Ryan beijou o pescoço de pele branca, e alisou os longos cabelos ruivos de Lindsay; num instante, os livros estavam jogados no chão, e entre beijos e carinhos, ele cometeu um erro ao sussurrar no ouvido da garota.

- Meu nome não é Marissa! – disse ela, empurrando Ryan; ele não falou nada por quase um minuto.

- Desculpa, Lindsay. Eu...

- Ainda gosta da Marissa. Ok. Eu fui muito idiota mesmo, Ryan. – Lindsay vestiu a blusa, e apanhou os livros; não era a primeira vez que ia à casa dos Cohen estudar com Ryan e os estudos sempre acabavam em bons amassos. – Ah, e procura outra pessoa pra estudar física com você. Eu cansei.

- Ei, Lindsay, espera, não foi por mal. – Ryan correu para acompanhar Lindsay, mas ela não esperou para conversar mais; não podia, dessa vez não ia voltar, não daria uma nova chance a Ryan. Seth entrou na sala no instante em que ela bateu a porta, Ryan estava no alto da escada.

- Aquela era Lindsay Wheeler? Pensei que você estava sofrendo pela Marissa.

- Não enche, Seth.

- Ok, eu estava exatamente indo falar com você. – Seth começou a subir a escada, mas Ryan virou as costas.

- Não tô a fim de ouvir suas maluquices, Seth, por que você não vai procurar o seu amigo? – como sempre, Seth não deu nenhuma atenção ao mau humor de Ryan, e continuou andando atrás dele, até chegar ao quarto; sentou na cadeira de frente ao computador; Ryan começou a juntar os livros, sem muita disposição pra conversar, fazendo de conta que o irmão não estava ali.

- É sobre os nossos pais, Ryan.

- Hum, o que é que tem eles?

- Essa é a questão! Você não acha que tem alguma coisa errada com eles? – Ryan olhou para Seth, balançou a cabeça e continuou guardando os livros. – Olha só, você lembra quando foi a última vez que os nossos pais brigaram?

- Não.

- Exatamente, eles não brigam; eles não conversam, por que você não pode chamar um “bom dia” ou “como foi no trabalho” de conversa, não é? Bom, se eles não brigam, não conversam, não saem, eles também não fazem sexo. Você não acha que alguma coisa está errada? – Ryan fez uma cara de nojo.

- Eu acho que alguma coisa esta errada com você. Isso é doente, Seth.

- O que?

- Olha, eu tenho a minha própria vida... Sexual... Pra me importar, e você deveria se preocupar com a sua, olha, o tempo tá passando, o colegial tá quase acabando e você ainda é virgem. Então, para de se meter na vida dos outros e vai procurar o que fazer. – Ryan abriu a porta e convidou Seth a deixá-lo em paz, precisava pensar, na verdade precisava parar de pensar em Marissa; estava muito arrependido de ter terminado, mas era orgulhoso demais pra voltar atrás.

***

Summer estava estranha desde que voltaram de Nova Iorque, e agora Marissa tinha certeza que a amiga tinha visto ela e Cal se beijar; a atitude de não comentar nada com Summer fazia ela se sentir ainda pior, nada poderia ser mais terrível do que ser falsa com uma amiga, aliás, nenhum cara valeria a amizade dela e Summer, por isso elas tinham que conversar. Summer estava no seu quarto lilás; livros e revistas espalhados em cima da cama, TV ligada no seriado preferido dela, e o notebook ao lado, agora Summer praticamente não se desconectava; Marissa não entendia como ela conseguia fazer tudo ao mesmo tempo.

- Hey, Coop.

- A gente pode conversar?

- Eu tenho que terminar o dever de matemática, mas, hum, ok, claro que nós podemos conversar, Coop. O que aconteceu? – Marissa respirou fundo.

- Eu beijei o Cal quando nós estávamos em Nova Iorque. – Marissa esperou que Summer falasse alguma coisa, ficasse chateada, a acusasse de traição, ou qualquer coisa, mas Summer não alterou a expressão do rosto. – Summer, fala alguma coisa?

- Ele beija bem? Que pergunta idiota, ele tem a boca mais gostosa do mundo, é claro que tem um beijo delicioso. Mas isso é só você quem sabe!

- Summer, desculpa, não foi de propósito. Eu não sei o que aconteceu, a gente estava conversando, e falando dos nossos ex, eu acho, não sei.

- Por que você tá me contando? Se eu quisesse saber, teria perguntado, eu vi.

- Eu sei que você viu. Por isso você esta estranha comigo. E, eu não queria que isso acontecesse, Summer, eu sinto muito. – Summer ficou um instante sem falar nada, pensando, e um pequeno sorriso começou a brotar dos seus lábios, nenhum cara valeria a amizade dela e Coop, não importa o quanto gostoso ele seja.

- Eu falei que ia acontecer, não falei?

- Mas não tá acontecendo nada, Sum, foi só um beijo e não significou nada, eu juro.

- Ok, não precisa jurar, Coop, eu acredito em você. E não se preocupe, eu não estou mais interessada no Baby Nichol, ele é todo seu! – Summer falou com seu jeito divertido, Marissa não acreditava que ela estivesse falando a verdade, mas por outro lado a sua esperança sempre foi que Summer percebesse que Cal não era o tipo de cara que ela gostava afinal, talvez isso tivesse acontecido. – Eu conheci um cara legal.

- Sério? Quem?

- Dwigth. 19 anos, estuda no Canadá. Talvez eu possa passar o verão em Quebec. – Escapismo, era a tática de Summer, quando ela se recusava a falar sobre um assunto, não adianta fazer nada, se Marissa insistisse em falar de Cal, ela daria voltas e voltas e nunca ia admitir que gostava dele.

- Quebec? Ham, parece legal. Bom, acho que eu vou deixar você terminar o dever de matemática.

- Ok, a gente se vê. Vamos combinar um passeio ao shopping, eu estou precisando gastar minha mesada com algumas coisas inúteis, talvez você possa me dar uma força.

- Claro, se é para comprar coisas inúteis, esta falando com a pessoa certa.

Aquilo não deveria estar acontecendo; primeiro terminou com Ryan, o garoto de quem sempre gostou por um motivo que ela nem sabia exatamente qual era; beijou Cal, um garoto de quem ela não gostava, mas era o mesmo por quem sua melhor amiga estava apaixonada; agora estava esse clima estranho entre ela e Summer; a última vez que as duas brigaram – e nem se pode chamar de briga exatamente – foi quando Summer apagou as velinhas no aniversário de seis anos de Marissa antes que a própria fizesse, e Marissa deu um puxão nas tranças da amiga; depois disso nada de brigas, elas eram como irmãs, trocavam roupas e tinham uma pulseira da amizade comprada na Disney. Se ela e Ryan não tivessem terminado nada disso estaria acontecendo. Marissa sentia falta de Ryan, e sabia que se quisesse voltar, a iniciativa teria que partir dela, conhecia o ex-namorado muito bem e sabia que ele era orgulhoso o bastante para não dar o braço a torcer; mas ela queria reatar o namoro, queria que as coisas voltassem a ser exatamente como eram antes, antes de beijar Cal, queria voltar a ter certeza de que era Ryan o único garoto de quem ela gostava. Já sabia o que ia fazer; enquanto seguia para a casa dos Cohen, ia pensando que diria a Ryan que ele tinha razão, embora tenha exagerado, ela tinha ficado tempo demais com Cal, mas não havia nada entre eles, e portanto não havia motivo para continuarem separados.

- Marissa, hey. – Seth abriu a porta e foi com surpresa que deu de cara com Marissa, com certeza Ryan não estava esperando por essa visita.

- Seth, oi, ahm, o Ryan esta?

- Esta. – como de costume ela já ia se dirigir pra escada, mas Seth praticamente se jogou na frente; Marissa arregalou os olhos. – Eu queria perguntar uma coisa.

- Ok, fala.

- Sobre a Summer.

- Sim?

- Está tudo bem com ela? Quer dizer, você é amiga dela, e é uma garota, então, acho que vocês conversam bem mais coisas, enfim, mais do que sobre Playstation ou Facebook; eu só queria saber se ela está ok?

- Esta, claro; que eu saiba, esta tudo ok. – Marissa falou, embora Seth ainda estivesse desconfiado, não seria ela a falar sobre os problemas de Summer com outra pessoa. – Posso ver o seu irmão agora? – Marissa riu. Seth não achava que seria uma boa ideia, mas Ryan precisava de que algo desse tipo acontecesse, talvez ele aprenda alguma coisa, mesmo que seja do jeito mais difícil, pensou e deixou que Marissa subisse as escadas para o quarto do irmão. Ela bateu na porta.

- Agora não, Seth, me deixa em paz. – disse a voz de Ryan dentro do quarto; ela riu sozinha e abriu a porta. E não precisou de muito mais para ter uma surpresa e saber por que Seth estava mais estranho que o normal. – Marissa?!

- Desculpe, eu não queria, atrapalhar. – gaguejou, enquanto Ryan tentava esconder o que era óbvio; tropeçou nas próprias calças e Lindsay parecia procurar um lugar pra enfiar a cabeça, mas também estava irritada com o rapaz, olhou pra ele com uma expressão azeda. Marissa se virou, ainda meio em choque, agora podia entender exatamente como Cal deveria ter se sentido quando viu a namorada com outro cara. “Porque eu tô pensando nele agora?” – Desculpa. – murmurou e saiu.

- Marissa, espera, não é nada do que você está pensando.

- Oh, isso ajuda bastante.

- Por favor, espera. – Marissa parou no meio da escada, e se virou pra ele, Ryan com certeza nunca a tinha visto tão irritada.

- O que? Ham? Sabe por que eu vim aqui, Ryan? Por que eu estava me sentindo culpada. E culpada por uma coisa que eu nem fiz, eu queria voltar com você, por que estava sentindo sua falta. – Marissa não estava só irritada, estava com muita raiva, e era nítido pelo jeito como falava, ou melhor, gritava, sacudindo o dedo na cara de Ryan.

- Marissa, eu sinto muito, eu, estava sentindo sua falta...

- Eu pude perceber o quanto você sentiu minha falta.

- Olha, isso, não... Isso não é... É só... – Ryan gaguejou, na mesma hora, Lindsay apareceu no alto da escada, parecendo esta com tanta raiva quanto Marissa.

- Só o que, Ryan? Só diversão? É isso não é? Por que você não fala? – Ryan estava no lugar que nenhum homem gostaria de estar, no meio de duas mulheres, magoadas e enraivecidas, e como todo homem numa situação dessas, não sabia o que fazer, nem o que dizer, por que de qualquer forma ele estaria errado e elas estariam prontas para matá-lo sem nem piscar os olhos.

– Você é um idiota. – Marissa disse e continuou descendo a escada; Lindsay por sua vez começou a descer também.

- Põe idiota nisso! – disse ao passar por Ryan, e antes que ele pudesse abrir a boca, as duas tinham desaparecido porta afora.

Marissa passou a tarde inteira trancada no quarto, chorando, embora sempre tivesse criticado as garotas que choravam tanto por causa de um cara, ela não conseguiu controlar; estava com tanta raiva e se sentindo tão ridícula; pensou que Ryan estivesse sentido falta dela tanto quanto ela sentia dele, pensou que poderia simplesmente fazer as coisas voltarem a ser como antes, como antes de Cal aparecer. E mais uma vez seus pensamentos lhe traíram e levaram-lhe diretamente para aquele cara insuportável de sorriso sexy; era por causa dele que tinha chegado aquele ponto, tinha brigado com Ryan, e magoado Summer, por causa dele. Depois parou de chorar, ligou o som e ficou ouvindo a banda mais depressiva que conhecia, e fez uma panela de brigadeiro, morrendo de vontade de ligar pra Summer, mas também com medo de que a amiga usasse todo o seu sarcasmo contra ela, e dissesse que quem com ferro fere com ferro será ferido, ou então mandasse que ela ouvisse a música “What goes around come back around” do Justin Timberlake que ela se sentiria melhor, mas também talvez estivesse sendo injusta, Summer era sua amiga, não iria dizer algo assim para ela; finalmente desistiu de telefonar, desistiu de se encher de brigadeiro, por que não importava o tamanho da tempestade que sua vida sentimental se transformasse, ela não iria virar uma baleia por causa disso. Agradeceu quando a noite chegou e ela foi dormir mais cedo do que normalmente, queria apagar aquele dia, e quando acordasse no dia seguinte, poderia fazer de conta que não tinha acontecido, “escapismo”, pensou, enquanto sentia as pálpebras pesadas, até cair no sono profundo.

Já era tarde quando Jimmy chegou em casa; entrou devagar, tentando não fazer barulho; deixou o paletó em cima do sofá da sala e foi até a cozinha, pegou a garrafa d’água na geladeira e se serviu de um copo. Ficou escorado na pia, tomando água e pensando no que tinha acontecido no trabalho.

- Pai? Você chegou agora? – Marissa entrou na cozinha, com os cabelos despenteados, coçando os olhos; acendeu a luz.

- Desculpe, eu fiz barulho para te acordar.

- Não, eu já estava acordada, na verdade; por que voltou tão tarde? – Marissa pegou a água e serviu para ela um copo.

- Eu tive que fazer hora extra. – Jimmy disse, preferindo omitir o verdadeiro motivo de ter voltado pra casa tão tarde; Marissa procurou um comprimido numa das gavetas e tomou. – Está tudo bem, filha?

- Um pouco de dor de cabeça, mas não se preocupe. Você anda trabalhando demais, papai. Vou tentar dormir, boa noite.

- Boa noite, querida. – Jimmy foi para o quarto, vestiu o pijama e foi escovar os dentes; enquanto isso pensava em todas as possibilidades que teria pela frente; tinha um bom emprego e a perspectiva de poder mudar de apartamento em breve e quem sabe até um carro novo poderia comprar; isso se ele não estragasse tudo; será que deveria ter escutado aquela voz na sua consciência que lhe disse para não aceitar aquele emprego? Não, não era isso, o problema seria com Marissa. Não que a filha fosse um problema, mas ele nunca poderia pensar em magoá-la de alguma forma; mas ela tinha aceitado o casamento da mãe com outro homem, talvez... Mas isso era diferente. – É completamente diferente, Jimmy, completamente. – ele foi dormir e tinha uma certeza, não deixaria que o erro que fez com que seu casamento acabasse se repetisse, não dessa vez não aconteceria de novo. Mas uma voz que parecia vir do fundo de sua consciência, dizia que as coisas eram diferentes agora, ele não era mais casado, o tempo tinha passado, eles eram livres.

***

Alguma coisa tinha ficado estranha desde aquele beijo em nova York, Cal tinha certeza. Se desculpou com Marissa e tentou fazer parecer que nada havia mudado; era óbvio que ela estava chateada, toda vez que ele tentou conversar na escola, ela tinha alguma coisa pra fazer; então ele resolveu ir até a casa de Marissa pra esclarecer tudo.

- Será que a gente pode conversar?

- Claro, entra. – Marissa falou com uma cara que dizia mais “não tô a fim de papo”, mas abriu a porta e deixou Cal entrar. – Então?

- Bom, alguma coisa esta estranha, você, pra dizer a verdade.

- Desculpe, eu não sei do que você esta falando, Cal.

- Eu já me desculpei pelo beijo, não foi? – Marissa assentiu. – Então, porque você continua me evitando? – Cal falou meio rápido, como sempre falava quando ficava nervoso e se sentia ridículo, primeiro porque parecia estar cobrando alguma coisa de Marissa, como se ele fosse algum namorado, ou algo do tipo, e depois porque estava se acostumando com a vida em Newport e isso devia-se principalmente aos amigos, não queria que eles se afastassem.

- Não tem nada a ver com você, Cal, eu só, desculpa, estou com, problemas, e... – aconteceu de novo, como parecia acontecer sempre que eles estavam sozinhos; Cal fitando-a com aqueles olhos castanhos penetrantes; Marissa engoliu em seco, tentando em vão desviar-se daquela sensação estranha no estômago; Cal parecia ter esquecido completamente o motivo porque viera até ali, não podia ser brincadeira aquela atração que estava sentindo, aquela vontade incontrolável de beijá-la. Marissa sentiu o gosto delicioso daquela língua explorando cada recanto da sua boca; enquanto as mãos dele afundavam no seu cabelo, por um instante ela não quis pensar em nada e deixou-se levar pelo calor do momento, mas ela foi chamada de volta à razão, aquilo não deveria acontecer, não fazia o menor sentido; Marissa se afastou e deu um empurrão quando Cal quis voltar a beijá-la.

- Marissa...

- O que? Você vai pedir desculpas outra vez? – ela falou, com a voz fria. – Cal, isso não esta certo, ok?

- Qual é o problema? Eu sou livre, você também.

- Não faz sentido.

- Claro que não, Marissa, nunca fez. Eu não vou negar que me sinto atraído por você, ok, foi rápido, repentino, mas não importa.

- Por que você acha que pode brincar com os sentimentos das pessoas?

- Eu não tô brincando com os seus sentimentos, você quis me beijar, gostou de fazer isso, e eu também, só que você quer fingir que não se importa.

- Eu estou falando da Summer.

- O que a Summer tem a ver com a gente? – Marissa sorriu sem humor. – Eu não tenho nada com a Summer, não rola nada entre nós, você sabe.

- Eu sei; mas você faz a Summer acreditar que poderia rolar. – Cal fez uma cara de surpresa e indignação.

- Do que você esta falando?

- O jeito como você trata a Summer, bancando o príncipe encantado o tempo todo; isso se chama iludir.

- Isso se chama tratar bem as pessoas, e eu não vivo bancando o príncipe encantado. A Summer é minha amiga, eu gosto dela, como amigo, se ela esta interessada em mim não foi por eu ter dado falsas esperanças, não é minha culpa se ela não esta acostumada a ser bem tratada pelos amigos.

- Olha, eu não vou magoar a Summer.

- Ok, ok, Marissa, se você não quer ficar comigo, tudo bem, mas para de culpar a Summer, por que a única coisa que você tem feito desde que eu cheguei aqui, foi convencer a Summer de que eu não sirvo para ela, que um cara como eu não poderia gostar dela, só que você tá errada, Marissa, e isso não é o tipo de coisa que alguém quer ouvir da melhor amiga, então, não ficar comigo não significa que você não vai magoar a Summer, por que o estrago já foi feito e a culpa não é só minha.

Cal foi embora confuso, sem entender por que tinha falado aquelas coisas, será que estava a fim de Marissa? Sem dúvida havia algo entre eles, mas até que ponto poderia ser sério ele não sabia, nem poderia saber, afinal, era possível que ainda estivesse sob o efeito do fim da relação com Anabelle, algumas pessoas tentavam começar uma nova história para se livrar de uma decepção. Quanto a Summer, não era justo que o acusassem de iludir a garota, ele não havia feito nada, tinha sido honesto com ela desde o dia do baile de inverno, quando a convidou para dançar; desde sempre Summer soube que ele tinha namorada; eles eram amigos; ela era sem dúvida a garota mais meiga que já tinha conhecido, e os amigos deveriam parar de dizer que ela estava apaixonada por alguém como ele, por que ele não era mesmo o tipo de cara para Summer, ela merecia alguém melhor, mais parecido com ela. A última coisa que Cal poderia querer era magoar Summer por conta de maus entendidos, e torcia para que ela realmente não estivesse interessada nele, mas não tinha muito esperança de que isso fosse verdade, por que Summer também estava estranha como ele, daquele jeito estranho que não tinha como explicar.

Normalmente era ela quem dava um jeito de sentar perto dele na aula de História, mas quando Cal entrou na sala, ela já estava sentada com Marissa, Oliver e Zach.

- Ei, Trask, esse é o meu lugar. – disse, olhando feio para o colega, às vezes havia alguma vantagem em ser “O Nichol”, e depois do dia do seu aniversário, nem Oliver, nem Luke mostraram qualquer disposição de dar um soco nele; Oliver poderia até dizer que saiu da cadeira por que não suportava dividir o mesmo espaço com o insuportável do Nichol, Cal não estava interessado; quando o colega saiu, ele sentou de frente para Summer, exatamente onde queria estar, queria falar com ela e fazê-la voltar a ser sua amiga. Mas o professor chegou, e começou a aula, e Summer parecia mais interessada em história que nunca, ela até colocou os óculos, que a deixavam ainda mais geek. Enquanto respondiam o exercício em grupo discutindo as causas da guerra civil, Cal escreveu a palavra “Desculpe” numa fola, arrancou do caderno e passou para Summer; ela leu e fez que não entendeu, ele deu de ombros quando Marissa olhou com a cara feia; o professor passou pela mesa deles sugeriu que continuassem falando da guerra. Quando o sinal tocou no fim da aula, Cal fez de conta que ainda escrevia alguma coisa para ficar por último e falar com Summer.

- O que é isso? – perguntou ela, com seu jeito engraçado, sacudindo a folha na cara dele.

- Um pedido de desculpas.

- Por quê?

- Por que você não me diz? Você não tem falado muito comigo ultimamente, e eu queria saber se fiz alguma coisa errada.

- Oh my God, Baby Nichol, Caleb, Cal, do que você esta falando?

- Não sei, eu pensei que nós éramos amigos, de repente você não tem mais tempo para mim, nem fala comigo, eu pensei que, eu não sei, Summer, às vezes eu realmente falo coisas que não deveria, enfim...

- Você é emo?

- Sou o que?

- Nada, esquece. É claro que nós somos amigos, mas, hello, Cal, antes de você chegar eu já tinha uma vida; eu tenho que ler os meus livros preferidos, e os que são obrigatórios, por causa da escola, tenho que estudar para as provas semestrais, por que eu realmente pretendo entrar para Brawn, assistir Gossip Girls, atualizar meu blog, e sem falar nos meus amigos do Facebook. – Cal estava de boca aberta, Summer falou tudo de uma vez e ele praticamente não entendeu nenhuma palavra, mas isso era o normal da Summer, e o mais importante, se ela estava interessada nele, disfarçava muito bem. Cal sorriu.

- Então, esta tudo bem, e eu não fiz nada errado.

- Hum, esta tudo ok. E, se você me dá licença eu preciso escrever um e-mail para o Dwigth, ele deve tá pirando por que eu não respondi os e-mails ainda.

- Dwigth? Quem é Dwigth?

- Um amigo; eu preciso ir, Cal, eu vou ficar on line à noite, se você quiser conversar.

- Ahm, hoje eu vou terminar o pro... – Cal baixou a cabeça um segundo e quando levantou, Summer tinha desaparecido. O que estava dizendo antes dela sair correndo e deixá-lo falando sozinho, era que ia pra casa de Seth para terminar o projeto de Física, e surpreendeu a si mesmo quando disse ao pai onde ia e o que ia fazer, e pela cara de Caleb, ele também estava admirado com o comportamento do filho.

Seth já estava na casa da piscina, quando Cal chegou já tinha começado a trabalhar no aeromodelo; os dois tinham discutido muito sobre o que fazer no projeto de física, e a primeira vista, o aeromodelo tinha parecido uma péssima ideia, já que ambos detestavam voar, mas eles gostavam de controles remotos, e precisavam tirar boas notas. Basicamente Seth cuidava de toda parte que envolvia cálculos, mesmo que Cal fizesse, ele precisava refazer para ter certeza, e como era o nerd da dupla, não havia discussão quanto a isso; normalmente ele passava a maior parte do tempo tagarelando. Só que esta noite estava muito mais quieto e falando apenas sobre o trabalho, o que era muito pouco para os padrões.

- O que foi que eu fiz de errado, Seth? – perguntou, sentindo-se ridículo, parecia que estava sempre fazendo a mesma pergunta a todo mundo.

- Você não considerou o peso das baterias, pode fazer uma imensa diferença.

- Não tô falando do cálculo. – Seth fez que não entendeu. – Parece que, de repente todo mundo resolveu deixar de falar comigo e quando eu digo todo mundo, quero dizer você e a Summer.

- Eu não parei de falar com você, Caleb, tô falando. Agora. Falando.

- Eu não sou uma pessoa legal, a maior parte do tempo, eu sei, e sei também que sou chato e estranho, mas sei lá, cara, eu pensei que nós éramos amigos.

- Não é amizade se você precisa de provas que é. Desculpa, Cal, eu sou seu amigo, cara, só que, bom, você sabe, não é fácil quando seu amigo é seu concorrente, e dos fortes.

- Concorrente? Do que você tá falando? – Seth deu de ombros. – Você também, Seth? O que esta acontecendo? A Marissa não quer ficar comigo por causa da Summer, você não fala comigo por causa da Summer, e a Summer também não fala comigo, por... sei lá, não sei porque a Summer não fala comigo.

- Porque ela tá afim de você.

- Isso seria motivo pra ela falar comigo, não me deixar falando sozinho. Qual é, cara, a Summer não tá a fim de mim, ok, ela tem o Dwigth.

- A Summer é uma escapista, e o Dwigth é um universitário que mora no Canadá que ela conheceu no Facebook.

- Você acha que ela gosta de mim, mesmo?

- Você não segue o twitter da Summer, não é? – Cal balançou a cabeça, ele nem tinha twitter. – Ela escreveu “estou vivendo um amor platônico”, e o último conto que ela escreveu foi sobre uma menina nerd que se apaixonou pelo cara mais lindo e popular da escola, isso sem falar na quantidade de músicas da Taylor Swift que ela tem escutado. E o mais importante, ela ficou arrasada quando viu você beijar a Marissa em Nova Iorque.

- Eu não sei o que dizer.

- Deveria ficar feliz por ser o objeto de adoração da Summer. Desculpe.

- Não, é que você, Seth, você tem que abrir o jogo com a Summer.

- Você tá maluco?

- Vocês são as únicas pessoas que podem morar na mesma rua e se falar pela internet; olha, ok, talvez a Summer goste de mim, mas isso seria um amor platônico, como você disse, eu não sou o tipo de cara que a Summer gosta, eu sou o tipo de cara de quem ela ri.

- Ela faz isso da boca pra fora, ela bem que gosta de bíceps, tríceps, e pernas e etc.

- Você a conhece melhor, acha mesmo isso? Então, porque ela gosta de mim e não do seu irmão, por exemplo? Ou de qualquer um dos caras do time de pólo?

- Eu não sei.

- A Summer vai gostar de um cara que se importa com ela, e lê os contos que ela escreve, a segue no twitter, mas se esse cara continuar escondido... Abre o jogo com ela, fala que você gosta dela, Seth, toma uma atitude.

- Não posso, é muito arriscado, e se ela ficar com raiva e me excluir da lista de amigos? Me bloquear no twitter? Não, eu não posso me arriscar.

- Você pode se arriscar a perder a garota de quem você gosta?

- Pra você é muito fácil falar, você é a encarnação do sonho de consumo de qualquer garota.

- Um sonho de consumo que não foi o suficiente para a Anabelle. Parece que tudo esta bagunçado por minha causa.

- Você é emo, Caleb? – Seth riu da cara séria de Cal, que ficava mais irritado por ser chamado pelo nome todo, do que de emo. – Você nem sabe o que é emo, certo?

- Tem a ver com o Facebook?

- Você deveria ser mais antenado, cara, não sei como a Summer pode se interessar por alguém que não sabe o que é uma DM. – era muito mais fácil quando eram sinceros um com um outro; Cal pode deixar bem claro para Seth que não havia nada rolando entre ele e Summer e, portanto, ele não precisava vê-lo como concorrente e estava decidido a ajudar o amigo a se declarar. Quanto a ele mesmo, não se apaixonar por ninguém parecia ser uma coisa boa a fazer; mesmo que ainda odiasse Orange County, deveria aproveitar o fato de ser um jovem milionário vivendo na Califórnia.

***

Era como se tivesse 17 anos novamente, Kirsten dizia a si mesma cada vez que ouvia o telefone tocar e sentia o coração disparar, podia ser Trey, embora eles não se vissem ou falassem desde o dia que ela foi conhecer o apartamento e ele lhe fez aquela proposta inesperada. Agora Kirsten sentia um misto de vontade que ele ligasse, mas também tinha medo que isso acontecesse, definitivamente, estava agindo como uma adolescente.

Ryan tinha saído com a namorada – agora que o castigo finalmente tinha acabado – pelo menos ela pensou que a garota que andava com ele era sua nova namorada; Seth estava estudando com Caleb Nichol – e Kirsten esperava que ele estivesse mesmo estudando, embora tivesse algumas duvidas, era sexta-feira à noite e Caleb Nichol não era exatamente um santo, mas Sandy realmente aprovava a amizade de Seth com o filho do chefe.

- Isso não significa que ele seja uma boa influência.

- Eles foram pra Nova Iorque e se comportaram, não foi? Além disso, nós confiamos no Seth, se ele disse que foi estudar, nós acreditamos.

- Você é muito seguro.

- Eu não deveria ser? Ele é meu filho, eu o conheço, o Seth não mente.

- Eu não estou falando do Seth, estou falando do Caleb, mas tudo bem, você tem razão, o Seth sabe se cuidar.

- Claro que ele sabe. Então, você não quer aproveitar que os meninos estão fora e... ham? – Sandy levantou da poltrona e abraçou Kirsten. Parecia que fazia uma eternidade que ela não sabia como era ser tocada pelo marido e talvez tivesse sido melhor não ter acontecido; foi horrível estar com ele e pensar em Trey; beijar Sandy, mas lembrar dos lábios carnudos de Trey percorrendo todo o seu corpo. Como poderia não se sentir mal por admitir pra si mesma que não sentia o mesmo prazer com Sandy, que preferia fazer amor com outro homem do que com o seu marido. Estava agindo como uma vagabunda, disse consigo mesma, estava pensando apenas nela e esquecendo que tinha uma família, marido, filhos e tinha obrigações com eles.

Sandy já estava dormindo, roncando, quando Kirsten travava a silenciosa batalha com a própria consciência; ela foi até o banheiro, jogou um pouco de água no rosto, enxugou com a toalha branca e pegou o creme. De repente sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto, deixou que caíssem livremente, se era choro de arrependimento ou angustia, ou qualquer outra coisa, ela não tinha certeza, mas enquanto não tivesse com quem dividir aquela história, sentia que a única coisa que podia fazer era chorar.

No dia seguinte ela estava preparando o café da manhã, quando o telefone tocou; Sandy ia entrando na cozinha no momento exato pra atender.

- Alô? Alo? – só ouviu o barulho da estática no outro lado da linha. – Alo? – repetiu, mas ainda não houve resposta; Kirsten sentiu o coração disparar e deixou a xícara que segurava cair, espatifando-se no chão; Sandy se assustou e desligou o telefone. – Tudo bem?

- Ahm, tudo bem, ok, a xícara escapuliu.

- Você parece assustada, Kirsten, esta tudo bem? – Kirsten tentou imaginar como se sentiria se contasse tudo a Sandy, mais aliviada, sem dúvida. – Kirsten?

- Estou bem, Sandy, eu derrubei uma xícara, só isso. Você não vai para o escritório hoje?

- Hoje é sábado.

- Como se isso fosse algum problema pra você!

- Ok, honey, eu mereço isso, mas hoje eu vou ficar em casa.

- Hum.

- Hum? Você não parece muito contente com a notícia. – Kirsten quase se assustou, mas logo viu o sorriso brincalhão de Sandy.

- Você acha, é? Talvez você possa limpar a piscina.

- Oh, querida, era tudo que eu queria ouvir essa manhã.

- Eu saia. Eu vou precisar fazer umas compras para o almoço. Você quer ir comigo? – Sandy fez uma careta; não havia nada mais eficiente pra espantar um marido do que sugerir que ele vá às compras. – Ok, eu vou sozinha. O Seth já não deveria ter acordado? Você viu que horas ele chegou?

- Na hora que ele disse que ia chegar. – Seth falou entrando na cozinha e, sentando à mesa, se serviu de uma xícara de café. – Você esta com uma cara feliz, mãe.

- Hum, você não esta com cara de quem estudou.

- Eu estudei, muito. – Seth garantiu; Ryan também entrou e sentou, servindo-se de pão com geléia e suco.

- Quer dizer que agora chamam o Bait Shop de “sala de estudos”? – Seth tomou um gole de café e olhou para o irmão com aquele jeito de quem diz “obrigado por me ferrar”.

- Bait Shop, ham? Você não disse que ia estudar com o Caleb? – Kirsten perguntou, Ryan tossiu. – A que horas você disse que chegou? – Seth fechou um olho e fez que estava pensando, Kirsten fez uma cara séria. – Sandy, você cuida disso, eu preciso ir fazer as compras.

Ela deveria se sentir hipócrita por querer controlar os filhos, mas era sua obrigação, cuidar deles era sua obrigação, independentemente de qualquer coisa. Foi ao mercado e comprou o que precisava para preparar o almoço, mas quando voltava pra casa, acabou desviando do caminho e indo até o apartamento de Trey. Era ele no telefone, mais cedo, ela tinha certeza, porque era sábado, o dia que normalmente se encontravam. Sandy era um bom homem, não merece isso, pensava enquanto estacionava o carro; quis desistir, voltar pra casa imediatamente, cuidar do seu almoço. Mas, ia entrar, só pra saber o que ele queria, talvez quisesse terminar tudo, talvez ele tivesse finalmente conhecido alguém mais jovem. Trey abriu a porta e, como sempre, o seu sorriso sexy varreu pra longe da cabeça de Kirsten as suas preocupações com a moral.