Seth pegou o lanche e foi sentar com Summer e Marissa; Summer sorriu e agradeceu quando ele lhe entregou o refrigerante; Seth ficou olhando meio bobo o sorriso da garota por quem era apaixonado desde os doze anos, ou poderia ser desde os oito, o fato é que sempre gostou dela, como Peter gostava de Mary Jane, por exemplo. Queria poder dizer a Summer, mas não podia, não era tão fácil quanto Cal dizia, ele era ótimo em fazer contos e jogar Playstation, mas terrível em se tratando de garotas.

- Seth? Cohen! – Summer gritou, estalando os dedos na cara dele.

- O que?

- O que! Você tá dormindo!?

- Pensando nas últimas provas.

- Ainda faltam três semanas para as provas, Seth. – disse Marissa, Summer deu uma risada.

- No que mais ele vai pensar, Coop? No baile? – Seth fez uma careta. Cal chegou e sentou junto com eles. – Cal, hey.

- Summer, galera. – Cal sorriu pra Marissa, mas ela baixou a cabeça e chupou suco no canudo, disfarçadamente. – Summer, você gosta de Paramore?

- Gosto, é, gosto.

- Sabia que eles vão tocar no Bait Shop?

- Hum, sei, mas os ingressos esgotaram.

- Que pena. – disse Seth; Cal bateu nas costas dele.

- Seth, você não ganhou dois ingressos?

- Ham?

- Daquele seu amigo, que trabalha no Bait Shop? Ham?

- Eh... é, eu ganhei, dois ingressos. Você quer um, Summer? – Cal abaixou a cabeça, tentando não sorrir.

- Claro, obrigada, Cohen. Eu já acabei, vou levar esses livros na biblioteca. – antes que Summer pegasse os livros, Cal os apanhou.

- O Seth te ajuda. – Summer deu de ombros, Cal empurrou a pilha de livros nas mãos de Seth, e esperava que ele conseguisse dizer alguma coisa útil, mas enquanto os amigos se afastavam, só conseguia ouvir Seth perguntar sobre o dever de Matemática.

- A Summer vai ficar irada se souber que você está fazendo isso. – Marissa disse, e Cal deu de ombros.

- Não estou fazendo nada. Ok, o Seth precisa de um empurrão. Tá na cara que eles dão certo, Marissa!

- Sabe o que não dá certo, Caleb? Tentar bancar o cupido. – Cal encarou a garota, que tipo de jogo Marissa Cooper estava querendo jogar ele não sabia, mas a relação deles estava chegando num estagio que ultrapassa a definição de estranho, eles não eram amigos, mas andavam com a mesma turma e frequentavam os mesmos lugares, além de estudar e fazer as lições de casa juntos; não eram namorados, mas, por mais de uma vez se beijaram e parecia que um imã o atraia para aquela garota toda vez que estavam perto um do outro.

- Você quer ir? – Marissa não sabia mais o que pensar sobre ele, tinha desistido, simplesmente resolvido ficar longe de Cal, fosse por Summer ou por Ryan, ou por ela mesma, não poderia ter nada com o irritante do Nichol, mas a sua resolução estava sendo frustrada pela presença constante dele em qualquer lugar que ela fosse; nas aulas, no Bait Shop, na casa da sua mãe, e até no Facebook ele tinha aparecido. Ela não queria se envolver com ninguém, o fim da relação com Ryan tinha deixado-a confusa, o que piorou bastante quando soube que o ex estava ficando com outra garota, ainda por cima por essa outra garota ser Lindsay Wheeler; o fato que é Marissa queria ficar com a cabeça descansada, mas os beijos de Caleb Nichol eram de alguma maneira viciante; Marissa sentia como Smeágol e Cal era o seu Um Anel, amava-o e odiava-o ao mesmo tempo, queria distância dele, mas desejava sentir aqueles braços fortes em volta do seu corpo.

- Ok.

***

O Bait Shop era a boate descolada de Orange County, que era frequentada por praticamente toda a galera de Harbor; essa noite teria apresentação ao vivo do Paramore e a casa estava lotada; Cal e Marissa chegaram juntos, e encontraram Summer e Seth já perto do palco, aparentemente Summer não pretendia desperdiçar nenhum minuto do show; Cal puxou Seth pra longe das garotas com a desculpa de comprar bebidas, mas queria dar algumas dicas a Seth, por que esperava mesmo que ele resolve de uma vez a história com Summer. Seth ouviu as dicas do amigo balançando a cabeça às palavras de Cal, mas não imaginava a si mesmo dizendo a Summer que ela tinha um cabelo lindo, ou chamando-a de gatinha, ou qualquer coisa do tipo.

- Só tô dizendo pra você ser sincero, Seth. Ham? – Seth balançou de novo a cabeça, Cal pediu duas cervejas, mas o amigo recusou, quis dizer a Cal que ainda era um pouco cedo pra ele começar a beber, mas preferiu não dizer nada; os dois voltaram para perto das garotas, e Cal ofereceu a cerveja a Marissa, ela não aceitou inicialmente, mas quando viu Ryan chegando de braço em volta dos ombros da sonsa da Lindsay pegou a garrafa das mãos de Cal e bebeu um gole grande.

- Hey, Coop! O show nem começou ainda, vocês não acham que é cedo pra começar a encher a cara? – “a diferença entre nós é que ela não tem medo de falar”, pensou Seth, mas Cal não se importou, continuou bebendo, uma cerveja não fazia muita diferença, era o seu argumento. – Se você ficar bêbado, quem vai levar o seu Porsche, Nichol?

- Seth, toma uma atitude, irmão. – Summer fez uma careta, “ele já está bêbado?”; o show da banda começou e ela ficou prestando atenção na música, era a mais empolgada dos quatro; enquanto ela cantava junto com a vocalista, “Love is not a competion”, Seth procurava coragem pra falar alguma coisa. – Faz um elogio. Diz que ela tá bonita. – Cal murmurou pra ele antes de se afastar; foi ficar mais perto do bar, gostava de música ao vivo, mas não pretendia ficar surdo.

- Summer. Summer!

- Que? Que foi, Cohen? – ela falou, sem desviar a atenção da banda, mas como Seth não falou nada logo, ela voltou a cantar. – “That´s what you get when you let your heart win, oh, oh, oh”.

- Você tá bonita. – Seth disse, sua voz abafada pelo som da música e das vozes ao redor que cantavam tão empolgadas quanto a própria Summer. – Muito bonita. – Seth parecia hipnotizado pelos movimentos dos lábios carnudos, os cabelos esvoaçantes enquanto ela pulava e cantava. Ele estirou a mão, queria tocar aquela pele branca, mas alguém perto dele o empurrou, e o que ele conseguiu foi pisar no pé de Summer

- Cohen!

- Desculpa. Quer uma bebida? Um refrigerante, talvez, eu vou pegar. – Seth sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, não, na verdade era como se não tivesse estômago, era um grande vazio que existia dentro dele, não tinha coragem de dizer a Summer, nunca teria. Talvez uma das cervejas de Cal lhe ajudasse naquele instante a se sentir menos incapaz. – Dois refrigerantes, por favor. – ele disse, mas o barman não pareceu ouvir. – Por favor, dois, refrigerantes. – pediu novamente, e teve que repetir outras vezes antes que o barman lhe atendesse; ele voltou levando os refrigerantes, mas parou no meio do caminho; a banda agora estava tocando a música que Summer mais gostava deles, “The only exception”, ela estava de rosto colado, ou quase isso, já que seu rosto batia no peio de Cal; ela estava com a cabeça encostada na camisa branca dele, de olhos fechados, como se flutuasse; não importava se ele dissesse que ela bonita, linda, era com o loiro saradão e milionário e só com ele que Summer queria estar dançando naquele momento.

- Summer, eu vou pegar mais uma bebida pra gente, ok? – Cal se abaixou pra falar perto do ouvido dela.

- Acho que você já bebeu demais. – disse ela sem desencostar a cabeça do peito dele.

- Pra você é refrigerante; você tem o que, 14 anos? Brincadeira, Sum, eu já volto, heim?

- Você tá completamente bêbado. – Summer falou vendo-o se afastar; esperou que Cal voltasse, mas isso acabou não acontecendo, ela já esperava por isso. Caleb Nichol não ia dar bola pra ela, mesmo bêbado, e mesmo que ele soubesse que ela gostava dele; poderia ficar arrasada por ser rejeitado por um garoto, mas o fato de não se “aproveitar” dos seus nos sentimentos, tornava Cal ainda mais perfeito, qualquer outro não se preocuparia em não magoá-la, mas ele se importava. Marissa também não estava mais por perto, ok, Summer não poderia culpar a amiga se no fundo ela desejava ser a garota no banco do carona do Porsche.

- Marissa, eu estava te procurando. O quê que foi? – Marissa parecia irritada, balançou a cabeça e saiu, dando um empurrão meio de propósito. – Ei, qual é? – ele segurou-a pelo braço.

- Eu vi você dançando com a Summer.

- E ficou com ciúmes?

- Ridículo.

- Eu sou ridículo? Porque é você quem tá fazendo cena, Marissa.

- Eu já falei pra você que a Summer é minha amiga e eu não vou admitir que você... – Marissa parou de falar subitamente quando Cal avançou e a beijou; não um beijo normal, mas avassalador, de tirar o fôlego. Ela tentou resistir, esmurrando as costas dele, entretanto explorando sua boca com a língua.

- Você é bem mais agradável quando não esta fingindo ser a Madre Teresa de Calcutá. – Marissa quase não se deu conta da mão estalando no rosto de Cal; ele não soube o que fazer, ficou sem reação, apanhar de uma garota era novidade, pelo menos em público; ele sorriu e o jeito malicioso com que seus lábios se contraíram deixaram Marissa vermelha e fora de si, com vontade de bater até ele ficar muito machucado. Ela ouviu a banda anunciar a última música enquanto ia embora, deixando o seu Um Anel para trás.

Cal pediu mais uma bebida, uísque, pra ser mais exato, já tinha deixado a cerveja de lado, não ia conseguir ficar bêbado o suficiente com elas. A música “brick by boring brick” pareceu muito para aquele momento; tentou ser gentil com Marissa e dizer a ela que talvez estivesse ficando à fim dela, de verdade, mas acabou sendo grosseiro, aliás, ele sempre acabava sendo grosseiro com ela. A verdade é que ainda pensava em Anabelle e pensar em Anabelle significava pensar na traição dela e em como isso fazia-o sentir-se ridículo, porque afinal de contas, amava aquela garota.

“As pessoas me esquecem com muita facilidade”, pensou Summer quando saiu da boate e procurou Marissa e Seth, mas nenhum dos dois estava por perto; Marissa devia estar fazendo alguma coisa ligeiramente proibida com um certo loiro dono de um Porsche e isso era completamente compreensível, isso era o que as pessoas da idade deles faziam, mas como a probabilidade de Seth estar com alguém era muito remota, ela o escolheu para ser alvo da sua irritação. Agora precisava conseguir uma carona pra casa sozinha, nem seu pai estava na cidade pra ela ligar e pedir para ele buscá-la.

- Oh, meu Deus, Caleb! – se ele ainda estava ali, onde Marissa estava? Summer olhou para Cal sentado no capô do carro, com uma garrafa de cerveja e de repente, ele não parecia mais tão atraente, ainda era lindo, claro, mas onde estavam a elegância e o charme? – Ei, baby Nichol! – ele fez uma careta, que aliado ao estado de embriaguez deformou o rosto bonito. – Você viu a Marissa, ou o Cohen?

- Humhum. Se você vir a Marissa, pode pedir desculpas a ela por mim? É que eu não fui muito legal com ela, sabe? – Cal se levantou e jogou a garrafa vazia pra longe; Summer percebeu que ele mal conseguia se equilibrar sobre as próprias pernas. – Você tem sorte de ter um cara como o Cohen. – “Porque os bêbados falam coisas sem sentido?”, Summer pensou incapaz de não sentir um pouco de pena ao ver o príncipe encantado trocando as pernas.

- Se eu tivesse sorte não estava sem carona agora. – ela disse sem muita esperança de que ele entendesse.

- Eu te dou carona, Summer. – ele pegou as chaves do carro no bolso e abriu a porta com dificuldade. – Vem.

- Não, obrigada, mas eu prefiro esperar por... alguém que esteja menos bêbado.

- Eu não tô bêbado, Summer.

- É o que todo bêbado diz, não é?

- Qual é, você não confia em mim, Summer?

- Confio, em você eu confio, Cal, não confio no teor alcoólico do seu sangue.

- É você que sabe. – ele falou com um jeito azedo; Summer tinha certeza de que ele não deveria dirigir daquele jeito, e ela não ia se sentir em paz se o deixasse ir.

- Ei, Cal, hum, você deixa eu dirigir?

- Você tá bêbada, Summer?

- Ham, engraçadinho.

- É o meu carro, Summer, nenhuma garota pode violar isso, hum? Eu posso te dar carona, se você quiser, se não...

- Você pode me deixar aqui sozinha, espero que você fique com a consciência tranquila se você meter esse carro na frente de um poste, porque esse é realmente um carro muito caro, se você não se importa de acabar com ele, além de arriscar a própria vida e a vida de outras pessoas, ok, eu não vou compactuar com isso. – Summer quase não acreditou quando ele saiu do carro e colocou as chaves nas mãos dela; tudo bem que não foi lá muito simpático ao fazer isso, mas deu a volta e sentou no banco do carona. – Eu tinha esquecido como posso ser persuasiva. – Summer entrou no carro, nunca tinha dirigido um Porsche e os comandos no painel não pareciam nem de longe familiares, mas provavelmente não seria muito diferente de dirigir o carro do seu pai.

- O câmbio é automático. – Cal falou, com aparente má vontade e Summer reparou que ele estava quase desmaiando.

- Hum. Acho melhor você colocar o cinto.

Summer dirigiu direto pra casa, mas quando chegou lá, não queria que Cal fosse sozinho, mas se ela fosse levá-lo em casa, teria que voltar sozinha, estava tarde e, embora ele estivesse bêbado, era um cara grande, uma companhia adequada pra uma donzela.

- Eu já sei, eu vou ligar pra Coop e pedir pra ela ligar para a mãe dela e dizer ao seu pai pra vir te buscar, que tal? Cal? Caleb? Baby Nichol? Hum, dormiu. E agora, você acha que seu pai vai ficar contente por te ver assim? Eu também não ficaria se fosse meu filho. Eu posso te deixar aqui e levar a chave, você cai ficar bem, não é? Acho que não. Ok, isso vai ser um pouco difícil. – Summer desceu do carro e subiu a escadaria até a porta da frente, abriu e voltou pra ajudar Cal. – Espero que o papai não me entenda mal, se é que você me entende! – com muita dificuldade, Summer conseguiu ajudar Cal a subir os seis degraus e entrar na sala. – Ok, tem mais uma escada, então, vamos. – considerando que ele era quase duas vezes maior que ela, a garota precisou de muito esforço pra arrastá-lo até o quarto e deitá-lo na cama. – Hum, Caleb Nichol Junior na minha cama, eu já tinha pensado nisso, mas de um jeito diferente. – ela tirou os sapatos de Cal e o cobriu com o edredom. – Eu espero ser recompensada por isso algum dia. Boa noite, cinderelo.

Beber tanto até perder completamente os sentidos e depois não fazer ideia de como conseguiu chegar em casa, não era exatamente uma novidade para Cal, mas acordar num quarto desconhecido e numa cama com colcha de renda lilás era. Ele abriu os olhos e olhou em volta, a cabeça latejando, o sol entrava pela janela entreaberta e as cortinas roxas agitadas pelo vento esvoaçam; tudo naquele quarto era em tons de roxo, as paredes, o tapete no chão, as cortinas na cama de dorsel, e as pantufas que estavam ao pé da cama. Cal olhou para a fotografia em cima da mesinha de cabeceira, um sorriso grande e conhecido brilhava na foto; ele gemeu, com a cabeça doendo, mas principalmente tentando se lembrar do que tinha acontecido até ele chegar aquele quarto e rezando pra que não fosse o que estava pensando que fosse. Ele ouviu passos e Summer entrou no quarto, usando um roupão roxo obviamente e penteando os cabelos.

- Ah! – os dois gritaram em uníssono, mas depois a garota começou a rir; Cal se sentou e passou as mãos na cabeça, correndo os dedos pelos cabelos despenteados, baixou a cabeça completamente sem graça, sem saber o que dizer a Summer.

- Bom dia. Dormiu bem? – ele só conseguiu fitá-la interrogativamente, Summer estava tranquila demais pra alguém que encontrou um homem na sua cama. – Ei, você sempre bebe até apagar?

- Eu apaguei?

- Eu não te dei um calmante, Cal. Bom, você pode ficar dormindo mais um pouco se quiser. – Summer foi ao closet e pegou as roupas. – Eu vou me vestir, e depois vou para a escola, meu pai não esta em casa, mas se algum vizinho te vir, você pode dizer que é um primo dele? Eu não quero ficar mal falada, se é que você me entende. Fica a vontade. – Cal abriu a boca, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Summer tinha desaparecido e fechado a porta atrás de si. Metade dele adoraria voltar a deitar naquela cama macia e dormir a manhã inteira, mas ainda tinha que ir para a escola, e não queria mais abusar da boa vontade de Summer, talvez Marissa tivesse razão, ele não estava agindo certo com a garota, imagina como Summer deveria ter se sentindo vendo-o completamente bêbado na sua cama, além de ter arrastado-o até lá em cima?

***

Jimmy ficou observando enquanto Halley passava um verdadeiro sermão em Matt por alguma coisa que ele tinha feito de errado; ele preferia não ouvir, mas a Sra. Williams – porque quando ela assumia aquela posição séria e fazia valer a hierarquia, ela era Sra. Williams – não gostava de reclamar um funcionário sem testemunhas, afinal, se Matt resolvesse processá-la por calúnia ela teria que ter como provar que não tinha feito nada que a sua função de gerente sênior não lhe permitisse. Matt Ramsey estava encrencado e dessa vez Jimmy não sabia se poderia ajudar.

- Eu sinto muito, Halley, eu...

- Sinto muito, Matt, você é o gerente da noite, os problemas da noite são seus problemas.

- Foi só um hóspede.

- Só um hóspede que não conseguiu dormir no quarto que estava reservado pra ele há duas semanas porque ninguém achou a porcaria da chave e a única pessoa que poderia resolver isso não estava em lugar nenhum nesse hotel. Você acha que o Hilton ou o Four Seasons tratam um hóspede assim?

- Isso não vai voltar a acontecer.

- Você já disse isso antes, Matt.

- O que, você vai me demitir?

- Não, ainda ano, apesar de tudo, eu ainda não vou desistir de você, mas você vai ser transferido para outro turno. O Clayton vai assumir o turno da noite e você vai trabalhar de dia; talvez você fique mais atento. – Matt olhou pra chefe sem entender nada, Jimmy também; como Matt ia trabalhar de dia? Jimmy era o gerente de dia e Clayton era gerente adjunto. – Eureka, garotos. Você esta na condicional, e Jimmy é seu agente. Agora, podem voltar ao trabalho e Ramsey, eu não quero falar com você tão cedo

Quando Jimmy e Matt saíram da sala não conseguiram disfarçar a vontade de rir, afinal Halley não poderia ter feito algo mais inesperado, embora ambos concordassem que tinha sido por pouco.

- Você precisava ver sua cara quando ela perguntou onde você estava. – disse Jimmy.

- Ah, eu me senti como um colegial, ainda é estranho levar bronca de uma garota. – Matt apertou o botão do elevador e os dois entraram. – O que você acha da gente contar pra ela?

- Pra Halley? Você enlouqueceu?

- Eu acho que ela já sacou, Jimmy; a Halley é esperta e repara nas coisas. – Matt falava tranquilamente, mas Jimmy parecia suar frio. – E você viu a cara serelepe dela quando disse que nós íamos trabalhar juntos. Eu poderia até dizer que ela me transferiu de propósito. – Jimmy não queria concordar, mas no fundo sabia que Matt tinha certa razão, Halley era esperta demais e nada passava despercebido aos seus olhos astutos, ela sabia de tudo que acontecia naquele hotel. – Ás vezes eu queria abrir o jogo, Jimmy, nós não estamos fazendo nada errado. Não ficar se escondendo seria agradável.

- Talvez você tenha razão, mas eu, eu acho que ainda não estou preparado pra abrir o jogo, eu tenho que falar com a minha filha.

- Ok. – Jimmy viu a contrariedade nos olhos cor de mel de Matt, ele não estava confortável com a situação, mas podia fazer um pequeno esforço para entender o seu lado, ele tinha duas filhas e tornar aquela relação pública teria implicações na sua relação com elas; continuar em segredo não significava que o que tinham não fosse importante.

- Matt, um pouco de paciência, é só p que eu peço. – Matt deu de ombros e ia dar um passo para sair do elevador, mas Jimmy apertou novamente o botão e eles começaram a subir; então ele colocou a mão na nuca do outro homem, acariciando os cabelos loiros que davam a Matt uma aparência bem mais jovem que os seus 30 anos, e aproximando o rosto devagar beijou-o na boca. – Agora, de volta ao trabalho, espero que você esteja pronto pra fazer hora extra. – Jimmy deu uma piscadela e saiu do elevador; Matt encostou a cabeça na parede de aço e riu consigo mesmo; na maioria das vezes eles agiam como se fossem dois adolescentes e nada parecia sério, mas ele também sentia o contrário, como se depois de dois casamentos fracassados com mulheres, finalmente tivesse encontrado alguém que o completava.

***

Quando Marissa viu Summer vir correndo na sua direção com um sorriso de orilha a orelha só conseguia imaginar um motivo pra isso, o que significava também que Summer não tinha lhe visto beijando Cal, mas também deixava-a uma dúvida, será que deveria contar que Cal lhe beijara depois que eles ficaram?

- Hey, Coop, onde você se meteu ontem? Eu tentei te ligar.

- Hum, acho que eu esqueci de carregar a bateria do telefone.

- Porque você sumiu?

- Ahm, eu fui embora, desculpe.

- Não, tudo bem, aliás, foi mesmo ótimo.

- Por quê? Aconteceu alguma coisa?

- Sim, aconteceu a melhor coisa que poderia ter acontecido. – Marissa tentou lembrar a última vez tinha visto a amiga tão feliz, mas ela não sorriu tanto assim quando descobriu como Anakin Skywalker se transformou em Darth Vader. – Eu estou curada.

- Você estava doente, Summer?

- Do meu amor platônico, eu estou curada dessa paixonite que eu senti pelo Caleb Nichol e, quer saber, isso não é algo de que eu vá me orgulhar no futuro.

- Ei, do que você tá falando?

- Tô falando que eu não tô mais a fim dele, Coop, quer dizer, você não precisa se preocupar comigo.

- Hum, e como você chegou a essa conclusão?

- Bom, foi depois que ele passou a noite na minha casa.

- Summer? Ele passou a noite na sua casa? – Marissa perguntou assustada, encarando a amiga com os olhos arregalados, mas Summer começou a rir.

- Coop, não é o que você esta pensando... ok, essa frase é muito clichê, mas, enfim, você sabe que o Baby Nichol, além de odiar esse apelido, adora encher a cara, não é? Eu o encontrei completamente chapado quando ia saindo do Bait Shop, eu estava procurando você e o Cohen que tinham sumido, mas então eu vi o Cal, muito bêbado e ele me ofereceu carona, eu não aceitei porque obviamente ele estava bêbado... – enquanto Summer falava, contando nos mínimos detalhes como tinha resolvido dirigir o Porsche de Cal, Marissa ficou desejando que a amiga soubesse o significado da palavra síntese. – Então, eu fiquei vendo o bonitão dormir e pensando que eu não ia querer namorar um cara que não consegue voltar pra casa sem tropeçar nas próprias pernas.

- Você não gosta mais dele porque ele tomou um porre, num show de rock? Parece que você não estava muito apaixonada, Summer!

- Era paixonite, Coop. E o Cal é uma pessoa muito propensa a problemas.

- Você tem razão. Ei, Summer, você quer usar esse seu jeito de psicóloga pra me ajudar com o meu pai?

- Qual o problema?

- Não é problema, acho que ele esta saindo com alguém e não quer me contar.

- Quais os sintomas?

- Chega tarde do trabalho, mas sem beber, telefonemas misteriosos e sorriso bobo de manhã.

- É, ele tá saindo com alguém. Mas, você não lava a roupa do seu pai? Já deve ter visto algum sinal, manchas de batom, perfume de mulher?

- Não, nada disso. – Summer deu de ombros, elas entraram na sala e sentaram à mesa de sempre.

- Talvez seu pai seja gay. – disse ela com naturalidade.

- Summer!

- O que? Seria tão ruim? É realmente uma boa pergunta, Coop, todo mundo costuma dizer que não tem preconceito, mas quando você se vê cara a cara com uma situação atípica, o que acontece? Revolta.

- Ok, se ele estivesse feliz, não teria nenhum problema.

- Sério? – Marissa pensou um pouco antes de responder.

- Eu só não quero que ele minta, como mentiu antes, sabe?

- Que resposta adulta, Coop, eu ia pirar se meu pai fosse gay, não poderia conviver com a ideia dele transar com um cara e eu não. – Marissa só conseguiu rir; uma das maiores qualidades de Summer era que nada parecia abalar o seu humor. O professor já estava na sala quando Summer voltou a falar. – Porque o Cal ia se desculpar com você?

- Ham?

- Ontem, ele disse que se eu te visse, pedisse desculpas por ele não ter sido legal com você.

- Senhorita Roberts e senhorita Cooper, que tal socializar a conversa? – Marissa baixou a cabeça, mas Summer não, seria contra a sua dignidade admitir que fora pega conversando no meio da aula sobre um assunto que não aquele que o professor estava explicando;

Enquanto Summer questionava o Sr. Peters sobre a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, e Summer tinha “algumas coisinhas” a falar sobre isso, Marissa ficou olhando para o lugar vazio na mesa em frente, onde Cal costumava sentar e se perguntando porque ele queria pedir desculpas; pelo beijo, pela grosseria, por tudo? Se Summer realmente não estava interessada nele, e Marissa tinha motivos pra acreditar que fosse assim, afinal ela mesma estava esperando que Summer caísse na real, então ela talvez pudesse reconsiderar a decisão de ficar longe de Caleb. Marissa ficou tanto tempo pensando nele que pareceu não ter notado a aula passar e pelo visto, Summer tinha conseguido tirar o professor do sério, bom, era o que acontecia quando um republicano e um democrata discutiam a questão do Iraque.

- Alguém sabe do Nichol? – perguntou o professor azedamente, Summer levantou a mão com um sorriso traquino.

- Ele esta doente, senhor. Resfriado.

- Obrigado, Roberts. O Caleb Nichol vive resfriado, isso é incrível pra alguém que mora na Califórnia. – o professor Peters resmungou, sem fazer muita questão de que a classe não o escutasse.