We can never go home
We no longer have one
I'll help you carry the load
I'll carry you in my arms
The kiss of the snow
The crescent moon above us
Our blood is cold
And we're alone
But I'm alone with you
(No sound but the wind - Editors)


Ela havia conhecido todos os amigos do Doctor e sabia que, no fundo, os conhecia muito antes disso, mas algo bloqueava a sua memória. Tivera de ser apresentada a mulher que se dizia a sua mãe e que lhe implorava para que dissesse se lembrar. Rose disse que sim, porém Jackie parecia perceber que a filha só havia falado aquilo para que não se sentisse tão machucada. Tirando todo o estresse de ter pessoas encarando-a como se ela fosse algo que deu errado, Rose podia dizer que Jack era uma pessoa divertida, Sarah Jane era muito doce e os oods eram muito fofos e diferentes.

Porém o que a intrigava era o homem que a ajudava passar por aquela situação embaraçosa e que permaneceu - durante todo o tempo possível - ao seu lado, que sorriu e agiu naturalmente como ninguém o fizera até então. O que ela viu em sua mente era intrigante. Coisas que ela sentia, porém que estavam atrás dessa enorme parede que a impedia de chegar às suas lembranças. Além disso, ela teve o vislumbre de como aquele homem a via, e a visão - mesmo que rápida - foi suficiente para fazê-la sorrir.

Todos dormiam ao seu redor, após um dia tão cheio de novidades. Já ela encarava o teto branco. Sentia algo chamando-a, então levantou e foi andando a ermo. Passou por alguns corredores e portas como se tivesse uma direção pretendida. Até que encontrou a cabine azul que vira em sua mente. Se aproximou dela e colocou a mão em sua superfície e deixou o toque escorregar como um carinho. Sorriu.

“Você que estava me chamando,não?” - Sorriu, como se ouvisse uma resposta. - “Por que eu consigo te ouvir?” Rose colocou a outra mão na aparente parede externa da cabine e ouviu o que ela dizia. Estava tão atenta que não percebeu estar acompanhada. Ela sorriu a algo que a Tardis falou.

“Sem sono?” - Ela pulou e uma das mãos que tocavam a Tardis foi por um reflexo na direção do seu coração que batia acelerado pela surpresa. O doctor percebendo que a assustara se aproximou desculpando-se.

“Sem problema... É que eu estava meio que distraída.”

“Vejo que conheceu a Tardis.”

Ela sorriu para ele, e seus dois corações quase derreteram dentro do peito. “Sim! Você também a ouve?”

Ele balançou a cabeça meio incerto. “Não muito bem... Ela me leva aonde eu preciso estar, me protege, me mostra o que quer. Percebo quando ela não está bem. Nunca de modo direto, porém através de um computador ligado a ela.” O Timelord falava olhando com orgulho para o seu meio de transporte. Voltou o olhar para a loira. - “Por quê? Você a ouve?”

Rose olhou para a cabine e voltou a colocar a mão direita nela. Assentiu. - “Nitidamente. É como se ela lesse meus pensamentos e eu os dela.”

“E o que ela está falando agora?”

“Que você deveria parar de abrir a porta empurrando, e sim, puxando.”

“Oh.” - Ele fez uma careta. - “Mas é um hábito de tantos séculos.” - Rose sorri para ele.

“Ela entende... Só não gosta.” - Um sorriso se abriu no rosto dele. Depois, a loira abaixou cabeça por uns segundos e olhou para o Doctor carinhosamente. - “Ela disse que pode me ajudar a descobrir quem sou.”

“Talvez.” - ele ficou sério.

“Eu sou parte dela agora, doctor.” - Ele começou a ser aproximar dela.

“O que isso quer dizer?”

“Não sei..." - ele parou, enquanto ela prosseguia a falar. "Só sei que eu consigo senti-la. Dentro de mim.” - Foi a vez de Rose se aproximar dele, e o Doctor já conseguia sentir o seu perfume. Na sua memória, o beijo que eles trocaram, segundos antes dela acordar.

“o que você viu?” Ela o olhou confusa. - “Quando você tocou a minha mente. O que você viu?”

“The Oncoming Storm." - Ele fez silêncio, ela se aproximou mais. - "Eu vi a raiva, a tristeza e a solidão se juntando por séculos...” Rose o fitou ainda mais profundamente, como se estivesse lendo a sua mente, sem precisar tocá-lo. “A perda, e um planeta em chamas. A dor de cada mudança. Cada linha da sua existência.” - Ele quebrou a conexão dos olhos, abaixando a cabeça. Passou a mão no cabelo, num reflexo de nervoso e de preocupação. Rose colocou a mão no rosto dele, fazendo com que ele voltasse a olhar para ela. - “Eu vi você, Doctor.”

“E isso não te assustou?” - Ela balançou a cabeça. - “Por que não?”

“Porque em algum lugar dentro de mim, eu sinto tudo isso...”

“Como?” - Rose virou os ouvidos para onde estava a Tardis, como se ouvisse o que quer que a cabine queria dizer.

“Ela disse para você tentar de novo... Agora.” - O Doctor trouxe as mãos para a face da companheira e tocou as têmporas. No exato instante, uma enxurrada de imagens e sensações correram por seu cérebro como o sangue corria nas veias. Era como se uma porta tivesse sido aberta e Rose (ou a Tardis, ou as duas) estivessem permitindo-o viajar pelos espaços mais profundos da memória da loira.

Ele afastou os dedos da face de Rose, e abriu os olhos encarando-a. Finalmente vendo-a completamente. Os olhos dela estavam brilhando, como se houvesse dentro deles purpurinas douradas. “Isso é impossível. Você...”

Ela começou a recuar, conforme o brilho se apagava de seus olhos. Eles se fitaram ao longe, antes dela sair correndo para o lado de fora da fábrica onde estavam. O Doctor gritou seu nome, acordando a todos, porém não conseguiu impedi-la de adentrar na tempestade de neve que castigava o planeta.