TAO

Estar aqui com Luhan e Kai mais uma vez é estranhamente familiar e não em um bom sentido, não consigo evitar as lembranças das paredes quase nos esmagando, isso só deixa ainda mais claro como nós estávamos acomodados, achando que sabíamos tudo que podíamos precisar saber e então o labirinto nos dá uma pancada bem na cabeça.

Andamos pouco, não acho que mais de cinco minutos, damos passos rápidos, eu estou mais à frente, Luhan atrás e Kai por último, não ouço barulho algum, os minutos passam e continuamos andando e não encontramos nenhuma criatura.

— Acho que podemos deixar o Luhan tentar mapear o labirinto um pouco. – Kai fala mais atrás – Tentar ver se encontra alguma criatura.

Me viro para ele e vejo um olhar determinado no mais baixo, parece muito concentrado. Ele não fala nada, apenas fecha os olhos, uma ruga aparece entre suas sobrancelhas quando ele se concentra mais.

Sua cabeça se move um pouco para a direita e depois para a esquerda, levemente, eu só vi porque estava prestando muita atenção nele.

— Não vamos pela direita, acaba dando em um beco sem saída, - ele comenta ainda de olhos fechados – virando à esquerda, depois a terceira a direita, existem criaturas... parecem pequenas, mas acho melhor evitarmos... vamos pegar a segunda à direita... é a rota que parece se alongar mais.

Ao terminar ele tem um pequeno susto ao ver todos nós o observando de perto, a curiosidade maior do que podíamos controlar – Eu falei algo errado? – Ele pergunta confuso.

— Não... não, não é isso, - eu começo a me explicar sem jeito – é só... ficamos intrigados com o jeito que você... você... fez... o que você fez...

— Você consegue fazer isso sem ter que parar? – Kai pergunta já começando a seguir a rota instruída por Luhan – Digo, enquanto anda, ficaria mais prático tanto para você quanto para nós.

— Eu posso tentar. Ainda estou tentando entender como isso funciona, na verdade. – Ele explica inseguro.

— Por enquanto você pode se preocupar em tentar fazer isso, mais para frente focaremos em decorar rotas. – O asseguro conforme começo a seguir o caminho que ele disse.

Assim como ele previu, o caminho dito foi realmente o que mais se alongou, ele parou mais duas vezes para mapear ao seu redor, graças a ele nós conseguimos evitar o que parecia ser um trio de A2 pela descrição dada que estava bem perto.

— As próximas que você encontrar pelo caminho, tente esmagá-las. – Kai o incentiva animado.

— Vou tentar. – Luhan agora parece estar mais tranquilo e mais solto, até mesmo confiante. Isso é bom, só não pode deixar isso lhe subir à cabeça e ficar confiante demais.

— Isso pode ficar para um outro dia, Kai, vamos focar em analisar o labirinto por hoje, o foco de hoje é de rotas. - Eu o repreendo. – Foco. Você consegue fazer seu caminho de volta pelo que você já explorou, Luhan?

A pergunta parece pegá-lo de surpresa e ainda o irritar quando ele percebe que não consegue. Ele fecha os olhos e tenta puxar pela memória tudo que ele viu ou sentiu, não sei qual, e formar o caminho de volta, mas é inútil.

— Como vocês conseguem fazer isso? – Ele pergunta irritado – Guardar tantos caminhos? Eu não faço ideia de como voltar.

— Muito tempo de prática. – Kai responde sarcástico. – Não se preocupe, por hoje o foco era outro, na próxima vez que sair, foque mais nos caminhos.

— Algum dia vocês chegaram a se perder? – Ele pergunta ainda irritado consigo mesmo.

— Nós dois nunca nos perdemos porque todas as vezes que saímos eram com outros rapazes que estavam aqui há mais tempo. Eles eu não sei. – Respondo. – Imagina a primeira pessoa que chegou aqui? Como será que ela se virou?

— Essa saída deve estar muito bem escondida. – Luhan comenta desanimado.

— Bem, não temos muito mais o que fazer a não ser tentar acha-la, não é? – Kai pergunta amargurado – Faça mais um mapeamento.

Luhan para, fecha os olhos e começa a fazer seja lá o que ele fazia, eu realmente não conseguia saber de onde vinha aquela força invisível e nunca parei para perguntar também, nada aqui dentro era muito fácil de se explicar.

Eu controlo o tempo... mas como eu faço isso? Não me pergunte.

Ele abre os olhos de repente em uma mistura de surpresa e felicidade, os cantos de sua boca se levantam levemente e ele parece muito animado. – O que foi? – Pergunto confuso. – O que você encontrou?

— Eu? – Ele pergunta de volta parecendo confuso – Eu... eu não encontrei nada... eu... eu consegui matar uma criatura à distância... era uma pequena. – Ele responde com um sorriso um pouco nervoso.

— Sério?! – Kai se anima. – Onde ela está?

— Ela... ela... vamos segunda à esquerda e primeira a direita. – Ele responde depois de pensar um pouco demais. - Mas eu queria tentar uma outra coisa, aproveitar para tentar outra habilidade.

— Certo, o que é? – Pergunto curioso para saber qual truque ele vai tentar agora.

— Eu quero tentar... – ele fala já fechando os olhos e parecendo se concentrar em alguma coisa – quebrar...tentar fazer uma marca na pedra...

— Aqui? Para que? – Kai pergunta confuso assim como eu.

— Eu quero tentar ter uma ideia de qual o alcance dessa minha habilidade, sabe? Qual a distância que eu consigo esmagar criaturas. – Luhan se explica rápido e tropeçando em algumas palavras e ver quanta força e controle consigo ter.

Ele aponta as duas mãos para o chão e a pedra começa a craquelar e quebrar em um ponto específico, conforme ele desenha um círculo ao seu redor com as mãos, o chão se quebra acompanhando seu movimento até que ele está no meio de um desenho de círculo completo no chão, relativamente fundo e muito bem definido na pedra cinza.

— Eu não fazia ideia de que você podia fazer isso. – Kai se espanta – Será que você consegue furar as paredes e fazer um caminho reto? – Ele se empolga.

— Foco, Kai, foco, podemos tentar fazer isso outro dia. – Eu o chamo de volta a realidade.

Nós seguimos o caminho descrito por Luhan e de fato damos de cara com um A2 solitário com a cabeça amassada igual aquele bicho verde que tentou me matar quando achamos o Luhan.

— Incrível! – Kai se espanta. – Vamos procurar mais!

— Kai, você está esquecendo o motivo real de termos saído hoje, temos que achar a entrada para a nova seção do labirinto, Kai, o Luhan já teve um treino suficiente por hoje. – Tento conter o entusiasmo de Kai. – Conseguimos mapear e ainda matar a distância.

— Você tem razão. – Kai concorda um pouco a contragosto. – Luhan, você fica observando e tentando decorar as rotas, vamos te perguntar periodicamente.

— Na verdade, tente fazer mais um mapeamento e tente ver se percebe corredores diferentes, acredito que estamos perto da nova seção do labirinto. – Eu intervenho e sugiro mais um foco de treinamento.

— Certo, mas antes, eu vou tentar refazer o caminho que nos trouxe até aqui. – Luhan fala animado e começa a olhar em volta, fecha os olhos e parece estar tentando mapear mais, ouço ele resmungar algo consigo mesmo, mexe a cabeça levemente mais algumas vezes de um lado para o outro e depois se irrita. – Eu não consigo formar o caminho de volta.

— Teremos outras oportunidades, pode ficar tranquilo. – Eu o acalmo – Anda, agora é comigo e com o Kai.

— Posso tentar fazer uma cruz aqui? – Luhan pede – Bem aqui, foi onde eu encontrei esse...A2? – Ele pergunta sem saber o nome da criatura – Ele me escapou um pouco, mas foi bem aqui, posso tentar, por favor?

E assim ele o fez, se concentrou, com o movimento dos braços, desenhou uma cruz no chão, como se tivesse furado a pedra com alguma coisa, profundamente e bem definida – Eu só...preciso ver se consigo identificar o local do círculo... – Luhan fechou os olhos mais uma vez – Bom, isso eu consigo... foi uma boa distância, não foi? – Ele pergunta orgulhoso.

— Com certeza. – Kai o anima. - Agora a nova seção do labirinto, acho que estamos perto.

SUHO

Odeio admitir isso, mas não me sinto particularmente otimista quanto à irmos todos analisar a nova área do labirinto, tenho muito medo pelos outros, principalmente Lay, Sehun e Baekhyun.

Por isso que nesse momento estou tendo tanta dificuldade em tentar separar quem deve ir com quem reconhecer os novos corredores de pedra rústica e grossa.

Kyungsoo está sentado à mesa onde fazemos nossas refeições com doze pedrinhas e, com a ajuda de Chen, tentamos organizar da melhor maneira possível para que todo mundo possa se ajudar e tentar maximizar nossa força.

— Se tivéssemos mais uma ou duas pessoas contra aquele sapo gigantesco, talvez não tivéssemos sofrido tanto. – Chen observa.

— A ideia de duas equipes de seis pessoas ainda é o mais aconselhável, - Kyungsoo observa sem tirar os olhos das pedrinhas – pode ser que cubramos uma área menor e levemos mais tempo, mas é o mais prudente.

— Particularmente, estou mais interessado no que possa vir a ser aquela barreira que você e Kris encontraram. – Observo – Pelo menos nesse primeiro momento, acho que isso seria o mais prudente e importante, afinal, você e Kris quase acabaram se matando por um gás que foi expelido, porque haveria tanta proteção ali?

— É uma ótima pergunta. – Chen concorda. – Uma equipe investiga isso, que aliás precisa ter o Sehun para neutralizar esse gás, e a outra vasculha para tentar achar alguma outra coisa que possa vir a chamar atenção. – Ele conclui andando de um lado para o outro enquanto pensa.

— Eu acho que a tal sala com nomes de todos que já estiveram aqui deveria ser vista. – Kyungsoo aponta me pegando de surpresa.

— Porque, exatamente?

— Eu não sei ao certo, mas algo nela não parece certo, algo me intriga muito. Pelo que foi dito, ela era diferente do resto do labirinto, certo? E não faz muito sentido, colocar o que seria o arquivo do que quer que seja isso tudo... aqui dentro e ainda ao nosso alcance de certa maneira.

— A menos que quisessem que achássemos, talvez. – Chen indaga parecendo seguir o mesmo raciocínio de Kyungsoo. – Mas porque iriam querer que nós encontrássemos? – Ele para de andar e olha para Kyungsoo pensativo.

— Exatamente. – Kyungsoo continua com seus pensamentos – Nunca esteve tão claro e óbvio que alguém controla isso de perto, mais de uma vez aconteceram coisas em momentos muito específicos para dizer que foi coincidência ou azar nosso.

— O próprio Tao disse algo nesse sentido. – Concordo com os dois – Bem, não posso negar que algo pareceu mudar na dinâmica daqui já faz alguns dias.

— Se é que havia alguma dinâmica aqui antes. – Chen exaspera.

— Pare e analise, Chen, - começo a elencar meus argumentos – nunca o labirinto mudou enquanto estávamos lá, nunca houveram tantas criaturas nos atacando de uma só vez como foi o caso dos brutamontes, nunca tivemos um bloqueio coletivo onde ninguém conseguisse usar seus poderes de maneira alguma, criaturas novas aparecem e ainda por cima somos atacados aqui dentro? Tudo isso aconteceu de uns dias para cá.

— Quase como se alguém tivesse realmente querendo nos testar ao nosso limite. – Kyungsoo concorda. – E tudo isso começou a acontecer, mais ou menos depois de termos encontrado a nova seção do labirinto.

— E depois que o Sehun chegou também. – Eu acrescento. – Não esqueçam que até ele chegar, nem mesmo encontrávamos muitas criaturas aqui dentro, depois dele, todo esse caos começou a acontecer.

— Eu não tinha pensado nisso. – Kyungsoo se surpreende e fica um momento em silêncio encarando o vazio juntando as partes em sua mente.

— Eu havia percebido essa proximidade dos fatos, - Chen comenta acanhado – eu só não quis dar a entender que estava encrencando com o Sehun.

— Você fez bem, - eu o asseguro – não sei se isso poderia ser benéfico para alguém, poderia ser justamente o contrário.

— Nada faz sentido aqui! – Kyungsoo se irrita puxando o cabelo com raiva. – Eu só quero poder viver uma vida normal... seja lá o que for normal.

Isso deixa nós três em silêncio um momento, sem saber ao certo o que poderia ser normal, o que poderia ser a vida fora daqui. Ao mesmo tempo que quero sair e me ver livre desse labirinto maldito e de todo esse perigo que é viver aqui dentro com tantas coisas sempre tentando me matar, não saber o que pode me esperar fora daqui, também me assusta e me deixa ansioso.

— Como pode? – Chen pergunta primeiro, em tom de admiração e raiva ao mesmo tempo – Como que eu sei que eu tenho que sair daqui, que eu tenho mãe, pai, mas não saber nomes, rostos, só saber que tenho algo a viver fora daqui?

— Nós sabemos que isso não é certo, mas não fazemos ideia do que possa vir a ser o certo. – Kyungsoo adiciona com os cotovelos apoiados na mesa e a cabeça entre as mãos de maneira desleixada fazendo seu rosto ficar esticado em uma careta que nos faz rir e depois cairmos em outro momento estranho e silencioso. – Eu só quero sair daqui e viver seja qual for a minha vida.

— Vamos voltar a divisão das equipes, sim? – Chen se empertiga mudando de assunto voltando a andar de um lado para o outro – Ainda não finalizamos isso e para sairmos daqui, precisamos, primeiro, montar as equipes.

— Exatamente, - concordo tentando deixar o momento triste para trás – Kyungsoo, as pedras. Tem que estar tudo muito bem alinhado para dar tudo certo.

Depois de dividirmos as duas equipes, Kai, Tao e Luhan voltaram em segurança e com uma notícia que eu julgava impossível e pareceu dar um fôlego de ânimo que precisávamos.

Todos estão em volta deles ainda perto da barreira de pedra e gelo na porta que dá para o labirinto, eles fizeram questão de gritar que tinham boas notícias e queriam fala-las imediatamente.

— Achar foi fácil, e melhor ainda, parece que nada mudou, tudo parecia estar da mesma maneira de antes. – Kai informou mais que empolgado – Nós andamos um pouco pela área que eu e Chanyeol exploramos e nada pareceu mudar, pelo menos pelo que eu me lembro.

— Isso é possível? – Chanyeol se espantou. – Os corredores continuam iguais e na mesma disposição?

— Será que conseguiremos sair por lá? – Xiumin se anima – Se não mudou nada, pode ser mais fácil de explorar e descobrir a rota.

— Nossos dias nesse inferno de céu roxo estão contados! – Baekhyun se exaltou de animação.

— Cuidado, isso pode ser interpretado de outra maneira. – Kris o repreendeu e o menor ficou de olhos esbugalhados quando entendeu o segundo sentido de sua fala.

— Pessoal, vamos nos acalmar, isso é sim muito bom de se saber, mas não podemos abaixar nossa guarda ou ficar cegos por animação e deixar detalhes passarem. – Eu os acalmo, embora eu mesmo esteja bastante eufórico e animado com a notícia. – A parte boa, é que talvez saibamos o que nos espera e que poderemos explorar mais a fundo o que já conhecemos.

— É, mas se sabemos o que nos espera isso também pode ser um problema. – Sehun observa – Quer dizer, você e o Chen se depararam com uma barreira invisível quando deram de cara com o sapo gigante, não foi?

— E aquele monte de brutamontes chifrudos que nos atacaram. – Lay relembra – Será que eles poderiam estar por lá também?

— É uma possibilidade, eu ainda não entendo como aqueles trambolhos de carne surgiram do nada daquele jeito. – Chanyeol confessa ao se lembrar das criaturas cinzas de chifres enormes que eu não vi por estar desmaiado.

— É um risco que teremos de correr, - Kyungsoo admite – ninguém disse que seria algo fácil de ser feito.

— Por isso que iremos treinar com todo nosso foco nos próximos dias, dividindo entre equipes de treino aqui dentro e saindo para explorar e treino de rota, especialmente para os quatro que menos saíram. – Aponto para Luhan, Lay, Sehun e Baekhyun. – Estamos tentando ao máximo montar as equipes de maneira a atingir o máximo potencial e poder com nossas habilidades, mais do que nunca precisaremos do total entrosamento e de confiança entre nós.

— Por hoje vamos descansar e tentar distrair nossas mentes, amanhã vamos começar com os treinos. – Kyungsoo adiciona animado, mais animado do que eu esperaria.

— Como nosso amigo Baek disse, nossos dias aqui dentro estão contados, mas no bom sentido. – Eu tento rir um pouco, apesar da seriedade do assunto.

Mais tarde naquele mesmo dia, nos sentamos à mesa para comer e, pela primeira vez desde que Luhan havia chegado, mesmo com todas as coisas que aconteceram e com a iminência do que estamos para enfrentar, tudo parecia tão leve, tão calmo, a palavra certa para descrever qual era a sensação adequada ainda parecia fugir, nada parecia adequado para descrever.

Todos pareciam tão em paz, tão calmos e confortáveis uns com os outros, até mesmo estavam começando a aceitar melhor a presença de Luhan, ele poderia ter as mesmas habilidades de alguém que nos causou tantos problemas, porém, ele não parecia partilhar da mesma loucura que ele.

Eu fui o primeiro a sair da mesa e ir para minha cabana, queria descansar bem, queria estar disposto e energético para passar segurança para todos amanhã, mas não foi o que meu cérebro pensou, apenas deitei em minha cama e fiquei acordado fitando o teto e pensando em mil e uma coisas.

Não demorou muito e Kyungsoo adentrou a cabana também, parecia se recuperar de uma boa gargalhada.

— A piada foi boa, não?

— Ainda acordado? – Ele se espanta sentando-se em sua cama e jogando a camisa para um lado qualquer da cabana. – Pensei que já estaria desmaiado.

— Era a ideia, mas meu cérebro resolveu se manter acordado pensando no que não deve.

— Nem me fale. – Ele ri baixinho, mais um riso nervoso do que de fato de humor.

— Você está bem? – Pergunto depois de um certo silêncio.

— Apavorado. – Ele admite rápido.

— Somos dois.

— Ninguém pode morrer, só... ninguém pode. Eu não posso deixar isso acontecer. – Apesar das palavras sérias e duras, sua voz era suave quase como se estivesse apenas reconhecendo um fato, uma decisão simples dele. Eu sabia que ele estava tenso com toda essa situação.

— Ninguém vai morrer, nós vamos sair daqui, todos nós. Agora tente descansar um pouco, teremos dias puxados daqui para frente.

— Você também.

Embora fosse o que eu quisesse, dormir foi a última coisa que consegui fazer a noite, minha mente não se acalmava e eu pensei em tantas coisas que eu nem mesmo saberia elencar ou enumerar.

KRIS

Hoje é o primeiro dia de treinamento focado e intensivo, dormi bem, me sinto bem-disposto e descansado para fazer isso, eu e Xiumin fomos designados para focar em treinar Baekhyun e Sehun enquanto Lay e Luhan iriam treinar rotas e aprender a se orientar dentro do labirinto ao lado de Kai e Kyungsoo, enquanto os outros quatro, Suho, Chen Tao e Chanyeol iriam treinar entre si.

Baekhyun ainda estava inseguro, era perceptível em como ele não conseguia fazer o que lhe era instruído por pura insegurança, porém estava melhor hoje, era só uma questão dele se soltar um pouco, ele iria conseguir.

As horas passaram tão rápido que eu nem mesmo percebi, quando dei por mim, estava suado, Baekhyun vermelho e ofegante e Sehun pingava suor enquanto se apoiava em seus joelhos para respirar e Xiumin estava sentado no chão recuperando as forças.

— Você viu como eu fui rápido?! – Baekhyun perguntou empolgado.

O exercício que eu lhe passei consistia em envolver seu corpo com sua luz e se proteger das minhas chamas e, como eu pensei, a luz dele funciona mais ou menos igual as minhas chamas, porém ele só está protegido quando está envolto em luz.

Eu o ataquei com várias chamas ao mesmo tempo e a ideia era ele ativar e desativar seus poderes o mais rápido possível e ele conseguiu com facilidade.

— Viu só, eu te disse que você era forte e ia conseguir. – Eu o parabenizei.

— Que venha quem quiser, eu vou matar todas! – Ele se empolgou mais ainda acendendo as mãos.

— Vamos torcer para não precisar colocar isso a prova, sim? A ideia é fugir de conflitos o máximo possível. – Eu o lembro. – Aliás, com essa facilidade que você tem de acender a apagar essa luz, pode ser um jeito de atordoar criaturas.

— Você acha mesmo? – Ele perguntou com um sorriso escancarado animado com a ideia de ter mais uma possibilidade de habilidade.

— Grandes chances, - confirmo – vamos ver como vai ser o andamento dos treinamentos dos próximos dias.

E assim seguimos outros seis dias, alternando entre treinar entre si, rotas e orientação no labirinto e ajudar os novatos a treinar, todos nós fizemos tudo, no último dia saí com Sehun, Lay e Kai para auxiliar em labirinto para eles aprenderem a memorizar caminhos.

Se para ativar suas habilidades Sehun tinha dificuldades, ele demonstrou uma grande habilidade em lembrar das rotas que pegamos, por três vezes eu e Kai o induzimos ao erro e ele não caiu.

— E nós temos um explorador nato. – Eu o parabenizo quando ele acertou o caminho a terceira vez. – Nos guie para casa, meu caro Sehun.

Quando voltamos para nossa área segura eu não sabia explicar o motivo, mas me sentia tranquilo e até orgulhoso de como todos estavam se desenvolvendo. Desde que nos livramos daquele controle abusivo, nunca havíamos feito uma rotina de treinos tão intensiva com ninguém, todos acabavam desenvolvendo um pouco mais devagar, porém com mais liberdade e tranquilidade.

Mas tenho que admitir, deu muito resultado todos se engajarem em praticar de maneira tão intensa e focada, sinto em meu íntimo uma esperança e até mesmo segurança de que sairemos vivos daqui, todos conseguiremos, todos iremos voltar à nossas vidas.

— Que bom que vocês chegaram. – Suho nos cumprimentou quando nos viu. – Como foram? Bem? Tudo ocorreu de maneira tranquila? Nenhum encontro com nenhuma criatura? – Ele sempre fazia esse mesmo questionário todas as vezes com todo mundo, sempre preocupado se alguém havia se machucado ou algo assim.

— Sem nenhum problema, tudo tranquilo. – O tranquilizo.

— Ótimo, ótimo mesmo, está tudo fluindo bem. – Ele responde entrelaçando os dedos em frente a boca, pensativo e ansioso.

— Tudo pronto para sairmos amanhã? – Kai exibe um sorriso animado.

— Sim, vá descansar hoje, todo mundo se saiu muito bem. – Suho não tem um sorriso tão animado quanto o do outro, mas também sorri.

— Você que manda. – O sorriso agora era de alívio.

— Estou vendo esse seu sorrisinho satisfeito. – Eu provoco Suho que apenas dá um sorriso tímido.

Ele sempre se questionava se estava fazendo a coisa certa ou da melhor maneira possível e o episódio de Kai perguntar de maneira tão acusatória o motivo dele ter matado aquele tirano há tanto tempo atrás e toda essa história vir à tona o deixou abalado, não só isso, fez que todo o grupo tivesse uma ruptura, mesmo que momentânea.

Ver que Kai entendeu o motivo e as razões por detrás do ato e voltar a confiar no nele me deixa feliz, me deixa tranquilo, precisamos confiar em nós o máximo possível nesse momento.

— É bom ver que pareço estar tomando boas decisões. – Ele admite.

— Vai dar tudo certo. – Eu o asseguro, e ao mesmo tempo afirmo para mim também. – Anda, vamos comer, todos estão cansados de tanto treinar.

Se tem uma coisa que estou gostando nesses dias de treino intensivo é que estamos liberados para comer um pouco mais do que de costume, afinal, estamos nos esforçando bem mais que o comum e, como tudo aqui, esse consumo parece estar sendo observado de perto também, pois a comida nunca acaba e está acompanhando o consumo maior desses últimos dias. Seja lá como é feito, todo dia, mais comida aparece na mesa e onde nos preparamos a comida.

Eu sempre saía da mesa ainda com um pouco de fome, nunca realmente satisfeito, mas isso tem mudado nesses últimos dias, ainda estou com a boca cheia quando Suho pede para falar com todos nós.

— Pessoal, primeiramente, quero agradecer e parabenizar todo mundo por terem se dedicado tanto a esses dias de treinamento, eu sei que tem sido bastante intenso e puxado, mas é para nossa sobrevivência.

— Deixa alguma criatura metida a besta vir para cima que eu parto no meio. – Baekhyun se empolgou se levantando e fingindo cortar algo no meio do ar.

— Essa é a ideia. – Suho concorda rindo, mas vejo tensão em seu rosto e no jeito que retorce os dedos em suas mãos. – Mas tem uma coisa que eu não consegui deixar de pensar nesses últimos dias. Vocês devem ter percebido que foi consideravelmente fácil, andarmos pelo labirinto, nenhum ataque, nenhum contratempo, nem nada do tipo. E nós vínhamos de dias bem turbulentos, seja de bloqueios ou de ataques repentinos.

Uma olhada pela mesa e vejo que todos receberam aquela informação da mesma maneira que eu, pensativos e preocupados, Baekhyun até mesmo mordia a unha do polegar agora.

— Dito isso, - ele parece tentar achar as palavras certas para falar – eu peço que vocês tomem o máximo de cuidado possível, por favor. Nós já aprendemos, a duras penas, que nada aqui é por acaso. Amanhã não será um treinamento, amanhã será para valer. Nós conhecemos uns aos outros, confiamos uns nos outros, protegeremos uns aos outros. Vamos procurar a saída juntos.

“Já vimos muitos de nossos colegas caírem e sofrerem mortes terríveis... nós os levaremos para sempre em nossa memória e o que faremos amanhã é em homenagem a eles. Devemos isso a eles. ”

— Nós vamos sair daqui! – Chen grita a plenos pulmões abrindo os braços e jogando a cabeça para trás fazendo todo mundo rir.

Eu sei que não vou dormir direito essa noite e sei também que o pouco que dormir será repleto de pesadelos, tenho plena ciência disso, estou ansioso e apreensivo ao mesmo tempo com a expectativa lá em cima. Não sei o que pode acontecer e no que pode resultar, mas sinto que algo grande está a nosso caminho.