KRIS

Podíamos estar cansados, mas ver o que vimos, foi um baita energético e incentivo para corrermos.

Atrás de nós, de todos os corredores, vários brutamontes de chifres grandes parecendo ser feito de pedra correm e trotam com toda a velocidade que suas patas curtas e fortes lhes possibilitam para transportar tamanho corpanzil.

Eles chegam a se atropelar e amontoar nos corredores apertados e justos de pedra, são muitos, avançam em nossa direção quase como uma onda cinza e mortal.

Em um pico de energia e adrenalina, nós quatro gritamos em terror e desatamos a correr com todas as nossas, já esgotadas, forças. Saímos da nova extensão do labirinto e passamos para a antiga que já estamos habituados e eles nos seguem.

Tao saiu na frente para tentar verificar se o caminho estava livre para nós, Kyungsoo vai na frente, Chanyeol atrás e eu por último, talvez por isso o som dos pés batendo contra o chão de pedra pareça tão alto para mim e isso só me impulsiona a ir mais rápido ainda.

Meus pulmões começam a queimar em meu peito, minhas pernas estão cansadas, mas não posso me dar o luxo de parar para descansar, ao invés disso, ainda me obrigo a me envolver em um manto de fogo para garantir minha segurança.

Nenhuma criatura que tenha mordido a mim ou Chanyeol sobreviveu para contar aos parceiros qual nosso sabor, claro que isso foi com as outras que já conhecemos, não sabemos como as desse novo setor do labirinto reagiriam, mas tenho que continuar acreditando que tenho essa proteção.

— Consegue jogar alguma chama? – Kyungsoo ofega virando à direita depois de Tao sumir nos indicando a direção.

Já que eu sou o único que está envolto em chamas, deve ter sido comigo, me atrevo a tentar fazer o manto expelir, mas estou fraco demais para isso, o máximo que consigo fazer é uma pequena chama se soltar no ar, o que não adianta de nada.

— Eu consigo! – Chanyeol gritou a minha frente parando de repente quase me fazendo bater nele e não consigo evitar de parar de correr ao vê-lo parado.

Ao olhar para trás sinto minhas pernas fraquejarem.

Como esses corredores são mais espaçosos, os brutamontes têm mais espaço para se locomover e agora parecem ser uma horda muito maior, quase duplicada em quantidade.

Como isso é possível? Onde estavam todos esses malditos?

Em um segundo Chanyeol invoca seu manto de Fênix, o grande pássaro de fogo se ergue e abre suas enormes asas de fogo e com um bater delas chamas grandes e fartas voam em direção aos brutamontes.

Os que estavam mais à frente e desavisados são pegos em cheio e, em meio a seu desespero, causam uma onda de caos entre a horda, me atrevo a dizer que ouço o som da pele cinza fritando em contato com as chamas.

Entretanto, como já havia ocorrido antes, nenhum deles se incomodam com isso e os que o fazem e param para lidar com as chamas, são empalados e estraçalhados pelos chifres dos que vem atrás.

Em meros segundos. Tao estava certo em pensar nos chifres como uma arma contra o couro grosso e duro deles afinal de contas

Tudo isso acontece em questão de no máximo, meio minuto.

Chanyeol recomeça sua corrida e eu o acompanho assustado com a força que esses seres têm.

— Você ainda tinha toda essa força? – Pergunto espantado e ofegante.

— Eu não podia fazer nada com todo mundo ao redor. – Ele responde também ofegante.

Parece que a sorte, finalmente, resolveu estar ao nosso lado, Tao está tendo sorte ao verificar o caminho a nossa frente e depois de uma virada a esquerda, o pilar de luz começa a queimar no horizonte, devem ter mandando Baekhyun ascende-lo, quase em linha reta para nós.

Porém atrás de mim os brutamontes parecem apertar o passo e aumentar o ritmo na perseguição, quase posso sentir o chão tremer atrás de nós, a distração de Chanyeol não pareceu dar muito resultado.

Estamos tão perto de conseguir voltar, o pilar está cada vez mais perto.

Mas não sei se conseguiremos chegar lá.

XIUMIN

Eu não sei ao certo se meu cansaço se deve à ainda estar me recuperando dos meus ferimentos ou se eles realmente estão tendo um avanço maior do que eu imaginava.

Desde que ficamos aqui, Sehun e Baekhyun não pararam um segundo sequer, o que significa que eu também não parei um único minuto, dando dicas de como ativar a natureza, como se manter estável, o que pode ser útil e ofensivo e como ajudar outra pessoa com sua natureza.

— Kris e Chanyeol já devem ter dito algo sobre você ser útil para eles, não? – Pergunto para Sehun depois que ele faz uma bolha de ar comprimido se expandir e destruir um bloco de gelo que havia feito.

— Eles já disseram algo, mas ainda não tive oportunidade de treinar com eles. – Ele responde ofegante apoiando as mãos nos joelhos, o suor pingando de seu queixo.

Ele está fazendo um grande avanço, é verdade, mas ainda tem dificuldade em manter a concentração e demora um pouco de um golpe para outro, isso pode ser perigoso.

— Você também poderá precisar treinar com o Kai depois, golpes de luta, tentar incorporar aos seus golpes de ar podem ser de grande ajuda. – O digo enquanto ele seca a testa com a camiseta.

— Como assim? – Ele pergunta colocando as mãos na cintura e ainda um pouco ofegante.

— Você deve ter visto o Suho fazer alguma coisa assim, mas é basicamente aprender onde encaixar sua natureza enquanto dá um soco – digo dando um soco no ar que faz uma estaca de gelo sair voando – ou depois de um chute – projeto minha perna para frente e depois dou um rodopio e depois disso duas estacas de gelo se levantam do chão e se cruzam no ar.

— Eu acho que vi o Suho fazer algo assim, - ele responde com os olhos arregalados – como você fez isso, da estaca voar e as duas saírem do chão...?

— Eu crio tensão na minha mão, concentro energia nela antes e quando dou o soco, a estaca se materializa no ar, mas no chão requer um pouco mais de trabalho, mas basicamente o mesmo. Olha, - e então faço as mesmas estacas de gelo se erguerem do chão, dessa vez com minhas mãos – é um golpe, ou ataque, seja como quiser chamar, que eu já faço e conheço muito bem como fazer, certo? Eu só precisei aprender a controlar a tensão e concentração de energia necessária para fazê-lo e então aprender a liberar essa energia de outro jeito e quando liberar. Olha de novo.

Eu dou o chute e então rodopio, mas dessa vez faço mais devagar e ele sorri ao entender o que eu faço.

— Agora que você disse, faz bastante sentido. Com um movimento do pé você as levanta, só mudou o ponto de liberação de energia do corpo. – Ele aponta coçando o queixo. – Mas isso requer muita concentração, não? Eu peno para conseguir me concentrar ainda.

— Isso vem com o tempo, assim como aprender a lutar em sintonia com outra pessoa, eu demorei bastante para conseguir entender o ritmo do Suho e não congelar ele ao invés da água que ele faz... ou congelá-la antes dela sair dele.

— Mas porque congelar a água que ele faz, se você já consegue fazer gelo sozinho? – Ele me pergunta secando o suor da testa com as costas da mão.

— A verdade é que tanto eu, quanto ele, conseguimos fazer os poderes do outro.

— Como assim?

Eu me concentro de olhos fechados por um segundo e então faço um braço d’água na minha frente por um segundo e então o congelo em seguida.

— E ele pode fazer gelo também, mas é muito mais complicado para mim fazer água e para ele fazer gelo, não é prático, nem viável, você viu que não demorou muito e a água se congelou certo? Eu consigo fazer o gelo sim, mas é muito mais fácil e rápido para mim, congelar água já existente. Por isso nós somos uma boa dupla, nossos ataques ficam bem mais rápidos.

Eu tive que me segurar para não rir da expressão no rosto dele de completa confusão quando terminei de falar.

— Então... – ele tentou seguir minha linha de pensamento – se eu conseguir combinar meus poderes com os caras do fogo... eles ficarão mais fortes... mas porquê?

— Bem, o fogo precisa de ar para crescer e se espalhar mais fácil e rápido e você é exatamente isso para eles.

— Como você sabe disso? – Ele me pergunta de repente e eu fico sem resposta.

Porque nem eu sei disso.

Como eu sei ou porque eu sei que o fogo precisa de ar, não sei em que momento aprendi isso eu... apenas sei.

— Eu... só sei...

— Isso é bem comum por aqui, não é? – Ele comentou com uma risada nasal sem humor. – Eu vou tentar entender tudo isso. – Ele concluiu com um sorrisinho cansado.

Agora Baekhyun é que foi uma grande surpresa pra mim.

O pequeno está tão concentrado que eu quase consigo ouvir seu cérebro trabalhando enquanto ele treina. Por ter mais tempo aqui dentro e já conseguir fazer seu pilar de luz ele consegue um controle um pouco mais estável que Sehun, isso é verdade, o que lhe falta é tornar isso uma defesa e também uma forma de atacar.

Dei algumas dicas para Sehun e ele mesmo começou a treinar sozinho fazendo algumas coisas que já havia feito antes e estava se aperfeiçoando, como fazer um projétil de ar comprimido e o controlar por toda a extensão da nossa área.

Mas Baek estava parado observando e ao me ver olhando para ele, foi que ele começou a tentar fazer alguma coisa, olhava para suas mãos e acendia e apagava sua luz.

E nada mais.

Eu parei o lado dele e esperei calado para ver o que ele faria.

Ele entendeu o recado e começou a projetar feches de luz delas, uma luz dourada e fraca, mas isso me deu uma ideia.

Eu fiz um bloco de gelo, até que bem fino, e coloquei na frente dele.

— Derreta esse gelo com seus feches de luz.

— Eu emano uma luz, Xiumin, - ele me olha de canto de olho apertando as mãos de forma desajeitada - não sou um maçarico em forma humana, luz não pode derreter gelo assim tão fácil.

— É uma maneira de ver essa situação, - digo com as mãos para trás ao lado dele – a partir da mesma lógica você poderia dizer que eu não poderia furar o chão com um pedaço de gelo. – Olho para ele e faço exatamente isso – É tudo uma questão de foco e concentração. O pilar de luz que você emana, se você o focar e concentrar, o calor da luz pode derreter o gelo, se você quiser, claro.

Baekhyun pode ter uma boca grande e falar demais, mas ele é como qualquer outra pessoa, ele olha para o bloco na sua frente sem jeito e desanimado.

— Você não pode se deixar ser levado por insegurança, Baek. – Digo baixo ao lado dele – Olha o Sehun, ele começou do zero e está bem avançado. Você já tem controle, um controle que ele não tinha, você consegue.

Ele parece não se convencer e continua encarando o bloco de gelo.

— Vamos, uma tentativa, você quer sair para o labirinto para lutar também, não quer? – Ele acena com a cabeça de maneira enfática – Então se supere, foi assim que todos nós aprendemos.

Ele respira fundo, me olha de canto de olho uma última vez e então se posiciona com as duas mãos na altura do peito com os braços levemente esticados e de cada mão um feche de luz dourada sai em direção ao bloco de gelo.

A luz o atinge e reflete e faz um espectro colorido e lindo, mas não parece fazer muito efeito em derrete-lo, Baekhyun tenta alguns minutos, mas nada acontece.

— Alguma dica? – Ele pergunta voltando a apertar as mãos de nervoso.

— Talvez...você consegue aumentar a intensidade do feche?

— Eu...eu nunca tentei aumentar a intensidade... – ele responde levemente confuso.

— Bom, não é essa luz que você produz quando faz o pilar, é? Digo, o pilar de luz é bem grande e intenso, você quase some dentro dele, a luz é muito mais forte que essa que você fez. Consegue lançar aquela luz sobre o bloco?

— Eu posso tentar. – Então ele lançou novamente os feches luz, dessa vez era a mesma luz branca e ofuscante do pilar e o gelo começou a derreter um pouco mais, porém ainda estava devagar. – Bem, isso foi bastante útil, passei de um zero total, pra um dois...em uma escala de zero a mil. – O sorriso saiu com sarcasmo, mas eu percebi a frustração.

— Baek, foco, o segredo é foco, presta atenção. – Eu fico de frente para ele – A diferença entre essa estaca de gelo aqui – faço uma estaca na mão direita – e esse pó de gelo aqui – faço uma poeira fina de gelo na esquerda e a assopro no ar – é concentração e foco, tanto mental, quanto de energia. Vamos lá, tenta, toda aquela luz e toda aquela energia que você usa quando projeta aquele pilar de luz para o céu, onde está tudo aquilo? Projeta essa energia para a sua mão em um feche concentrado.

Ele assente algumas vezes para confirmar que está entendendo o que estou falando e se concentra novamente. Fecha os olhos, inspira e expira algumas vezes, esfrega as mãos algumas vezes e então acontece.

Ele projeta a mão direita para frente e dela sai um feche de luz tão forte e incandescente que quase dói ao olhar, mas a força é demais, até mesmo para ele, seu corpo pequeno e magro é arremessado para trás por alguns metros e ele cai de costas.

— Meu pai amado, o que foi que acabou de acontecer, meu Deus do céu, eu saí voando, eu parecia um...um...eu não sei o que só sei que era alguma coisa que brilhava muito, meu Deus, como brilhou, gente... – Ele balbuciava ainda caído no chão, então se levanta mais perdido do que nunca olhando para todos os cantos antes de se lembrar de onde estávamos e então seus olhinhos me focam e ele corre na minha direção tagarelando, quase colando as palavras umas nas outras - Xiumin, você viu aquilo?! Aquilo foi incrível, a força daquele feche, pareceu um flash, não, claro não, um flash, milhares de flashses, todos ao mesmo tempo! E eu saí voando! Meu Deus, será que eu vou conseguir voar? Já pensou como isso pode ser legal, Xiumin!? – Ele me pergunta sorrindo e me segurando pelos braços.

— É tudo muito incrível, Baek, sim, mas olha – eu aponto para o bloco de gelo, intacto, ao lado de uma linha preta no chão de pedra queimada – a força é muito grande, você precisa aprender a controlar.

— Isso é fácil, mel na chupeta. – Ele me solta com um ar de deboche e repete o mesmo procedimento de antes e o mesmo acontece.

Um feche de luz tão forte que o joga no ar para trás de novo.

— Ok, isso pode ser um problema. – Ele diz sentando-se por cima das pernas.

Depois de voar mais umas quatro vezes, ele finalmente consegue controlar o feche com uma intensidade menor e em um segundo ele não só conseguiu derreter o bloco, mas a força e precisão do feche foram tão grandes que ele abriu um buraco nele.

— Uau! Eu não esperava por essa, - olho para ele e tenho uma ideia – eu tenho um desafio, aceita? – Pergunto com a sobrancelha levantada.

— Manda, cabeça de gelo. – O sorriso voltou assim como suas piadinhas.

Eu capricho e faço um pedregulho de gelo da altura dele, porém com pelo menos dois metros de profundidade, ou mais.

— Faça o mesmo que você fez com esse bloco pequeno, nesse grande. – Digo indo para trás dele – Quero um buraco que eu possa ver você do outro lado, acha que consegue?

— Se eu consigo? – Ele pergunta e sua voz falha na última sílaba, quando ouve minha risada, ele dá um pigarro e retoma sua postura engraçada – Se eu fosse você sairia daí porque a luz pode te machucar. – E adiciona uma risadinha no final da frase.

— Certo, certo. – Vou para o lado dele e observo enquanto ele se prepara mais uma vez.

Dessa vez o feche está mais fino, concentrado, ao entrar em contato com o gelo o efeito é imediato e ele começa a derreter, porém perfeitamente no buraco que eu pedi.

Ele conseguiu fazer algo tão poderoso e forte em apenas algumas tentativas. Mas o gelo é muito espesso e forte, então ele está tendo mais dificuldades do que esperava.

— Bem que você disse que era um desafio. – Ele ri.

— Esse bloco não vai derreter sozinho, só por intermédio do seu feche de luz, você vai conseguir treinar seu foco e intensidade. Acha que consegue fazer isso hoje?

— Hoje? Você me insulta picolé, por achar que não consigo terminar isso rapidinho. Apenas observe.

Mas eu fiz de propósito um gelo com tanta força e densidade que para quebra-lo ele vai precisar de muita força e foco.

E precisou, porque nesse momento ele está com o cabelo todo bagunçado para trás e suado, as roupas colando no corpo e super focado no bloco, ele finalmente conseguiu fazer um buraco no gelo, fez o feche atravessá-lo de maneira perfeita e impecável.

Ele cai sentado quando finalmente consegue terminar.

— Eu te disse, cabeça gelada, eu ia conseguir isso hoje. – Ele tenta fazer graça, mas sua voz sai quase um ofego.

— Parabéns, Baek. – Sehun bate palmas para ele ao meu lado – Dá pra ver que você se esforçou bastante.

— Isso foi quase impossível. – Ele se deita no chão de braços e pernas abertos.

— Com o tempo fica mais fácil, vai por mim.

Praticamente ao meu lado, Kai aparece no meio do ar, com Lay ao lado, Suho e Chen desmaiados, ambos alvoroçados e jorrando ordens e informações.

— Nos ajudem a levar eles para a cabana de recuperação, eles estão muito debilitados, tomem um cuidado a mais com o Suho, ele é quem está pior... – Lay já se apressa a pegar os dois caídos e Sehun o imita. – Baekhyun, ascende o pilar farol, eles vão precisar de toda a ajuda possível! – Ele o obedece e no mesmo instante, o grande pilar de luz branca sobe aos céus.

— Você fica e desfaz a barreira de gelo, Xiumin. – Kai me adverte quando estava prestes a pegar o corpo de Chen do chão. – Tivemos problemas lá fora e eles devem estar voltando a qualquer momento e vão precisar entrar rápido.

Não respondo nem pergunto mais nada, apenas me direciono ao grande paredão de gelo que fiz para impedir que qualquer criatura pudesse entrar aqui, embora nunca uma tenha conseguido entrar e continuar viva, mas a precaução da mais paz.

Paro em frente o paredão e então me concentro para desfazê-lo, mas algo está errado, eu me concentro mais ainda, com mais força e foco, chega a ser irritante o quanto disse a palavra foco hoje, mas nada acontece, eu não consigo sentir o gelo, não consigo me conectar com ele.

Não consigo desfazer o gelo.

O pilar de luz branca se apaga atrás de mim.

O que está acontecendo?