PARTE 2

SOMOS 12 AGORA

KAI

De repente sinto meu estomago cair nos meus pés, é o Luhan, ele está bem ali, o cabelo cor de areia, os olhos escuros, o mesmo rosto que eu vi naquela foto naquela sala apareceu correndo em um corredor e assim que nos vê à distância começa a correr em nossa direção e sua expressão passa de susto para alívio e até mesmo um sorriso aliviado brota em seus lábios enquanto seus olhos continuam ostentando o ar assustado.

Ele está com as mesmas roupas que todos nós temos quando chegamos aqui, a estranha bata branca, a calça preta curta nos tornozelos e descalço.

Eu estava tão focado e queria tanto achá-lo que esqueci a conexão que ele tinha e como ele poderia ser, louco, manipulador, tirano, tudo isso me vem à mente de repente e me vejo apreensivo quando o garoto corre em nossa direção.

O que eu fiz?

— Hey, vocês, hey! – Ele se anima conforme se aproxima – Eu não acredito, eu achei alguém aqui dentro, meu Deus, ah, meu Deus que alívio! – Ele se apoia nos joelhos e ofega quando nos alcança. – Como eu vim parar aqui? – Ele indaga com uma careta de cansaço enquanto tenta recuperar o fôlego.

— Essa é a pergunta que todos nós nos fazemos. – Baekhyun solta atrás de mim e sua voz transborda sua insatisfação por acharmos esse rapaz.

Luhan.

É ele.

— Como...? – Ele pergunta confuso apoiado nos joelhos.

— É uma longa história, - Tao intervém impaciente – tudo que você precisa saber é que nós somos iguais, estamos fodidos, mas vamos tentar ajudar uns aos outros a sair daqui, por enquanto é isso.

O garoto, Luhan, nos olhos ainda confuso, em seu rosto eu vejo um fantasma de um sorriso confuso se formar, estaria ele achando que isso era uma brincadeira talvez?

— Qual seu nome? Você se lembra? – Sehun pergunta e parece muito urgente em seu questionamento.

— Meu...nome? – O fantasma de sorriso que ele tinha, mesmo que confuso, desapareceu e eu reconheço bem o olhar que toma seu lugar, eu mesmo já o tive em meu rosto, já vi outras vezes no rosto das pessoas, confusão e desespero tomam lugar. – Qual ... qual meu nome?

— Ele deve voltar para você daqui alguns dias... – eu hesito antes de continuar falando – mas eu acredito que seja Luhan, isso te soa familiar de algum jeito? Te desperta alguma lembrança?

Ele me encara com um olhar confuso e vazio por alguns segundos e então ele assente devagar uma vez, e então duas e depois mais uma. – Eu... eu acho que sim.

— Certo, eu acho melhor nós encerrarmos nossa sessão de treino por hoje, pessoal. – Tao está perceptivelmente irritado, eu posso notar pelo seu tom de voz. – Vamos voltar e acomodar nosso novo companheiro e amanhã nós voltamos a explo...

Tao é interrompido de repente por um grande estralo, muito alto, que ninguém soube ao certo dizer de onde veio, era quase como se tivesse vindo do céu. Eu puxo Luhan para perto e o coloco entre nós quatro, Sehun, Tao, Baekhyun e eu ficamos um de costas para o outro tentando prever o que pode vir acontecer e de que lado pode vir alguma armadilha ou o que quer que seja.

De repente outro estralo e então começa o som de pedra sendo arrastada em cima de pedra, eu demoro um pouco para entender o que está havendo e só quando uma parede a minha direita começa a se mover é que eu entendo que o labirinto está mudando, com nós ainda dentro dele.

— Isso já aconteceu antes? – Sehun pergunta ao meu lado.

— Não, ele nunca mudou com nós dentro dele, só quando estamos em nossa área segura. – Tao responde tendo que gritar para ser ouvido por cima do som agonizante de pedra sendo arrastada sobre pedra.

— Mas que ótimo! – Baekhyun ralha – No dia que eu saio para explorar, essa bosta decide mudar de repente enquanto estou aqui dentro!

— Sem desespero, - eu tento acalmá-lo – só vamos esperar as paredes pararem de se mexer para podermos voltar a explorar e vamos achar nosso caminho de volta, podem apostar.

Mas a verdade é que eu também sinto meu coração martelar em meu peito, meu sistema ser banhado com adrenalina fazendo minhas veias doerem a cada batimento e minhas pernas tremerem igual...igual... por algum motivo a palavra gelatina brota em minha mente, não sei ao certo o porquê.

Depois do que mais parece uma eternidade, as paredes mais próximas pareceram parar de se mover e o som das pedras diminuiu até um silêncio mortal se instalar, o único som que se ouve é o soluçar baixinho de Luhan.

Depois que as paredes param de se mexer um corredor se abre bem na minha frente, olho em volta e vejo que estamos no meio de um longo corredor, eu não consigo ver um fim ou uma curva a minha frente.

Meus músculos estavam tão retesados que eu não sabia ao certo se poderia me mover depois, conseguir olhar em volta e até mesmo dar um passo para frente, fiquei surpreso por ainda conseguir.

— Tao, faça um reconhecimento rápido. – Eu falo e no segundo seguinte sinto uma movimentação brusca de ar ao meu redor indicando que ele saiu correndo.

Alguns segundos depois ele reaparece ao meu lado e parece preocupado demais para o meu gosto – O caminho está todo diferente, vamos precisar de sorte para voltar, ou seria o caso de precisarmos de um Baekhyun lá como pilar guia ou você nos teletransportar de volta. Está tudo diferente.

— Eu não consigo levar todos de uma vez... e desde aquela vez que tivemos um bloqueio coletivo lá dentro e vocês aqui fora não, eu tenho minhas ressalvas de usar teletransporte.

Eu olho de um lado para o outro ainda esperando que alguma criatura brote de algum lugar, meu peito subindo e descendo junto com minha respiração aflita, não consigo ficar totalmente parado e fico mudando o peso de uma perna para a outra.

— Dá para parar com isso? – Baekhyun me estapeia no braço – Eu já estou tenso o suficiente sem você ficar...ficar... sei lá o que você está fazendo, mas isso está me dando um treco, quase! – Ele ralha e eu suspeito que ele na verdade só procurou uma desculpa para me bater, e o motivo, estava bem ali atrás de mim agachado e com medo.

— Bem, é loucura nós simplesmente metermos a cara e sair andando sem rumo sem um farol, ainda mais agora que todo nosso caminho conhecido se desfez. – Tao contesta.

— Eu ainda não acho uma boa ideia eu me teletransportar para levar de volta. Se eu pudesse levar todo mundo, ok, mas... – me detenho por um momento.

Eu poderia levar Baekhyun, Tao e Sehun de volta sem problemas, até porque, esse foi um dos motivos de eu vir junto para esse treino, caso fosse necessário, mas com Luhan aqui, agora as coisas mudam de figura.

— Mas agora nós temos mais um e você não consegue levar todos nós de volta. – Tao faz questão de falar o que eu havia pensado e sua voz pinga raiva. Não consigo evitar olhar para Luhan atrás de mim me olhando com seus olhos grande e confusos.

Eu não o respondo.

— Então, o que faremos agora? – Baekhyun indaga. – Se eu for com o Kai, tem o risco dele não voltar, se eu não for, teremos de meter as caras e procurar um caminho aleatoriamente.

— Eu vou tentar achar uma rota que possa nos levar de volta à nossas cabanas, - Tao soa cansado e irritado quando fala finalmente e eu quase sinto minha nuca queimar com um provável olhar de raiva que ele está me direcionando – tentem ficar aqui sem arrumar problemas que eu vou tentar voltar logo.

E assim com uma lufada de ar ele some labirinto adentro me deixando com um Baekhyun que também está me fuzilando com os olhos e um Sehun ofegante que precisa se apoiar nos joelhos parar ficar em pé, isso sem mencionar o garoto de grandes olhos castanhos e amedrontados que está sentado no chão entre nós.

BAEKHYUN

Quando Tao some no ar Luhan quase bate na parede, tamanho o pulo que ele dá assustado, só não a acerta porque ele se estatela com Sehun e o derruba no chão.

— Mais cuidado! – Sehun se levanta abruptamente direcionando um olhar irritado para Luhan, mas eu acredito que isso seja devido seu cansaço.

— O que acabou de acontecer? – Luhan pergunta sem se importar muito com Sehun apontando para onde Tao estava um segundo atrás – Ele... ele... sumiu.

— Tem bastante coisa que você precisa saber, então vamos com calma, - eu respondo quase a contragosto, algo nele me deixa inquieto – por hora o que eu posso dizer é que...

— Baekhyun! – Kai chama minha atenção – Aconteceu algo.

— Como assim? – Pergunto confuso.

— Sehun, levanta, levanta agora. – Kai o ajuda a ficar de pé de maneira cansada e desajeitada.

— Kai, o que...

Ele coloca um dedo em frente os lábios pedindo silêncio e olha em uma das direções do corredor e aponta para que eu olhe para a outra. Eu não vejo nada em específico, nada, mas o jeito que Kai ficou tenso e alerta me diz que algo aconteceu ou está para acontecer.

De repente eu ouço, um som de patas se aproximando, movendo-se devagar, mas constante, um som gutural, não sei classificar ao certo, mas não me parece estranho, algo no jeito que um arrepio sobe por minha espinha me é familiar. Luhan está atrás de mim, Sehun está ao meu lado, mas acho que o novato está esgotado, Kai está do outro lado, não consigo vê-lo, apenas ouvir.

Então eu vejo, o dono do som de patas está vindo na minha direção.

— Baek... – Sehun me alerta com a voz rouca e fraca.

— Eu vi.

Eu projeto um lampejo de luz dourada que voa reto e acerta um D1 bem na cabeça e a abre em dois pedaços, mas ele não estava sozinho e mais dois aparecem com os ferrões prontos. Eu projeto outro lampejo e acerto outro bem nos olhos do lado direito fazendo-os estourar e vazar um liquido preto e viscoso, mas não o matou, apenas o enfureceu.

Kai finaliza o trabalho, se teleportando e aparecendo bem acima do outro e com o que eu contei serem sete pisões fortes na cabeça da criatura ele a agarrou, se teleportou novamente e dessa vez com a besta junto. Ele apareceu no ar uns três metros acima do chão e a arremessou com toda a força que tinha no chão. Eu ouço o osso de sua cabeça quebrando quando ele atinge o chão.

Já o último, Kai resolveu usar sua inteligência.

Ele ficou em frente o D1 que havia matado, bem em frente aos chifres apontando para ele, quando o último tentou ataca-lo, Kai sumiu no ar o que fez o monstrengo ir com a boca aberta em direção aos chifres e ser furado pelos chifres da outra criatura morta bem na boca. Com um último empurrão forte, Kai empurrou a cabeça da criatura ainda mais no chifre da outra. Ela debateu por alguns segundos, então, morreu.

— Mais algum? – Kai pergunta urgente.

— Eu não vejo nenhum. – Sehun responde, agora sentado, vencido pelo cansaço.

— Nem eu. – Respondo olhando para o outro lado do corredor para me certificar.

— O que diabos está rolando aqui? Alguém pode me explicar, por favor? – Luhan perguntou assumindo um tom mais sério. Ele estava ao canto observando tudo, um pedaço de D1 aos seus pés, ele havia gritado quando um pedaço de ferrão caiu perto dele, mas agora seu terror está misturado com uma genuína curiosidade e resiliência.

— Bem... – Kai ia começar a explicar, mas eu o interrompi matando outro D1 que apareceu atrás dele e, de repente Sehun se levantou atrás de mim e tudo que vi quando me virei foi um D1 ser cortado ao meio no ar. Ao olhar para onde Kai estava, ele havia acabado de arremessar um D1 nos chifres de outro.

— Mai algum? – Kai pergunta novamente, dessa vez mais para o labirinto do que para nós.

Todos nós ficamos parados por um tempo atentos para o mínimo som que fosse, prontos para lutar com o que quer que fosse, mas nada aconteceu, ficamos olhando o vazio dos corredores do labirinto por alguns momentos quase como se esperássemos que fossemos ter alguma resposta de alguém, mas só o que ouvíamos era Luhan histérico e assustado.

— Acho que agora conseguimos um pouco de paz. – Sehun ofega se apoiando nos joelhos de novo. – Que inferno, porque fui sair logo hoje? – Ele solta com certo humor na voz e não posso evitar de rir um pouco, mas também, meu olhar se direciona a Kai, que foi quem quis nos trazer para o labirinto hoje.

— Para que lado o Tao foi? – Eu pergunto – Alguém viu? Ele se move tão rápido que nunca consigo acompanhar.

— Ele foi para lá, eu estava olhando nessa direção quando ele saiu. – Kai responde apontando para lado oposto ao meu, onde ele estava antes de me ajudar com os D1.

— Vamos esperar ele aparecer acenando para nós agora. – Sehun ofega. Ele está ao lado de Luhan se apoiando nos joelhos enquanto eu e Kai ficamos de olho nas duas pontas do corredor.

— E torcer que nada mais aconteça. – Eu acrescento.

SEHUN

Eu não vou admitir para ninguém, mas em meu íntimo, queria que Kai pudesse se teletransportar de volta com todos nós, estou esgotado, sinto minhas pernas fracas, ficar de pé está sendo uma tarefa bem difícil nesse momento e ainda estou dolorido de quando fui derrubado.

— Você está bem? – Luhan pergunta tímido ao meu lado quase me fazendo pular de susto. Ao olhar para ele eu vejo uma expressão que eu provavelmente deveria ter quando fui achado e isso me faz simpatizar com ele um pouco, está apavorado, olhos esbugalhados de susto, lábios tremendo, deve estar me perguntando se estou bem por puro medo de que possamos deixa-lo sozinho.

— Sim, só cansado mesmo - respondo depois de um suspiro – Minha primeira vez aqui. Sinto lhe informar, rapaz, mas é isso que você irá encontrar nesse labirinto infernal, boa sorte.

Eu não sei a razão, mas assim que eu disse isso o tal rapaz Luhan, de repente, assumiu uma expressão extremamente séria e assustada, seus olhos se esbugalharam, ele começou a arfar, seu peito subindo e descendo muito rápido e então ele tentava puxar o ar, mas não conseguia respirar por algum motivo, quando ele caiu no chão tremendo, Kai e Baekhyun voltaram sua atenção para ele também.

O que eu não daria para ter o Lay aqui comigo agora, Luhan agora tinha os olhos fechados com força, as duas mãos seguravam a cabeça com força, como se estivesse com uma dor muito intensa ou ouvindo algum barulho muito alto e ensurdecedor. Seus lábios se retraíram em uma expressão de puro e total desespero e agonia, quase me doía ver como ele estava em tamanha agonia também e não saber o que fazer só me deixava ainda mais aflito.

— Luhan... Luhan... tenta respirar... eu sei que... – Kai tentava falar alguma coisa que pudesse acalmá-lo de algum modo, como se fosse de fato útil, mas ele não parecia ouvir, o que quer que fosse o estava causando uma agonia desesperadora e ele estava inalcançável.

— Segura ele, Kai, vou tentar acalmá-lo com minha luz. – Baekhyun disse ao se posicionar atrás da cabeça dele e colocar as mãos ao lado de cada têmpora.

Quase tão repentinamente como ele caiu com essa dor, ela pareceu cessar, em um único fragmento de segundo, seus olhos se abriram, a expressão de dor e agonia deu lugar à uma paz e serenidade pura e intocável.

Kai, Baekhyun e eu ficamos estáticos observando-o nos observar.

Com um único e longo suspiro ele sentou-se de repente. Eu não consegui evitar de me afastar um pouco, Kai soltou seus braços e Baekhyun quase tropeçou ao tentar ficar de pé. Em um segundo ele está em dor extrema, de repente, ele está calmo e em paz.

— Você...você está legal? – Eu pergunto cauteloso já ficando de pé e meio receoso quanto a ele, de repente se retorce no chão de dor e do nada fica em paz sentado e calmo. Algo não me cheira bem nesse Luhan.

Ele ainda tem a respiração levemente ofegante ao me olhar e parece pensar em sua resposta, talvez um pouco demais, antes de responder – Estou, estou...eu acho que tive um pouco de pânico com ... com tudo isso... talvez? - Eu não engulo isso, apenas aceno com a cabeça. Kai fica parado no lugar com uma expressão de susto. Baekhyun o fuzila com o olhar.

Eles voltam a ficar cada um em uma direção do corredor observando esperando que Tao possa aparecer a qualquer momento ou prontos para qualquer ameaça que possa aparecer, eu queria ficar um pouco longe do Luhan, mas nós quatro temos que ficar perto uns dos outros e estou muito cansado para ficar de pé direito. Olho de canto de olho e fico ainda mais desconfortável ao perceber que o tal Luhan parece muito interessado em mim por algum motivo. Não para de me olhar e vejo até mesmo um sorriso em seus lábios.

Anda logo, Tao.

Eu não sei ao certo quanto tempo já se passou desde que Tao saiu para tentar achar um caminho para podermos voltar a nossa área segura e isso me deixa inquieto, muito preocupado, com toda aquela velocidade ele deveria ser capaz de vasculhar um bom pedaço de área de maneira bem rápida, mas está demorando para voltar.

— O labirinto deve ter mudado muito mesmo, Tao está demorando. – Kai comenta de repente. – Sou só eu, ou ele já foi faz algum tempo?

— Já faz um tempinho, na verdade. – Baekhyun responde com o tom mais sério que eu acho que o ouvi assumir, para uma pessoa igual ele ficar sério, coisa boa não deve estar acontecendo.

Quase como se ele tivesse nos ouvido falar, Tao aparece na ponta do corredor que Kai está patrulhando, vem andando em sua velocidade normal, mas parece animado.

— Eu achei um caminho, demorei, mas consegui, - ele diz se apoiando nos joelhos, também esgotado – eu acho que nunca corri tanto nesse tempo em que estou aqui dentro, caramba. Podemos esperar um pouquinho para eu poder descansar um pouco?

Outro estralo alto parecendo vir do céu, como da última vez em que as paredes mudaram, eu fico em pé em um pulo, assustado, apreensivo.

O que vai acontecer agora?

Na minha cabeça, não sei ao certo o porquê, mas a frase “notícia ruim sempre vem acompanhada” aparece e eu não a falo simplesmente por estar tão tenso que não acho que conseguiria abrir minha boca para falá-la.

Outro estralo alto parecendo vir de cima, eu arrisco até mesmo dizer que o sinto tremer abaixo dos meus pés, quando Baekhyun perde o equilíbrio e tem que se apoiar no chão eu sei que não foi apenas uma sensação minha. As paredes ao nosso redor começam a tremer e se sacolejar, pó se solta delas. É o som alto da ponta na qual Baekhyun está que me faz levantar.

As paredes começam a mudar novamente.

— Me sigam! – Tao desata a correr na direção que ele veio e nós o seguimos, puxo Luhan pela gola da estranha blusa branca que eu também usava quando cheguei aqui e ele quase cai de cara no chão tropeçando.

Arrisco olhar para trás e sinto minhas entranhas gelarem por dentro.

Se na outra vez que as paredes mudaram, foi uma mudança mais calma e até mesmo demorada, agora as placas de pedra se moviam de maneira muito mais rápida, era até mesmo difícil de imaginar tamanho pedregulho mudando de lugar tão rápido.

— Olha para frente Sehun! – Baekhyun ralha comigo – Se ficarmos para trás e essas placas nos pegarem seremos esmagados! – Ele ofegou acelerando o passo o máximo que conseguia.

Não só isso.

Minha mente funcionava a toda velocidade enquanto corria, meu peito ardia, meus pulmões queimavam, eu já não conseguia respirar direito, por duas vezes quase virei meu pé, minhas pernas doem ao correr, mas o som de pedra se arrastando por cima de pedra já é o suficiente para me motivar a continuar correndo, mesmo com dores.

Além de sermos esmagados caso sejamos pegos nas mudanças, se uma placa se mover e nos fechar, podemos ficar presos aqui e sem um Tao para procurar uma rota de saída.

— Cuidado! – Luhan berra e para de correr e eu esbarro nele quase caindo.

Como se tivesse lido minha mente, a placa de pedra a minha esquerda se move para dentro de uma maneira tão rápida que simplesmente não havia como sequer pensar em passar antes que ela se encostasse na outra, seriamos esmagados se tentássemos.

— O que faremos?! – Baekhyun pergunta histérico.

— Vocês me dão as mãos. – Kai aparece no mesmo segundo a nossa frente.

Nem mesmo vi quando dei a mão para ele, só sinto um choque pelo corpo e o chão sumir debaixo de meus pés, e no segundo seguinte outro e outro, quando finalmente meus pés tocam o chão e os choques param, entendo que Kai teve que se teletransportar conosco três vezes para escaparmos de placas de pedra se fechando.

— Vamos, não podemos parar! – Tao nos instiga e sai correndo. – As placas estão se fechando cada vez mais rápido! – Ele tenta falar por cima do barulho, mas o som agonizante de pedra se arrastando por cima de pedra, na velocidade em que elas estão se movendo, é muito mais alto, ouço sua voz muito longe e baixa.

Está tudo tão bagunçado e confuso, tudo tão alto.

Volto a correr com toda a força e velocidade que meu corpo ainda tem, as paredes ao meu redor começam a sacolejar também, pó voando por todos lados vindos delas, respirar começa a ficar difícil, puxo o ar com força, mas ele parece se recursar a entrar em meus pulmões.

Uma placa de pedra a direita começa a se sacolejar e eu já sei que ela vai se fechar na minha frente igual a outra, faço uma lufada de ar forte e me projeto para frente, no meio do ar me viro e puxo Luhan e Baekhyun para frente com braços de ar.

O tênis de Baekhyun fica preso pela placa de pedra e ele cai no chão chorando com o pé sangrando. O dedão do pé esquerdo perdeu um naco de carne. Eu o puxo com outro braço de ar, mas uma placa de pedra se fecha entre nós e me impede de trazê-lo me desesperando.

Só quando Kai se teletransporta e reaparece com ele ao lado mancando é que meu coração, já acelerado, se acalma um pouco, mas quando vejo sua mão esquerda sangrando e esmagada eu entro em pânico, não imaginava que o sangue podia ser tão vermelho e vívido.

— Porque você esticou a mão!? – Kai ralha com Baekhyun ajudando ele a andar. – Sorte sua que eu consegui tirar ela de lá quando me teletransportei com você.

— Eu não sei, foi desespero. – Baekhyun fala com dificuldade em seu choro. – Tá doendo demais.

— Já vamos te levar ao Lay. – Kai tenta acalmá-lo. - Vamos, não podemos parar! – Kai nos comanda.

Não chego a dar um só passo e ouço Tao xingar mais à frente, socando uma parede a sua frente que eu não me recordo de estar ali quando olhei segundos atrás e pelo jeito que ele a soca desesperado, era por ali que tínhamos que seguir.

— Não é possível! – Ele ralha e dá outro soco na parede – Alguém está orquestrando isso de algum lugar! O timing é muito perfeito!

— Tao, o que faremos agora!? – Eu pergunto quase sem conseguir projetar minha voz para fora.

Sinto uma mão em meu braço e um choque por meu corpo e o chão sumir debaixo dos meus pés, e de repente ele aparecer novamente e esse susto me faz perder o equilíbrio e cair sentado e no segundo seguinte, Tao, Luhan, Baekhyun e Kai aprecem na minha frente.

— Muito bem, Kai! – Tao comemora e desata a correr e nós o acompanhamos. – Estamos quase lá!

Só agora paro para reparar como o caminho que Tao está nos levando é tortuoso e difícil, Baekhyun chegou a cair duas vezes, machucando o queixo na segunda, desde então Kai o segura pela cintura se teletransportando com ele vez ou outra mais para frente, o pé machucado e a mão esmagada o estão atrasando bastante.

Quando viramos à esquerda conseguimos ver o grande paredão de pedra e gelo muito longe, em um grande corredor reto, muito diferente de quando saímos hoje mais cedo, por favor, que ninguém tenha outro bloqueio e isso possa vir abaixo.

Tao se acelera e no segundo seguinte está em frente ao paredão berrando por Xiumin e Kyungsoo, por favor, que eles escutem.

Estou tão cansado que fiquei para trás, correndo um pouco mais devagar, as placas de pedra parecem se acalmar e o som agudo e estridente de pedras se arrastando uma na outra em alta velocidade parece estar cada vez mais para trás.

Por estar mais atrás é que eu vejo tudo.