Issa

- Eu sou Gretel e aquele é Hansel. O que foi levado é o Ben. – disse a mulher.

- Halias Luna. – a loira ao meu lado disse.

- Issa Ootsuka. – digo.

Após a pequena apresentação, caminhamos até alcançar a estrada que levava até a cidade. O caminho era longo, provavelmente chegaríamos lá pela noite. Não gosto da ideia da cidade, afinal, todos nela tem certa antipatia comigo e com Hali. Infelizmente, passar a noite lá é a opção sensata que não levantaria suspeitas.

Se passaríamos a noite na cidade, pelo menos que fosse na taverna mais próxima à saída da mesma. Tavernas não são os lugares mais limpo, nem os mais indicados para passar a noite, mas eu tinha minhas preferencias e imagino que Hali entenda.

- Podemos pousar aqui. – digo apontando para a fachada do local, que por si só já era de amedrontar ratos de esgoto. Hali fez uma careta, mas não recusou a entrada no local. Por outro lado Gretel pareceu não gostar da ideia da taverna.

- Não acha melhor um lugar mais... Apropriado? – a morena perguntou.

- E o que há de errado com este lugar. Tavernas cobram barato pela estadia. – digo, encarando-a de forma meio confusa.

- O que minha irmã quis dizer é se vocês não querem passar a noite em um lugar limpo, com uma velhinha bondosa atendendo vocês. – senti a ironia forte na voz do garoto.

- Me obrigue a passar a noite em outro lugar. – digo, entrando no estabelecimento. Fui até o balcão, pedindo um quarto para duas pessoas por uma noite. O homem que me atendeu me olhou de baixo à acima, como se não acreditasse no que via. É, eu não era uma típica cliente, a não ser que os clientes dele usassem vestidos vermelhos que iam até o chão. – O que está olhando? – perguntei com certa ferocidade.

- Nada, me siga até o seu quarto. – por fim o homem disse, saindo do balcão e subindo escadas, até chegar a um corredor com várias portas de madeiras. Ele abriu uma delas e me deixou entrar. Havia duas camas no quarto, nada a mais ou nada a menos. Realmente era o mais simples possível. Hali entrou no quarto logo em seguida, deixando os nossos pertences no chão.

- Por que esse lugar? – Hali perguntou, observando se os caçadores estavam na nossa cola.

- Aqui tem tantas pessoas mau caráter que os caçadores irão nos ignorar por hora. – digo, enquanto arrumo provisoriamente a cama.

- É, não tinha pensado nisso. – ela respondeu sentando na cama. – Acha que se descobrirem... Eles vão...

- Nos matar? – completei a ideia. – O que você acha? – perguntei de volta.

- Que sim. – ela suspirou.

- Vocês vão descer? – Gretel passou pela porta do nosso quarto, nos convidando.

- Se vocês pagarem a conta. – sorri. – Quer descer para tomar algo Hali?

- Claro. – ela sorriu. Nós três descemos, Gretel nos guiou até uma mesa onde o irmão já bebia. Na mesa havia outro homem, este estava encapuzado, escondendo a todo custo o rosto. Sentamos na mesa, mas quando o fizemos, o homem encapuzado deu uma desculpa qualquer e saiu da mesa.

- Quem era o amigo tímido de vocês? – Hali perguntou.

- Quem nos contratou. – Gretel respondeu.

- Entendo. Ele realmente indicou a floresta como o paradeiro da bruxa? – a loira questionou.

- Sim. Como a sua casa foi a única que encontramos, entramos nela.

- Arrombaram, você quis dizer. Sabe que ainda me devem uma porta, né?

- Sim, prometo que depois de terminar nossos serviços, eu arrumo uma porta nova. – as duas começas a rir, como se fossem boas e velhas amigas.

Hansel levantou e foi ao balcão, provavelmente pedir algo. Logo ele voltou com quatro copos. O cheiro forte de álcool invadiu a mesa quando ele se aproximou. Peguei um dos copos para beber. Observei Hali, que recusou a bebida.

- Que foi, a mamãe ali não deixa beber? – Hansel perguntou, apontando para mim de forma debochada. O fuzilei com o olhar, mas ele pareceu me ignorar.

- Não é isso. – Hali disse, devolvendo o copo para o homem.

- Então a menininha não pode beber? – o copo voltou para Hali.

- Já disse que não é isso.

- Pare com isso Hansel. – Gretel disse.

- Coitadinha da menininha. – a loira o olhou com fogo nos olhos, enquanto se levantava. – Já passou da hora de dormir também? – Hali o fuzilou com o olhar, pegando o copo de bebida e tomando seu conteúdo todo de uma vez. Tomei um pouco do meu, observando a tempestade se formar.

- Quem é a menininha? – ela jogou o copo na cara de Hansel. Sorri, percebendo que se continuasse assim Hansel estaria deformado depois de uns dias conosco. Digo que o olhar que Hansel nos lançou não era nada simpático, ele levantou e jogou o conteúdo do seu copo na direção de Hali, mas esta desviou.

- Vamos dormir, está começando o efeito da bebida. – falei, chamando a loira.

- Quem foi o bastardo?! – escutei uma voz grossa. Me virei e era um brutamontes, que estava molhado e cheirando a álcool. Olhei para Hansel, mas ele apontou para mim. O homem avançou sobre mim, me segurando pelo pescoço. Essa foi a deixa para começar uma confusão na taverna, que era o que todos ali esperavam, um pouco de confusão.

- Hansel faça algo! – Gretel gritou, escutei o riso do homem e vi Hali preocupada me observando. Enquanto isso o lugar inteiro foi tomado por uma onda de brigas. Segurei o pulso do homem que ainda me enforcava, me tirando o ar. Com força, cravei minhas unhas o mais fundo possível. O homem assustou e me largou, dei um soco na cara dele, fazendo-o cair no chão.

- Vamos logo dormir Hali. – digo, indo em direção a mesa, enquanto me desvio de várias brigas.

- Issa, cuidado! – Hali gritou e me virei a tempo de ver um brutamontes furioso vindo em minha direção. Imagino que nenhum milagre me salvaria de levar uma surra naquela hora.

- Que bosta é essa?! – um grito vez todos ali pararem. Procurei o dono da voz, ele estava na entrada da taverna. – O que está acontecendo aqui? Quem fez isso? – por algum motivo obscuro, todos apontaram para mim. Suspirei. Acho que teria que dormir na rua hoje. – A taverna está fechada. Saiam todos daqui. – o homem gritou, enquanto ouvia-se protestos e murmúrios. – Vão logo antes que eu resolva atirar em vocês. – bastou isso para todos saírem dali correndo.

- Hali, vá dormir logo, eu me resolvo aqui. – sorrio para a garota. – E depois eu me entendo com você, ouviu? – apontei para Hansel. Eles subiram para dormir, enquanto o “dono” do lugar se aproximou.

- Sabe quanto isso vai custar para mim? – ele possuía belos olhos verdes penetrantes. Um belo rosto, e um corpo nada mal. O cabelo dele estava bagunçado e negro, como a noite. Ele não me era estranho. Estreitei os olhos, tentando lembrar de onde tinha visto ele.

- Muito. – digo, quase que inconscientemente. – Você... O caçador. – digo, me lembrando que ele era o caçador de bruxas daquela cidade, o mesmo que já “esbarrou” em mim e em Hali mil vezes. – Então o caçador tem um hobbie? – sorri de forma irônica. Ele me fuzilou com os olhos.

- Saia daqui.

- Espera, eu não tenho onde dormir.

- O que aconteceu com a sua cabana na floresta? – ele perguntou, como se me acusasse de bruxaria. Bom, todos me acusavam.

- O mesmo de sempre, camponeses furiosos tentaram destruir minha casa. – digo, pensando na desculpa mais óbvia de todas. Ele suspirou.

- Suba. Não quero mais ver você aqui amanhã, espero que entenda. – ele disse, apontando a arma para mim. Sorri, concordando com a cabeça e subindo as escadas.

Caçador:

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