The Night Belongs To Love

A Noite o Céu é Perfeito


Acordei meio confusa, com o sol das primeiras horas da manhã penetrando em minhas cortinas. Pensei em levantar de imediato, para fecha-las melhor e poder dormir em paz. Mas então pude sentir sua presença, ao meu lado. Eu não estava mais com sua mão, mas eu podia sentir seu cheiro e o peso em meu colchão.



Virei cuidadosamente. O colchão rugiu de leve, me fazendo parar no meio do caminho e prestar atenção em qualquer sinal de te-lo acordado. Mas o sinal não apareceu, então terminei de virar um pouco mais cuidadosa.



Me acomodei em minha nova posição, de lado. E o observei, meio boba.



Renan estava na ponta da cama, me impressionava o fato de ainda não ter caído. Os braços passavam por de cima do cobertor revelando quão trabalhados eles eram, ele estava de barriga pra cima e sua respiração era regular, o que provava que estava dormindo. Sua cabeça apoiada no travesseiro, o meu preferido por anos, fino e gasto com a fronha de nuvem. Seus olhos estavam fechados escondendo os belos olhos castanho serenos que pareciam transbordar carinho. Sua boca estava meio aberta, o que fez eu soltar um leve risinho fino e infantil.



O ronco suave que saia de sua boca sumiu e o silêncio preencheu o ar, sua boca fechou-se e lentamente seus olhos abriram.



Tratei de fechar a boca logo, a ultima coisa que eu queria era ele pensando que eu o observava enquanto dormia. Fechei meus olhos também em uma tentativa de parecer que eu estava dormindo. Tentei normalizar minha respiração, mas era impossível com a vontade de rir e sorrir dentro de mim.



Ouvi ele se mexer, a vontade de sorrir crescia incontrolável dentro de mim. Sua respiração estava em meu rosto e senti seus lábios encostando em minha bochecha. Me perguntei se ele consegui ouvir meu coração enlouquecido tão bem quanto eu, afastei a ideia.



Seus lábios traçaram um rastro húmido até meu ouvido, ele mordeu de leve o lóbulo da minha orelha, me deixando imediatamente arrepiada e formigando.



– Eu sei que está acordada. - Ele sussurrou ali, fechei meus olhos com força mordendo meu lábio inferior. Ele riu levemente se afastando de mim.



Sorri abrindo meus olhos, eu achava engraçado.



– Como descobriu? - Perguntei meio tímida. Ele abriu um sorriso maior.



– Você estava sorrindo quando acordei. - Ele disse.



– Pensei que tinha escondido bem. - Falei manhosa.



– Não era um sorriso óbvio, mas dava para perceber que ria por dentro.



Olhei-o com mais atenção, as pessoas percebiam quando você está sorrindo por dentro?



– Então só tinha duas possibilidades - ele continuou - ou você acordada zoando com minha cara...



– Ei, eu não estava zoando com sua cara... - Protestei



– ... Ou estava dormindo, sonhando comigo. - Ele terminou levantando as sobrancelhas, brincalhão.



– E como descartou a segunda possibilidade tão facilmente? - Perguntei me sentindo meio pervertida.



Ele me encarou sério e eu corei levemente, o que fez ele sorrir novamente.



– Você estaria mais feliz. - Renan falou divertido, o que rendeu um tapa de brincadeira em seu ombro.



Paramos de rir e nos encaramos por um momento, um tanto constrangedor, ele olhou pelo quarto.



– Você sabe que horas são? - Ele perguntou ainda procurando.



Eu suspirei levantando da cama. Eu estava no lado da parede então tive que passar por cima dele. Peguei meu relógio de mesa, rosinha e em formato de porco. O despertador em vez de alarme, ele ronca, o que é um tanto ridículo, confesso.



– São 6 e meia. - Gemi, não acreditando que em pleno sábado eu tinha acordado tão cedo.



Ele fez uma careta, primeiro pensei que era por te-lo acordado tão cedo, mas depois percebi que ele encarava Piggy(eu sei, um nome óbvio para um relógio de porco). Eu ri abraçando o relógio infantil, ele sentou-se na cama com cara de indignado.



– Não olha assim pro Piggy. - Brinquei.



– Santo Deus, quem é a pessoa que tem um relógio de porco? - Ele perguntou com os olhos arregalados. A cena toda ficava ainda melhor por causa de seu cabelo todo amassado e bagunçado, fora a sua cara de sono.



– Ele não é só um relógio. - Falei sentando-me ao se lado e virando de ponta cabeça o relógio. - Ele é despertador também!



– E o que ele faz? Ronca - Ele disse zoando.



– Como você sabe? - Falei e ele me olhou incrédulo.



Eu ri alto e deixei o Piggy no criado-mudo.



– Você é maluca!



– É fofo, admite. - Fiquei de pé na frente dele.



– Você gosta dessa coisa? - Ele perguntou fazendo careta e me segurei para não rir.



– Porcos são bonitos. - Fiz bico, isso era engraçado.



– Não, não são. - Ele disse. - São fedidos e roncam.



– Bem, você também ronca durante a noite. - Provoquei.



Ele riu e pude jurar que ele corou. - E você me agarra durante a noite.



Corei violentamente e demorei vários segundos para perceber que ele estava zoando comigo.



– Vem cá. - Ele resmungou me puxando para a cama pela cintura. - Vamos dormir. Agora eu que durmo na parede!



Nos acomodamos, eu estava virada para o quarto, encolhida e me concentrando em não cair. As cortinas já não conseguiam tampar toda a claridade vinda de fora, o que dificultava o sono.



Minha mente vagava a beira da inconsciência, mas então Renan me puxou, abraçando-me por traz.



– Se importa? - E perguntou em meu ouvido com a voz sonolenta. - Você estava prestes a cair.



Não o respondi, apenas me acomodei em seus braços. Não demorou muito e a consciência me dominou.


***


Estávamos tomando café, eram nove horas. Jason parecia mau humorado e Renan reclamava que seu braço nunca mais voltaria ser o mesmo.



– Você colocou o braço ali porque quis. - Falei indiferente.



– Você é uma mal agradecida, se não fosse por mim você teria caído! - Ele disse em uma fingida indignação.



Revirei os olhos terminando meu café.



Depois do café me troquei e arrumei a cama, coisa que eu não fazia á um bom tempo. Jason e Renan conversavam na sala.



Jason fez o almoço e depois de comer saiu de casa dizendo que iria jogar futebol. Renan e eu limpamos a cozinha e fomos assistir um filme, que por sinal era chato.



– Tem certeza que quer ver isso? - Renan resmungou pela milésima vez. Ele estava jogado no sofá da sala e eu na velha poltrona verde musgo. - Eu brinco de barbie se você quiser.



Revirei os olhos exageradamente. - Você trouxe elas? - Perguntei meio entediada.



– Nossa, como você é engraçada. - Ele disse. - Esse filme é uma droga.



E era, o tédio dominava o ambiente por completo. Eu já estava com os olhos fechados, pensando em tirar um cochilo, até que sinto uns empurraozinhos em mim e quase caio da poltrona.



Levanto a cabeça me equilibrando fuzilando Renan com o olhar.



– Levanta, nos vamos dar uma volta. - Renan falou dando uns tapinhas irritantes em mim.



– Nem vem, quero dormir agora. - Falei me ajeitado na poltrona.



– Você já dormiu bastante, as ultimas semanas inteiras. - Ele disse serio parado do meu lado. - Você nunca saiu de casa depois do que aconteceu.



Fiquei imóvel, ele não precisava ter dito aquilo. As coisas mudavam quando ele estava presente, mas não mudava o que eu sentia lá dentro.



– Eu gosto de ficar em casa - Falei voltando o olhar para a TV, que eu já não fazia ideia do que passava. Meus olhos marejavam.



– Ei, - Ele sussurrou agachando-se na frente da poltrona e tocando meu rosto tentando me fazer olha-lo. - Eu não quis dizer aquilo.



Respirei fundo, criando coragem para encara-lo. Meu teatro estava acabado - Acontece, Renan, que você é a única pessoa que depois do que aconteceu me trata assim. - Minha voz saiu tremida.



– Assim como? - Ele perguntou demonstrando confusão.



– Você é a única que fica ao meu lado sem me cobrar...



As pupilas dos olhos de Renan estavam dilatadas e suas íris, que normalmente é castanho claro, estavam escuras.



– Cobrar o que? - Ele perguntou com seus olhos fixos nos meus.



– Felicidade. - Respondi desviando o olhar e piscando os olhos diversas vezes, sentindo as lágrimas escorrendo. Baixei a cabeça tentando esconde-las.



Ele me envolveu com seus braços enquanto eu tentava controlar as lágrimas.



Depois de me acalmar Renan concordou em assistir o filme, o filme chato tinha se tornado bem mais interessante com meu corpo aconchegando nos braços de Renan. Renan acabou almoçando comigo, pelo fato de Jason ter resolvido passar o dia na cidade. Após terminarmos de arrumar a bagunça que Renan fez na tentativa de preparar um almoço diferente, fomos jogar banco imobiliário. Descobri que Renan é um ladrão e eu acabei falindo.



Já estava escuro, passava das nove da noite e eu e Renan já estávamos nos vestindo pra dormir, Jason já tinha chegado e estava no quarto. Ele estava tão estranho.



– Você costuma subir aqui? - Renan perguntou com a cabeça pra fora da janela, se referindo o telhado que tem embaixo. - Sabe, pra ver as estrelas.



– Na verdade não. - Respondi indo ao seu lado e colocando minha cabeça pra fora do quarto também.



Ele sorriu pulando para fora e me puxando junto.



O telhado era estreito e não muito seguro, nos sentamos encostados na parede. Olhamos para cima.



– Minha mãe falava que meu pai, quando morreu, virou uma estrela. - Sussurrei sem olhar para Renan. - E que sempre nos observa, lá de cima.



– Ela também está lá. - Renan sussurrou com a voz rouca. - Estão nos observando, seu pai e sua mãe.



Eu sorri com a ideia e me ajeitei melhor nos braços de Renan. - Acho que ele não está gostando de me ver sozinha com você. - Falei brincando.



Ele me olhou. - Muito menos do que eu vou fazer... - Renan sussurrou e aproximou seu rosto do meu.



Fechei meus olhos automaticamente deixando meu corpo fazer o que quisesse. Seus lábios encostaram nos meus, calmos. Meu coração acelerou e meu corpo pedia por mais, segurei seu cabelo trazendo Renan para mais perto de mim. Senti sua língua entrando em minha boca e explorando-a, suas mãos foram para minha cintura.



Quando o ar faltou, nos afastamos. Ele me encarou, ofegante.



Ficamos sentados no telhado abraçados, com o céu perfeito nos observando.