Hali

– Não adianta fugir, querida Bartinik. Eu vou matar todos e talvez eu comece pela sua irmã... – a mulher de branco começou a rir.

Aquelas palavras foram como tivessem jogado água fria em mim. Ela é a Bartinik. Eu a olho assustada, quando eles levantam a arma, eu levanto a minha. Minha mão treme, nunca pensei que apontaria uma arma para Issa. Escuto uma risada e olho para a direção, é o feiticeiro no topo da escada rindo, junto com as outras figuras e uma delas é a que me salvou. A mesma gesticulou e um vento forte nos expulsou dali e levantou a porta caída do castelo. Em instantes nos vimos fora do castelo.

Eu não consiga olhar para ela. Como pode mentir para mim? Justo a mim.

– Hali... – tentou Issa me virar.

–Não me toque. – Afasto a sua mão. – Você não é mais bem vinda. – Digo e saiu sem olhar para trás.

Eu corro sem me importar para onde vou, então escuto um tiro. Eu paro, não pode ser, eles mataram-na. Caiu de joelhos e começo a chorar.

–Não, não... - Digo

–Hali... – Sussurra uma voz feminina

Eu reconheço aquela voz, sempre escuto quando vai acontecer algo. Olho para frente e vejo que estou na frente de um rio congelado.

–Por que não me disse antes? – Pergunto para a voz

Recebo silencio como resposta. Eu choro mais ainda, mais uma vez estou sozinha. Escuto passos se aproximando, não me viro para saber quem é, nesse momento não me importo de morrer. Sinto uma mão no meu ombro.

–Hali. – Chama Hansel

Eu me levanto com tudo e me viro, e vejo que não está sozinho. Eu os encaro com raiva.

–Vieram saber se sou bruxa também? Vão me matar? – Pergunto num sussurro

Axel aponta a arma para mim.

–O que está esperando? ATIRA. – Mando – Não tenho nada a perder.

Gretel põe a mão no cano da arma de Axel e abaixa.

–Não se atreva. – Sussurrou perigosamente

–Ela pode ser uma bruxa, igual à irmã. – Disse Axel

–Se fosse, eles teriam falado. – Falou Hansel

As lagrimas não paravam, naquele momento queria sumir. Hansel me puxa para seus braços. Eu o agarro como fosse minha tabua de salvação.

–Shhh... – Disse Hansel

Eu não me importava se estava chorando na frente de estranhos. Hoje eu tive certeza que minha vida é amaldiçoada. Chorei no ombro de Hansel até dormir.

Sonho

Eu abro os olhos e vejo um belíssimo céu. Sento devagar e observo que estou no meu da floresta, não havia neve, somente folhas secas, folhas no chão e folhas caindo.

–Onde estou? – Pergunto para mim mesma

Escuto uma risada de criança e passos, aquela risada eu conheço. Vejo vultos pelas arvores. Eu me levanto e fico encarando as arvores.

–Vamos Hali. – Disse uma voz infantil

–Dorothy. – Sussurro

–Ela vai ainda aparecer para você, quando você tiver pronta. – Disse uma voz feminina atrás de mim

Eu me viro e a vejo.

–Oi, mãe.

Minha mãe sorri para mim, sou muito parecida com ela: cabelos loiros e olhos verdes. A diferença que parece um anjo.

–Hali, você precisa encontrar o livro.

–Que livro?

–O livro dos rituais, das bruxas negras.

–E onde eu encontro?

–Você saberá... Mas lembre-se, somente as bruxas negras podem pegar o livro.

Eu arregalo os olhos, como vou pegar algo que nem posso tocar?E onde vou encontrar uma bruxa negra para pegar, sem querer me matar? A única pessoa que poderia fazer isso é a Issa, mas ela morreu.

–Ela não morreu. – Disse minha mãe lendo meus pensamentos

–Não?

–Não.

Ela não disse mais nada.

–Eu não vou falar com ela, depois do que ela fez. Eu contei tudo a ela, ate sobre... – Escuto outra risada -... A Dorothy. Se ela tivesse me falado, eu entenderia.

Minha mãe se aproximou e pôs a mão no meu ombro.

–Meu raio de sol, você tem o coração de seu pai, cheio de amor. Eu sei que está magoada, mas no fundo você já a perdoou.

Eu aceno em negação e minha mão sorri.

–Antes de ir, mais uma coisa: precisa tirar o garoto da taverna.

–Garoto? Aquele do meu sonho?

–Sim. Ele não está seguro lá.

–Então ele é real?

–Sim, ele é. As bruxas precisam dele para terminar...

–Terminar o que? – Pergunto a interrompendo

–E tenha cuidado, não deixe que eles te peguem. Vocês tem pouco tempo.

Eu aceno em concordância. Ela me abraça.

–Não tenha medo de amar, é um grande poder para nós. – Sussurrou no meu ouvido.

Ela se afasta e tudo some.

Eu abro olhos, sinto minha cabeça rodar. Eu tento levantar, mas alguém me empurra para baixo. Meus olhos se encontram com olhos preocupados de Gretel.

–Você precisa de repouso. – Avisou Gretel

–Onde estou? – Pergunto olhando em volta. Com certeza, não era minha casa.

–Na taverna do caçador. – Disse Gretel

–Quanto tempo fiquei desacordada?

–Um dia.

Eu arregalo os olhos, 1 dia inteiro. Lembro-me das palavras da minha mãe. Eu levanto da cama, pego minha capa que está na cadeira e saiu do cômodo, Gretel diz algo, mas ignoro.

–O que você está Fazendo fora da cama? – Perguntou Hansel saindo do quarto.

Reparo que está segurando com uma mão um pão com queijo e na outra alguns papeis. Eu tiro da sua mão e dou uma mordida.

–Eu vou atrás da Issa. – Digo antes de pegar outra mordida.

Eu dou um passo, mas Hansel para na minha frente.

–Vai aonde?

–Olha, quando achar a Issa e sairmos daqui, explico tudo a vocês.

–Bruxa. – Disse Axel atras de mim

Eu me viro, mas meu olhos não vão para o Axel que está apontando uma arma para mim, mas sim para trás dele, para o garoto que está se escondendo.

–Você! – Digo apontando

O garoto me olha assustado, mas não sai do lugar. Eu me aproximo, mas Axel para na minha frente.

–O que você quer com ele? – Perguntou com a arma apontada.

–Nós precisamos tirar ele daqui, ele não está seguro. Eles viram atrás dele. – Digo firmemente

–Por que? – Questionou Axel.

–Esse garoto está em perigo por causa disso. – Eu pego os papeis da mão do Hansel. – As crianças que sumiram, tinham uma coisa em comum: seus olhos. Todas tinham olhos de cores diferentes.

Entrego os papeis para Gretel e Axel. Hansel e Gretel olham pro garoto.

–Isso eu tinha reparado. – Informou Hansel

–Nós precisamos tirar ele daqui e ir atrás da Issa.

–Por que atrás da Issa? Ele é uma bruxa negra. – Disse Axel

–Ela é a única que pode pegar o livro de rituais.

–Livros de rituais? – Perguntou os três juntos

–Sim, é isso que eles vão fazer. Precisam das crianças para algum ritual. – Informo

–Podemos pegar nós mesmos. – Disse Axel

–Somente bruxas negras podem tocar e ler esse livro.

Axel me olha estranhamente.

–Como você sabe tudo isso? – Interroga Axel

Se eu dizer que minha mãe me contou no sonho, levarei um tiro bem no meu coração. Hansel aparece na minha frente, ficando entre nós dois.

–Você não vai atirar nela. – Disse Hansel perigosamente

Eu sinto meu coração acelerar por essa atitude, ninguém nunca arriscou a vida para mim. Os dois se olhavam com raiva.

–Ele não vai atirar em mim, não na frente dele. – Digo para Hansel, então me viro para Axel– Não interessa como eu sei, só precisamos resolver isso logo.

Axel me olha desconfiado, o garoto para ao seu lado e põe a mão no seu braço.

–Ela é boa. – Disse o garoto

Eu fico sem reação. Conto nos dedos quantas pessoas me disseram isso de mim, já que sempre as pessoas se afastam de mim e querem me matar. Ele me olha com carinho

Axel abaixa a arma e me encara.

–O que faremos primeiro? – Perguntou Axel de má vontade

–Primeiro vamos escondê-lo e depois achar Issa. – Digo

–Aonde vamos escondê-lo? – Perguntou Gretel com a sobrancelha arqueada

–Um lugar que ninguém suspeitaria: na minha casa.

O Garoto