Hali

– Satisfeito? – Pergunto ao Hansel. Em menos de um dia, consegui causar mais problemas que normalmente tenho.

– Ainda não. – Respondeu Hansel. Eu podia ver um sorriso maldoso formando em seu rosto, mesmo ele estando de costa para mim.

– Se fomos expulsas, você vai se ver comigo. – Ameaço. Ele se vira e me olha acima e abaixo. Aquilo fez minha paciência, que estava no limite, evaporou. Aproximei-me dele. – Não estou brincando. – A bebida estava me deixando mais corajosa.

– Vamos dormir que o dia foi cheio e longo. – Disse Gretel se metendo no meio da gente.

Eu passo pelos dois, mas não deixo de dar uma ombrada em Hansel.

– Eu devia ter deixado aquela bruxa ter a pego, assim o Ben não teria sido capturado. – Disse num tom para que eu escutasse.

Aquilo fez minha raiva aumentar, eu abro a porta do quarto, entro e fecho com tudo.

– Maldito! – Xingo. – Ele pensa que é quem? Um caçador idiota.

Troco-me rapidamente, minhas costas não doem tanto, aquele chá faz milagres. Minha irmã entra com uma cara de poucos amigos.

– Vamos ser expulsas, Issa? – Questiono sentando na cama.

– Não, Hali. Temos que sair bem cedo. – Respondeu. Trocou-se rapidamente também e deitou na cama, faço o mesmo.

– Por que sair tão cedo? – Pergunto. Mesmo com uma expressão mais calma, vejo o medo nos seus olhos. – O que houve?

– O dono da taverna é o caçador.

Meu sangue gelou, estamos em perigo ali. Issa deve ter visto meu medo, ela estica a mão e eu pego.

– Não irá acontecer nada. Eu não deixarei nada acontecer com você. – Prometeu Issa. Ela aperta minha mão de modo carinhoso.

– E eu não deixarei nada acontecer com você. – Prometo

Soltamos as mãos e fomos dormir. Num sono pesado.

Sonho

Eu estava sentada no meio do nada, tudo em volta estava escuro, só havia luz onde eu estava. Levanto-me e começo a andar, mas a luz permanece em mim, ando as cegas.

– Nos ajude! – Pediu uma voz.

Eu olhava para todos os lados, mas não vejo nada.

–Quem está ai? – Pergunto na esperança de alguém aparecer

–Nos ajude! – Pediu outra voz

Viro-me para a direção da voz e vejo uma criança, uma menininha de seus 7 anos, estava com um vestido branco. O que mais me chamou atenção, seus olhos, era um de cada cor.

– O que houve? – Pergunto me aproximando. Quando estou a dois passos dela, a luz que iluminava, apaga e ela some.

–Você precisa protegê-lo. - Disse outra voz

Virei-me e vejo um menino de 10 anos. Estava usando branco também.

–Quem? – Questiono. Aquilo

–Ele é o ultimo que falta. – Disse outra criança.

12 crianças, todas vestidas de brancos, de diferentes idade, aparecem em volta, formando um circulo. Todas pediam para salva-lo. Aquilo estava acabando com a minha paciência.

–QUEM? – Grito para que alguém me responda

Uma das crianças se aproxima parando alguns passos de mim.

–Eu. – Disse o garoto

Acordo assustada, suando frio. Quem eram aquelas crianças? Principalmente, quem era aquele garoto? Olho para outra cama e vejo minha irmã ainda dormindo. Levantei-me e fui ate a janela, vi que estava começando a amanhecer. Minha cabeça dói um pouco, não devia ter bebido.

Troquei-me rapidamente o mais silenciosamente possível, tirei o curativo e vi que não estava muito roxo, só estava um roxo claro. Pego um pouco da erva da minha bolsa e saiu do quarto, duvido que teria alguma alma naquela hora. Desço e procuro a cozinha, o que foi um pouco difícil, e como eu achava, estava vazia. Pego uma panela e ponho água para esquentar.

Aquele sonho não sai da minha cabeça, aquelas 12 crianças me cercando, e aquela que deve ser salva, mas essa, não consigo lembrar direito do seu rosto. Quando Issa acordar, conto sobre o sonho. Acabo de preparar o chá e ponho no copo, viro de uma vez.

Sinto que estou sendo observada, viro-me e encontro com uma criança, dos seus 9 anos. O que mais me chama atenção e me assusta ao mesmo tempo, são os seus olhos, seus belos olhos curiosas de cada cor: azul e verde. Naquele momento, lembro do rosto da criança.

–Você! – Sussurro. Fecho os olhos com força e abro os olhos, mas ele não estava mais lá. – Devo estar sonhando. – Lavo o copo e saiu da cozinha, mas dou de cara com uma pessoa.

–O que você esta fazendo na minha cozinha? – Questionou o caçador

–Eu estou com fome e fui ver se tinha alguém acordado. – Menti. Se eu fala a verdade, estaria sendo levada para a fogueira. Ele me olha desacreditado, não comprou minha resposta.

–Acha que acredito em você? Principalmente vindo de você? Sua... – Mas foi interrompido por uma mão no seu ombro.

–Não precisa tratá-la assim. – Disse Gretel. Naquele momento sorrio em agradecimento, não que eu precisasse de ajuda, mas porque não queria mais confusão. – Ela só esta com fome.

Ele a olhou como tivesse visto uma bruxa em pessoa.Então vira seu olhar para mim com ódio.

–Você e sua irmã saiam daqui. - Mandou

Nos deixou sozinhas no corredor.

–Obrigada. – Agradeço. Vejo cansaço em seus olhos. – A noite foi difícil? – Pergunto andando em seu lado.

–Sim. – Respondeu rapidamente.

–Pesadelos?

Ela não responde e desvia o olhar. Eu sorrio em compreensão. Eu ponho minha mão em seu ombro.

–Eu sei como é. Às vezes nossos verdadeiros inimigos são os pesadelos, afinal, não é fácil derrotá-los. – Digo. Ela volta a olhar com carinho para mim. – Se precisar conversar, estarei aqui.

–Você trata todas as pessoas estranhas assim? – Questionou Gretel

–Depende, mas eu quando vejo algo bom nas pessoas, eu trato bem. – Respondo com um sorriso no rosto

–Por que as pessoas daqui os tratam mal? – Questionou novamente Gretel

–As pessoas costumam afastar o que elas não entendem. – Respondo mexendo alguns fios soltos do meu cabelo

Nossa conversa encerra quando vemos minha Irmã na escada. Ela mesmo com a fisionomia calma, sei que estava preocupada.

–Onde você estava, Hali? – Perguntou calmamente.

–Fui à cozinha.

Issa entendeu o que fui fazer. Ela acabou de descer as escadas e para em meu lado.

–Ola Gretel.

–Olá, você viu meu irmão?

–Felizmente, não. – Disse Issa sem rodeios

Eu soltei uma risada baixa, definitivamente Hansel não estava nas nossas graças,principalmente depois de ontem. Gretel sorri de diversão.

–Vamos tomar café da manhã. – Digo. Faço sinal para Gretel e Issa irem sentando, quando pego algo para comermos no balcão. Volto na mesa com um prato de pão e queijo. Volto e trago três copos e uma jarra com água. – Pronto.

Logo Hansel se junta, com uma cara de poucos amigos. Ele pega o copo da irmã e dá um gole. Issa estava preste a falar algo para Hansel, quando o caçador se aproxima, segurando uma arma.

–Não avisei para saírem?

–E isso que vamos fazer. – Respondeu Issa

Ela se levanta e pega sua bolsa, eu faço rapidamente o mesmo. Issa acena para Gretel e Hansel, e passa pelo caçador sem olha-lo, com o queixo levantado com orgulho.

–Bem, adeus. Gretel, você é bem vinda em nossa casa. – Me viro para Hansel. – Você, não.

–Ei. – Disse Hansel indignado

Eu dou um sorriso brincalhão, e vou atrás da minha irmã, passo pelo caçador e viro o rosto. Encontro ela lá fora me esperando. Segurava minha capa, que ponho rapidamente.

–O que houve para acordar tão cedo? – Perguntou Issa.

Enquanto andávamos, tinha a sensação de sermos vigiada. Viro-me e vejo aquele garoto numa das janelas do andar de cima da taverna, nos observando.

–Hali!Hali! – Chamou minha irmã

–Desculpe. – Volto a olhar para ela. – O que você disse?

Ela olha para a mesma direção que eu, mas a criança não esta mais lá. Realmente, estou tendo alucinações.

–Esta olhando para onde?

–Nada não.

–Então me diga por que acordou tão cedo?

Meu sorriso que some do rosto.

–Eu tive um pesadelo.

Ela pega minha mão para dar apoio.

–Os mesmos? – Perguntou novamente

–Não, esse é diferente.

Ela aperta a minha mão, como na noite anterior para que continuasse. Só espero que ela consiga acalmar meu coração, que ainda estava cheio de preocupação, principalmente com aquele garoto.