The Night Belongs To Love

Um acorda para vida.


Eu estava me arrumando para o colégio, era segunda e eu estava muito cansada. Penteei meu cabelo e resolvi deixa-lo solto, já que ontem fiz escova nele. Passei uma leve maquinagem e coloquei meu uniforme, peguei minha mochila e meu Converse favorito e fui descendo as escadas enquanto tentava colocar meus ténis. Não foi lá uma ideia inteligente e eu tropecei nos últimos degraus. Jason me segurou pelo cotovelo, antes que alguma coisa trágica acontecesse.



– Tenta tomar mais cuidado. - Ele falou me dando um beijo na bochecha. - Tchau e boa aula.



Ele estava muito melhor desde ontem, talvez seja por não precisar mais me levar ao colégio. - Tchau. - Respondi.



Fui na cozinha e peguei a primeira coisa comestível que vi, uma banana. E corri para fora da casa em direção do carro que estava buzinando a um bom tempo, um Mercedes Classe C preto. Abri a porta do carona e me sentei lá e fechando a porta.



– Oi gata. Cade meu beijo?



Me virei e encarei os olhos castanhos escuros do ser. - Você me acordou a base de buzinada, acha mesmo que vou te beijar? - Falei revoltada.



– Uou, amiga ótima que eu fui arranjar! - Letícia falou, depois me olhou e deu o maior sorriso de todos e me abraçou. - Senti tanta falta de você!



–Nós nos vimos ontem. - Falei devagar para ela entender. - A poucas horas atrás.



– Eu tambem amo você, amiguinha. - Ela falou me apertando ainda mais em seus braços. - Peraí! Isso é uma banana? - Leticia pegou minha banana, indignada. - Que pessoa leva pro colégio uma banana?



– É meu café da manhã, devolve! - Pegue a banana e a descasquei.



– Você vai me dar um pedaço, né? Eu tive que acordar de madrugada para te buscar, nem tomei café. É assim que agradece?



Revirei os olhos e entreguei.



– Eu te amo, pirralha. - Ela disse rindo.



Cheguei no colégio e todos vieram falar com a gente, para saber da volta da Léticia.



Letícia é minha melhor amiga. Ela é alta e magra, tem os cabelos castanhos escuros ondulados que batem abaixo de sua cintura, olhos castanhos e pele levemente morena. Sempre está sorrindo e tagarelando, fazendo as pessoas rirem de seu jeito e a tornando única. Já é maior de idade a alguns anos, mas sempre diz que tem dezoito e que jamais irá passar disso. Ela veio para a cidade quando se formou no colégio e viramos super amigas. Já que eu era a pessoa que morava mais próxima de sua casa, além das casas serem longe umas das outras, todos os outros moradores da área rural da cidade são idosos ou pessoas sólitarias com seus sete gatos. Como Letícia não faz o tipo que conversa com uma pessoa normalmente, com assuntos normais, ela não conversa muito com adultos. Uma eterna adolescente. Eu a amo com todas minhas forças.



Fomos para a sala e me sentei nos fundos, as pessoas comentavam como eu estava mais alegre e até mesmo mais bonita. Letícia fala muito isso, a felicidade deixa a pessoa cinco vezes mais bela, um sorriso faz milagres em seu rosto. E ela tem razão, eu tinha me enganado, as pessoas realmente sabem quando você está realmente feliz, e nem precisa de sorrisos. Você sorri por dentro e nem percebe.



Lembrei de Renan ao pensar nisso, eu não o tinha visto no domingo. Depois de algum tempo observando as estrelas ele foi para casa, me dando um beijo de despedida e indo embora. Eu estava boba de mais para impedi-lo, ou fazer cena para ele dormir comigo.



Eu não consigo dizer o que realmente aconteceu, antes era tão simples. Ele me dando apoio, eu o considerando como amigo. Talvez eu já sentisse algo por ele o tempo todo, só estava "off" de mais para perceber. O jeito que ele cuidou de mim, mostrando carinho em cada gesto. E eu não fazia nada para agradece-lo, mas ele continuava lá. Talvez ele só me considere uma amiga. Mas e o beijo? Foi Renan que tomou a iniciativa. Eu estava confusa.



– Sophie? - O professor interrompeu meus pensamentos, fazendo-me voltar a sala. - Está prestando atenção?



Me sacudi mentalmente, tentando sorrir simpaticamente. - Claro, professor, pode prosseguir.



Ele me olhou por um momento e então voltou a aula. A primeira vez que ele chama minha atenção desde que voltei, isso queria dizer que eu devo parecer realmente melhor.



Não era atoa, depois de tudo que Letícia falou para mim era impossível não "acordar".



FlashBack:


"Eu estava deitada em minha cama, ainda de pijama. Letícia estava olhando o quintal pela janela de meu quarto.


– Você não parece a mesma. - Letícia sussurrou melodramatica.


– Minha mãe morreu Lees. - Falei quase sem forças. - Nunca seriei a mesma.


– Não esqueça que você está aqui, que seus amigos estão aqui. - Ela disse virando para mim.


– Mas ela se foi, é como se ela tivesse me esquecido. Eu queria morrer com ela.


Letícia pareceu atingida pelas palavra e seus olhos marejaram. Enterrei meu rosto no travesseiro, tentando me esconder da dor que o rosto de Letícia me causava


– Você está aqui Soph, não esqueça. Você tem uma vida pela frente. Seu coração ainda bate. - Ela disse chorosa.


– Um pedaço do meu coração se foi junto com ela. - Falei, olhando para ela. E me arrependi, seu rosto sempre alegre agora demonstrava tanta tristeza que eu jamais pensei caber em Letícia, ela tremia.


– Viva com o que ainda tem ai. - Ela implorou.


– Doí. - Respondi, minhas palavras pareciam ter vida, como se ao ouvi-las pudesse mesmo ouvir, ver e sentir a dor verdadeira nelas.


– Você tem que lutar. Jason está desesperado. Eu estou desesperada! - Ela falou e se ajoelhou em frente a minha cama. - Olhe para você! Ainda de pijama, cabelo desarrumado, unhas roídas e, meu Deus, nem seu cheiro é o mesmo. Não espero que seja feliz como antes, ou que o brilho do seu olhar volte misteriosamente, eu apenas quero que tente lembrar que tem uma vida para viver. Olhe seu quarto, desarrumado. O quintal e o jardim lá fora, o gramado, nem dá para dizer que já foi bonito antes. As janelas da casa estão sujas e eu sei que quem as limpava era você. Siga em frente.


– Eu não posso deixa-la - Falei em meio as lágrimas e o nó em minha garganta.


– Leve-a contigo. Não a esqueças, mas também não esqueça de você.


– Você não entende, você não entende. Ela era tudo o que eu tinha. - Soltei, chorando compulsivamente.


– Eu entendo sim! - Ela disse pegando meu rosto com as mãos. - Eu mau lembro da aparência dos meus pais, mas todo sentimento está aqui. Eu fui criada em um orfanato com outras crianças abandonadas e adolescentes deprimidos. Eu sorria em meio a isso, porque quando uma coisa muito ruim acontece com você em vez de desligar-se do mundo, você tem que sorrir a cada coisa boa que aconteça, por menor que seja. Todos temos que ter nosso momento de luto, mas a superação tem que ser mais forte. Você tem que amadurecer. Você acha que eu não sinto falta dela? Provavelmente eu vou ficar pelos próximos dias triste, com saudades de todos os momentos. Mas temos que lembrar dos momentos bons, sorrir com eles, e ficar feliz por eles terem acontecido e nos marcado tanto. Quando eu vim para cá, eu queria uma nova vida. Você lembra onde eu dormia? Onde trabalhava? Eu estava lutando para uma nova vida, eu tinha pouco dinheiro e uma vida inteira para planejar. Então eu recebo a noticia de que eu tenho uma parente viva e descubro que ela é minha bisavô. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito antes. Eu mau pude vê-lá e ela já se foi. Eu entendo sim. Pode parecer que estou alegre como sempre, mas se reparar bem vai perceber que falta algo em meu olhar, ou o jeito que meu sorriso está abrindo é mais contido, vai perceber como estou diferente. Quando descobri que a bisa estava morta pensei que não tinha mais família. Mas então lembrei de vocês. Vocês são minha família e nós somos a sua. Você tem a nós, não esqueça.


Eu não tinha palavras depois de seu discurso, a única coisa que eu consegui fazer foi abraça-la e chorar ainda mais."


Ela tinha razão, ela me entendia.