LAY

Eu ainda me sinto eufórico de uma maneira não muito boa, depois de curar quem estava machucado eu ainda precisei transferir energia para todo mundo, literalmente, ao tocar cada um, senti uma descarga de força ser passada a frente, mas consegui me aliviar um pouco, pelo menos.

O lado bom disso tudo é que todos estão praticamente novos em folha, como se tivessem dormido uma noite inteira de sono, mesmo depois de uma batalha tão difícil para todo mundo, eles estão com um ar saudável e descansado.

Kyungsoo empurrou o corpo da cobrona para fora levantando um bloco de pedra e o movendo para fora.

— Todos os outros que matamos sempre acabam sumindo, esse deve sumir também. – Ele argumentou antes de fazê-lo.

Depois disso ainda fez os reparos necessários em algumas cabanas que haviam sido vítimas da fúria daquele animal monstruoso, em seguida ele e Xiumin ergueram a porta de pedra e gelo que eles sempre faziam, agora havia se tornado necessário, não apenas uma proteção a mais por precaução.

Ninguém está ferido ou precisando de cuidados, afinal, eu os passei uma dose gigantesca de energia pura e bruta, na verdade, todos parecem um pouco eufóricos e animados demais, até mesmo Kyungsoo, que, normalmente, já estaria tentando formar mil e uma teorias do que poderia ter acabado de acontecer, está calmo e até sorridente ao conversar.

Mas eu ainda tenho muita, muita energia acumulada em meu corpo, nunca senti tanta energia em mim em todo o tempo que consigo me lembrar e não sei como a colocar para fora, não posso injetar em mais ninguém, nem sei se conseguiria passar mais uma descarga de energia para outra pessoa, se ela teria espaço em seu corpo.

Me decido por fazer exercícios, me afastei um pouco de todo mundo e me coloquei a fazer flexões e abdominais para me aquecer, não demora e sinto meu corpo suar, mas não me sinto cansado ou nenhuma dificuldade ao fazer os exercícios, nunca me senti tão disposto, eu poderia fazer mil flexões por horas e outros mil abdominais por dias a fio.

Mas a verdade é que também quero, desesperadamente, distrair minha mente e esquecer o que eu vi e senti quando fui pego por aquele monstrengo.

Não estou falando apenas do medo de ter sido capturado por ele ou dos inúmeros braços dentro dele me segurando e sufocando, nem do pavor quando vi os ossos se fechando na minha frente e me trancando dentro dele, não, é algo mais que isso.

Meu coração batia tão rápido que parecia que furaria meu peito a qualquer momento, eu tentava me mover, mas o aperto era muito forte, eu queria chorar, mas estava tão desesperado que não conseguia.

Foi então que lembrei da minha mais recente descoberta habilidade e tentei me focar e lembrar de como suguei a vida daquele monstro antes e então eu senti, a conexão com esse, por sorte, todo e qualquer pedaço de pele meu estava tocando ele de algum jeito.

Foi quando eu vi toda a corrente de vida nele, a chama brilhando em sua cabeça e como isso banhava todo seu corpo, mas havia, junto com a chama dourada, uma chama roxa que não era igual a dourada que trazia e espalhava vida para ela, eu senti dor e frio vindo dessa, algo muito errado, quase doente, principalmente o jeito que ela se entrelaçava agarrando e sufocando a chama dourada.

Quase como um parasita, existindo apenas por sugar a vida e energia alheia.

Conforme eu sentia a energia quente e aconchegante entrar em meu corpo e deixar o da cobra, a energia roxa pareceu morrer junto e até mesmo procurar e tentar se alojar em um novo hospedeiro e quando não conseguiu, extinguiu a chama dourada a sufocando de uma só vez.

Eu suguei sim, muita energia da cobra, mas não fui eu que a matei, a energia parasita a matou antes por pura fome e se recusar a perder seu hospedeiro.

Em minha mente eu ainda vejo isso muito clara e nitidamente e isso me assusta demais, me perturba, mexe comigo de um jeito que não esperava que fosse mexer, nem mesmo imaginava algo assim.

Fico tão absorto em meus pensamentos que nem percebo que estou pingando suor, resolvo trocar de exercício e faço mais algumas repetições e finalmente começo a sentir meu corpo e sistema se acalmando, mas suspeito que seja um mecanismo de absorção de energia próprio, o que fiz não era suficiente para já ter feito toda aquela energia sair do meu corpo assim.

Me sento no chão e me permito um momento de calma para respirar e tentar me acalmar, agora que a euforia começa a diminuir consigo voltar ao meu estado de espírito normal e ser eu mesmo mais uma vez.

A euforia geral também parece estar começando a se esvair, aos poucos, todos vão ficando mais sérios e centrados e o principal assunto vem à tona finalmente.

Como fomos atacados aqui dentro?

CHEN

Depois de não sei quanto tempo, sinto meu corpo começar a voltar ao seu normal, não estou mais agitado e inquieto, minha mente se organizou e os fatos estão ficando mais claros e nítidos.

E uma verdade que eu não posso negar, estamos todos vivos, em grande parte, por termos Luhan aqui dentro.

Sem sua força invisível, não sei se teríamos conseguido sobreviver a isso sem baixas.

Agora estou sentado recostado a parede de gelo na porta da nossa área que já foi segura e olho os vestígios da batalha, o chão está destruído aqui e ali, chamuscado em alguns lugares, chego a ver manchas de sangue em alguns pontos.

Nunca enfrentamos nada assim antes e isso me apavora.

O que mais esse labirinto tem para nos mostrar, o que mais pode nos atacar? Até quando teremos de viver essa batalha diária para sobrevivermos, sempre à espera de algo maior e mais poderoso? Quantos outros monstros iguais essa cobra existem? Quantos são mais poderosos que ela? Quanto tempo mais vou passar aqui dentro? Quanto tempo nós vamos passar aqui dentro?

Em meio aos meus devaneios, vejo Luhan andando perto de uma rachadura no chão, não sei ao certo o que ele está observando em específico, afinal, eu vi apenas uma parte e foi tudo tão rápido e intenso que eu quase não consigo lembrar de detalhes, só do geral, uma cobra com patas e asas querendo nos matar.

— Como você está? – Pergunto chegando perto dele com as mãos nos bolsos. – Digo, seu psicológico depois do que acabou de acontecer.

Ele não tira os olhos das rachaduras no chão, um sorriso nervoso se planta em seu rosto antes dele responder – Acho que ainda estou digerindo tudo que acabei de presenciar, parece tão impossível e fantasioso...e ainda assim eu o fiz...nós o fizemos.

— Pois é... – Eu assinto sem saber ao certo que falar – Mas você foi bem, muito bem, aliás, sinto que se você não tivesse nos ajudado, talvez estaríamos sofrendo pela morte de alguém agora. Ou nem estaríamos vivos.

Seu sorriso é tímido agora, mas seus olhos são tristes. – Obrigado. Chen...? – Ele hesita antes de continuar a falar, como se pesasse suas palavras. – Vocês vivem isso direto, não é? Esse medo que eu estou sentindo agora? É a realidade de vocês.

— Sim. É nossa realidade agora, Luhan.

— Esse medo... Ele vai embora algum dia?

— Embora? – Eu pondero um pouco antes de responder, na verdade a pergunta me pegou de guarda baixa e sem saber o que falar. – Ele não vai embora. Na verdade, eu me sinto apavorado o tempo todo, todos os dias. Mas nós aprendemos a lidar com ele. É ele que nos deixa alertas aqui.

Ele pondera sobre as palavras que acabei de falar por alguns momentos – Aqui foi onde eu a prensei contra o chão para o Kyungsoo prendê-la. Eu não sabia que tinha tanta força.

Eu não posso evitar de deixar escapar um sorriso ao ver como ele parecia orgulhoso de si mesmo ao contatar isso.

— Essa força nos será muito útil daqui para frente, pode apostar. Esse ataque aqui dentro só mostra que temos que sair daqui o quanto antes.

Como era de se esperar, todos estamos inquietos e falantes quando nos sentamos para comer, todo mundo tinha algo para falar e acrescentar sobre a cobrona, algo que viu, sentiu, percebeu.

Baekhyun descreveu em detalhes como ele não conseguia mover um único musculo mesmo que tentasse depois de olhar naquele olho roxo. – Foi muita sorte vocês não terem caído no efeito dele. – Ele acrescentou - Se tivesse alguém ali comigo naquela hora, provavelmente teria caído também.

— Eu sei como é a sensação. – Kai informa desgostoso – É a pior do mundo, você vê tudo e só sente medo, nada mais.

— Não poderemos mais deixar ninguém aqui quando sairmos mais, - Kyungsoo pondera apertando a ponte do nariz parecendo cansado e irritado – se isso acontecer de novo, apenas duas ou três pessoas conseguiriam fazer absolutamente nada além de ser um alvo fácil.

— Teremos de nos dividir de maneira que sejam equipes fortes para que ninguém corra risco nenhum. – Suho acrescenta. – Principalmente para garantir a saúde e segurança do Lay.

— Mas o que faremos agora? Sairemos para rondas normais todo mundo? – Kai pergunta.

— Todos estão se sentindo muito bem e muito fortes, não é? – Suho verifica com todos, que respondem de maneira positiva – Acho que é hora de explorarmos a nova área do labirinto, mais uma vez.

Todos se calam por um momento.

Ainda lembramos como todos sofremos quando o fizemos, de como eu e ele principalmente, ficamos machucados depois daquilo e de como alguns quase não conseguiram voltar inteiros.

— Acha que seja uma boa ideia? – Kris indaga, inseguro. – Afinal, da última vez, quase não conseguimos voltar vivos.

— Da última vez agimos de maneira leviana, fomos descuidados com o desconhecido – Ele responde parecendo pensar em algo em específico – Dessa vez já sabemos que é uma área perigosa, extremamente perigosa, talvez seja a hora de voltarmos e explorar melhor coisas que ficaram sem explicação, como a tal barreira transparente que o Kris e Kyungsoo viram antes de serem enganados a quase se matarem.

— Acha que é uma boa ideia? – Kyungsoo também questiona parecendo inseguro – Lay não pode lutar, de maneira propriamente dita, ele só suga as vidas das criaturas, mas ainda não tivemos tempo de avaliar isso de uma maneira melhor e temos Baekhyun, Sehun e Luhan que também não sabemos ao certo o que podem fazer.

— Tire o Luhan dessa conta, - eu intervenho – todos já vimos que ele dá conta do recado, não se esqueçam do que ele fez hoje mais cedo.

— Certo, - Kyungsoo concorda comigo – Luhan é poderoso, mas não muda o fato de que ele nunca saiu para o labirinto, Sehun e Baekhyun nunca foram à essa nova área e Lay não pode lutar.

— Eu não disse que iriamos amanhã e sem nos planejarmos antes, - Suho contrapõe – teremos muito planejamento e Luhan sairá para o labirinto para praticar rotas e todo o resto, tomaremos mais cuidado ainda com a segurança interna e, uma vez que estivermos prontos, iremos para a nova área do labirinto. Já passou da hora de sairmos daqui meus amigos, hoje foi a prova disso.

— Mas como sairemos para praticar rotas, se acabamos de concordar que não podemos mais sair e deixar alguém aqui? – Tao questiona visivelmente abalado e confuso.

— Me deem alguns dias... tentarei pensar em uma maneira. – Ele afirma com um olhar confiante.

Com isso, todos se calaram, mas parecia haver um otimismo no ar, até mesmo uma excitação e animação, esse era sempre o efeito obtido quando Suho falava com nós, quando ele demonstrava o porquê de o termos escolhido como líder.

SEHUN

Depois da fala de Suho, eu sinto uma energia diferente, uma atmosfera diferente entre todo mundo. Desde que cheguei aqui, a impressão que eu sempre tive era de que todos estavam empenhados para achar uma saída, mas todos pareciam ter a certeza de poder voltar para cá e ter paz, ter segurança, era sempre um esforço controlado, pensado, mas agora parecia que todos haviam deixado esse cuidado e cautela de lado e decidido avançar com tudo e todas as forças para alcançar esse objetivo.

Estou sentado à porta da minha cabana, observo como Chen, Xiumin e Kris discutem e planejam várias estratégias, possibilidades de ataques e de um ajudar o outro com suas habilidades da melhor maneira possível. Kai e Chanyeol também estão treinando, um se teletransporta tentando fugir dos ataques de fogo do outro, treino de velocidade, precisão e mira.

Eu sinto um misto de emoções que não sei como processar, apenas o sinto, tudo de uma vez, ansiedade, medo, apreensão, expectativa e tantas outras coisas que não sei nomear. Terei de sair para o labirinto e para a sessão que quase matou todo mundo.

Não é brincadeira.

Não podemos nos separar mais, nenhum lugar aqui é seguro mais, todo e qualquer lugar pode ser atacado.

Estou tão absorto e perdido em meus pensamentos que nem mesmo percebo quando Luhan se aproxima de mim, o que eu gostaria de ter feito, porque já fazem alguns dias que me sinto desconfortável quando ele vem falar comigo, mas agora não tenho mais como fugir.

— Está tudo bem? – Ele pergunta parando um pouco distante a minha frente.

Fica difícil de apontar especificamente o que me deixa tão desconfortável com a aproximação dele, não tenho um motivo em específico, é mais uma sensação, uma estranheza no jeito que ele sempre me olha como se estivesse feliz em me ver, como sempre parece querer falar algo a mais para mim, como sempre parece ter algo que ele não pode expressar por algum motivo que eu desconheço.

Até mesmo agora, ele está parado na minha frente, perto de mim, mas algo em sua linguagem corporal faz parecer que ele está hesitando, como se quisesse se aproximar, mas não o faz.

— Não sei ao certo... – Admito exasperando – Da outra vez que eles saíram para investigar essa nova área do labirinto da qual estão falando, alguns quase morreram... foi bem complicado. Não sei se estou pronto para ir, para falar a verdade eu nem acredito que eles ainda se lembrem de como ir para lá... já fazem alguns dias que eles foram... tudo sempre muda lá fora... eu não sei.

— Entendo. – Ele responde e fica em silêncio por alguns segundos e vejo um olhar de simpatia nele, como se entendesse o que estou sentindo, quase como se quisesse me reconfortar. – Eu não entendi ainda ao certo o que acontece aqui, mas temos que tentar pensar de maneira positiva, não é?

— Você realmente me surpreende nesse seu otimismo e calma, sabe? – Eu admito com uma risada – Você viu tudo que acabou de acontecer aqui mais cedo e está nessa paz, calma e ainda é otimista.

— Bem, - ele se senta ao meu lado e se põe a observar os rapazes também – estou até agora com as pernas meio bambas de medo, meu coração ainda parece que vai sair pela boca e acho que terei problemas ao dormir por algum tempo... eu não faço ideia do que está acontecendo aqui ou o que é aqui... mas se eu abandonar minhas esperanças... eu poderia muito bem ter deixado ser mordido pela cobra, sabe? Olhando para o que foi construído aqui, os laços entre as pessoas, me entregar não é uma opção. – Ele concluiu me olhando e lançando um sorriso sem mostrar os dentes.

Lá está de novo, o olhar dele, aquele olhar que parece saber e ter algo mais para dizer, mas isso nunca vem à tona.

— Caramba, você conseguiu sentir tudo isso em tão poucos dias?

— Pois é, - ele ri antes de responder – eu tenho conversado bastante com o Kai e o Baekhyun sobre a vida aqui dentro e como tudo aconteceu. Eles conseguiram me deixar bem inteirado dos fatos mais importantes, por isso eu acho importante tentar manter o espírito positivo, eles estão aqui dentro já há tanto tempo e continuam lutando para tentar sair. Eu não posso me deixar abater.

As palavras dele falaram mais alto comigo do que eu esperava, porque eram a mais completa verdade e eu nunca havia parado para pensar ou sequer perguntar, tudo que eu soube me foi apresentado e por várias vezes eu fui apenas um espectador do que acontecia sem nunca me aprofundar.

No caso da história de Namjoon mesmo, eu apenas sentei e ouvi, nada mais.

— Uau. – Ele me olha confuso – E não é que você tem razão mesmo. Posso estar me borrando, mas preciso seguir em frente.

— Até porque, parece que é a única coisa que se tem para fazer aqui, não é? – Ele acrescenta rindo.

— Eu preciso admitir, você falou justamente as palavras que eu precisava ouvir para me sentir encorajado, obrigado.

— Você foi uma das únicas pessoas que foram legais comigo desde o começo, pense nisso como uma simples maneira de retribuir.

Depois disso, acho que não trocamos mais nenhuma palavra, apenas ficamos sentados observando todo mundo treinar, mas agora eu observava aquilo um pouco mais calmo e confiante, de fato, seja lá como isso aconteceu, seja lá como isso era possível, todos ali eram bem fortes e estavam todos juntos, todos se protegeriam até a morte.

Não acho que posso chamar de dormir o que fiz nas últimas horas, esse céu estranho misturado com roxo e cinza, ainda não consegui me acostumar com ele e ainda sentia reflexos do encontro com aquela cobra maldita, sempre que fechava os olhos eu a via atacando e avançando em nós, aqueles olhos amarelos continuavam a pipocar em minha mente todas as vezes que tentava pegar no sono.

Entretanto, quando finalmente resolvi sair da cama, não pude evitar a sensação de ter sonhado alguma coisa com Luhan em uma das poucas vezes que não fui assombrado por um par de olhos amarelos.

No sonho, era como se ele conversasse comigo, me ensinando alguma coisa, tudo está tão bagunçado e coberto por uma névoa na minha mente que é difícil de lembrar ao certo, mas acho que eu escrevia algo em um papel e ele me ajudava.

Decido ignorar isso, quanto mais eu tentava me lembrar, mas eu me esquecia.

Quando saí da minha cabana, fiquei surpreso ao ver que já haviam pessoas que se levantaram antes de mim, Xiumin, Kyungsoo, Kai e Tao para ser específico.

— Problemas para dormir também? – Xiumin pergunta quando me aproximo.

— Dois grandes olhos amarelos me impediram de dormir direito.

— Bem-vindo ao clube. – Kyungsoo ri um pouco.

— Fique feliz que você não sabe o que é ser perseguido por um grande olho roxo que te paralisou. – Kai comentou com humor.

— Eu posso te dizer que não é nada legal. – Tao concordou.

— O que vocês estão fazendo aqui? Apenas vocês? – Pergunto olhando em volta e estranhando estar tudo tão vazio.

— Nós concordamos em sair para vascular o labirinto hoje, tentar reconhecer a rota para a nova sessão, se ainda lembramos como chegar lá. - Kai explica se espreguiçando.

— Mas ontem o Suho disse que...

— Não adianta querermos ir para lá sem sabermos o caminho, não é? – Tao adiciona também se alongando antes que eu termine de falar. – Por isso estamos indo eu e o Kai, eu consigo vasculhar com mais velocidade e o Kai pode nos trazer de volta em um piscar de olhos.

— Tenham cuidado. – Eu peço antes que eu perceba. A verdade é que a situação de ontem me deixou muito inseguro com tudo – Das últimas vezes que alguém saiu sempre acabou tendo problemas.

— Fique tranquilo, - Tao me acalma – todos nós estamos balançados pelo que está acontecendo nos últimos dias.

— Pessoas ficando seriamente feridas, monstrengos aparecendo do nada, paredes mudando de lugar de repente, sermos atacados aqui dentro. – Xiumin elenca cada uma das adversidades com os dedos – Estou esquecendo de algo?

— O bloqueio que sentiram aqui dentro uma vez. – Tao lembra com uma risada sem graça que me deixa tenso de repente ao lembrar de tudo isso.

— Momento errado, Xiumin. – Kai o repreende.

— Desculpe. – Xiumin ri – Não foi a intenção de te assustar antes de sair.

— Vamos logo, sim? Antes que eu fique mais apavorado do que já estou. – Tao pede.

Ao ouvir Tao falar isso, logo ele que sempre pareceu tão calmo e tranquilo sempre, me lembro da conversa que tive com Luhan e agora vejo todos de uma maneira diferente, mais humana, mais próxima de mim, até, vulneráveis e assustados iguais a mim.

— Ainda falta o Luhan. – Kyungsoo olha para as cabanas em busca do rapaz de cabelos cor de areia.

— Como assim, ele vai também? – Eu me espanto.

— Ontem quando dei a ideia de sairmos para tentar relembrar a rota para a nova sessão para o Suho e falamos com os dois, ele estava perto e quis ir também. – Xiumin explica.

— Vocês acham que é uma boa ideia? – Pergunto espantado – Ele é o que tem menos tempo aqui dentro.

— Mas também é um dos mais fortes. – Kyungsoo contrapõe.

— Eu também vinha conversando com ele sobre uma habilidade que ele acha que pode vir a desenvolver, - Kai explica – segundo ele, é possível fazer um reconhecimento de alguns metros à frente só com o poder dele, sabe, a força invisível, ele consegue sentir se tem alguma criatura por perto, nos dando a vantagem de nos preparar e não sermos pegos de surpresa, reconhecer os caminhos, talvez montar um mapa... algo assim.

— Lá vem ele. – Xiumin o avista e pela primeira vez, não vejo um olhar de raiva ou incomodo ao vê-lo. O acontecimento de ontem foi suficiente para fazê-lo ver que ele está do nosso lado, aparentemente, mas não vejo simpatia também, apenas uma calma.

— Desculpa, eu ainda me perco um pouco na cabana e onde estão as roupas. Não achava uma calça confortável para correr, mas essa é perfeita. – Ele se explica alongando a perna para mostrar o que ele dizia.

— Lembrem-se de evitar o conflito ao máximo, o objetivo é apenas relembrar rotas, nada mais. – Kyungsoo instrui. – Kai, se puder se teletransportar para longe de problemas, faça. Tao, se puder surpreender possíveis criaturas e se puder mata-las antes que elas os vejam, faça. Luhan, você consegue sentir criaturas à distância, certo? Consegue matá-las também?

— Acredito que sim. – Ele confirma.

— Partindo elas ao meio, igual fez aquela vez? – Tao pergunta animado.

— Acredito que sim. – Ele confirma novamente.

— Faça, não hesite. – Kyungsoo segue dando instruções – Temos que procurar nos resguardar o máximo possível.

— Deixe com a gente. – Kai sorriu.

— Certo, eu e Xiumin vamos abaixar a barreira...

— Não precisa, - Kai o interrompe – eu posso teletransportar nós três para fora, só vamos torcer para que hoje ninguém fique com bloqueio.

— Não mencione isso, traz má sorte. – Xiumin o repreende.

— Boa sorte. – Eu os desejo antes de sumirem no meio do ar.

Não tinha passado muito tempo desde que os três saíram quando todos os outros saíram de suas cabanas e foram comer e depois treinar, eu e Baekhyun estávamos treinando com o auxílio de Xiumin, Chanyeol e Kris, eu ainda sentia muita fadiga e cansaço enquanto usava minhas habilidades e isso os estava deixando preocupados.

— Você ainda pode fazer mais coisas, eu sei. – Xiumin afirmou coçando a testa com a mão direita – Não está no seu limite para ficar assim tão esgotado.

— Eu ainda acho que seja dificuldade na invocação dos poderes dele, sabe, fazer o vento e tudo mais, - Kris aponta – quando ele conseguir uma fagulha que o faça explodir com mais facilidade, tudo vai ser mais fácil.

— E como faremos isso? – Chanyeol pergunta.

— Essa é a questão, varia muito de pessoa para pessoa, nós já tivemos essa conversa, aliás. Só é necessário encontrar uma maneira dele conseguir acordar isso tudo com facilidade. – Kris responde pensativo.

— Quais meios você já tentou, Sehun? – Xiumin pergunta.

— Deixa eu ver, - eu ofego apoiando nos joelhos – já tentei fluidez, calmaria, tentei ver o ar se movendo ao meu redor e sentir ele correndo pelas minhas mãos, o que tem resultado mais fácil é imaginar o ar se movendo ao meu redor, ele parece me entender e eu consigo fazer rajadas cortantes.

— Você imagina uma brisa ou uma ventania? – Xiumin continua perguntando.

— Algo no meio termo.

— Tente imaginar uma ventania bem forte. – Chanyeol sugere. – Pode ser que seja melhor para invocar e você não se canse tanto. Baek você...o que você tem? – Chanyeol se espanta ao ver Baekhyun tenso encarando o vazio.

Ele não responde, continua encarando o vazio sem parecer se focar em nada em específico. – Baek...? – Eu tento chamar sua atenção e coloco a mão em seu ombro e ele quase dá um pulo, parecendo ter saído de um fluxo de pensamentos muito intenso.

— Eu não consigo. – Ele fala de repente, sua voz parecendo um fio.

— O que você não consegue? – Xiumin pergunta cauteloso.

— Isso, isso... eu não... eu não consigo... – Ele tenta falar, mas encontra dificuldade e começa a ofegar – eu não... ontem... eu não sei... não sei se consigo eu...

— Respira, respira, para de falar e só respira. – Eu tento acalmá-lo colocando as duas mãos em seus ombros e fazendo ele me olhar direito nos olhos. – Respira fundo, tenta se acalmar um pouco. – Ele faz o que eu digo. – Isso, puxa pelo nariz, solta pela boca. Melhor? – Ele assente – Ótimo, agora, o que você não consegue?

— Isso, lutar, ir para o labirinto, para a nova seção. – Ele fala baixinho, como se estivesse com vergonha – Da última vez que saí eu quase morri e foi só para a antiga seção, como que eu posso ir para a nova sem quase ter treino de luta? Eu vou morrer lá, eu sei disso, isso se eu não for um estorvo, um peso morto e não acabar atrasando vocês e fazendo alguém ser morto me ajudando e me salvando! Sehun, eu não quero morrer, - até então ele falava com calma, mas agora estava assumindo um ritmo mais acelerado quase colando uma palavra na outra sem respirar como quando ele ficava histérico - eu não quero morrer virgem, será que eu sou virgem? Eu não sei, não sei nem o que é isso, mas eu não quero morrer sem saber o que é isso, eu não quero morrer de jeito nenhum na verdade e nem que ninguém morra me ajudando...

— Acho que você tem razão. – Kris o interrompe em um tom seco que até eu me surpreendi, nunca o havia visto falando daquele jeito, principalmente com Baekhyun. Os dois costumavam se provocar, mas nada que fosse de fato sério.

— Eu... eu tenho razão? – Baekhyun ecoa confuso.

— Bem, você já está se dando por derrotado antes mesmo de tentar. – Kris explica – Com essa atitude, você vai virar comida lá no labirinto mesmo.

— Não é que eu esteja me dando por derrotado, mas você viu o que aconteceu ontem e como eu fui o primeiro a ser pego pela cobra.

— Até onde eu sei você sofreu o mesmo que o Kai e o Tao sofreram, você os acha fracos? – Kris indaga.

— O que? Claro que não eles são muito fortes eles...

— Então porque você acha que você é fraco se caiu em algo que eles dois também caíram? Eu não consegui matar aquela cobra, nem mesmo queimar, você acha que sou fraco? – Ele indaga novamente em seu tom sério e seco.

— Claro que não, você é muito forte, vocês dois são. – Ele sinaliza Kris e Chanyeol visivelmente ficando estressado e sem entender onde Kris queria chegar com aquela conversa.

— Então o que te faz achar que é fraco? – Ele pergunta mais uma vez e Baekhyun fica sem reação ou resposta, algo inédito nesse pouco que o conheço.

— Ninguém vai morrer e nem precisar resgatar ninguém, ok? – Kris pergunta com uma seriedade que eu considero ensaiada e forçada para manter a pose, mas a verdade é que ele falou tudo aquilo para fazer Baekhyun sentir-se mais seguro de si mesmo e contra toda essa situação. – Agora anda, vamos treinar.

O semblante do mais baixo agora estava um pouco mais leve e ele parecia mais animado também, mais solto, Kris começou a guia-lo e instruí-lo, logo seus ataques e habilidades vieram à tona igual eu vi no labirinto alguns dias atrás.

Ele era sim muito forte, aquele feche de luz que ele emitia das mãos era mortal, o vi cortar criaturas ao meio com facilidade, o que lhe faltava era autoconfiança.

— Certo, agora vocês só precisam focar em treino de rota mesmo. – Xiumin ponderou nos observando – Sehun ainda se cansa bastante, mas talvez se ele for na mesma equipe que o Lay, ele possa recarrega-lo, se necessário.

— Esse ainda é um assunto a ser pensado. – Kris observou. – Quanto as rotas, realmente é uma necessidade, mas seria melhor contar com o Kai para ajudar nisso. Caso seja necessário ele só se teletransporta de volta.

— Da última vez isso não funcionou muito bem. – Baekhyun observou limpando o suor da testa.

— Porque apareceu mais uma pessoa e ele não conseguia trazer tanta gente de uma só vez. – Eu contraponho. Baekhyun parecia ainda ter um pouco de birra contra Kai por todo o episódio de nos usar como pretexto para sair e achar o Luhan, que na verdade acabou sendo uma grande ajuda ontem.

— Exatamente. – Kris concorda comigo – É bem verdade que todas as vezes que saímos para o labirinto, corremos riscos, mas se pudermos diminuí-los ao máximo, o faremos.

— Baekhyun, eu só queria saber uma coisa. – Eu digo segurando um risinho – O que é “ser virgem’?

— O que? – Ele pergunta confuso. – Virgem?

— Você disse que não queria morrer virgem.

— E eu vou lá saber, Sehun, isso só me veio à mente e eu falei, mas eu não faço ideia do que seja isso. – Ele responde em um misto de riso e raiva e todos nós acabamos por rir da maneira que ele havia falado.

— Olha lá, ele ficou vermelho. – Chanyeol o provoca.

— Fiquei nada, é suor de tanto treinar! – O menor ralha se defendendo.

Eu me pego apenas observando mais uma vez, como todos parecem tão bem entrosados e familiares uns com os outros, mais uma vez me vem à mente o fato que não sou o único com medo, não importa o tempo que faz que eles estão aqui dentro ou quantas criaturas enfrentaram e quantas vezes encararam a morte de perto, ainda são pessoas que sentem, que têm medo.

Vamos dar um jeito de sair daqui nós precisamos disso, já chega de viver em constante medo de acabar morrendo por uma criatura mais horrenda que a outra. Tem que haver mais que isso para viver, mesmo que não nos lembremos.

Me sinto otimista vendo que posso contar com todos eles para o que der e vier.