinto fraco, se não estivesse amarrado aqui, provavelmente já teria desmaiado.

Já não sei quanto tempo faz que estamos aqui, poderiam ser minutos, horas, dias, ouvir gritos de dor de um amigo e um lunático tentando me intimidar e arrancar informações de mim, isso me faz perder a noção de tempo.

— Senhor! A cobaia! – Ouço a voz do tal Seungri alertar.

Abro os olhos assustado e fico mais ainda quando vejo Kyungsoo tendo convulsões, seu corpo está retesado, estaria tendo espasmos se não estivesse contido pela cadeira, uma baba branca começa a sair de sua boca.

— Faça alguma coisa, Seungri, você é o doutor daqui! – Heechul ordena irritado como se estivesse lidando com um problema corriqueiro e cotidiano comum.

— A simulação foi muito pesada para ele, senhor, fomos com muita força, muito rápido, o corpo não aguentou, é aconselhável darmos uma pausa, pelo menos. – Seungri explica ao injetar alguma droga no braço de Kyungsoo.

— Mas que inferno, parar logo agora? – Heechul reclama quase fazendo manha. – Certo, prenda-o de volta na grade junto com os outros, chame os guardas para leva-los para as celas, acho que um bom recado foi dado aqui. – Ele ergue o queixo ao colocar as mãos para trás e olhar para nós novamente – Pensem, rapazes, pensem muito bem, vocês podem acabar com tudo isso, é só colaborarem, nada mais.

Dito isso, ele apenas caminha em direção a porta, a passos lentos e tranquilos, quase como se esperasse que algo ou alguém chamasse sua atenção.

Quando ele sai, guardas em uniformes brancos, coturnos pretos e capacetes entram empunhando rifles de assalto e vão direto à cadeira de tortura, Kyungsoo está mole, seu corpo parece ser feito de papel molhado, sua cabeça pende de um lado para o outro conforme movem ele, seus olhos chegam a tentar se abrir, mas estão fracos, pesados, parecem fazer um esforço tremendo para conseguirem ficar abertos, ele parece drenado enquanto é levado para a maca e o prendem nela.

Mais guardas entram, cinco se colocam ao lado das grades nas quais estamos presos, mudam a posição de em pé para deitado e começam a nos levar seja lá para onde.

Passamos por corredores silêncios e bem iluminados de um branco causticante que chegava a doer nos olhos, meu corpo dói contra as grades de metal.

Engraçado.

Eu nunca usei essa palavra, causticante, dentro do labirinto durante todo esse tempo, mas agora que minhas memórias estão voltando, ela parece tão certa, comum, parece que encaixa bem em minha boca, como se sempre a tivesse usado em minha vida toda.

No final do corredor, existem três elevadores, os soldados elevam as grades onde estamos presos mais uma vez e esperam por eles, eu sou levado para o da ponta esquerda, Lay foi colocado no mesmo.

Um botão é apertado e começamos a nos mover, não sei ao certo dizer se estamos subindo ou descendo.

Não ver os rostos dos soldados, apenas o visor de seus capacetes é inquietante e me sinto ameaçado ao todo momento, tento olhar para Lay, mas ele está fora do meu campo de visão.

Tanta coisa está acontecendo ao mesmo tempo que eu não sei se consigo processar direito, nem mesmo sei o que estou sentindo com exatidão, a imagem de Kyungsoo se contorcendo e o som de seus gritos ainda estão muito vívidas em minha mente como se eu estivesse vendo naquele exato momento ainda.

Será que ele aguentaria mais um dia de torturas daquele jeito? Será que qualquer um de nós aguentaria?

Preso dentro naquela caixa de metal, dois soldados armados, amarrado a uma grade de metal desconfortável, começo a entrar em pânico, tento me controlar mordendo meus lábios, até machucar, as lágrimas descem e embaçam minha visão, mas eu consigo ficar em silêncio, não quero dar motivos para virem para cima de mim ou Lay.

Um sinal sonoro e as portas se abrem, puxam Lay na minha frente, deitam sua grade novamente e começam a levá-lo pelo corredor, esse é diferente do outro que estávamos, não é branco causticante, a parede é mais rústica, diria até mal-acabada, parece abafado, tem poucas luzes e elas ficam piscando aqui e ali.

Ao final do corredor chegamos a uma área ampla, porém fico surpreso ao perceber que estamos no subsolo, literalmente cercados por todos os lados, a minha esquerda, não consigo ver direito, mas acho que é uma cabine, talvez? Vejo paredes de vidro, mas não consigo mover minha cabeça direito então não consigo ver direito.

Descemos uma rampa e chegamos a várias celas enfileiradas uma do lado da outra, são coladas umas nas outras, mas são bastante pequenas, uma porta de vidro em cada uma, não consigo ver direito o que tem dentro delas.

Será que essa foi a prisão onde Luhan ficou? A descrição dele bate com o lugar que estamos vendo, o teto parece tão longe, existem algumas lâmpadas presas na pedra escavada, fios passam por elas e vão para um lugar onde não consigo ver.

Paro abruptamente e sou colocado frente a uma cela, o soldado que estava puxando minha grade se coloca na minha frente aponta o rifle para mim e fala com uma voz abafada pelo capacete – Não tente nenhum movimento brusco, tenho ordens para atirar.

Nem se eu quisesse, faria alguma coisa, me sinto tão acuado e assustado que não sei nem se conseguirei ficar de pé.

Uma mulher de jaleco branco aparece com um molho de chaves nas mãos, ela começa a destrancar todas as contenções na maca, uma a uma sinto serem liberadas e meu corpo ficar mais leve.

— Não se mova! – O soldado me alerta mais uma vez por trás de seu capacete lustroso.

A mulher de jaleco abre a porta da cela, me ajuda a me levantar, para minha surpresa, minha perna está com um curativo e não dói mais, pelo menos não o tanto que doía antes, na verdade, está quase curada, sinto apenas uma dor aguda e fraca ao andar.

— Vá para a cela, pacificamente. – O soldado me instrui e eu obedeço, mesmo com um pouco de dificuldade, ainda manco um pouco, quase nada, consigo entrar na cela, assim que passo pelo portal a porta é fechada atrás de mim imediatamente, até mesmo a sinto bater em minhas costas e caio de joelhos para frente.

Um vaso sanitário, uma cama, nada além disso, estou em um cubículo tão branco que sinto meus olhos doerem, por que essa fixação desse maldito com a cor branca?

Olho pela cela procurando uma câmera, não vejo nada, mas com certeza elas existem por aqui em algum lugar, se éramos observados naquele labirinto gigante, por que uma simples cela assim não teria?

Só me lembro que estou mordendo meu lábio quando ele dói e sinto o gosto ferruginoso de sangue na boca, é então que vem tudo de uma só vez.

Fico ofegante, me sinto aterrorizado, minhas mãos tremem, me sento na cama porque é difícil me manter de pé, é difícil respirar, o ar sai, mas não entra de volta, minhas lágrimas vêm à tona sem que eu possa evitar ou controlar.

Eu vou morrer aqui dentro, nós vamos morrer, estamos presos sem ajuda de ninguém, essa cela vai ser o meu fim, eu não posso ficar aqui esperando chegar a minha vez de ser colocado naquela cadeira de metal estranha, eu tenho que fazer alguma coisa para fugir daqui, eu preciso fugir daqui.

Me falta o ar, eu não consigo respirar, eu não consigo puxar o ar para dentro de mim e eu fico assim por tanto tempo, ou pelo menos parece muito tempo para mim, só quando conto de cem até zero que começo a sentir meu coração desacelerar e minha respiração normalizar, pelo menos um pouco.

Me deito na cama com uma única certeza, eu não posso continuar aqui, eu preciso pensar em alguma coisa para conseguir fugir, ou pelo menos, conseguir ajuda, talvez contatar o Clan X, eles ajudaram o Luhan, eles podem nos ajudar.

LAY

Ficar observando um ponto em específico pode te fazer perder a noção do tempo ou de tudo mais.

Ainda não parece verdade, o que foi que houve mesmo? Eu tento rever os fatos em minha cabeça, mas parece tão difícil, parece tão complicado, tão enrolado, a última coisa que me lembro foi curar alguém, mas quem foi? Ele estava ensanguentado, não estava?

Kris.

Era ele...não era?

Eu...ele estava machucado, as costas...ele foi atingido por ácido...eu lembro de estar refazendo as fibras das costas dele quando tudo ficou escuro e eu me senti fraco, mas mais alguém estava machucado...

Dali para frente tudo ficou tão confuso, eu só consigo me lembrar de pedaços e de me sentir fraco e assustado.

Mas ao mesmo tempo, tudo voltou, toda minha vida, meus pais, minha casa, o dia que estava voltando da escola e fui colocado dentro de um carro, ainda consigo lembrar como me sentia apavorado.

Não sei há quanto tempo estou parado apenas observando o vazio, sem fazer absolutamente nada, não tenho vontade ou forças, meu corpo parece petrificado, até porque, existe algum motivo para fazer alguma coisa? Estou preso aqui, sem ter nada que eu possa fazer.

Então eu só continuo sentado na cama, observando o mesmo ponto em específico, deixando o tempo passar, tentando me lembrar do que aconteceu depois do escuro, por que eu não consigo me lembrar?

Para onde foram os outros? Será que eles estão bem? Será que estão vivos, será que conseguiram sair do labirinto? Por que apenas cinco de nós fomos capturados? Espero que os outros consigam buscar ajuda para nos salvar.

Quanto tempo já passou desde que me colocaram aqui?

Sinto minha coluna doer e meu bumbum incomodar de ficar tanto tempo na mesma posição, mas não o suficiente para me fazer me mover, me sinto vazio, sem forças, sem motivação para nada, lutamos tanto e no final das contas acabamos presos.

Por que eu sinto como se uma fagulha estivesse no fundo da minha mente? Como se eu estivesse esquecendo alguma coisa?

Quando meus olhos começam a pesar e fica difícil mantê-los abertos eu finalmente decido mudar de posição e me deitar na cama, mesmo com a luz branca em meus olhos o sono chega sem que eu perceba.

Eu acordo sobressaltado, suando, arfando.

Mas não sei por que, tive algum sonho com alguma coisa, mas não sei o que foi, por mais que eu tente me lembrar, eu não consigo, fica cada vez mais distante e imerso em névoa.

Não sei por que, mas fico inquieto, me sinto ansioso, como se estivesse na expectativa por alguma coisa, Kris e Luhan me vêm à mente, mas eu não sei por que, talvez porque Kris foi a última pessoa que eu curei antes de apagar? Mas porque lembraria de Luhan também?

Meu corpo e minha mente estavam tão cansados que eu nem mesmo consegui perceber o sono chegando novamente, fiquei tão focado em pensar possível maneiras de conseguir sair daqui que esqueci como eu estava exaurido e assustado.

Acordo com batidas na porta de vidro e uma voz grave e irritada me advertindo sobre qualquer tentativa de resistência, é tanto barulho quando eles entram em minha cela que demoro alguns segundos para conseguir entender e me mover, lentamente, sob mira de duas armas, minha cabeça parece martelar e demoro mais ainda para entender onde estou.

As amarras me machucam quando me prendem em uma maca novamente, provavelmente estão nos levando para mais uma sessão de tortura igual ontem.

Estou surpreendentemente calmo, nem mesmo sinto medo, tudo parece tão estranho, tão distante que não sei explicar o que estou sentindo, como se estivesse apenas vendo e não vivendo tudo aquilo.

Tento olhar para os lados e ver como meus amigos estão, mas não dá tempo, já me empurram e não consigo ver ninguém, lembro que Kyungsoo parecia bem debilitado ontem, será que aquele estranho beiçudo vai tentar machucar ele outra vez? Não sei se ele aguentaria.

O barulho das rodinhas da maca me hipnotiza, não entro em desespero nem nada, simplesmente olho para o teto enquanto passo por debaixo das luminárias, quando sou colocado no elevador eu sei que estou indo para um lugar perigoso tanto para mim quanto para meus amigos, mas por algum motivo, continuo calmo, não, não é essa a palavra, apático.

Quando chegamos à sala em que estivemos ontem e eu vejo a cadeira de tortura mais uma vez, eu a observo fixamente, o que ela pode ter de tão poderoso que consegue torturar as pessoas daquele jeito? Seja lá o que for, não sei como Kyungsoo conseguiu enfrentar o louco que fala demais ontem daquela maneira, mas o resultado eu já vi qual foi.

Está calor dentro da sala, abafado, mas talvez lá em cima esteja mais, o lunático está apenas com uma calça social cinza e uma camisa branca, a pose elegante e intocável continua lá, mas o cabelo está meio bagunçado e sua testa brilha de suor, eu acho até que ele está com manchas de suor debaixo dos braços.

— Seungri, ligue o ar-condicionado, esse lugar é muito abafado. – A voz dele me irrita, é muito mandona e rouca, irritante, o cientista se atrapalha com seus óculos e uma pilha de papéis que ele carregava quase caem quando ele vai obedecer.

Ele vem em nossa direção, o mesmo sorriso que força simpatia, mas tem uma aura perigosa. – Como estão se sentindo depois de dormirem em uma cama decente depois de...não sei quantos anos? Estão descansados? Ainda devem estar se recuperando de toda a loucura que viveram, especialmente nas últimas horas.

Ele para e fica olhando de uma ponta a outra como se estivesse esperando algum tipo de resposta, quando ninguém fala nada ele se afasta e vai para o lado da cadeira de metal estranha, pega uma prancheta apoiada em cima dela, passa por algumas folhas, a entrega ao cientista, sentado atrás da cadeira e começa a falar de novo.

— Eu espero que vocês tenham entendido o porquê de eu fazer o que eu fiz ontem, eu espero também que vocês entendam que eu não quero ter que repetir tudo aquilo de novo, eu não sei vocês, mas aqueles gritos me atormentaram ontem a noite, e eu nem mesmo conheço o pobre rapaz aqui – ele começa a andar em direção a uma maca em específico, Kyungsoo – imagine o que vocês sentiram ao ouvir o amigo de vocês, o companheiro, uma das suas figuras de liderança, gritando daquele jeito e... – Me surpreendo quando ele para de falar por um segundo e estica um braço para tocar em Kyungsoo, não consigo mover minha cabeça direito para ver, mas sua expressão agora é como se estivesse com pena dele - sabendo que vocês podiam acabar com aquilo, mas escolheram não, isso deve ser muito doloroso, não é?

Ouço o estralo de um tapa e um resmungo de Kyungsoo, eu não imaginava que ele poderia estar assim ainda, essa tortura parece ser mais pesada do que eu imaginava.

Isso me assusta, mas ao mesmo tempo é como se eu não estivesse aqui ainda.

— E vocês ainda podem impedir a visão de um companheiro sofrendo e se retorcendo na cadeira de tortura – Heechul recomeça a falar – vocês só precisam me dizer para os outros cinco foram.

— Mesmo que soubéssemos para onde eles foram, não teríamos como saber se eles conseguiram ir ou onde eles estão agora. – Mesmo com a voz chorosa e fanha, fico surpreso em ver como Baekhyun estava forte e impaciente.

Heechul volta a olhar em sua prancheta por um segundo antes de respondê-lo – Byun Baekhyun, não é? – Ele volta a expor seu sorriso de falsa simpatia – O que acontece, meu caro Baekhyun, e eu serei bem honesto om vocês agora, seja lá para onde eles possam ter ido, eles conseguiram, eles escaparam e como eles ainda não se lembram de nada do mundo aqui fora, estão vagando a esmo.

“Rastrear alguém que está andando a esmo se torna mais difícil, o local onde estavam as instalações do labirinto era totalmente desabitado, é uma área em ruína e abandonada porque ainda existem muitos vestígios e resíduos de conflitos químicos, nós, simples humanos, não podemos ficar lá por muito tempo, pois é altamente prejudicial a nossa saúde, diferente de vocês.

“Eu, em sã consciência não posso mandar meus homens para ficar vasculhando debaixo de cada pedra daquele lugar, seria prejudicial a eles e perder soldados é um luxo que não posso me dar no atual momento. Além do mais, é interessante para a segurança deles que vocês me ajudem a rastreá-los. Vocês não vêm? ”

Por ser uma sala vazia, toda e qualquer palavra dita produzia um eco, mas a risada cansada e até dolorida de Kyungsoo pareceu fazer um maior.

— E por que seria isso? – Ele consegue perguntar, mas com dificuldade, como se estivesse com dor ou muito sono, cada palavra saindo com dificuldade de sua boca.

— Eles estão em um mundo que não se lembram, sem comida, sem água, esgotados, vocês acham mesmo que eles vão durar muito tempo? – Heechul pergunta já se divertindo sabendo a resposta. – Se eles demorarem muito tempo lá fora, sem comer, nem beber nada, não sobreviverão por muito tempo, a fuga terá sido em vão. Então, o que vai ser? Vamos conversar sobre possíveis lugares onde eles estão, ou vamos torturar mais um pouco? – Ele pergunta se empertigando ficando na nossa frente de braços cruzados, quando ninguém o responde, ele exaspera alto e dá a ordem. – Mande os soldados entrarem e preparem o Kyungsoo para outra sessão, eu vou ao banheiro e já volto.

Meus ouvidos pareciam estar sendo perfurados pelos gritos e gemidos de Kyungsoo e pelas perguntas de Heechul, meu coração doía ao palpitar em meu peito e eu me sentia enjoado e pesado por dentro quando ele foi tirado da máquina.

Tentar saber quanto tempo durou tudo isso era impossível, eu me senti preso por dias naquele lugar, nem se eu quisesse falar alguma coisa eu conseguiria, as palavras pareceram fugir da minha cabeça e minha boca sido costurada.

Perto do final, os protestos de dor de Kyungsoo haviam se tornado apenas gemidos chorados do fundo da garganta, mais uma vez, quando tirado da máquina, seus olhos lutavam para ficar abertos e seu pescoço pendia de um lado para o outro, quando foi preso na maca, seu corpo ficou mole quase caindo.

— Isso foi intenso. – Heechul comentou enquanto olhava por algumas folhas presas em sua prancheta. – Vocês realmente são masoquistas, por que passar por todo esse sofrimento? Por que vocês escolhem colocar seus amigos em uma situação dessas e fazê-los sofrer assim? E eu achando que vocês gostavam uns dos outros.

Ele faz uma expressão confusa como se estivesse nos culpando e volta a passar pelas folhas em sua prancheta – Bem, já que o baixinho de olhos grandes se recusa a falar alguma coisa, não importa o que seja feito nele, quem sabe... – ele se demora em sua linha de pensamento se aproximando de mim e, de repente sinto minhas pernas tremerem e começo a morder meus lábios – ele não seja mais receptivo ao ver os amigos dele na máquina de tortura? Começando por esse anão aqui. Seungri, chame os guardas.

Baekhyun protesta um pouco e ouço ainda ele chorar enquanto é colocado na cadeira, isso me revolta, me enfurece, pela primeira vez desde ontem, não me sinto apenas observando.

BAEKHYUN

Precisamos dar um jeito de fugir daqui, não sei qual, mas precisamos.

Estou soluçando de chorar, estava mordendo minhas bochechas para tentar controlar o pânico e o pavor, mas eles venceram a barreira que eu fiz e me inundaram agora, estou soluçando de chorar, o mundo fica turvo por de trás de minhas lágrimas, minha garganta dói e incha conforme me entrego de vez.

Mas mesmo aos soluços, essa frase não sai da minha cabeça, nós precisamos dar um jeito de sair daqui, não importa qual seja, se continuarmos aqui vamos todos morrer, as mortes de Kris e Luhan não podem ter sido em vão.

— Cala a boca! Para com essa choradeira! – Heechul ralha comigo quando Seungri coloca o capacete gelado e pesado e minha cabeça – Vocês fizeram isso com vocês mesmos, se quiser parar com isso a qualquer minuto, você já sabe o que fazer, me fale aonde eles foram.

Eu não paro de chorar, não digo que eles foram para os túneis do metrô, eu só mordo meu lábio inferior e com um controle momentâneo encaro esse desgraçado fundo nos olhos.

Eu quase poderia acreditar que eu o vi hesitando quando o encarei.

— Inicie a sequência desse bebê chorão, isso não deve demorar muito.

O deboche dele é a última coisa que ouço, depois disso, um flash em meus olhos e então, tudo ficou preto.