XIUMIN

O colchão já deve ter um buraco de tanto me virar de um lado para o outro, nunca foi muito fácil de se dormir, já presenciei coisas aqui dentro que gostaria de poder esquecer da maneira que não lembro de nada da minha vida fora daqui, mas essa vez está sendo a mais difícil.

Não sei ao certo se foi o que Suho disse sobre as memórias de nossos amigos caídos, talvez antecipação ou preocupação por ter de voltar para uma área que quase matou vários de nós, talvez o medo do desconhecido.

Escolher um único fator é quase impossível, provavelmente a união de todos me deixou tão tenso e na expectativa, o fato é que não consegui fechar os olhos um único minuto.

O mais estranho é que não estou tão preocupado comigo, mas com os outros, principalmente Baekhyun, Sehun e Lay que têm tão pouca experiência saindo para o labirinto.

Ainda não confio muito em Luhan, continuo com o pé atrás quanto a ele, é inegável, sem ele, muitos, se não, todos nós, estaríamos mortos agora, portanto não tenho o direito de desconfiar dele, mas, é involuntário.

Todas as posições na cama parecem ser incômodas e não consigo relaxar um único músculo, todos parecem estar retesados e prontos para o combate a qualquer momento, não me lembro quando foi a última vez que me senti assim.

Em algum momento acabei cochilando, não foi um breve momento de descanso, acordei assustado quase dando um pulo para fora da cama, não sei ao certo se sonhei alguma coisa ou se foi apenas um fluxo de pensamentos, mas me sinto acelerado de alguma maneira.

Resolvo fechar os olhos e respirar fundo tentando esvaziar a mente de todo e qualquer pensamento, mas memórias insistem em me perturbar essa noite, principalmente das mortes que eu já vi aqui dentro, tudo se intensificando na rebelião.

Ainda consigo sentir o terror daquele dia.

Vívida e claramente.

Assim como imaginava, não consegui dormir nada, mas estou surpreendentemente disposto e sem sono, sou o primeiro a chegar à mesa de pedra e já começo a procurar alguma coisa para comer, como sozinho e sigo para o meio das cabanas para começar a me aquecer.

As marcas do encontro com a grande cobra já foram cobertas, Suho lavou as manchas de sangue e Kyungsoo consertou os buracos no chão de pedra, mas isso foi apenas para uma limpeza mesmo, ainda consigo me lembrar claramente do lugar onde ela estava quando eu cheguei e a vi.

Olho para o lugar onde Chen foi arremessado e ainda o vejo todo ensanguentado, a sombra de Baekhyun caído todo torto e mole continua queimada em minha mente todas as vezes que olho para onde ele estava.

Me alongo prestando atenção em meu corpo e meus músculos, depois faço algumas projeções de gelo para me aquecer e ficar atento.

— Não conseguiu dormir direito, pelo jeito. – Chen chama minha atenção ao se aproximar de mim.

— Muita agitação. – Não olho para ele, apenas continuo com meu aquecimento – Você conseguiu?

— Nada fora do normal, mas estou na expectativa. – Ele cruza os braços em frente o peito e dá um bocejo longo. – Talvez poderia dormir um pouco mais, pelo jeito. – Ele ri.

— Vai comer e vem se aquecer. – Aponto para a mesa.

Alguns minutos depois ele retorna e me acompanha nos alongamentos e começamos a praticar algumas técnicas com nossas habilidades, não demora muito e Suho se levanta, acompanhado por Kyungsoo, o mais baixo com o cabelo bagunçado apontando para todos os lados.

Eles começam a acordar cada um em suas cabanas e logo todos estão indo para a mesa de pedra comer, quando isso acontece, Chen e eu já estamos aquecidos e apenas conversando uma coisa ou outra sem muito foco em nada.

— Toma cuidado, Chen. – Eu peço.

— Você também. – Ele responde sem prestar muita atenção.

— É sério, você é meu melhor amigo aqui dentro, vocês são as únicas pessoas que eu me lembro de conhecer e eu não quero perder ninguém, todo mundo tem que sair daqui. – Eu insisto.

— Vai dar tudo certo, Xiumin, todos nós vamos sair. – Ele me assegura – Nós vamos seguir nossas vidas lá fora, pode apostar. Seja lá quais elas forem.

— É uma promessa, - eu estendo a mão para ele – todos os doze conseguirem sair.

— Você está bem? – Ele pergunta apertando minha mão.

— Só... só promete, ok? Eu não quero que você seja só mais uma memória de um amigo perdido. – Eu peço evitando seus olhos.

Ele solta minha mão e me abraça por um breve segundo, se afasta e me lança um sorriso falando – Todo mundo vai sair daqui vivo.

Eu não respondo nada, apenas assinto.

SEHUN

Não me lembro de já ter comido tanto aqui como acabei de comer, sinto minha barriga estufada e meu estomago pesado, mas resolvi me prevenir e comer bastante para ter bastante energia.

Pelo que sei, hoje acontecerá algo inédito, todos sairão juntos, alguns parecem tranquilos e nem ligar muito para isso, Tao e Kris são um exemplo, estão comendo, conversando e rindo tranquilos.

Já outros parecem nervosos, Lay está torcendo os dedos constantemente, ele já saiu uma vez, não entendo porque todo esse nervosismo, mas vejo que Kyungsoo também anda de lá para cá falando com um e outro alguma coisa que eu não consigo decifrar.

Todos estão inquietos, quase como se sentindo algo grande a frente nesse dia.

Eu só espero não encontrarmos frustração e nada mais.

Não demorou muito e todos nós estávamos em frente a grande parede de pedra e gelo na saída para o labirinto, todos acabaram se vestindo parecido, calças confortáveis e blusas leves. Tínhamos que garantir o máximo de mobilidade e praticidade para sair.

Suho está à frente do grupo, Kyungsoo ao seu lado, eles parecem conversar algum último detalhe, Kris é chamado e os três conversam brevemente e assentem algumas vezes. Ele passa a mão pelos fios muito claros de seu cabelo loiro, respira fundo e então começa a falar.

— Nesses últimos dias eu tentei casar habilidades da melhor maneira possível, é claro que alguns conseguem se adequar melhor do que outros, mas no geral, temos habilidades que podem se complementar.

“Eu consultei o Kris e o Kyungsoo tentando unir da melhor maneira, mas caso vocês não concordem com alguma escolha, podem falar também. Kyungsoo, Lay, Chen, Sehun, Chanyeol e Kai serão uma equipe e o restante, a segunda esquipe. ”

— Eu acho melhor eu ficar na primeira equipe, - Tao levanta a mão – e colocar dois novatos no labirinto junto com dois mais antigos.

— Porque? – Suho pergunta já pensando se faz sentido o que ele está falando.

— Mais proteção, mais experiência, e ficaria mais equilibrado, na minha visão. A minha equipe teria três pessoas boas em ataque e suporte, a sua seria muito mais forte na ofensiva. – Tao explica.

— E a sua seria uma equipe de pura força, mais fácil de proteger os dois novatos, - Kyungsoo segue a mesma linha de pensamento – faz sentido.

— Estão todos de acordo? – Suho pergunta.

Todos assentem.

— Ótimo então, quando chegarmos lá, as equipes se dividem e começam a explorar. Cobriremos uma área menor, mas estaremos mais protegidos. Essa é apenas a primeira tentativa de exploração em grupo, já que não temos mais segurança aqui – ele levanta os braços gesticulando para as cabanas – não é mais prudente nos separarmos, caso percebamos que existe alguma oportunidade de separarmos equipes melhores, nós o faremos, sem problemas.

— Aquela seção do labirinto é um mistério para todos nós, não se esqueçam que encontramos criaturas que nunca havíamos dado de cara antes e ainda fomos enganados a quase matarmos uns aos outros. – Kyungsoo reforça olhando para cada um de nós enquanto fala.

— Para os que ainda não exploraram essa nova área, fiquem atentos ao máximo, fiquem perto de quem já o explorou e obedeçam ao que dissermos, podemos saber pouco sobre ela, mas pelo menos é alguma coisa. – Kris adiciona de braços cruzados parecendo pensar enquanto falava, sobrancelhas franzidas e trocava o peso do corpo de uma perna para a outra.

— Graças as explorações que fizemos nos últimos dias, sabemos que o caminho para lá ainda existe e a própria seção não parece tão diferente do que lembramos, - Suho prossegue – o que é ao mesmo tempo bom e estranho. Tudo está muito calmo nesses últimos dias.

“Da última vez que estivemos lá, exploramos os três corredores, mas hoje exploraremos apenas dois. Kris nos levará ao local onde ele e Kyungsoo encontraram uma parede invisível e um gás mexeu com sua cabeça. A outra equipe irá explorar o corredor onde havia a sala com os nomes e fotos. O corredor do meio foi onde eu e Chen quase morremos então, deixaremos por último, talvez todos indo juntos... ainda decidiremos isso, mas no momento é isso. ”

Dito isso, a parede de pedra e gelo é desfeita e começamos a andar, meio que inconscientemente, as equipes já se dividiram, estou ao lado de Luhan e Baekhyun, Xiumin a nossa frente enquanto Suho e Kris andam atrás de nós. Kai e Chanyeol guiam todo o grupo, Tao está logo atrás deles, Kyungsoo, Chen e Lay conversam baixo alguma coisa mais à frente de Xiumin.

Todos estão tensos e apenas parecem falar o necessário para combinarem e se ajudarem com determinados tipos de golpes ou habilidades.

Eu estou calado porque, além de estar tenso, ansioso e na expectativa de que a qualquer momento algo possa acontecer, também estou pensativo, tive uma boa noite de sono, eu realmente apaguei totalmente, mas eu tive um sonho, consideravelmente estranho.

Hoje de manhã acordei com uma imagem estranha na mente, um cachorro branco, de pelo volumoso sentado em meu colo e Luhan jogando alguma coisa para longe e o cachorro pulando e saindo correndo atrás do objeto arremessado.

— Deixa a Vivi quieta no canto dela, Luhan! – Eu lembro de ter resmungado no sonho.

— Eu te dei essa cadela e eu quero brincar com ela também, ok? – Ele apontou o dedo para mim em protesto.

Depois disso eu acordei com um sorriso fraco, mas estava lá, e uma sensação gostosa no meu peito, mas ao mesmo tempo, uma saudade que eu não sabia identificar do que ou de quem.

O que aquilo poderia significar, se é que significava alguma coisa, eu não fazia a mínima ideia, não falei para ninguém disso, até porque era sem sentido algum eu sonhar com alguém daqui de dentro com um cachorro.

Mas ao mesmo tempo, meu peito acordou tão apertado por não ter aquele cachorro branquinho comigo, como se eu o conhecesse e o amasse há muito tempo.

— Está nervoso? – Baekhyun me pergunta baixinho.

Eu demoro um segundo para entender a pergunta e que ela é para mim – Pensativo. – Lhe ofereço um sorriso sem entusiasmo.

— O que um desmemoriado igual você pode ter para pensar tanto? – Ele me provoca com uma risadinha fraca também. – Deixe para pensar no que quer que seja em outra hora, foco na missão. – Baekhyun estufa o peito de maneira exagerada e da passos duros e mecânicos.

— Anotado. – Digo o imitando por um segundo.

Mas todos estão tão sérios, tensos e concentrados que nossa breve brincadeira parece deslocada e incomodar demais.

— De qualquer forma, temos o Luhan na nossa equipe para nos proteger caso seja necessário. – Baekhyun voltou a falar, como de costume, dessa vez chamando a atenção do Luhan – Um piscar de olhos e qualquer criatura metida a besta é partida em dois.

Ele parece ser pego de surpresa também, olhava para baixo muito concentrado, sobrancelhas juntas e uma ruga na testa e lábios finos e contraídos de tanto se concentrar.

Sua expressão mudou e ele olhou para os lados confuso, até mesmo parou de andar por um momento quase fazendo Kris esbarrar nele. – O que você disse?

— Mais um que está no mundo da lua... porque eu disse isso? Enfim, mais um que está longe daqui. – Baekhyun se corrige ao perceber que falou mais uma expressão que ninguém sabia ao certo o que queria dizer – Eu estava falando que se precisássemos, você nos protegeria, mas não sei mais se acredito nisso.

— Ah, isso, - ele dá um breve sorriso – pode confiar em mim, se algo acontecer, eu os protegerei com tudo que tenho. – Ele assegura.

Por um segundo fico intrigado.

O sorriso que ele deu agora, no sonho que tive, foi exatamente o mesmo sorriso, sincero, honesto, quase aconchegante, mesmo sem nunca ter o visto sorrir antes.

Por algum motivo, me sinto seguro, acredito em suas palavras e sei que se for necessário, ele fará de tudo para nos proteger. Mas porque sinto isso? Não faz o mínimo sentido confiar mais nele do que nos outros rapazes.

— Pessoal, - Chanyeol chama nossa atenção com sua voz de trovão – acho que vocês já estão vendo essa luz forte vindo daquele corredor mais à frente. – Virando à direita uma luz branca cintilava banhando o corredor – No fim daquele corredor, é a nova seção do labirinto.

— Novatos, - Suho fala atrás de nós – não se enganem, essa luz só emana para o lado de fora por algum motivo estranho, lá dentro é bem complicado de se enxergar. Chanyeol, Kris, Baekhyun e Chen iluminarão o caminho para nós do jeito que puderem, então não se afastem e se mantenham atentos.

É isso.

Chegamos.

Meu estomago se revira de antecipação.

Olho para o lado e conforme começamos a andar, Luhan fecha os olhos, talvez se concentrando e se acalmando, não sei, mas ele não fala uma única palavra.

A luz quase me cega quando viramos à direita e ela estoura banhando o corredor a nossa frente, a cada passo sinto meu coração acelerar mais e mais até que não sei como estou vivo com o ritmo que ele assumiu, mas é impossível não perceber como Luhan começou a ofegar ao meu lado.

Olho para o lado e vejo Baekhyun o observando com a mesma expressão que eu acho que tenho nesse momento. – Qual o problema dele? – Ele mexe os lábios me perguntando em silêncio e eu apenas balanço a cabeça indicando que não faço ideia.

— Todos tenham muito cuidado. – Kyungsoo nos recomenda uma última vez quando as equipes se separam e cada uma toma um rumo.

De repente, um estralo muito alto como se algo se soltasse ou quebrasse debaixo dos nossos pés e a pouca luz que já era precária, parece oscilar e ficar ainda mais fraca.

— O que houve? – Luhan se espanta ao meu lado abrindo os olhos em surpresa.

Tudo vira uma bagunça rápida e instantânea, antes mesmo de nos separamos, todos já recuaram e se colocaram um de costas para o outro em volta de Lay o protegendo.

— Clareiem nossas visões. – Suho manda e no mesmo instante Chanyeol faz um círculo de fogo acima de nós, Kris atira uma bola de fogo para o corredor da esquerda, Chen projeta um raio para o da direita e Baekhyun para o corredor logo a nossa frente.

O lampejo de Luz de Baekhyun voa livre pelo corredor o iluminando fazendo fantasmas nas paredes no escuro, o raio de Chen bate em uma parede e a chama de Kris se espalha em uma parede um pouco mais próxima de nós.

Sinto meu coração quase saindo pela boca nos segundos que todos ficam parados em guarda para qualquer coisa que possa aparecer e nos surpreender.

Não sei quanto tempo ficamos assim, mas nada acontece.

— Mal começo. – Chen resmunga.

TAO

Se antes já estávamos apreensivos, o estouro logo na nossa chegada só serviu para intensificar isso vezes dez, pelo menos em mim foi esse o resultado, mas nos dividimos nas equipes acordadas e seguimos nossos caminhos.

O oscilar da luz dos raios de Chen incomoda minha visão um pouco, fica difícil focar ou se acostumar com ela, mas ainda é melhor do que andar no escuro, mesmo ele estando atrás de todo o grupo, nos dando cobertura.

— Era tão escuro assim da outra vez que viemos aqui? – Ele pergunta um pouco atrás de mim – A luz não voltou ao normal depois daquele pipoco ou é impressão minha?

— Ela voltou, mas já estava muito mais fraca do que antes. – Kai responde mais à frente – Desde o dia que viemos apenas reconhecer terreno e ver se essa seção ainda estava aqui nós percebemos isso.

— Estamos procurando algo em específico? – Lay pergunta baixinho e eu não sei se é por medo ou para evitar chamar atenção de alguma criatura por perto. – Vocês se lembram de algo que chamou atenção de vocês, além daquela sala?

— Nada que me venha à memória. – Chanyeol responde à frente do grupo, corpo envolto em um manto de chamas e projetando algumas para o teto iluminando nosso caminho.

— Qualquer coisa que possa nos chamar atenção, - Kyungsoo responde ao lado de Lay – já que da última vez não houve nenhum mistério igual ao que eu e Kris encontramos, estamos aqui para explorar e procurar qualquer coisa que possa chamar nossa atenção.

Nós andamos por alguns minutos, único som que ouvíamos era dos raios na mão de Chen e o trepidar das chamas de Chanyeol, olhando para os corredores sempre atentos a possíveis detalhes ou informações que pudéssemos estar deixando passar, como Xiumin informou, realmente existem desenhos na parede aqui e ali.

Passamos por uma das paredes que refletiam ataques que eu e Chanyeol demos de cara da primeira vez, ficamos atentos a possibilidade de aparecer aquela mesma criatura estranha sem olhos, mas nenhuma apareceu.

— Tudo está muito calmo, não acham? – Eu pergunto – Quero dizer, tirando aquilo lá atrás. – Me corrijo a tempo.

— Calmo demais. – Kyungsoo responde. – Eu não gosto disso.

— Você preferia que estivéssemos sendo perseguidos já logo de cara? – Chen resmunga atrás de mim.

— Não era você que sempre gostava de matar qualquer criatura que aparecesse na sua frente? – Kyungsoo provoca.

— Entre cobras e sapos gigantes eu acabei desenvolvendo um amor maior a minha vida, ok?

— Está ficando cansado? – Kai também o alfineta.

— Cala a boca. – Chen se limita a dizer apenas isso.

— Estamos perto da tal sala com as fotos, rapazes? – Lay pergunta baixinho, quase baixinho demais.

— Acho que sim...só espero não darmos de cara com o enxame de insetos novamente. – Chanyeol responde. – Kai, esquerda, não é? – Ele pergunta ao chegarmos a uma bifurcação. Não andamos mais que quinze passos quando uma luz se acende a nossa esquerda quase na altura da cabeça de Lay.

Imediatamente me coloco em uma zona temporal diferente me acelerando e começo a olhar em volta buscando qualquer sinal de perigo ou de criatura, todo mundo fez questão de dizer que quando essa luz se acendia, ficávamos presos com criaturas nos atacando.

Ando para trás e sinto que a barreira transparente já está ativa e não muito longe de Chen, corro para a frente do nosso grupo e então vejo o grande corpo preto como carvão sentado nas patas traseiras levemente curvado para frente, totalmente liso, sem pelo, escama, nada, quase parecia polido, patas dianteiras que se arrastavam no chão, com quatro garras afiadas, o mesmo focinho oval sem olhos e boca rasgada na carne.

Parecia ser uma variação da criatura preta e fluida que encontrei da primeira vez que estive aqui, no topo de sua cabeça, eu não sabia ao certo definir se eram orelhas, antenas ou ossos, mas duas pontas oblongas se esticavam por baixo da pele preta polida quase como se estivessem a ponto de estourar ou rasgar.

Passo alguns poucos segundos tentando entender o que estou vendo, então, sua cabeça pareceu se mexer muito rápido, quase como se estivesse na mesma velocidade que eu, então sua pata avança em minha direção me pegando de surpresa.

Eu não consegui fugir e apenas coloquei os braços na frente do corpo para me proteger do impacto, o chão sumiu dos meus pés, uma dor lancinante em meus braços e minha barriga e eu sabia que havia sido rasgado pelas patas dele.

Eu caio aos pés de Chanyeol e desativo minha zona temporal, o mundo começa a girar ao meu redor e ficar de olhos abertos parecia tão difícil, ou seria um efeito colateral da dor que sentia corroendo minha carne de fora para dentro?

— Ele... ele consegue...ele é rápido. – Eu balbucio com dificuldade em respirar.

KAI

Em menos de um mesmo segundo eu senti Tao correndo ao meu lado a velocidade máxima e o vi cair aos pés de Chanyeol com os braços faltando pedaços de carne e o abdome aberto exalando um cheiro de sangue nauseante.

Imediatamente, Kyungsoo já ergueu várias paredes na nossa frente, eu e Lay puxamos o corpo de Tao para trás para que ele pudesse começar a cura.

— Ele disse alguma coisa sobre ser rápido? – Chen pergunta já ficando na nossa frente para nos proteger se fosse necessário lutar.

— Mais rápido que ele? – Chanyeol se espantou mais à frente.

— Segura ele forte, Kai, isso vai doer. – Lay me instruiu.

Eu sento em cima das pernas dele e Lay começa a fechar a ferida em seu abdome, assim que o processo se inicia, Tao começa a gritar de dor e se retorcer no chão, quase me arremessa longe devido à força que ele se contorce, pelo menos a cura está funcionando.

Um rugido estranho e estridente é ouvido além da parede que Kyungsoo ergueu e uma pancada tão forte nela que uma rachadura surge no mesmo instante, mais uma pancada e até mesmo um pedaço de pedra cai da parede.

Kyungsoo empurra o braço para frente com a palma da mão virada para a parede e três estacas de pedra se erguem do chão apontando para a parede tomando todo o corredor, impedindo que algo ou alguém passe para qualquer lado.

Mais uma pancada forte e barulhenta e a parede se desfaz em vários pedaços, entre eles a criatura aparece, maior do qualquer um de nós, com certeza, corpo grande, parecendo ter muita força, mas com o impulso que tomou para quebrar a parede ela será empalada pelas estacas de pedra com toda a certeza.

Para meu espanto, mesmo sendo tão grande, larga e ainda no embalo, a criatura, de alguma forma, pareceu se derreter e ser feita de água ao passar por entre as estacas como se jorrasse por entre elas e então se refazer em todo seu tamanho bem na nossa frente.

Nenhum dos três esperou um segundo sequer e já atacou, raios voaram na direção dela, mas, mais uma vez, seu corpo pareceu ser feito de água e apenas se retorceu de maneira errada e se esquivou, as chamas quase acertaram sua cabeça, mas ela apenas se dividiu ao meio e o fogo passou direto.

Dois blocos de pedra se levantaram para esmaga-la, mas ela foi mais rápida e se retorceu para escapar e Kyungsoo não foi rasgado ao meio pelas enormes garras apenas porque ele conseguiu erguer um pilar de pedra que o jogou para trás antes.

Mas isso não desanimou a criatura que correu, saltou atrás dele com suas patas traseiras musculosas e em um segundo estava em cima dele, pronta para o ataque.

Eu sumo no meio do ar, reapareço ao lado de Kyungsoo, pego sua mão e sumo mais uma vez aparecendo ao lado de Lay e um Tao quase curado.

— Como essa coisa se esquiva de tudo daquele jeito? – Kyungsoo pergunta desesperado – Ela é intocável desse jeito! Se for rápida igual o Tao estamos mortos.

— Eu...ah... eu acho que não. – Tao tem dificuldade de sentar-se, seus braços ainda têm grandes rasgos, mas seu abdome está totalmente fechado – Ela definitivamente consegue se colocar em uma zona temporal quase igual a minha, mas a minha é mais rápida.

— Por isso que você está todo estropiado desse jeito? – Lay se irrita pegando seu braço esquerdo com as duas mãos continuando o processo de cura.

— Eu fui pego de surpresa... mas eu ainda sou mais rápido. Eu acho que consigo pensar em um jeito de dar conta desse monstrengo.

Olho para frente e Chen está fazendo tudo que pode para manter a criatura estranha ocupada e impedir que ela avance em nossa direção, para nossa sorte, os raios parecem surtir efeito, mesmo se movendo rápido, ela ainda tem dificuldade em se esquivar deles.

— Tem certeza que ela consegue fazer o mesmo que você? – Eu pergunto – Se ela conseguisse, simplesmente já o teria atacado e não ficaria apenas desviando.

— Alguma coisa não está certa... – Tao pensa alto seguindo cada movimento da criatura a nossa frente. - Esse...bicho, ele não entra e sai das zonas temporais igual eu entro e saio.

— Explica mais rápido. – Kyungsoo o apressa sem tirar os olhos dos rapazes a nossa frente, Chanyeol e Chen estão conseguindo evitar o avanço do monstrengo, mas não podemos apena ficar dependendo deles e evitando a criatura.

— Ele demorou uns três segundos antes de conseguir me acompanhar e pelo jeito ele não consegue fazer por muito tempo ou várias vezes seguidas, se ele conseguisse, já estaríamos mortos, não teria porque ele apenas desviar daquele jeito igual líquido.

Todas as vezes que o Tao falava de zonas temporais e coisas do tipo eu nunca entendia, nunca entendi como ele funcionava, na verdade, mas até que consigo achar certo sentido no que ele acabou de falar.

— E o que nós fazemos com essa informação? – Kyungsoo pergunta irritado e urgente.

— Nada ainda, mas eu preciso que vocês se deem cobertura, eu vou tentar usar o Chanyeol para entender como esse monstrengo funciona. – Tao responde. – Lay, fique atento... você será nosso truque secreto.