PARTE 1

LABIRINTO

SEHUN

O chão está frio, é de uma pedra áspera, machuca minha pele. Porque estou aqui? Aliás, que lugar é esse? Me levanto e fico de pé olhando em volta sem entender que lugar é esse e o que estou fazendo aqui. Estou vestindo uma espécie de bata branca comprida e uma simples calça preta que não chega à metade das minhas canelas.

Estou em um corredor longo que termina em uma bifurcação, olho atrás de mim e apenas uma parede de pedra cinza e muito alta, as paredes do corredor à minha frente também são enormes, talvez com dois metros de distância entre uma e outra, quase não consigo ver onde elas terminam, quase se perdem no céu em meio a nuvens estranhas de coloração roxa misturado com cinza.

Sinto uma leve brisa gelada correr pelo corredor e arrepios correrem por minha pele, por algum motivo começo a andar para frente, afinal não existe nenhuma maneira de voltar, quem sabe seguindo em frente saio desse lugar estranho no qual estou.

Minha nuca está doendo, como se tivesse sido picada, minha cabeça rodopia e meu corpo está dolorido, mas como vim parar aqui? Seja lá que lugar seja esse.

Conforme vou andando mais e mais para frente eu não chego à lugar algum, apenas entro em corredores e mais corredores e mais bifurcações. Quando encontro o primeiro beco sem saída é que eu me desespero.

Meu coração começa a bater muito forte e muito rápido, quase o sinto bater em meus ouvidos e minha testa é coberta por uma camada de suor gelado.

É quase como se isso fosse um maldito labirinto.

Depois de não sei quanto tempo correndo e tentando sair daqui meus pés já estão calejados por correrem nesse chão de pedra áspera e acabo mancando do direito.

Sigo em frente e acabo me deparando com outro corredor sem saída. Estou ofegante quando volto, viro a esquerda e quase bato em outra parede. Outro beco sem saída.

Estou perdido.

— MAS QUE INFERNO!!!! – Me desespero e começo a espancar as paredes e gritando com força, tanta força que quase sinto como se minha garganta estivesse quase rasgando. – Eu só quero sair daqui... – Me recosto contra a parede, deixo meu corpo cair até o chão e começo a chorar me deixando cair em desespero.

Eu nem sei que lugar é esse ou como cheguei aqui ou...meu Deus...nem mesmo sei meu nome.

Eu não sei quando ou como, de alguma maneira não percebi os passos, mas bem na minha frente tem um animal estranho.

O corpo pode parecer de um cachorro, mas as costelas furam sua pele e se projetam para fora com pontas afiadas, não tem nenhum pelo e a pele branca quase como giz parece estar a ponto de se romper, onde deveriam estar o par de olhos tem na verdade três olhos pretos iguais a piche de cada lado e eles parecem olhar em todas as direções, o focinho é alongado e os dentes se projetam para fora da boca. O corpo é fino e alongado, porém parece muito forte e ágil e as quatro patas têm garras finas e cumpridas.

E está rosnando ameaçadoramente em minha direção.

— Calma...calminha...calminha...eu...

O animal avança em minha direção com um rugido que vem do fundo de sua garganta que não sei nem ao menos definir com o que se parece, mas me faz gelar por dentro.

Eu não sei como ou o que acontece, só sei que acontece.

Minhas mãos começam a formigar e então ficam geladas, tentando me proteger, cubro o rosto com as mãos e as sinto formigaram de novo, um farfalhar alto se faz ouvir e quando dou por mim vejo a criatura estranha voando em direção à parede a minha direita e se estatelando nela com força.

Me levanto rápido antes que o animal caia em cima de mim. Ele cai com força no chão soltando um guinchado alto, ao se levantar sua pata traseira esquerda parece estar machucada e uma das costelas que se projetavam para fora da pele está quebrada.

Mas isso não muda o fato de que ele ainda me fita com voracidade e agora só parece ter piorado.

Minhas mãos formigam de novo e sei o que fazer. De alguma maneira, eu apenas sei.

Projeto as mãos para frente, uma rajada de ar acerta a criatura de frente bem na cabeça e a faz rolar guinchando de raiva, arranhando o chão tentando se segurar no lugar e poder avançar e sem conseguir. Levanto minhas mãos e a rajada o faz voar, as projeto para o lado e o jogo contra a parede novamente fazendo outra de suas costelas quebrar.

— Ora, ora... – Deixo escapar com um sorriso se formando em meus lábios.

Antes que eu possa me recuperar do que quer que seja que eu esteja presenciando o animal corre em minha direção de novo e mais uma vez o afasto de mim com uma rajada de vento.

Ele passa muito perto de mim e uma de suas costelas acaba raspando em minha mão. Mas isso não me assusta, o prenso com força contra a parede de frente, sua cabeça bate de frente e ele cai mole no chão.

— É ISSO AÍ! É NISSO QUE DÁ QUERER MEXER COM O...Sehun...AHA MEU NOME É SEHUN!!!

Eu grito por mais alguns segundos, finalmente me lembrei do meu nome e sinto como se fosse o momento mais feliz da minha vida quase me sinto flutuar no meio do ar. Então me lembro de que estou preso aqui, seja lá onde for aqui e que não faço ideia de como sair.

Depois do meu êxtase acabar, volto a andar pelo labirinto sem ter a mínima ideia para onde ir ou qual direção tomar. Ando até meus pés doerem e não conseguir me sustentar mais, minhas panturrilhas doem, meus pés doem ao tocar o chão.

Me jogo no chão desesperado e sem forças.

Ouço outro rosnado.

Outra criatura está me olhando a distância, igual a que acabei de ver, mas essa parece um pouco maior e os olhos são vermelhos.

Eu não consigo lutar de novo. Não faço ideia de como vim parar aqui e nem mesmo quem sou...vou morrer aqui.

Um garoto aparece na minha frente, some e reaparece em cima do animal estranho e pisa em cima dele fazendo-o cair no chão e quebrar algumas das costelas que se projetam para fora.

Virando um dos corredores um outro rapaz loiro aparece, ele bate as mãos a frente de seu corpo e uma onda enorme se faz bem na sua frente em direção ao animal. O garoto que apareceu do nada some e a onda envolve o animal estranho.

— Me dá a mão. – O garoto aparece ao meu lado.

Não sei quem ele é, mas se quer me ajudar, não vou recusar.

Sinto uma corrente elétrica em meu corpo e quando me dou conta estou atrás do rapaz loiro.

Ele está mexendo os braços e a onda o responde, logo, o animal está dentro de uma esfera d’água.

— Já pode terminar Suho. – O rapaz dá uma tapinha no ombro do rapaz loiro.

Ele junta as mãos entrelaçando os dedos e a onda se condensa esmagando o animal fazendo a água se misturar com um liquido preto.

— Não toque nisso, - Suho se vira para mim – é tóxico. Descobrimos isso do pior jeito.

— Venha conosco, - o outro rapaz fala ao meu lado – vamos te explicar tudo ao longo do caminho. Meu nome é Kai, aliás...já se lembra do seu?

— Se...Sehun...

— Ótimo...alguns de nós demoramos alguns dias para nos lembrarmos... – Kai responde.

— Nós...?

— Cara...temos muitas coisas para te falar... – Suho fala começando a andar – Pelo menos o que nós sabemos...

— O que vocês sabem...?

— Você vai entender...esse maldito labirinto... – Kai olha em volta com expressão de ódio. – Não sabemos ao certo, só imaginamos. Enfim, - ele diz sacodindo a cabeça. – Você vai entender. Vamos, temos que voltar logo.

— Voltar para onde? – Pergunto para eles, mas eles já estão correndo pelo corredor.

— Você vem? É melhor vir! – Kai fala sem olhar para mim.

Corro e os alcanço, mas eles não diminuem o ritmo, correm com pressa, porém com facilidade, quase como se soubessem por onde e para onde ir. Kai tem os cabelos pretos e lisos balançando de lá para cá conforme ele corre, lábios grossos, pele morena, alguns músculos definidos no braço, um pouco mais baixo que eu.

Já Suho tem os traços mais finos, da mesma altura que Kai, bem mais branco e seu cabelo loiro só o deixa ainda mais branco, parece ser o líder. Ele para abruptamente, Kai quase esbarra nele, mas eu esbarro em Kai.

— Aquele é o Daehwi? – Suho pergunta olhando a distância para um outro rapaz magro de cabelos vermelhos correndo em nossa direção, ele manca, quase não consegue usar a perna esquerda e seu braço direito está pendurado muito ferido.

— Pessoal! Pessoal, eu preciso de ajuda! – O tal Daehwi se desesperou ao ver os dois, nem pareceu notar minha presença.

— Ele está com alguém. – Kai nota já começando a correr na direção deles.

O outro rapaz tinha o cabelo castanho bagunçado apontando para todos os lados, o rosto era delicado, mas estava todo machucado também, parecia estar chorando e ter dificuldade em correr também.

— Kai, cuidado! – Suho o alerta.

Ele se jogou a frente e de suas mãos jatos de água voaram, porém ele os segurou, como se fossem chicotes, outro animal de costelas para fora do corpo está preso, eu nem mesmo havia visto ele pulando na direção de Kai, quando ele percebeu, sumiu e sentou em cima dele virando seu pescoço com força parecendo querer quebra-lo.

— Como...como vocês fazem isso? – Eu consigo perguntar.

— Treino...muito treino. – Suho ofega. – Kai, cuidado! – Ele arregala os olhos na direção de Kai.

Quando eu me viro para vê-lo, ele já tem em seu ombro outra criatura de costelas furando a pele mordendo com força enquanto ele grita de dor. Mas ele não solta o que está preso e logo ouço o estalo alto de osso quebrando, um granido baixo e a criatura fica parada mole no chão.

Ouço outros dois gritos de desespero, Daehwi e o rapaz de rosto delicado caíram no chão, estão cobertos por essas criaturas, várias os mordem por todo o corpo, o vermelho vivo do sangue deles voando em contraste com a falta de cores desse labirinto me enjoa.

Não demora muito, e os gritos de dor param, apenas o som dos dentes mordendo a carne resta.

— Sai daí! – Suho grita e Kai obedece.

Ele some no ar e cai ao meu lado com o ombro estraçalhado, furos profundos nele e um líquido preto era expelido de cada um.

— Inferno... – Kai acaba caindo sentado, seu rosto perdeu a cor morena e agora está esverdeada, seus olhos sem foco e sua respiração começa a ficar errática, de repente seu corpo cai débil e mole no chão.

— Maldição! – Suho xinga.

Os animais pareceram perder o interesse nas vítimas que agora não lutavam mais e começam a vir em em nossa direção, eu me abaixo para segurar Kai e Suho se prepara para o combate. Contando rápido acho que vejo por volta de dez criaturas avançando contra nós. Ele corre em direção ao animal mais próximo de nós e um pouco antes de ser mordido, jatos de água voam de suas mãos e ele é arremessado no ar um pouco mais de um metro, gira no ar e cai em pé na cabeça do animal. Ele coloca a mão esquerda na cabeça da criatura, ela guincha e contorce embaixo do corpo dele, mas não demora muito e ela para, morta.

Mais que depressa ele se vira e com um movimento amplo dos braços várias agulhas de água são lançadas pelo ar acertando as criaturas que estavam mais na frente as fazendo guinchar de dor, ele aproveita a distração delas e mexe as mãos fazendo as agulhas de água se expandirem e explodirem com tanta força e pressão que várias criaturas são feitas em pedaços.

— Anda, vamos! – Ele corre, coloca Kai nas costas e começa a ditar o caminho.

— Como você fez aquilo? – Pergunto ofegante enquanto corro.

— Já disse, treino. – Ofegando ele vira a direita no próximo corredor.

— Não, quis dizer aquele primeiro movimento. A mão na cabeça daquilo.

— Ah, - ele solta uma risadinha – aquilo. Eu só sequei toda a água do corpo dele. Ele pode ser um animal estranho, mas ainda tem água no corpo.

— Uau. – Ele vira à esquerda, depois pega a esquerda em uma bifurcação. – Para onde estamos indo?

— Estamos indo para nossa base, mas preciso que Baek...finalmente! Vamos, para lá! – Ele aponta para um enorme pilar de luz branca e muito forte que surgiu no horizonte, perto de nós.

— O que é aquilo?

— É nossa base de segurança. – Ele ofega com dificuldade em segurar Kai. – Ele precisa de ajuda. O veneno de um B1 não demora muito em ir para todo o corpo. – Direita! Estamos...segura o Kai!

Suho para de repente e solta Kai no chão, projeta o braço para cima e um chicote d’água voa para a parte de cima da parede e derruba outra criatura, mas essa é diferente. Embora tenha a mesma estrutura, essa tem pernas curtas e grossas, cinco garras também grossas, uma pelagem preta e brilhante, dois olhos vermelhos e uma boca enorme com dentes pretos e tortos.

Ela cai no chão em posição de ataque e já pula para o bote em Suho. Ele não tem tempo de se proteger e recebe a mordida bem no braço direito e cai no chão com a criatura em cima dele, enquanto ela tenta com afinco atingir a jugular de Suho com mordidas barulhentas.

Eu preciso fazer alguma coisa, preciso ajudar. Ele não vai conseguir dar jeito nessa criatura sozinho.

Minhas mãos formigam, eu preciso ajudar e eu vou ajudar. Projeto minhas mãos para frente e uma lufada de ar atinge tanto Suho quanto a criatura que caem desajeitados.

— Uma ajuda contra ele seria bem-vinda, não contra mim! – Ele grita enquanto se levanta com dificuldade antes da criatura. Ele chuta o ar e uma onda se faz no ar e empurra a criatura contra a parede.

Minha vez.

Aproveito a distância que ele conseguiu e com as duas mãos faço uma grande lufada de ar que acerta a criatura em cheio, aumento a intensidade e ela fica presa contra a parede, cesso a lufada e então a acerto mais uma vez com toda a força na cabeça da criatura. Com um granido ela cai no chão se retorcendo até que fica mole. Morta.

Tanto eu quanto Suho ficamos parados por um momento sem entender. Eu consegui mesmo matar aquela criatura estranha? Eu? Quase me permito ficar um pouco entusiasmado. Quase. Suho cai para frente também se retorcendo.

— Suho, Suho...meu Deus, Suho, me fala a direção que eu tenho que ir, que eu busco ajuda! Me fala só... – Ele aponta para a direção de Kai. - Sim, depois? – O desespero me toma enquanto ele aponta para a direita entre espasmos de dor. – É isso? – Ele assente.

Começo a correr, mesmo com um pé doendo e quase mancando, viro a direta logo depois e sou tomado por uma visão que me deixa atônito por alguns segundos. As paredes servem como um enorme portal para um pilar de luz branca, muito forte, chega a ser difícil de se olhar diretamente para ela.

Eu me recupero e volto a correr em direção a ela, conforme me aproximo vejo que no centro do pilar de luz há uma sombra de uma pessoa e quanto mais próximo dela, maior fica seu calor, o desespero que eu sentia quase some e sinto meu corpo ser tomado por uma calma indescritível, quase felicidade.

— Suho...? Não, você é novo... – Um garoto de olhos grandes e castanhos me vê chegando.

— Socorro! Alguém ajuda – consigo pedir com dificuldade ofegando – Suho...Kai...caídos...feridos....

— Chen! Eles caíram! Me ajuda! – O garoto de olhos grandes grita para alguém atrás dele. – Você já lembrou seu nome? – Ele me olha direto nos olhos.

— Sehun... – ofego.

— Sehun, nos leve até eles.

Saio correndo sem nem esperar o segundo que ele chamou, apenas ouço seus passos atrás de mim e quando chego onde os deixei, Suho está convulsionando enquanto Kai tenta debilmente segurar sua cabeça, ao seu lado há uma gosma preta que parece ter saído de sua boca.

— Puta merda! – O garoto se aproxima deles, pisa com força no chão e um bloco inteiro se desloca para cima embaixo de Kai e Suho como se fosse uma cama para eles. – Chen me dá cobertura.

— Pode deixar! – Chen fecha as mãos e elas começam a brilhar e ficam transparentes e esse efeito sobe mais ou menos até seus antebraços e deles raios começam a sair, como se saíssem das palmas de suas mãos. Na verdade, saíam das palmas de suas mãos. – Se alguma criatura se aproximar, vai torrar.

— Kyungsoo foi um A2 – Kai ofega antes de desmaiar.

— Ótimo. – O rapaz de olhos grandes projeta os braços para frente e ambos os blocos começam a se mover, ele os controlava. Eu não sei porque, mas isso não me assusta, na verdade me dá até mesmo certa calma.

— Vamos indo também. Não estou muito a fim de combate. – Chen me instrui andando de costas para mim sem tirar os olhos de possíveis ataques que possam vir. – Pode correr com o Kyungsoo, eu cuido de algum problema que aparecer.

Atendo sua ordem e corro de volta para o pilar de luz, dessa vez ao vê-lo a paz e tranquilidade é ainda maior, como se fosse inundado por tranquilidade em cada veia do meu corpo.

Passo pelo portal que as paredes fazem e fico sem saber agir ou o que fazer.