Anna ainda sentia estar caída na mesma grama onde havia desmaiado. Ao menos não estava morta. Seu corpo doía como nunca. Forçou-se a abrir os olhos que pareciam tão pesados quanto o próprio castelo de Hogwarts. De início não viu nada, sua vista estava embaçada demais para que ela conseguisse distinguir qualquer forma à frente de seus olhos, mas depois tudo começou a se tornar mais nítido e reconhecível, bem como as duas pessoas que olhavam para ela com uma preocupação absurda presente nos olhos azul-gelo e na expressão.

Elsa e Elena. Suas irmãs. As mesmas em quem havia pensado para conseguir realizar o Feitiço do Patrono e afugentar os Dementadores.

– Anna! – A voz de Elsa se fez ouvir ali trazendo um sentimento grande de alívio, por mais que o som fosse abafado pelas explosões, feitiços e baques de corpos caindo no chão que havia nos Campos de Hogwarts.

Imediatamente a ruiva sentiu-se ser puxada e abraçada pelas duas irmãs, que murmuravam o quanto ficaram preocupadas com ela e que ela jamais deveria deixá-las tão preocupadas novamente. Anna ainda estava meio confusa e sua cabeça latejava, mas ela assentiu e sorriu de leve.

– Eu estou bem, garotas. Eu estou bem. – Anna repetia no intuito de tentar fazer com que elas se acalmassem, mas não estava dando tão certo quanto esperava.

– Afinal, o que aconteceu? – Elena questionou quando finalmente ela e Elsa libertaram Anna do abraço.

– Dementadores, Feitiço do Patrono, essas coisas... – Anna riu com um entusiasmo apagado pelo cansaço e as três se levantaram, finalmente fitando mais uma vez os Campos de Hogwarts.

Havia milhares de pessoas jogadas no chão, algumas mortas e outras feridas demais para conseguirem se levantar. Duelos percorriam cada centímetro dos Campos e feitiços voavam para todos os lados, alguns acertando mesmo pessoas que não eram seus oponentes. Alguns Dementadores que vieram por outros lugares que não o Lago, uma vez que Anna conseguira expulsar todos os que vinham por ali, assolavam ambos os lados, parecendo não se importar com quem era seu inimigo e sim em aterrorizar todo e qualquer bruxo que aparecesse à sua frente. Alguns bruxos aliados de Pitch começavam a se aproximar do castelo, possivelmente na tentativa de entrar novamente na escola. Pessoas corriam de um lado para o outro, ora perseguidas por inimigos, ora para avisar sobre algo importante. Aquilo era o mais completo caos.

As três descendentes de Godric Gryffindor logo se prepararam para retornar à batalha, mas o barulho de algo batendo na água lhes chamou a atenção, fazendo-as voltar-se para o Lago Negro atrás de si.

Tentáculos gigantescos em cor roxa saíam da água, indo em direção a elas. De início, até se poderia supor que era a Lula Gigante, mas aqueles em nada lembravam o da criatura que há tanto tempo habitava aquele lugar.

– O que é isso? – Anna perguntou em um tom aterrorizado enquanto assistia os tentáculos aproximando-se delas.

– Alguma coisa ruim. – Elsa respondeu, replicando o tom da ruiva, enquanto apontava a varinha para o que estava mais próximo. – Impedimenta! – O tentáculo foi empurrado um pouco para trás, mas não tardou em começar a avançar novamente em direção das Gryffindor. – O que fazemos agora?

– Estou aberta a sugestões. – Elena declarou, também apontando a varinha para os tentáculos que se aproximavam. – Estupefaça!

Nesse momento, os tentáculos as alcançaram, agarrando-as e puxando-as para dentro do Lago. Cada uma puxou uma última lufada de ar antes de serem levadas para dentro da água, sendo puxadas cada vez mais para o fundo do lago.

Lá no fundo, por mais escuro e difícil de enxergar, finalmente foi possível ver de quem eram os tentáculos, que se originavam de onde deveriam estar suas pernas.

Úrsula.

Entre as três herdeiras, a mais nova

Irá enfrentar sua dificuldade alguma hora

Suas irmãs mais velhas até tentarão lhe proteger

Mas as águas negras irão lhe envolver

Tentáculos tenebrosos irão aparecer

Mas com o estímulo certo você irá se defender.

Anna, Elsa e Elena lutavam para se libertar dos tentáculos que as puxavam para o fundo, embora não estivessem tendo muito sucesso. Entre elas, Anna parecia ser a menos incomodada com a falta de ar, que não se fazia tão presente quanto nas outras duas.

– Con... Frin... Go... – Elena usou sua última fração de ar, forçando sua voz sob a água e apontando sua varinha ao tentáculo que a segurava.

O vermelho preencheu a visão das três enquanto o sangue que saíra do tentáculo misturava-se com a água. Mesmo com dificuldade de enxergar e quase sem ar, Elena se forçou a nadar a procura das irmãs e viu que outras duas já estavam soltas, uma vez que os tentáculos haviam recuado por causa da dor causada pelo feitiço.

Elsa afundava aos poucos, já estando inconsciente, e Elena e Anna nadaram o mais rápido que conseguiam, levando-a para cima.

Quando mais uma vez o ar invadiu seus pulmões, veio o sentimento de alívio por respirar novamente, mas Elsa não acordara e sequer estava respirando.

– Leve-a para a margem. – Anna pediu, olhando para Elena. – Eu cuido disso.

– Anna... – A mais velha dava sinais de que ia protestar, mas a ruiva a interrompeu.

– Elena, por favor. – Anna pediu com um olhar suplicante. – Confie em mim.

Ainda com extrema relutância, Elena assentiu com um gesto mínimo da cabeça e nadou até a margem do Lago levando Elsa consigo.

Anna olhou uma última vez para as duas irmãs, tendo certeza de que Elena faria o que ela pedira, e então mergulhou mais uma vez nas águas frias do Lago, onde encontraria aquela de quem a sua profecia falava.

Tentáculos tenebrosos irão aparecer

Mas com o estímulo certo você irá se defender.

Agora ela entendia o que os últimos dois versos da profecia queriam dizer. Se ela não detivesse Úrsula, não teria como saber o que aconteceria com suas irmãs, visto que Elsa quase havia se afogado e Elena sozinha não poderia defender as duas.

Elsa e Elena sempre a protegeram, algumas vezes não da maneira mais convencional, mas sempre cuidaram dela. Era a vez de Anna fazer o mesmo.