-Faltam 3 semanas para o teu aniversário Lilly, já sabes o que vais fazer?

-Não sei mãe, mas até lá havemos de descobrir alguma coisa divertida para fazer, tu sabes que és a minha única “amiga”.

-Mas eu estou a morrer filha…- ela olhou-me nos olhos.

Estávamos num táxi a caminho da quimio quando a minha mãe começou com esta conversa.
-Ai mãe, pára com, isso. Tu sabes que eu odeio quando começas com essas crises.
-Não é nenhuma crise filha, é a realidade.
-Olha, está a dar aquela música que tu gostas! - Tentei mudar de assunto porque magoa quando a minha mãe fala assim… E se ela estiver mesmo a morrer? O que eu vou fazer? - “Don’t worry, Be happy”- cantei.
-És tão linda filha, não mereces que o teu pai te desvalorize desta forma- uma lágrima desceu pela sua face- agora que eu vou morrer, quero que sejas feliz. - ela sorriu- Lembras-te quando eras pequenas e fazias birra porque eu não te dava doces como o teu pai? Tu deixavas de falar comigo e dizias que me odiavas… Sempre foste uma criança muito agitada. - um sorriso formou-se nos seus lábios.
Eu já estava a começar a chorar, pois achava que ela estava mesmo a morrer.
-Shh… Lilly, não chores… És demasiado linda para uma coisa dessas filha… Shh…
-Eu gosto muito de ti mãe e arrependo-me de ter desperdiçado tempo com aquele monstro porque ele me dava doces do que contigo que realmente te preocupavas comigo. Ao longo dos anos aprendi a dar valor á mulher que me criou e que sempre fez tudo para eu ser feliz…
-Nem imaginas as coisas que eu ainda gostava de te ver fazer… Gostava de estar aqui quando estivesse pronta para o baile com o teu par, quando te casasses, quando tivesses filhos… De qualquer maneira vou morrer feliz por estar contigo. Só quero que sejas feliz meu amor. - ela dirigiu as mãos ao pescoço e tirou o colar que ela tinha com o nome dela- Quero que fiques com ele e que saibas que vou estar sempre contigo. Promete que nunca mais te vais prostituir, se for preciso sai de casa e abandona o teu pai, mas promete-me que nunca mais vais fazer isso….
-Eu prometo. - ela acenou- Mãe, não me deixes, por favor… se tu partires eu não tenho mais ninguém e vou ficar sozinha, por favor, não vás.
-Filha, eu vou estar sempre contigo, vou ver tudo o que fazes e vou tentar ajudar-te sempre… Eu prometo.
-Por favor mãe…- solucei.
-Gosto muito de ti meu amor, nunca te esqueças disso- a minha mãe sorriu.
Nos segundos a seguir, a minha mãe ficou a olhar para mim, depois fechou os olhos e apertou a minha mão com força… Ela estava a sentir dor… Quando senti ela largar a minha mão desesperei por completo.
-NÃÃÃO!- gritei- Acelere o carro! Chame uma ambulância! A minha mãe está a morrer! Ajude-me!
Tudo passou muito rápido… Fomos para o hospital, tentaram reanimá-la, mas já não valia a pena…
Naquele momento foi como se o mundo caísse todo em cima de mim… Os pensamentos de suicídio invadiram novamente a minha mente e já não havia nada que me impedisse de os realizar… A única pessoa, em 7 bilhões com quem eu me preocupava acabou de falecer e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso...
A minha mãe morreu a caminho da quimio.