Issa

- Estejam preparados. – avisou o caçador.

As bruxas aparecem nos atacando. Hansel, Gretel e o caçador começam a atirar nas direções. Edward consegue segurar algumas e acaba com as próprias mãos.

Segurei a faca, desviando de um feitiço. De soslaio vi que Hali desviou de um feitiço também, mas isso a afastou de todos. Tentei ir em sua direção, para não nos separarmos demais, mas um feitiço me joga em direção oposta. Quando me levantei, percebi que já era tarde demais, eu estava longe de qualquer um deles.

- Droga. – praguejei. Uma bruxa aparece em meio ao nevoeiro, com a varinha apontada para a minha direção. Segurei firme a faca, correndo em sua direção. Um feitiço é lançado, mas desvio com certa facilidade. Fiquei cara a cara com a bruxa, tentando acertá-la com a faca, mirando em seu pescoço, mas seus reflexos não eram ruins. Em um pequeno descuido levei um soco, seguido de uma sequencia de golpes, sendo finalizada com um chute na barriga. Caí, batendo a cabeça levemente, o que me deixou tonta. A bruxa caminhava lentamente em minha direção rindo. Levantei ainda tonta, mas a bruxa lançou um feitiço. Fui jogada contra uma árvore.

- Você está no nosso caminho desde que chegou aqui. Por sua culpa não conseguimos colocar as mãos na loira. – a bruxa disse, ainda se aproximando. Lançou um feitiço, que fez crescer raízes secas, que me prenderam à árvore. – Imagino como minha rainha iria ficar feliz com a sua morte. Eu iria ser prestigiada por levar à ela a sua cabeça. – com a mão, fez pressão no meu pescoço. – Principalmente você, aquela que possui o sangue dos povos do sol nascente tão raro aqui e tão útil em inúmeros feitiços poderosos. – ela riu, cravando suas unhas no meu pescoço de forma agressiva. Senti o sangue escorrer. Tentei me libertar dali, me mexendo, mas as raízes eram fortes. Comecei a me sufocar, fechei os olhos com força.

- Não... – consegui dizer com muito custo.

- Desista, é inútil. – ela riu, adorando me ver sofrer. Olhei para as minhas mãos, fechadas em punho, se recusando a morrer. Uma abelha pousou na minha mão, logo outra. Sorri de leve. – Que foi, sorrindo desse jeito? – fez uma pressão maior, ficando irritada.

- Pare agora, se não irá morrer. – a voz de um homem avisa. A bruxa diminui a pressão, por um momento, dando alguns segundos para respirar. Se aproximando pude observar um homem ruivo.

- Não pense que irá colocar as mãos nela Fagan! – a bruxa disse para o homem. – Eu a encontrei primeiro. – apesar das ameaças da bruxa, o homem não hesitava em se aproximar. Pude observar claramente o desespero da bruxa crescer. Quando o ruivo tocou levemente o rosto da mulher, quase como uma carícia, ela pegou fogo. As raízes se desfizeram, me derrubando no chão. Apesar do homem ter salvo a minha vida, minhas impressões sobre ele não eram nada boas. Corri para longe dali, até não conseguir escutar mais os gritos de desespero.

Parei quando cheguei ao grande e velho portão do castelo que era nosso alvo. Respirei fundo. O ar daquele lugar era sinistro, me causando calafrios.

- Pode parecer que vai desmoronar a qualquer segundo, mas ele continua sendo lindo. – a mesma voz de antes diz. O homem observava o castelo, parado. Tomando ciência de sua presença, recuei. Aquele homem colocou fogo em uma bruxa na minha frente. – Imagino... Como seria o castelo pegando fogo... – ele disse, e uma chama apareceu em sua mão.

- Não se aproxime. – foi tudo o que consegui dizer. Sua aura não era tão diferente do castelo, fria e sinistra. Segurei a faca próxima ao meu corpo, observando os movimentos do homem.

- Imagine agora... Eu seria a criatura mais temida se eu te matasse... – pude sentir o instinto assassino daquele homem. O barulho de tiro repentino assustou ambos, eu e aquele homem. Olhamos para a origem do tiro, vi o caçador. O feiticeiro rosnou, logo sumindo, como se nunca tivesse estado ali.

- Obrigada... – digo para o caçador. – Ainda não sei o seu nome.

- Não te interessa. – ele diz, de forma fria.

- Você é muito insensível. – digo, olhando agora para a porta.

- Digo o mesmo, você sempre está calma nas piores situações. Tem certeza de que é humana? – senti as palavras como lâminas afiadas. Não respondi, não precisa dele como inimigo. – Sou Axel Greenshield. – ele disse em um suspiro, encerrando a conversa. Ficamos em silêncio, até que Gretel e Edward apareceram. Logo depois, Hali e Hansel.

–Precisamos conversar. – ao chegar perto minha irmã sussurra.

–Sobre? – pergunto calmamente.

–Uma coisa que aconteceu na floresta.

–O que vocês tanto cochicham? – perguntou o caçador irritado. – Vão nos atacar quando entrarmos? – aponta a arma para nós.

–Dá para parar de desconfiar da gente? – Halidisse, claramente irritada. Observei o caçador, ele logo abaixa a arma, ainda receoso.

–Vamos entrar. – mandou Gretel.

Edward se aproxima daquela porta enorme e chuta, para ele foi como chutar areia dos pés. A porta cai fazendo um barulhão. Dentro do castelo está um breu, não dá para ver muito.

–Eu não devia estar aqui. – Hali diz.

–Por que não? – perguntou Gretel

Antes que ela pudesse responder, escutamos um barulho e gritos. Nenhum de nós achou forças para se mexer, aquele lugar não traria nada de bom. Olho para baixo, aquilo tudo era necessário. Levantei o olhar, observando Hali. Ela me encarou e eu sorri levemente. Tomei o primeiro passo e entrei. Um salão enorme com uma escadaria central, o salão sem móvel algum. Havia uma porta próxima ao pé da escada, e duas no topo dela.

– Vamos subir. – o caçador diz, mas eu seguro seu braço o impedindo.

– Não... Escute bem. – digo. – Os gritos veem dali. – aponto para a porta no pé da escada.

– Como podemos confiar? – ele diz, segurando firmemente a arma em suas mãos.

– Precisa apenas ter bom senso e bons ouvidos Axel. – digo, indo em direção à porta. Abri-a e ela revelou uma escadaria muito mal iluminada.

– Ben está lá... – Gretel disse em um sussurro fraco, como se seu pensamento estivesse escapado. Uma aura pesada tomou conta do lugar. Olhei para a escada central. Escutamos passos ecoando pelo interior do castelo.

– Saiam daqui agora! – gritei a plenos pulmões, agarrando Hali pelo braço para sairmos dali. Por impulso todos nos seguiram até a porta arrombada do castelo.

– Não adianta fugir. – me virei, observando quatro seres com mantos, um deles identifiquei como o feiticeiro, e uma mulher vestida de branco nos olhando. Ela tinha a aparência de um anjo, mas sua expressão mostrava o contrário. – Não adianta fugir, querida Bartinik. Eu vou matar todos e talvez eu comece pela sua irmã... – a mulher de branco começou a rir.

Todos me observaram assustados, até minha irmã. Eles apontaram suas armas para mim. Olhei para o feiticeiro no topo da escada rindo, junto com as outras figuras. Uma delas gesticulou e um vento forte nos expulsou dali e levantou a porta caída do castelo. Em instantes nos vimos fora do castelo. Me virei par Hali, que estava de cabeça baixa. Eu sabia que tinha magoado a loira, aquilo me entristecia.

– Hali... – tentei vira-la para mim, ignorando a possibilidade de levar um tiro de um dos caçadores.

– Não me toque. – ela afastou minha mão. – Você não é mais bem-vinda. – ela saiu dali sem olhar para mim.

– Bartinik... Deveria ter te matado antes. – virei e vi Axel atirando, em um impulso desviei, mas ele acertou meu braço. O braço ardia, talvez levasse meses para ser como era antes. Quem deu o tiro se aproximou, eu me apoiei no cotovelo do braço bom. Levantou a arma, colocando o cano na minha testa. Encarei-o, talvez aqueles olhos verdes fossem a minha última visão em vida. Ele parecia determinado a tirar a minha vida, mas por um momento vi receio nos seus olhos. – Tal desgraça deveria morrer à mercê dos lobos. – chutou meu peito, fazendo-me cair.

Escutei os caçadores indo embora. Ainda nevava. Fechei os olhos, agora não tinha para onde ir. Depois de anos, uma lágrima solitária desceu meu rosto. Novamente tiraram tudo de mim.